Fanfic: Solo Dios Lo Sabe/ Nani. | Tema: A Feia Mais Bela

Abro a porta do banheiro, com uma toalha enrolada no cabelo e com meu roupão até os joelhos ao mesmo tempo que Otto abre a porta do nosso quarto, com a gravata frouxa embaixo da garganta, segurando seu paletó com uma das mãos. Ele sorri ao me ver e claro, retribuo o sorriso caminhando até seu corpo. Ele vem ao meu encontro, apoiando suavemente suas mãos na minha cintura enquanto as minhas deixo apoiadas sobre seus braços. Deposito um selinho em seus lábios.

Angélica: Oi, meu amor. Como foi hoje? Está acabado... – Rio ao me afastar aos poucos do seu corpo e percebê-lo realmente acabado. Não fisicamente, mas com uma certa expressão de cansaço em seu rosto. Ele abre mais seu sorriso e isso me tranquiliza de alguma forma. Nos afastamos e assim ele passa por mim, deixando seu paletó sobre uma cadeirona embaixo da janela de vidro do nosso quarto que estava agora coberta pela cortina grossa que mantenho fechada de noite para manter nossa privacidade tranquila. Me sento sobre a cama. Fico com uma perna dobrada por baixo e sento por cima da mesma, acompanhando seus movimentos ao desabotoar os punhos da camisa social, seguido dos botões centrais. Ele então suspira.

Otto: Tudo corrido e cansativo como sempre, amor. Reuniões para decidir coisas importantes, pessoas que atrapalham nossa vida, pessoas que querem ajudar, mas que atrapalham mais ainda... – Ele suspira fundo agora. – Enfim, tudo da mesma forma. Mas não quero te preocupar com isso. Me diga, e você? Como está? Como foi seu dia? Almoçou bem? – Inclino meu corpo pra trás enquanto ele faz essas perguntas. Dessa forma fico meio deitada e meio sentada, com os travesseiros encostados no encosto da cama onde me apoio. Otto não gosta muito de falar sobre o seu trabalho. Não acredito que seja só pra me preocupar, mas as vezes acho que ele esconde certas coisas de mim. E coisas financeiras que podem nos prejudicar. Já discutimos sobre isso muitas vezes e hoje eu realmente estou feliz para querer entrar nesse assunto. Aliás, porque tanta felicidade? Antes que entrasse em meus pensamentos, o respondo.

Angélica: Estou bem. Meu dia foi tranquilo, como sempre, meu amor. Fui ao Shopping de manhã, e lá tive uma ligação que fez meu dia mudar completamente.  Aliás, essa ligação também pode mudar tanto o seu dia como o seu final de semana. – Otto agora esticava pra cima suas sobrancelhas ficando mais interessado no meu assunto. Ele terminara de tirar a camisa social e a deixava sobre a mesma cadeirona e então veio de encontro da nossa cama, se sentando no baú que acompanha o comprimento da cama na região dos nossos pés. Como se fosse uma continuação da cama. Ao se sentar ali, vira um pouco o corpo para não deixar de me mirar nos olhos.

Otto: Sério? Me conte mais sobre isso... Estou interessado em saber. – Sorri, e isso me faz sorrir também. Lhe contei sobre o telefonema no meio do shopping, pulando certas partes desnecessárias desse passeio matinal que tive hoje. Ele ainda não precisava saber sobre Jaime. Não era necessário. Eu teria recebido o telefonema encontrando com ele ou não. Foi apenas um detalhe. Sim, um detalhe. Foca, Angélica. Termino contando pra Otto sobre a ligação que fiz para minha mãe de tarde e ela toda preocupada com ele. Mas me impressiono ao não ver uma reação feliz ou se quer impressionada em seu olhar e em seus traços. Pelo ao contrário, vejo uma reação triste, desapontado.

Otto: Não vou poder te acompanhar, amor... Lembra que tenho aquele congresso em Santa Mônica? Não posso faltar. Dei a minha palavra que iria. – Ele realmente ficou triste e isso me fez ficar triste. Poxa, queria a sua companhia. Ia ser incrível encontrar minha mãe, meus amigos, meus companheiros de trabalho ao lado do meu marido. Não quis deixa-lo com peso na consciência então rapidamente sorri para ele, tentando tranquiliza-lo.

Angélica: Tudo bem. Não se preocupe com isso. Aliás, me desculpa não ter lembrado sobre seu congresso. Fiquei tão entusiasmada com essa viagem que acabei esquecendo completamente, amor. – Continuo olhando-o nos olhos. Ele então se levanta e caminha em minha direção, contornando a cama até chegar ao meu lado. Com isso, ajeito meu corpo de barriga pra cima e observo seu tronco se abaixar em minha direção, apoiando suas mãos ao lado do meu corpo sobre a cama. Ele beija carinhosamente minha testa e com o rosto bem em frente ao meu, diz agora com um tom mais baixo.

