Fanfic: Amor que Enlouquece | Tema: Vondy

Aquela foi uma semana terrível para ela. Sentia-se como se estivesse morrendo por dentro, enquanto se obrigava a manter uma fachada de indiferença à presença de Christopher a fim de poder enfrentar cada dia. E, à noite, tudo o que tinha eram lembranças tórridas como companhia e mais fantasias que escrevera para Christopher, que, por sua vez, jamais as leria.

E, quanto ao trabalho, apesar do serviço profissional que fizera no caso Russell, era óbvio que não fizera mais progressos com ele em termos de ser mais do que uma secretária para a Especialistas em Investigações Uckermanns.

Para piorar as coisas, durante um almoço com o pai no meio da semana, ele lhe confessou que ficara preocupado com todas as mudanças na aparência dela. Explicou-lhe que temera que teriam sido destinadas a atrair a atenção de algum homem que pudesse tirar proveito dela e que, portanto, pedira a Christopher para ficar de olho nela, apenas para certificar-se de que tudo estava bem.

Dulce não quis acreditar no que o pai acabara de dizer, mas fazia sentido e explicava a determinação de Christopher para mantê-la em segurança nas duas semanas anteriores. Estivera fazendo um favor a seu pai, honrando mais uma responsabilidade. Apesar das vezes em que tinham feito amor, ela não passara de um dever para ele, uma obrigação.

Estava farta dos homens bem intencionados em sua vida, além de ressentida com o fato de se ver em meio a um acordo feito pelas duas pessoas de quem mais gostava.

Fez, portanto, questão de dizer ao pai, com o máximo de calma que pôde manter, que podia cuidar de si mesma.

— Amo você, papai, mas não sou mais sua garotinha — acrescentou com firmeza. — Você sempre foi um pai maravilhoso, mas sou uma mulher adulta que precisa de seu espaço para mudar e amadurecer sem se sentir numa redoma, e isso significa que você não deve mais tentar me proteger. Deixe-me cometer erros e aprender com eles.

— Você tem razão — admitiu, enfim, Richard a contragosto, mas com franqueza. — Acho que é difícil para mim esquecer o instinto paterno. — Ele, então, observou-a com ar curioso. — Posso lhe perguntar uma coisa? Foi um homem que provocou todas essas mudanças em você?

Dulce não pôde mentir, não quando Christopher tivera uma participação tão decisiva em sua transformação numa mulher mais forte, mais confiante.

— Sim — limitou-se a dizer. — Mas já passou.

— Lamento, querida.

— Eu também. Sei que você teria gostado dele.

Quando voltou do restaurante para o trabalho, Dulce entrou diretamente no escritório de Christopher sem bater, um brilho acusador em seus olhos.

Marchou até diante da mesa, indo direto ao ponto:

— Por que você não me disse que meu pai lhe pediu para olhar  por mim como se eu fosse algum tipo de criança?

Christopher contraiu os músculos ao lhe notar o tom magoado e lhe deu a melhor desculpa que pôde, embora não fosse a mais convincente.

— Porque achei que não era necessário lhe dizer.

— Ou talvez tenha sido por que você não conseguiu dizer não ao meu pai. Fez o serviço que foi lhe pedido para não desapontá-lo, apesar dos meus sentimentos nessa questão.

As palavras atingiram-no em cheio, talvez por que traduziam uma verdade que ele próprio não fora capaz de encarar. Não teria sido capaz de dizer não a Richard, não quando o homem fizera tanto por ele desde a morte de seu pai e ainda lhe depositara sempre sua total confiança. De qualquer modo, sabia que não o fizera apenas por causa do pedido de Richard, mas por que estava em sua natureza proteger e cuidar daqueles de quem gostava. E, a despeito de como as coisas tinham terminado, Dulce era uma daquelas pessoas.

Mas tal constatação não contribuía em nada para mudar a situação da maneira como estava... com ela tendo que lidar com a mágoa e a desilusão, e ele condenando a si mesmo pelo fato de o relacionamento ter ultrapassado um limite que ambos não deviam ter permitido.

— Lamento muito — disse, as palavras inadequadas para toda confusão e sofrimento que causara para ambos.

— Então, fui uma obrigação para você, um dever, como tudo mais em sua vida.

Cheio de remorso, Christopher contornou a mesa, aproximando-se, mas viu-a dando um passo atrás, deixando claro que não queria ser tocada.

— Você não foi uma simples obrigação, Dul. E sou eu quem estou em falta aqui, não você. Eu jamais deveria ter tocado você, pois sabia como as coisas acabariam eventualmente.

Ela soltou um riso cínico e sacudiu a cabeça.

— Oh, você é tão honrado! — As palavras soaram mais como uma crítica do que um elogio. — Fico surpresa que não esteja insistindo em se casar comigo porque fizemos sexo sem proteção.