Fanfic: NOIVA DE ALUGUEL | Tema: vondy

Ele enrugou a testa por um momento antes de responder.
― Eu trabalho nos negócios da família; eu pensei que você pelo menos soubesse disso.
Dulce franziu a testa; havia obviamente muitos assuntos que ela não havia conversado com Christian, e o currículo do irmão era um deles.
― É verdade! Christian me falou, é claro. Eu sou péssima para nomes e detalhes como esses.
― E então, como você conheceu meu irmão?
― Numa festa.
― Bem, não seria no trabalho, seria? ― Ele esboçou um sorriso muito frio e discreto. ― Nós dois sabemos o efeito que essa palavra de oito letras tem em meu irmão.
― Christian trabalha sim ― retrucou Dulce. ― Ele é um artista muito talentoso.
― Ah, ele é um artista, é verdade. ― Os olhos negros de Christopher olhavam os outros convidados e os dois viram Christian devolver um copo e pegar outro do garçom que passava. ― Dedicado também ― meditou Christopher. ― E então, o que você faz?
Dulce engoliu em seco. Normalmente, ela adoraria dizer o que fazia, adorava a reação das pessoas, mas de certa forma ela não podia imaginar o rosto de Christopher iluminado por uma indisfarçável admiração quando ela revelou a profissão que havia escolhido.
― Eu danço.
Ele não disse nada, nem uma palavra, mas os seus olhos diziam tudo ao vagarosamente percorrerem o corpo dela, deixando-a vermelha com a investigação.
― Não esse tipo de dança ― esclareceu ela. ― Eu trabalho no palco.
― Clássica? ― perguntou ele, no tom mais esnobe e zombeteiro possível.
― Um... um pouco ― gaguejou Dulce. ― Mas principalmente moderna. De vez em quando eu até faço uma versão de Can-Can. ― O tom amargo de sua voz era óbvio, até para si mesma, surpresa com a própria confissão.
O esboço de um sorriso moveu uma fração dos lábios de Christopher e os olhos dele deixavam-se levar languidamente pelas longas pernas de Dulce.
― Isso me soa como fala de bailarina frustrada.
― Talvez ― disse Dulce encolhendo os ombros. Droga, por que ela estava daquele jeito? ― Mas, para sua informação, eu sou muito boa no que faço ― esclareceu Dulce. ― Você pode até ridicularizar o que eu e o seu irmão fazemos, mas a gente não precisa vestir um terno para começar um dia de trabalho. E acontece que a gente diverte muita gente.
― Eu estou certo disso. ― Novamente aqueles olhos negros percorreram o corpo dela e, mais uma vez, Dulce se mordia com a abertura que deu a ele.
Para ter algo a fazer, Dulce esvaziou o copo e aceitou outro do garçom que passava. Mas Christopher continuava com os olhos pregados nela, o que fazia com que até respirar, de repente, parecesse complicado demais.
― Não se preocupe. ― Ele sorriu para ela pela primeira vez, e quando Dulce começava a relaxar, a voz cortante dele fez os pêlos do pescoço dela se arrepiarem. ― Quero dizer, depois que você colocar a aliança no dedo vai poder aposentar suas sapatilhas para sempre. Os olhos de Dulce iluminaram-se de raiva.
― Gostaria que você soubesse que eu gosto muito do que faço, muito mesmo. Se realmente acha que estou com Christian para fazer parte dessa encantadora família ― ela deu um sorriso cínico ― você não poderia estar mais errado.
A resposta ardente de Dulce à provocação de Christopher não o fez mudar a suave expressão do rosto, enquanto Dulce transbordava de raiva.
― Veremos ― disse ele secamente. ― Mas algo me diz que eu não serei agradavelmente surpreendido.
Christian finalmente apareceu, alheio à tensão em ebulição.
― Fico feliz de ver que vocês estão se dando bem. Ela não é magnífica, Christopher? ― Ele apertou Dulce pela cintura e deu, casualmente, um beijo em sua bochecha.
― Magnífica ― ironizou Christopher com um sorriso que denunciava a expressão ameaçadora de seus olhos. ― Bem, vocês me dão licença? ― Ele lançou rápido aceno em direção a Dulce, que permanecia calada. ― Foi um prazer conhecer você.
Não exatamente um prazer, Dulce pensou enquanto ele se afastava, mas certamente tinha sido uma experiência; o único problema era não saber se gostaria de repeti-la.

O jantar parecia não ter fim, e os discursos mais ainda. Dulce passou a maior parte do tempo se torturando com os comentários de Christopher, mexendo a comida no prato e bebendo demais. Ela odiava Christopher Uckermann pela insinuação de que era uma espécie de caça-níquel, quando na realidade ela estava fazendo um favor para a maldita família dele: poupando Jeremy Uckermann.
Christian estava extraordinariamente agitado. Uma inevitável conseqüência, Dulce supôs, de estar tão próximo da própria família. A promessa de ficar ao lado dela a noite inteira diminuía a cada copo de bebida, e na maior parte da noite tomou chá de cadeira enquanto Christian circulava pelo salão e voltava apenas para pegar mais um drinque.
