Fanfic: Solo Dios Lo Sabe/ Nani. | Tema: A Feia Mais Bela

Eu e Jaime não nos falamos muito pelo caminho até em casa. Acho que os dois estavam tensos por essa situação. Querendo ou não, faz muito tempo em que não pegava uma carona com ele. Até ele que é todo descolado e divertido o tempo todo, ficou mais calado e pensativo durante o caminho. Comentávamos sobre coisas a toas e aleatórias que víamos na rua. Nada de muito interessante. Ao parar com o carro em frente a minha casa, faço um sinal para a câmera posicionada ao lado do portão que da acesso aos carros e em seguida esse portão é aberto. Jaime dirige por ali bem devagar até parar completamente na frente da entrada principal. Ao fazê-lo, ele desliga o carro e tira o seu cinto, virando um pouco do seu corpo pra mim. Eu faço o mesmo e ao cruzarmos nossos olhares, começamos a rir. Eu não sei do que e nem o porquê, mas rimos. Ele inicia.

Jaime: To me sentindo um adolescente. Parece que nem te conheço de toda vida. – Continuo rindo ainda mais agora por concordar com ele. Alguma coisa estava diferente. Eu tava me sentindo envergonhada e sem jeito perto dele. Isso nunca acontecera antes.

Angélica: Pior que eu também to me sentindo assim! – Falo isso inclinando um pouco a minha cabeça pro lado e apoiando no encosto do banco do carro. Termino meu riso com um suspiro longo sem deixar de olhar Jaime em seus olhos. Ele também faz o mesmo.

Jaime: Sério agora... Desculpa ter entrado no banheiro daquele jeito. Não quis te dar outra oportunidade de se afastar de mim. E eu sei que você faria isso se eu tivesse te pedido o beijo. – Ele então abaixa seu rosto junto com o seu olhar buscando por algo em meu colo e acha ao segurar minhas mãos. Inclina um pouco o seu corpo para frente enquanto acaricia meus dedos com as pontas dos seus dedos.

Angélica: Eu te conheço muito bem pra saber que não está pedindo desculpas sinceras. Você queria entrar daquele jeito sim! – Ele volta ao me olhar quando escuta a minha voz e eu acabo sorrindo. Como sempre. Ele também sorri, mas de um jeito mais travesso.

Jaime: Não tem como esconder as coisas de você! Na verdade eu tava querendo chegar assim perto de você desde que te vi no Shopping, e... – Decido cortá-lo. Tirando as minhas mãos das dele.

Angélica: Eu to super cansada, Jaime. Vou entrar, tá? – Ele me olha um pouco surpreso. Sinceramente, eu não sei se estava pronta pra ouvi-lo dizer essas coisas novamente. Agora, parada na frente da casa da minha mãe, acho que a minha ficha está caindo um pouco. Eu to no carro do Jaime falando sobre coisas que não deveriam nem ter existido. Coisas que eu e nem ele poderíamos estar sentindo. Nós tivemos nossos momentos e se não deram certo, é porque tivemos nossos motivos. Porque agora as coisas seriam diferentes? Não vai ser diferente, Angélica.

Jaime: Tá bom. – Ele suspira firme enquanto vira o seu corpo e abre a sua porta. Sai do carro e da volta pela frente do mesmo até parar ao lado da minha porta e abri-la. Só pra foder mais com o meu emocional dessa noite, ele continua lindo e cavalheiro. Seguro em sua mão que está esticada para me ajudar a sair do carro e ao fazê-lo, ele fecha a porta com a sua mão livre. Ficamos parados um na frente do outro com aquela perda de noção do tempo quando nos olhamos assim. Saiu desse transe com uma leve fisgada do meu pé. Os saltos estavam novamente machucando-o. Decido falar. Sorrindo um pouco forçado na tentativa de descontrair o ambiente.

Angélica: Direto pra casa hein, James?  – Afasto um pouco meu corpo na tentativa de começar a subir as escadas, mas ele me segura, ainda segurando a minha mão desde o momento que me ajudou a sair do carro. A solta e rapidamente envolve seus braços em minha cintura, me abraçando. Apoia seu queixo em meu ombro, ficando com o tronco um pouco inclinado pra baixo. Eu o correspondo e passo meus braços envolta do seu pescoço. Deixo meu corpo encaixar no seu e assim poder sentir o calor dele. Percebo que ele vira um pouco o seu rosto e com a ponta do seu nariz respira próximo a lateral da minha nuca. Isso me faz contrair brevemente meu ombro com o arrepio que sinto naquela região. Ficamos abraçados assim e aos poucos nos soltamos enquanto ele diz, voltando a me olhar nos olhos.

