Fanfic: Solo Dios Lo Sabe/ Nani. | Tema: A Feia Mais Bela

Eu fui pega de surpresa. Não esperava ter que ter essa conversa com ele agora. Não estava ainda pronta o suficiente depois do que aconteceu no banheiro. Precisava de mais tempo. Mas ao mesmo tempo, não quero ficar guardando tudo que ta aqui dentro de mim. Não vou conseguir esperar até depois da janta. Mas eu devo esperar. Falar assim, agora, do nada, vai ser horrível. Essa confusão de vontades e quereres fez meus olhos marearem novamente. Bem rápido levo as minhas mãos em meu rosto, não conseguindo mais segurar o choro. Já tive que fazê-lo no banheiro e agora não consigo mais.

Otto: Ei... Angie... Ei... – Percebo que ele se levanta da cadeirona e aproxima o seu corpo do meu. Fica parado em minha frente, levando suas mãos em meus cabelos. Os acaricia de acordo com o comprimento do meu cabelo. Sua voz mostra preocupação: O que ta acontecendo... O que eu fiz? Quer ir pro restaurante, é isso? – E ele ainda continuava preocupado comigo. Isso só dificulta mais as coisas.

Angélica: Não... não é isso... – Minha voz sai um pouco falha. Eu limpo as minhas bochechas com as pontas dos dedos conforme o Otto inclina o seu corpo ao lado do meu e senta também na cama, da mesma forma que eu. Abaixo minhas mãos junto com o meu rosto. Fico com o olhar fixo nas pontas dos meus dedos, voltando a dizer baixo: Eu preciso conversar com você... E... Não sei bem qual o momento certo. Mas, preciso falar... Ta me sufocando.

Otto: Tudo bem... Pode dizer. – Sinto suas mãos tocarem nas minhas. Ele as segura firme numa forma de me confortar para conversar com ele. Agora fico com o meu olhar fixo nas nossas mãos.

Angélica: Eu não sei muito bem por onde começar... Não sei também dizer como tudo ficou desse jeito, mas... – Respiro fundo na tentativa de controlar um pouco as minhas lágrimas que ainda caem pelo meu rosto. O levanto para olhá-lo nos olhos. Ele estava atento as minhas palavras. Continuo: Mas, eu quero o divórcio. – Resolvo falar de uma vez. Parar de torturar a ele e a mim com esse mistério. Acredito que ele demorou para assimilar o que eu disse porque ficou me olhando sem dizer nada. Aos poucos foi soltando as minhas mãos.

Otto: Certo. Você quer me dizer melhor sobre isso? – Eu mantinha meus olhos nos seus. Ele já tinha soltado por completo as minhas mãos. Seu rosto estava com um aspecto curioso e confuso.

Angélica: Não sei ao certo o que te dizer... Mas, voltei diferente dessa viagem. Não sei... Tenho uma visão diferente de toda a minha vida. Deixei de fazer muitas coisas que gosto e minha vida perdeu um pouco o sentido que tinha antigamente. – Ele me escuta e decide levantar-se. Fica em pé na minha frente, caminhando lentamente até ficar rente a janela. Ficou olhando pra paisagem lá de fora.

Otto: Não sabia que estar casada comigo te fez perder o sentido da sua vida. Geralmente, é ao contrário. – Fiquei olhando fixamente pra nuca dele enquanto dizia, pois pela posição, ele estava de costas pra mim. Já não chorava mais.

Angélica: Otto... Não é isso. Na verdade, eu to confusa.  To confusa com tudo. Não só com o nosso casamento. To confusa com as coisas que estou sentindo nesse momento. – Não estava conseguindo me expressar direito e isso sempre me deixa nervosa. Ele vira o seu corpo e volta a me olhar.

Otto: Só me responde uma coisa, Angélica. É muito curioso você voltar com essa “confusão” justo agora, depois dessa sua viagem pro México. O que o Jaime tem a ver com isso tudo? – Forço um pouco os meus olhos para ele. Sua pergunta me deixa mais confusa ainda.

Angélica: Como assim? O que o Jaime tem a ver com tudo isso que to te dizendo? – Demonstro minha confusão pelo tom da minha voz.

Otto: Não sei. Foi a pergunta que te fiz. Me responde você... – Ele encosta suas costas na parede embaixo da janela enquanto cruza os seus braços contra seu peitoral. Sem tirar os olhos dos meus.

