Fanfic: Amor que Enlouquece | Tema: Vondy

Dulce teve de conter a onda de raiva. Sabia que seu pai se sentia da mesma maneira que Christopher, acreditando que o seu lugar era num ambiente seguro, livre de qualquer influência negativa externa. Sugerira, afinal, que fosse trabalhar como secretária para a Especialistas em Investigações Uckermanns porque se tratava de uma agência respeitada, dirigida por um homem que seu pai conhecia e no qual confiava. Já era ruim o bastante que tivesse crescido com um pai que passara anos demais tentando protegê-la de quaisquer adversidades. Ela não queria, nem precisava da mesma atitude por parte de Christopher, nem de ninguém mais, na verdade.

Com aquilo em mente, persistiu:

— Sou adulta e posso cuidar de mim mesma e tomar minhas próprias decisões. E se isso o fizer sentir -se melhor, meu pai não tem de saber da minha participação na solução do caso.

Christopher sacudiu a cabeça com firmeza.

— Não posso correr esse risco... com você.

Porque era a filha de Richard Saviñón, soube ela com uma onda de pura decepção envolvendo-a. Como se já não tivesse problemas o bastante para atrair a atenção de Christopher, ele estava usando o pai dela como uma barreira entre ambos. E era um homem de princípios o bastante para se ater àquela decisão durante os cinquenta anos seguintes.

Ela contornou a mesa, recusando-se, ao menos uma vez, a desistir do que queria.

— Ouça, eu..

Christopher ergueu a mão, terminando a discussão.

— Lamento, mas não mudarei de ideia. Seus talentos são mais adequados dentro deste escritório, não em campo. Assunto encerrado.

Dulce sabia que ele não pretendera soar condescendente, mas o comentário sobre seus "talentos" feriu-lhe o orgulho feminino, especialmente porque queria provar que podia ter mais habilidades do que aquelas de uma secretária. Ergueu o queixo, enquanto ele se virou e voltou pelo corredor até seu escritório. O assunto entre ambos estava longe de ter sido encerrado.

Se Christopher não depositava fé em sua habilidade de ser a mulher que ele precisava, ela teria de encontrar um meio de provar-lhe que estava enganado.

..

Dulce empurrava distraidamente a comida em seu prato com o garfo, a mente absorta demais em repassar a conversa do dia anterior com Christopher para se concentrar no almoço. Embora estivesse preparada para romper a existência de garota comportada e comum que levara sua vida inteira, não fazia ideia de como se transformar no tipo de mulher que atrairia o olhar de Christopher.

— Não me diga que não está com fome — comentou Maite, irmã mais nova de Christopher, com incredulidade. — Você é a única mulher que conheço que tem apetite saudável como o meu.. Eu odiaria perder esse elo raro que partilhamos.

Dulce sorriu para a amiga e colega de trabalho sentada diante de si à mesa do restaurante.

— Seu apetite dobrou desde que você engravidou, Mai. Não posso competir com você e seus acessos de fome.

Maite afagou a barriga, ainda pouco volumosa considerando seus cinco meses de gravidez.

— Tenho de admitir que estar grávida é um ótimo pretexto para comer! – Ambas riram e voltaram a atenção para seu almoço até que, após alguns minutos de silêncio, Maite estudou-a com ar inquiridor.

— Você parece distraída hoje, no escritório e aqui durante o almoço. Está tudo bem?

Dulce sorveu um pouco de seu suco e ponderou se deveria contar ou não a Maite sobre seu dilema com Christopher. Precisava desesperadamente de alguém com quem conversar... uma mulher compreensiva que entendesse sua inexperiência com o sexo oposto e não a criticasse por aquilo. A mãe dela morrera quando ainda era pequena, o pai nunca tornara a se casar e, portanto, crescera sem uma influência feminina em sua vida. Tinha amigas da escola com as quais ainda mantinha contato, mas ninguém com quem se sentisse à vontade para conversar sobre sua falta de habilidades na arte da sedução.

Quanto a Maite, conhecia bem o homem pelo qual Dulce estava interessada e, daquele modo, qualquer comentário que oferecesse relacionado à personalidade do irmão talvez a ajudasse a entender com que tipo de obstáculos depararia. Além do mais, confiava em Maite como amiga e confidente.

Deixando de lado o prato de espaguete que mal tocara, aceitou a oferta de Maite de expressar o que a estava incomodando.

— Podemos conversar, de mulher para mulher?

Um sorriso curvou os lábios de Maite e seus olhos brilharam com interesse.

— Claro.