Fanfic: A Bruxa Má | Tema: Fantasia, comédia, As Crônicas dos Kane

O dia mais feliz e esperado de toda princesa é, com certeza o dia de seu casamento que também seria o dia de sua coroação como rainha e o tão merecido feliz para sempre.

Porém felicidade seria a última palavra para descrever o estado de humor da princesa Theodora de Átila. Ela encarava o seu reflexo no espelho com uma expressão desanimada. Seu longo vestido branco era sem dúvida o mais bonito de todos. Seus longos cabelos castanhos estavam impecáveis, emoldurando seu rosto fino de traços suaves e perfeitos. Seus lábios pequenos e cheios, apesar de não carregarem nenhum sorriso eram simplesmente perfeitos, combinando perfeitamente com seus olhos verdes e expressivos.

Porque eu tinha que viver exatamente como todas as outras princesas? Pensava . Porque tinha que se casar tão jovem? Eu não estava apaixonada pelo príncipe, nunca estive. Tudo bem, eu era muito grata por ele ter salvado minha vida quando uma bruxa tentou me raptar, mas isso significava que eu tinha que casar-se com ele? Certamente não.

O príncipe era um rapaz muito bonito disso não tinha dúvidas. Era tão bonito que olhá-lo dava dor de cabeça. Mas ele era perfeito demais, concordava com tudo que eu dizia e só sabia falar o quanto me amava e como eu era bonita. Eu sei que a maior parte das garotas do planeta acharia isso maravilhoso. Bom, eu não.

Eu estava cansada de ser uma moça perfeita, numa família perfeita, numa vida perfeita. Eu queria viver minhas próprias aventuras como nos livros que eu lia escondido na casa da bruxa. Confesso que por todo o tempo que fiquei sequestrada me diverti mais do que em toda a minha vida. A casa da bruxa era toda acabada, caindo aos pedaços por fora mais por dentro até que era bem ajeitadinha. Tinha uma biblioteca enorme no porão repleta de livros dos quais eu nunca tinha visto, nem mesmo na imensa biblioteca do palácio onde eu nasci. Eram títulos como: O Hobbit e Harry Potter. Eu lia todos, completamente empolgada com as histórias cheias de aventura e ação.

E o futuro? Como seria depois do “felizes para sempre”? Eu passaria o resto da vida criando filhos e netos sem nunca fazer nada de que eu gostasse? O que eu queria não importava?

Respirei fundo. Eu não queria ser uma princesa. Até uma bruxa tinha uma vida mais interessante.

–Espera aí – disse –a bruxa!

E sem pensar duas vezes saí correndo e fugi do castelo em direção a floresta negra.

O nome floresta negra nunca caiu tão bem em uma floresta. Mesmo durante o dia o lugar era escuro e misterioso contribuindo para a atmosfera infeliz do local. Corri por minutos com toda a força que eu tinha segurando meu vestido para não tropeçar. Eu me lembrava bem do caminho e não demorou muito tempo para que eu encontrasse a velha cabana da bruxa. Ela estava sentada numa pedra ali perto com um ar triste enquanto penteava os longos cabelos brancos e crespos.

Ela era exatamente como eu me lembrava: baixinha e um pouco corcunda, cheia de rugas no seu rosto velho e maltratado e sua pele pálida e flácida.

Estava distraída com o que fazia, mas quando eu a encarei ela me olhou e deu um pulo assustada.

–Você! – disse ela apontando-me o pente desgastado que usava como uma arma – vá embora!

–Espere – eu disse tentando passar confiança – eu não quero lhe fazer mal.

A velha olhou para os lados como se esperasse um ataque a qualquer momento.

–Onde está aquele príncipe! É uma armadilha não é? Você é a isca e logo eles apareceram aqui para me jogar na masmorra!

–Não é isso – eu respondi – e queria conversar com você. Não é uma armadilha.

Ela me fitou por alguns instantes e pareceu relaxar um pouco.

–O que você quer? – indagou.

–Quero que me ajude – disse.

A bruxa soltou uma gargalhada medonha antes de responder.

–Eu? Ajudar uma princesa? – disse ela, a última palavra soando com desdém – nunca!

Eu tentei argumentar.

–É uma proposta que pode ser muito bom para nós duas.

Ela me olhou intrigada e eu, percebendo que tinha atiçado sua curiosidade continuei.

–Eu sei que você é muito triste vivendo assim, sozinha.

–Nenhuma bruxa gosta de ser bruxa – disse ela com um suspiro – mas é o que somos e não podemos mudar isso.

–Eu não acho que ser uma bruxa é algo ruim –falei – é melhor do que ser uma princesa.

Ela riu mais uma vez como se eu fosse boba.

–Está reclamando de barriga cheia moça. Eu daria qualquer coisa para trocar de lugar com você e viver feliz para sempre em vez de ser eternamente odiada.

–Pois eu trocaria de vida com você sem problemas – disse convicta – ser bruxa e ter poderes é o que eu sempre quis.

Os olhos da mulher brilharam de satisfação.

–Você faria isso?

Eu acenei positivamente.

Ela se aproximou de mim e pegou as minhas mãos.

–Tem certeza?

–Sim –respondi.

Ela retirou o anel de seu dedo e colocou em minhas mãos. Era um anel bonito com um rubi incrustado.

–Tome o meu anel toda bruxa precisa de um. Espero que não se arrependa depois porque será muito tarde.

Depois disso ela pronunciou as palavras.

–Princesa em bruxa , bruxa em princesa.

Confesso que fiquei decepcionada. Aquele era o feitiço? Era tão...simples. Mas não tive muito tempo para prestar atenção nisso, pois senti uma energia poderosa tomar o meu corpo. Porém isso não foi o que me chamou mais a atenção, mas sim a velha na minha frente. Ela mudara, sua aparência ficando mais jovem e mais bonita embora nem tanto assim. Meu vestido agora estava em seu corpo e os trapos dela agora me cobriam. Eu não mudei fisicamente o que para mim foi um alívio.

Ela sorriu para mim e disse.

–Uma bruxa bonita. Isso não é muito comum.

Eu pensei: uma princesa feia também não é. Contudo, não disse nada.

Ela acenou para mim e saiu correndo floresta adentro. Provavelmente tinha pressa para viver feliz para sempre. Dei de ombros e entrei na cabana.

Fui até o baú onde a antiga bruxa guardava suas roupas, mas só encontrei trapos tão horríveis quanto os que eu usava. Sentei-me e comecei a pensar.

Agora eu era uma bruxa e tinha um mundo de possibilidades. Possibilidades que eu iria explorar, com certeza. Eu não sabia como usar meus novos poderes.

–Eu devia ter perguntado isso a velha bruxa, digo princesa.

Olhei para o anel que agora estava em meu dedo médio.

–Não sei como, mas se não tentar nunca vou descobrir – disse para mim mesma.

Ergui as minhas duas mãos e girei os dedos indicadores e prontinho. Roupas novas surgiram e as antigas desapareceram. Eu sorri contente com o meu sucesso. Não foi difícil. Como a bruxa pudera dizer que não gostava disso?

Me concentrei no meu próximo feitiço. Seria mais difícil, mas se desse certo seria a coisa mais maravilhosa da minha nova vida.