― Vai com calma, Christian ― disse Dulce ao vê-lo esvaziar mais um copo.
― Eu preciso beber para encarar essa coisa toda. ― Ele deu a ela um sorriso de desculpas. ― Perdão, eu não estou sendo boa companhia, não é? Eles me fazem sentir desconfortável. O que você está achando?
Dulce encolheu os ombros.
― Nada mal, também porque eu só tenho de passar por isso esta noite. Eu não tinha idéia de que a sua família era tão abonada. Quer dizer, eu sabia que eles eram ricos, mas nada comparado a isso. Você devia ter me prevenido ― disse Dulce apontando para o salão do Hotel Windsor, o melhor de Melbourne.
― Por que eu faria isso? Em primeiro lugar, já tive trabalho suficiente para conseguir que viesse. Se você soubesse que iria ser assim, eu jamais teria conseguido arrastá-la.
Christian estava certo. No meio da elite australiana, com champanhe de primeira escoando feito água, Dulce sentia-se desnorteada.
Christian soluçou suavemente, olhando fixamente para o copo de bebida.
― Tab? ― disse ele gentilmente. ― O que está acontecendo? Lembre-se de que somos amigos há muito tempo para fingir que está tudo bem. O que está acontecendo?
Ela não respondeu, enrolando os longos dedos pelos cachos vermelhos de uma maneira quase infantil.
― É a sua avó? ― Ao vê-la mordendo os lábios, Christian sabiá ter acertado. ― O que ela fez dessa vez? ― Havia uma pitada de humor na voz ao tentar melhorar o astral de Dulce e fazê-la desabafar. ― Ela vendeu as jóias da família?
Ao levantar o rosto, os olhos de Dulce não sorriam.
― Minha família não é como a sua, Christian; a gente não tem "jóias de família". Desculpa ― ela acrescentou ― não é culpa sua.
― Então, o que é? Vamos, diz o que está havendo.
― Ela hipotecou a casa de novo. ― Dulce soltou a respiração que negligentemente segurava. ― Para saldar as dívidas de jogo.
― Você já me disse isso mês passado, se estou bem lembrado ― ressaltou Christian. ― Você foi ao banco com ela para ajudar a resolver as coisas. Ela não está conseguindo fazer os reembolsos?
― Ela retirou o empréstimo ― começou Dulce com a voz estranhamente trêmula ― e gastou tudo nas máquinas de pôquer do cassino.
― Todo o dinheiro?
A boca aberta e os olhos arregalados de Christian não estavam exatamente ajudando, e Dulce mexeu a cabeça aborrecida.
― Então agora ela tem todas as dívidas antigas e outras ainda mais volumosas, e é tudo minha culpa.
― De onde você tirou isso?
― Eu não devia ter deixado ela ter acesso a tanto dinheiro. Ela é como brasa no palheiro quando o assunto é cassino; eu já nem acredito que ela seja viciada em jogo, mas nas companhias. Eu devia tê-la feito pagar as dívidas...
― Ela não é mais nenhuma criança ― ressaltou Christian, pegando nas mãos trêmulas de Dulce.
― Ela é tudo que eu tenho. ― Lágrimas ameaçavam cair e Dulce colocou as mãos sobre o copo quando o garçom retornou, mas Christian não era tão reservado. ― Deixe a garrafa ― ordenou Christian esperando Dulce continuar.
― Vovó me criou depois que meu pai e minha mãe morreram, dedicou a vida a mim, e agora ela está velha, sozinha e aterrorizada, e não há nada que eu possa fazer. Eu pedi um empréstimo ao banco, mas quando você escreve dançarina como profissão é melhor rasgar o formulário.
― Deixa eu ajudar. ― Christian ignorava Dulce, que sacudia a cabeça furiosamente. ― Vamos, querida, isso seria uma gota no oceano. Eu ainda não contei as novidades. Ontem, eu vendi um quadro.
― Christian! ― Apesar dos problemas, o grito encantado de Dulce era genuíno e, colocando os braços em volta do pescoço dele, deu um beijo em seu rosto.
― Por favor, deixa eu ajudar, Dulce. Você me paga quando puder. A gente está no caminho certo ― sorriu Christian. ― Eu sinto isso.
Mas Dulce sacudiu a cabeça.
― Talvez você esteja, Christian, mas no meu caso dizer "a caminho da saída" seria mais adequado. ― A melancolia reapareceu em Dulce, mas ela deu o melhor de si para evitar um tom amargo na voz. ― Eu fui chamada para um teste da próxima produção.
― Então? ― Christian encolheu os ombros. ― Você vai.
― Talvez... tem sido tão automático até agora. Eu sempre tive um papel, mas agora estou ficando velha.
― Você tem 24 anos, pelo amor de Deus.
― Eu tenho 29 ― corrigiu Dulce rindodela mesma. ― E dançarinas de 29 anos têm muito a provar. Eu não posso pegar dinheiro emprestado com você se nem sei se vou poder devolver.
― Por favor ― insistiu Christian, mas Dulce era inflexível.
― Não, por favor, Christian. Eu vou resolver isso sozinha.
― Você tem certeza?