Fanfic: Amor que Enlouquece | Tema: Vondy

— Eu espero que sim — declarou Dulce com sinceridade. Gostava de Elena e lhe desejava o melhor. — Mas lamento que as coisas não tenham dado certo entre ela e Jerry. Havia muita paixão entre ambos nas cartas que trocaram.

— Às vezes, paixão não é o suficiente para manter um relacionamento.

O comentário causou um aperto no peito dela, pois soube que ele se referira ao caso de ambos. Decidiu dar sua própria opinião sobre o assunto.

— Não, creio que não, mas é, sem dúvida, um alicerce em que se construir um relacionamento significativo. A paixão pode levar ao amor se o casal estiver disposto a trabalhar isso.

Enfim, Christopher ergueu os olhos dos documentos para fitá-la, a expressão neutra encobrindo quaisquer emoções que estivesse experimentando.

— Acho que esse não era o caso de Elena e Jerry.

E um relacionamento não estava no futuro de ambos tampouco, observou Dulce no comentário astuto e de duplo sentido dele. Facilmente, Christopher rompera por completo os laços ainda frágeis do relacionamento que haviam alcançado, destruindo quaisquer derradeiros vestígios de esperança que ela pudesse ter alimentado e atingindo-a com uma chocante dose de realidade.

Estava realmente tudo acabado entre ambos.

Engoliu em seco para impedir que a voz traísse a dor em seu íntimo.

— Você me pediu para vir até o seu escritório por causa de algo, não foi?

— Sim. Sente-se, por favor.

Dulce ocupou uma das cadeiras diante da mesa, observando-o com curiosidade.

— Eu gostaria de agradecer-lhe por sua ajuda no caso Russell e dar-lhe isto. — Christopher entregou- lhe um envelope. — Você fez um excelente serviço no sábado à noite e aprecio o seu profissionalismo.

Seu profissionalismo? Temerosa, ela abriu o envelope e encontrou um cheque com uma quantia maior que seu salário mensal normal.

— Qual a razão disto?

— É um bônus por um serviço bem executado. — Ele recostou-se na poltrona de couro, o gesto colocando ainda mais distância física e emocional entre ambos. — Você merece.

Uma onda de raiva invadiu-a, porém Dulce esforçou-se para contê-la, resistindo à vontade de bater em Christopher com o envelope que segurava com força. Não queria gratidão, nem dinheiro por algo que lhe significara mais do que um simples serviço. Sentia-se vulgar, usada e descartada e perguntou-se se aquela era a maneira de Christopher de aplacar a própria culpa por ter sucumbido à tentação e feito amor com ela.

Ainda atordoada com o inesperado golpe pessoal, conseguiu murmurar:

— Obrigada.

Ele deteve-a antes que pudesse sair.

— Há mais uma coisa. — Pareceu pouco à vontade de repente, um músculo retesando-se em seu maxilar. — Não usamos preservativo na noite de sábado.

A mudança na conversa para um assunto mais íntimo aturdiu Dulce.

A formalidade na voz de Christopher e no modo como estava tratando o incidente, como se fosse algum tipo de transação comercial , gelou-a por dentro.

O fato de a noite de sexo ardente de ambos ter sido sem proteção não lhe passara despercebido. Nem tampouco a preocupação de agora no semblante grave dele. Depois de ter acabado de criar os irmãos, era óbvio que não estava ansioso para repetir a experiência com uma família nova. Não que algum dia pretendesse pressioná-lo com aquele tipo de exigência se ele não estivesse disposto a fazê-lo de livre e espontânea vontade. Christopher não lhe fizera promessas, e ela jamais usaria uma gravidez não planejada contra um homem para obter o que queria.

Queria-o por amor, não por uma obrigação que se sentisse impelido a honrar. E, ao que parecia, o amor dele era algo impossível.

Encarou-o, incapaz de deter a onda de dor e raiva que a tomou por inteiro, mas empenhou-se ao máximo para ocultar suas emoções.

— Que tal se eu lhe informar quando começar o meu ciclo? — sugeriu.

Christopher soltou um profundo suspiro, a expressão ainda tensa.

— Seria ótimo.

Entregando-lhe a papelada assinada de volta, ele encerrou o assunto que, sem dúvida, deixara-o pouco à vontade.

Dulce deixou o escritório e encaminhou-se à sua mesa. Apesar do coração partido, só lhe restava voltar ao trabalho, como de costume.