Fanfic: Amor que Enlouquece | Tema: Vondy

— Eu preciso de uma mulher.

— Não há dúvida quanto a isso. Se dormisse com alguém de vez em quando, provavelmente você não ficaria tão irritado no escritório.

Christopher dirigiu um olhar tolerante ao irmão mais novo por sobre a superfície polida de sua mesa de carvalho.

— Oh, muito engraçado, Alfonso. Você é cômico.

Alfonso soltou um riso, apesar do tom desprovido de humor do irmão.

— Ei, é verdade! O sexo faz maravilhas pela atitude de um homem. Basta me tomar como exemplo. Estou sempre de ótimo humor. — Ele abriu seu famoso sorriso malicioso, fazendo com que os olhos verdes brilhassem com ar satisfeito e resoluto. — E, a julgar por seu comportamento ultimamente, eu diria que já faz algum tempo que você não... leva ninguém para a cama, entre outras coisas.

Christopher apenas grunhiu em resposta. Reclinando-se em sua cadeira, admitiu a si mesmo que, de fato, andava tenso e inquieto havia algum tempo. Apenas não sabia ao certo se era em resultado de não ter dormido com ninguém, ou pelo desapontamento de algum encontro sexual não tão estimulante. O último relacionamento breve que tivera, quase seis meses antes, não fora tão empolgante e o deixara sentindo-se como se algo crucial estivesse faltando... como um elo emocional. Em resultado, tornara-se mais seletivo quanto a namoros e relacionamentos sexuais, o que restringira o leque de mulheres consideravelmente e o deixara abstinente e ainda mais irritadiço do que o normal.

Mas, sem nenhuma mulher distraindo-o, podia dedicar sua total concentração a seu verdadeiro amor. A Especialistas em Investigações Uckermanns, sua agência de detetives, era sua amante e exigia-lhe dedicação o bastante para ocupar seus dias e noites. Tornara-a uma agência de renome ali em sua cidade de Oakland, Califórnia, onde a fundara, e orgulhava-se de seu êxito.

— Você está quieto demais — comentou Alfonso, despertando-o dos pensamentos. — Isso significa que tenho razão?

— Dificilmente. "Ame-as e deixe-as" é o seu lema, não o meu.

— Ora, você nem sequer as ama. — Alfonso esticou as pernas e colocou as mãos sob a cabeça. — Esse é o problema. Para você, o trabalho vem antes do prazer. Sempre foi dessa maneira.

— Tive relacionamentos o bastante — refutou Christopher.

Mas o irmão estava certo quanto a sua dedicação ao trabalho. As responsabilidades que assumira com pouca idade eram tudo o que já conhecera. Não estava se queixando. Adorava seu trabalho e sua carreira.

Daquele modo, aos vinte oito anos, acabara se resignando a ser um solteiro convicto e estava contente com a condição. O trabalho e as obrigações passadas o haviam consumido, uma obstinação que havia surgido do amargo divórcio de seus pais, da morte trágica de sua mãe e, enfim, da perda do único homem ao qual sempre recorrera e considerara seu próprio herói.

Seu olhar pousou na foto emoldurada do pai pendura da na parede de seu escritório. Na foto, o pai usava seu uniforme da polícia, e Christopher estava a seu lado, um adolescente sorridente e despreocupado. Aquilo fora anos antes do pai ter sido baleado no cumprimento do dever, e a vida inteira de Christopher e seu futuro tinham mudado de uma maneira que jamais esperara.

A ética rigorosa de trabalho dele nascera puramente da necessidade de sobrevivência, sua e de seus irmãos mais novos. Ainda assim, a despeito dos deveres e obrigações que aceitara como seus, jamais se ressentira das escolhas que fizera. Gostava de acreditar que o passado o tornara um homem melhor e mais forte... apesar de um homem sem uma vida sexual tão boa quanto a de seu irmão conquistador.

— Como você deve se lembrar, fiquei com uma família para sustentar aos vinte e um anos de idade — comentou num tom casual. — Isso não me deixou muito tempo para diversão.

A menção à morte do pai de ambos deixou o semblante de Alfonso sério e suavizou- lhe os traços.

— Você fez um ótimo trabalho comigo e Maite. E passou esses últimos dez anos transformando esta firma de investigações numa agência conceituada. Ora, estamos todos bem empregados graças a você. Assim, talvez seja tempo de colocar um pouco de diversão e entusiasmo em sua vida e desfrutar o que vier pelo caminho.

Christopher abriu um sorriso irônico.

— Essa é a sua resposta para tudo?

— Para a maioria das coisas, sim — admitiu Alfonso sem constrangimento. — A diversão ameniza o estresse. — Eu realmente acho que você deveria...

— Acha que poderíamos parar de esmiuçar minha vida sexual? — interrompeu-o Christopher com um suspiro de frustração.

— Ou, você quer dizer, a falta dela? — retrucou Alfonso com um riso. Christopher lançou-lhe um olhar atravessado.