Jaime: Venho te buscar as 20:00. Te quiero! – Ele se despede com um beijo demorado na minha testa e ao soltar o meu corpo, nos afastamos. Ele caminha pro seu lado do carro e eu ando em direção a escada inicial da casa, a subindo com uma certa rapidez. Não olho mais pra trás e entro na casa da minha mãe, fechando a porta atrás de mim.

Caminho determinada para o meu quarto, passando pela sala principal, sala de jantar, corredor até a minha porta e a fecho. Ao entrar, encosto as minhas costas junto com a minha cabeça na porta já fechada e fecho os olhos por alguns instantes tentando entender tudo que aconteceu hoje em relação ao Jaime... Como eu posso deixar ele me influenciar desse jeito? Todo aquele clima na festa não foi só da minha cabeça. Ele também tava sentindo. Eu sei que estava. Mas porque ele tem todo esse controle sobre mim depois de tudo que já aconteceu? Depois de tudo que já sofri por causa dele? O pior é ele agir como se nunca tivesse acontecido nada. Como se eu nunca tivesse escutado antes essas palavras que ele me diz. É muito difícil querer que eu acredite nele. Acho que é por isso que de certa forma ele não fica me pressionando. Mas, chegar daquele jeito no banheiro e depois ser maravilhoso comigo o resto da noite, não deixa de ser um tipo de pressão pra mim. Ele assim é impossível nega-lo e querer ficar longe. Pelo ao contrário. Desse jeito só me faz querer ficar o tempo todo em seus braços. Sentindo as suas mãos pelo meu corpo, seu beijo, seu calor... Uau. Seu calor!

Pensar nisso me faz voltar à realidade. Ainda mais pelo fato do meu pé estar realmente doendo. Rapidamente estico o meu corpo pra baixo e puxo o meu sapato para sair do meu pé, o deixo de qualquer jeito. Amanhã na hora que acordasse arrumava. Eu estava morta. Não só fisicamente, mas emocionalmente. Muitas coisas aconteceram hoje e não só em relação ao Jaime. A homenagem foi incrível, um sucesso. Me trouxe tantas recordações boas e maravilhosas daquela época que ainda estou anestesiada com tudo aquilo. Além de encontrar as pessoas que tanto queria ver novamente. Falando nisso, estou firme na minha decisão de não me afastar deles. Não tem porque ficarmos tanto tempo sem nos falarmos. Ainda mais com a facilidade hoje em dia de se comunicar com quem quiser.

Bocejo caminhando em direção a minha cama sentindo todo o meu corpo pesado, coloco as minhas mãos na barra do meu vestido, na altura dos meus joelhos e assim o puxo para cima, tirando-o pelos meus braços. Deixo o vestido de lado e deito de calcinha e sutiã na cama. Me cubro e da forma que deito, durmo.

Eu sei que acordei, mas não sei se quero acordar. Sabe aquela sensação de estar acordado, mas o resto do seu corpo ainda ta dormindo? Pois então. Forço as pálpebras dos meus olhos para conseguir abri-los e primeira coisa que percebo é o sol batendo forte contra a cortina do meu quarto. Isso o deixa bem iluminado e relativamente quente. Ao perceber esse calor, acabo me soltando das cobertas e fechando os olhos novamente. Fico toda largada na cama com os olhos fechados. Rapidamente sou invadida com os acontecimentos da noite anterior. Por vezes rio sozinha ao lembrar de cenas engraçadas ou apenas sorrio por outras situações. Não demoro muito pra chegar com meus pensamentos nele. E se tinha uma pergunta que esta me matando desde ontem é: que porra a gente ta fazendo? Amanhã eu volto pra LA, e aí? Vai continuar tudo na mesma. Tenho certeza. Ele vai embora e ficar com a mulher dele e eu vou ficar com o meu marido. Tudo isso que aconteceu não passa de uma aventura. De uma noite. Talvez mais uma aventura pra lista de aventuras do Jaime. Ainda mais comigo, porque os relacionamentos sérios dele são com as suas loiras.

Respiro fundo soltando firme o ar pelo nariz e abro aos poucos os olhos. Fico mirando o teto por alguns instantes e ao me acostumar com a claridade, sento na cama. Me perco em pensamentos com a minha visão em um ponto qualquer em minha frente... Eu também sou muito idiota. Tava achando que ia acontecer o que? Que ele me levaria a sério? Se ele não me levou a sério quando namoramos, porque isso aconteceria agora? Tudo bem que a grande parte da ideia de namorar escondido foi minha, porque não queria que achassem que estávamos fazendo isso pra promover a novela. Mas ele também não se manifestou ao contrário. Acredito que agora não posso ser irresponsável desse jeito, ainda mais pelo fato de que não sou mais uma menina. É. É isso. Hoje nesse jantar eu termino tudo que nem começou. Chega de ilusões pelo Jaime.