Angélica: Ele não tem nada a ver, Otto. Eu to falando sobre coisas que estou sentindo há tempos. Não é de agora. Não surgiram durante o final de semana. – Eu apoio as minhas mãos na cama ao lado do meu corpo. Respondo com a voz um pouco alterada, porque não tem sentido o que ele estava perguntando.

Otto: Certo. Está sentindo há tempos o que exatamente? – Ele mantinha sua posição firme contra a parede.

Angélica: Sinceramente, Otto... Eu to me sentindo cada vez mais insegura do seu lado pelo fato de não conversar comigo sobre o que está te deixando tão cansado e estressado em relação ao teu trabalho. – Mais uma vez, o questiono sobre isso.  

Otto: De novo essa história, Angélica? – Reviro os olhos porque sua resposta não me surpreende. Em seguida, volto a olhá-lo nos olhos.

Angélica: É... De novo. Até você resolver conversar direito comigo sobre isso! Você não ta vendo que isso ta me afastando de você? Pode ser uma coisa pequena, mas pra mim significa muita coisa. – Agora, da mesma forma que ele, decido cruzar os meus braços contra os meus seios.

Otto: Já te disse que você não precisa se preocupar com isso. Já passou. Foi uma fase. Pronto! Agora eu acredito que isso não te feria ficar confusa desse jeito. Alguma outra coisa tem. – Descruzo os meus braços. Ele tentar achar os motivos que nem eu sei quais são realmente me incomoda.

Angélica: Não tem mais nada em especial.  Acredito que ficar esse tempo parada também facilitou com que eu me sinta assim... – Dou uma pausa na minha fala. Desvio meu olhar do dele na tentativa de achar algum motivo realmente forte e significativo para ter essa conversa sobre divórcio com ele. O final do semana com o Jaime passa pelos meus pensamentos, mas isso tudo não tem nada a ver com ele. Não. Não tem. Solto um suspiro longo ao não ter sucesso: Ai... Não sei. Eu to toda confusa. – Percebo que ele pensa por alguns instantes.

Otto: Então vamos fazer assim... – Ele resolve aproximar-se de mim novamente. Agacha seu corpo ao parar na frente do meu, ficando de “cóccix”. Leva suas mãos de encontro com as minhas e as segura firme. Eu acompanho os seus movimentos com o olhar até abaixar o meu rosto conforme o seu corpo se abaixa para ficar naquela posição. Voltamos a cruzar nossos olhos. Ele continua: Você acabou de voltar dessa sua viagem com esse pensamento de voltar a atuar. Faça seus contatos. Volte a fazer o que quer fazer. Depois, quando não estiver mais “a toa” e “parada”, você me diz se ainda quer esse divorcio. E aí, conversaremos.

Eu apenas sorri amarelo em resposta. Não sabia o que responder. Na verdade, não queria mais responder. Eu estava com a impressão que não tinha motivos suficientes para me divorciar desse homem. E na verdade, não tinha mesmo. O fato de estar parada e de me sentir mal ao seu lado pelo fato de não conversar direito comigo, ainda não eram motivos suficiente pra um divórcio. Eu sabia que esse pensamento foi o Jaime que colocou dentro de mim. Querendo ou não, ele colocou. Eu voltei focada pra casa com esse pensamento. Pra variar, eu sou sempre impulsiva sobre o que eu sinto. Não consigo guardar pra mim e acabo dizendo coisas que ainda não estão prontas para ser ditas. Nem com alguma finalidade. Enfim. Respiro fundo antes de continuar. Mudo de assunto.

Angélica: Antes que eu esqueça, Heidi me ligou na hora que estava no seu banho. Ela nos convidou para ir a casa dela para comemorar um aniversário surpresa para o Jaime. Eu disse que ia conversar com você... – Deixei a frase subentendida para que ele respondesse só com isso que já tinha lhe dito. Ele se levantou e com isso soltou nossas mãos. Abriu um sorriso antes de me responder.

Otto: Vamos. Vamos sim. Eu sei o quanto você significa pra ele. Ele vai gostar da sua presença lá. – Respondeu e em seguida inclinou o seu corpo pra baixo e depositou um beijo rápido na minha testa. Voltou com o seu corpo ao normal, dizendo: Bom... Vou descer um pouco pro escritório. Depois me diz o que vamos pedir pra comer, tudo bem? – Ele sorri e se afasta do meu corpo, dando a volta pela cama e caminhando para a porta do nosso quarto, a fecha quando sai.