Fanfic: Amor que Enlouquece | Tema: Vondy

— É uma situação tão triste. E ser disputada pelos pais deve ser terrível para a criança também.

— E doloroso para todos os envolvidos — declarou ele num tom grave.

Dulce estudou-o, pensativa, de seu lugar do outro lado da mesa.

— Você fala como se tivesse tido experiência no assunto.

— E tive. — Christopher parou com o garfo sobre a porção de salada em seu prato, enquanto a fitava, a expressão inalterada mascarando emoções mais profundas. — Meus pais se divorciaram antes de minha mãe ter morrido.

Uma onda de pesar envolveu Dulce.

— Eu havia esquecido. Lamento.

Ele deu de ombros, como se a questão fosse irrelevante, mas a rigidez em seu maxilar dizia outra coisa.

— Foi há muito tempo.

Apesar do tom de aparente indiferença, ela teve a forte sensação de que a separação dos pais o afetara mais do que estava disposto a admitir. Até a si mesmo.

— Eu sei por experiência própria que crescer sem a presença materna é extremamente difícil, mas ter pais divorciados deve ser igualmente traumático... ao menos, suponho, que seja uma separação amigável.

— A dos meus pais não foi. — Ele sorveu um longo gole da lata de cerveja que pegara para si antes de prosseguir: — Minha mãe estava tendo um caso e se divorciou do meu pai para ficar com o outro sujeito, com o qual se casou. Se isso não tivesse sido um choque grande o bastante para o meu pai lidar, minha mãe ganhou na justiça a custódia de Maite, que tinha cinco anos na época, e levou-a para o Arizona para morar com ela e seu novo marido.

Dulce encarou-o em aturdimento. Mães ganhando a custódia dos filhos durante um divórcio não era novidade, mas lutar apenas por um filho parecia-lhe estranho.

— Apenas Maite?

— Era a única que minha mãe queria — declarou ele, inconfundíveis indícios de amargura em seu tom grave.

Dulce foi tomada por compaixão, que guardou para si mesma, sabendo que Christopher não a aceitaria.

— E quanto a você e Alfonso?

— Nós ficamos morando com nosso pai e era exatamente onde queríamos estar, uma vez que minha mãe não era do tipo devotado. O mais difícil para nós foi vê-la levando Mai, em especial , porque sabíamos que ela só a queria para magoar meu pai, ainda mais do que já tinha feito. E seu plano deu certo.

Dulce mordeu o lábio inferior, consternada com tudo o que estava descobrindo sobre o passado tumultuado de Christopher.

— Imagino que Mai tenha voltado a morar com vocês depois que sua mãe morreu, não?

— Infelizmente, não foi tão simples. Meu pai teve que lutar pela custódia de Mai novamente, desta vez contra o segundo marido da minha mãe. — Christopher abriu um sorriso irônico. — Peter ficou com ela uns seis meses, até que um juiz lhe ordenou que devolvesse Mai ao meu pai, porque não tinha direito algum e não era seu tutor legal.

— Céus, eu não fazia ideia. — Ela sacudiu a cabeça de leve. — Entre o divórcio de seus pais e a morte de sua mãe e, depois, a de seu pai, você passou por maus bocados, não foi?

— Prefiro pensar que me saí bem, apesar da minha infância não tão ideal — disse ele um tanto na defensiva. — E meus irmãos se saíram bem também.

— Você fez um excelente trabalho — Dulce assegurou num tom manso, sincero. — Com Mai e Alfonso e até consigo mesmo.

— Isso porque tive muitas pessoas que me ajudaram ao longo do caminho, o seu pai especialmente. — Terminando o jantar, ele levou o guardanapo de papel aos lábios e atirou-o no prato descartável que colocou de lado. — Devo-lhe mais do que já poderei pagar por te -me ajudado depois da morte do meu pai. Ele é o principal motivo por eu ter-me saído tão bem com meu negócio de investigação, graças aos contatos que me arranjou no início.

— Meu pai tem você em grande estima e consideração.

— O respeito é mútuo.

O que era o centro do problema de Dulce entre ela e o homem sentado à sua frente... aquela admiração estava tão arraigada em Christopher que interferia na atração entre ambos.

— Sim, eu sei — disse com um suspiro.