Determinada, escorrego meu corpo pela cama até sair dela. Caminho em direção ao banheiro e acabo me distraindo dos meus pensamentos ao ver a minha situação no reflexo do espelho. Solto uma risada enquanto vejo meu cabelo todo bagunçado, meu sutiã torto, a maquiagem do meus olhos borrando todo o contorno dos olhos. Aproveito e faço uma graça na frente do espelho, fazendo caretas e vozes de madame, depois de bêbada, depois de chorona... Canso de me divertir com isso e entro rapidamente embaixo do chuveiro pra tirar toda essa sujeira do corpo. Odeio dormir sem tomar banho e me sentir limpa, mas ontem realmente estava cansada. Por isso, agora meu banho demora um pouco mais que o normal.

Saiu do banheiro com uma toalha enrolada envolta do corpo e outra nos cabelos. Me sinto outra mulher agora. Parece que junto com a sujeira, saiu também vários pensamentos que estavam me deixando pesada. Bom mesmo que tenham saído porque preciso estar tranquila para hoje. Pra saber tomar as decisões certas que têm que ser tomadas... Chego em frente a minha mala e visto novamente uma roupa tranquila. Um vestidinho florido até a altura dos joelhos e bem larguinho. Aproveito que mexi na mala para dar uma arrumada nela. Cato a roupa e os sapatos que deixei pelo meio do caminho ontem. Por fim, abro de uma vez as cortinas do meu quarto seguido da janela. O dia estava lindo. Um ótimo domingo ensolarado. Acabo sorrindo com esse pensamento.

Desvio meu olhar pro relógio em cima do criado mudo e percebo que ainda da pra almoçar com a minha mãe. Geralmente de domingo almoçamos mais tarde. Antes de sair do quarto, deixo as toalhas penduradas nos ganchos próprios no banheiro e penteou o meu cabelo, balançando eles molhados com as pontas dos dedos para deixa-los mais soltos. Passo desodorante, perfume e calço meus chinelos. Saio assim do meu quarto, caminhando pelo corredor e parando na entrada da sala de televisão. Minha mãe estava lá. A sala é bem espaçosa. As paredes são brancas com janelas que acompanham sua extensão. Essas janelas possuem persianas em um tom de marrom claro que regulam a claridade que entra na sala. Ao entrar, um sofá bem largo e claro está bem posicionado no meio da sala. Em forma de “U” ele fica em frente a uma televisão grande suspensa na parede. Embaixo dessa televisão e também encostada na parede, tem um rack branco que é da mesma extensão do sofá. Esse rack é repleto de fotografias. Aliás, minha mãe é apaixonada por fotografias. Tem por todas as partes e tamanho. Também em frente ao sofá, tem uma mesinha de centro, com a sua base branca que é da mesma cor que o rack, e a tampa de vidro. Ali estava a minha estatueta de ontem. Sempre que ganhamos algum premio novo, ele fica ali por alguns dias, até ir para o quarto destinado a esse tipo de coisa.

Ao olhar atrás do sofá, tem uma grande estante branca encostada na parede. Ali estão todos os livros da minha mãe organizados. Na frente dessa estante tem uma poltrona inclinável com um abajur de chão ao seu lado. Todos os móveis da sala são brancos. Mudam de cor apenas os detalhes como cortinas, tapetes, enfeites, porta retratos e o abajur... Minha mãe estava sentada na sua poltrona lendo. Me aproximo do seu corpo com um sorriso de canto em meus lábios, mas bato os chinelos no chão para depois ninguém dizer que a assustei. Isso funciona. Ela acaba percebendo a minha presença e levanta um pouco o seu rosto do livro, me olhando com os olhos por cima dos óculos. Ela sorri.

Maria: Boa tarde, meu anjo! Dormiu bem? – Ela termina abaixando suas mãos junto com o livro e o deixando apoiado no seu colo. Sem tirar os olhos de mim, faço o mesmo.

Angélica: Dormi bem sim, mãe. Mas confesso que ainda estou cansada. Ontem eu tive a prova que não tenho mais idade pra essas coisas! – Nós rimos enquanto termino de me aproximar do corpo dela. Fico do seu lado e começo a mexer em seus cabelos com as pontas dos dedos, acariciando-os. Ela levanta bem o seu rosto para me olhar e eu abaixo o meu.