Otto: Só essa viagem que te deixou entusiasmada assim ou aconteceu mais alguma coisa? – Engulo seco e me ajeito na cama para disfarçar, sentando melhor sobre a cama e ficando com as costas completamente encostada nos travesseiros. Com os meus movimentos, ele é obrigado a se afastar um pouco mas permanece com as mãos firmes ao lado do meu corpo, se apoiando na cama. Foca, Angélica. Sorrio, e da forma mais tranquila que conseguia, o respondi.

Angélica: Claro que aconteceu, amor... Falei com a minha  mãe.  E ela estava tão feliz que vou pra lá. Acredito que essa felicidade dela me contagiou.  Mas ela vai ficar triste em saber que você não vai. – Inclino meu rosto e encosto rapidamente meus lábios nos lábios de Otto. Ele então se afasta rindo baixo, caminhando em direção ao banheiro, dizendo pelo caminho.

Otto: Diga a ela que irei visita-la o mais rápido possível, amor. Vou pro banho, já volto. – E então, fecha a porta do banheiro. Fico por alguns instantes tentando entender o que aconteceu ali. Será que to tão feliz assim que um telefonema da minha mãe não justificaria tanta felicidade? Claro que justificaria. É a minha mãe. Faz tempo que não a vejo e realmente estou feliz por conseguir fazê-lo assim, indo pro México. Pra minha cidade. O Jaime não tem nada a ver com isso... Fecho os olhos e respiro fundo soltando o ar fortemente pelo nariz. Inclino um pouco a minha cabeça pra trás e assim encosto-a no encosto da cama. Por que eu to pensando nele? Posso querer mentir pra todo mundo, mas eu sei que a cada momento ele vem na minha cabeça. Aliás, vem ele, vem seus braços, seu toque, seu cheiro, seu sorriso, sua risada... Uau. Sua risada!

Abro os olhos e percebo que estou sorrindo boba, olhando para o teto. Rapidamente sacudo a minha cabeça e sento normal na cama, ereta. Nesse momento percebo a toalha ainda enrolada em meus cabelos por cair pelo meu rosto. Levo as minhas mãos na ponta da mesma e puxo devagar, soltando meus cabelos molhadas sobre meus ombros. Aperto a toalha com as mãos sobre meus cabelos e assim os esfrego, tentando seca-los um pouco mais. Focalizo um pouco sobre a cama e novamente caiu em meus pensamentos... Sua risada. Hoje ele estava lindo. Quer dizer, ele sempre está lindo, mas hoje... Acredito que pelo fato de não vê-lo assim, pessoalmente, a tanto tempo, tenha mudado meu jeito de perceber a sua beleza. Lembrar dele me faz lembrar dessa viagem. A imprensa estará novamente com seus olhos e ouvidos em cima de nós, igual naquela época. Mas agora é tudo diferente. Nossas vidas são diferentes. Eu to casada, ele também... Heidi. Loira e modelo. Tão obvio, tão Jaime. Eles devem estar bem, felizes com o casamento. Até presentes para sogra estava comprando hoje. Isso significa um bom casamento, certo? Porque então ele sorriu esquisito, todo forçado quando toquei no assunto das nossas vidas terem mudado depois da novela? E não mudaram? Ele está casado, eu também. Não ficou claro essa expressão dele pra mim. Enfim... Ele nunca é claro. Como vou enfrentar os dois, felizes e sorridentes sem o Otto do meu lado nessa festa?... Meus pensamentos são cortados com a porta do banheiro abrindo. Pensei tanto que deu tempo dele terminar o seu banho? Eu tenho que aprender a me controlar mais com essas minhas “viagens”. Depois desse breve susto com a porta, dou um pulinho para sair da cama e caminho em direção ao banheiro enquanto Otto sai do mesmo e entra pela porta do lado, do closet. Ele então questiona.

Otto: ... – Não escuto direito sua pergunta enquanto deixo a toalha molhada sobre a pia, abro a gaveta na lateral da mesma e ali caço uma escova de cabelo para pentear meus cabelos. O escuto mexendo em seu armário e então pergunto.

Angélica: Não entendi, amor... O que? – Falo em um tom mais alto para que pudesse me ouvir melhor. Acho a escova de cabelo e então começo a pentear meus cabelos, acompanhando tais movimentos no reflexo do espelho que era do tamanho da pia em minha frente. Ele responde no mesmo tom.

