Fanfic: Amor que Enlouquece | Tema: Vondy

A carta era breve, simples, mas tão evocativa que o afetou profundamente. Ele venceu o nó na garganta e tentou aquietar o ritmo frenético de seu coração, recusando-se a se ater demais na mensagem por trás das palavras. Infelizmente, não havia nada que pudesse fazer para afastar o eco da declaração dela. Meu desejo por você é insaciável.

O som de passos na escadaria sobressaltou-o e o fez franzir o cenho, especialmente porque se julgara a sós. Colocando a carta erótica na mesinha de cabeceira, endireitou-se na cama e puxou o lençol sobre seu colo, cobrindo a evidência de seu desejo renovado. Segundos depois, Dulce entrou no quarto com duas canecas de café fumegante e um sorriso sonhador nos lábios.

Em vez do diminuto vestido da noite anterior, apanhara uma das camisas dele no armário, deixando as pernas bem feitas à mostra. Tinha os cabelos longos desalinhados, os lábios cheios e avermelhados fazendo-o lembrar dos muitos beijos ardentes que haviam trocado ao longo da noite.

Mas o que mais lhe chamou a atenção foi o rosto. Ela o lavara, removendo a maquiagem da noite anterior, dando-lhe um ar adorável de simplicidade. Embora ele tivesse que admitir que Dulce, como a personificação da sensualidade, era excitante como ninguém, aquela era uma mulher que não precisava realmente de nenhum artifício para atrair um homem.

— Bom dia — Timidamente, Dulce estendeu-lhe uma das canecas.

Aceitando o café e ainda chocado com a presença dela, Christopher disse quase sem pensar:

— Você ainda está aqui.

Ela arregalou os olhos com súbita incerteza e deu um passo atrás.

— Você insistiu para que eu ficasse ontem à noite — falou num tom reservado. — Mas posso ir a qualquer momento.

Christopher censurou-se mentalmente por ter conduzido a situação sem o menor tato.

— Lamento, não quis soar tão grosseiro. Acordei sozinho e presumi que você tinha ido embora.

Um sorriso leve e hesitante curvou os lábios dela.

— Aí está você, tirando conclusões precipitadas novamente.

— Receio que seja um hábito que terei de aprender a mudar. — Ajeitando os travesseiros junto à cabeceira para se recostar e mantendo as cobertas até a cintura, ele deu um tapinha na cama a seu lado. — Sente-se e tome seu café comigo.

Dulce sentou-se na cama e estudou-o por um momento enquanto bebericava de sua caneca.

— Espero que não esteja se culpando por ontem à noite.

Christopher contraiu o rosto, perguntando-se como ela podia decifrá-lo tão bem. Era uma sensação inquietante uma vez que sempre mantinha suas emoções bem guardadas.

— Quanto à noite de ontem...

Ela sacudiu a mão no ar, interrompendo-o.

— Não ouse me dizer que foi um erro, ou que você se arrepende do que aconteceu. — Seu tom era descontraído, mas, ainda assim, o olhar pensativo dizia outra coisa, que a noite anterior significara-lhe muito mais do que uma simples aventura teria.

Christopher soltou um suspiro. Não, não tinha arrependimentos, e aquilo o incomodava, pois sabia que deveria sentir algum tipo de remorso por ter dormido com ela.

— Não acontecerá outra vez — disse num tom manso.

— Tem certeza disso?

Ele não deixou de notar o sutil desafio na pergunta, o que o quase fez sorrir. Não tinha mais certeza de nada quando o assunto era Dulce, mas se empenharia ao máximo para cumprir sua palavra. Manter um distanciamento entre ambos seria mais para o próprio bem dela do que para o seu, e Dulce o agradeceria mais tarde por ter feito a coisa certa.

— Há algo que preciso conversar com você antes de eu ir embora.

Christopher se preparou. Ali estava, pensou, desconfiando que estavam prestes a embarcar na temida conversa da manhã seguinte sobre como a noite anterior mudara as coisas entre ambos e qual seria o rumo do relacionamento dali em diante. A conversa era inevitável e algo do qual ele não se esquivaria se significasse que a faria entender melhor sobre como estavam as coisas entre ambos.

— No que está pensando? — perguntou casualmente.

— Eu quero trabalhar no caso Russell com você e ir ao leilão de caridade na semana que vem como sua acompanhante.

Ele ficou perplexo com o rumo mais do que inesperado da conversa. Então, um pensamento inquietante ocorreu-lhe.