Otto: Você estava naquelas suas “viagens”. Estava pensando no quê? – Arregalo os olhos na frente do espelho e termino de pentear meus cabelos, guardando a escova novamente na gaveta. Seguro a toalha e a penduro em um gancho ao lado da entrada do box e me viro para voltar de frente do espelho. Pensa, Angélica. Pensa. Observo o reflexo do banheiro pelo espelho em cima da pia que dava exatamente de frente para a porta.

Angélica: Pensava sobre as passagens, amor. Sorte que não as reservei em seguida do telefonema. – Volto a responde-lo no mesmo tom um pouco alto para me ouvir e reviro meus olhos ao não escutar uma resposta. Deixo as minhas mãos apoiadas sobre a pia, com uma certa distancia uma da outra, e abaixo vagarosamente a minha cabeça. Que que eu to fazendo mentindo assim pra ele?  Levanto então meu rosto e levo outro susto ao tê-lo rente a porta do banheiro me observando pelo reflexo do espelho... – Nossa, amor. –Levo uma mão ao coração e o sinto bater bem rápido e forte. Otto ri, o que me faz sorrir para ele conforme me tranquilizo.

Otto: Você está muito assustada hoje.Toda dispersa... Tem certeza que ta tudo bem? – Ele se aproxima de mim, fixando suas mãos nas laterais da minha cintura, uma de cada lado. Encosta suavemente seu peitoral em minhas costas, ficando com o rosto ao lado do meu, me observando pelo reflexo. Sorrio para ele. Estico a minha mão e pego a minha escova de dente junto com a pasta, despejando um pouco sobre a escova. Volto a mira-lo e ainda sorrio, continuo.

Angélica: Estou... Queria que viajasse comigo. Só isso! Mas não se preocupe. De verdade, amor.– Ele então deposita um beijinho na ponta da minha orelha o que me faz contrair o ombro arrepiada. Aos poucos ele me solta, mas permanece atrás de mim enquanto começo a escovar meus dentes. Ele acompanha meus movimentos, acho que de alguma forma tentando me decifrar pelo espelho e então diz quando termino.

Otto: Tá bom... Não vou me preocupar então. Acredito em você! Vou descer comer alguma coisa, tudo bem? Jajá nos vemos. – Agora deposita um beijo em meu ombro e caminha em direção a porta do banheiro. Por fim, escuto  a porta do nosso quarto bater. Levo as mãos em meu rosto e viro meu corpo, apoiando minha bunda na pia. Abaixo minhas mãos e as apoio na pia também, ficando ao lado do meu corpo. Fico nessa posição por alguns instantes... Eu não to fazendo nada de ruim. Não tem necessidade contar sobre o Jaime. Otto sabe que ele estará lá. Ainda mais por saber que ele fez a novela comigo. Foi protagonista comigo. Aliás, para o Otto eu sempre deixei claro que foi apenas um lance. Uma diversão. Mais pro Jaime do que pra mim, confesso. Pra mim não foi nenhuma diversão, confesso de novo. Que seja. Agora já foi. To casada, e muito bem casada. Com um homem que me compreende e me respeita. Portanto, dona Angélica, pode ir parando com esses pensamentos.  Ou você acha que o Jaime está lá do lado da modelo dele pensando em você? Rá. Ta bom!... Balanço a cabeça em sentido negativo e saio do banheiro, apagando a luz. Viro para a porta do lado e entro no closet. Com um tapete escuro e bem grande no centro e um sofá claro retangular no meio sem encosto, caminho para o meu lado. Os armários são sem porta, com algumas gavetas. Eles acompanham as paredes do quarto, sendo assim em forma de “U”. Bem na frente da porta tem um espelho que sai do teto e vai até o chão, acompanhando a altura do armário. Abro a minha gaveta de calcinhas e visto uma por baixo do roupão. Em seguida, abro a minha gaveta de camisolas e escolho uma fresca para a noite quente que faz em LA. Ao terminar de me vestir, penduro o roupão em um gancho ao lado do espelho, pois assim, Paula o recolhe amanhã cedo.  Ao lado do espelho, escolho um creme que rapidamente espalho pelos meus braços e pernas. Termino passando um desodorante. Saio do closet apagando a luz e puxando a porta de correr até fecha-la. Caminho em direção a cama e agora puxo a colcha escura de cima da mesma, a deixando de lado em outra cadeirona ao lado oposto da com as roupas de Otto. Subo na cama e então me enfio por debaixo de uma fina coberta. E antes que pudesse reclamar dos meus pensamentos inapropriados, adormeço.