Fanfic: Solo Dios Lo Sabe/ Nani. | Tema: A Feia Mais Bela

Estou largada na cama, embaixo de uma coberta fina. Depois de terminar o meu banho, já coloquei minha camisola e me enfiei ali para assistir um pouco de TV. Escolhi um filme de comédia romântica só pra combinar com esse dia. Isso só me fez sorrir mais boba ainda por diversas vezes lembrar do Jaime. Tento disfarçar essa cara de idiota quando escuto a entrada do Otto pelo quarto. Viro meu rosto para olhá-lo e ele sorri pra mim quando cruzamos nossos olhares. Ele se aproxima de mim e eu acompanho seus movimentos até sentir o seu beijo rápido no topo da minha cabeça. Esta com uma expressão meio cansada, mas estava tranquilo.

Angélica: Te esperei pra jantar. – Sorrio sem mostrar os dentes enquanto ele da a volta na cama, tirando aos poucos seu paletó seguido da gravata. Ele vira seu corpo de frente pra mim.

Otto: Ai, amor... Eu to sem fome. Desculpa. – Ele desabotoa o colarinho sem tirar os olhos de mim. Me olha um pouco triste. Acredito que é pelo o que me disse.

Angélica: Tudo bem, não se preocupa. – Tento confortá-lo. Decido mudar de assunto: Você não faz ideia de como a Bárbara ta incrível. - Ele senta na beirada da cama conforme conto pra ele como foi meu almoço com ela. Por vezes ele comentava alguma coisa.

Otto: E depois, veio direto pra casa? – Ele abaixa seu rosto conforme desabotoa seus pulsos. Pra minha sorte ele faz isso. Assim não sou obrigada a mentir olhando pros seus olhos.

Angélica: Na verdade, não... Fui no shopping ver algumas coisas. – Foi a única coisa menos pior que consegui inventar agora. Eu sou muito idiota também em não pensar em algo antes dele chegar. Claro que perguntaria sobre meu dia. Continuo antes que me pergunte mais: Tem uma coisa que a Bárbara me disse hoje que me interessou muito.

Otto: O que? – Ele levanta seu rosto para me olhar. Curioso.

Angélica: Ela ficou sabendo que tem uma filial de um restaurante que eu gosto muito lá do México que está querendo vir pra cá. Só precisa de alguém para comprar, e eu to... – Ele me corta com a voz firme.

Otto: Não! – Eu forço meus olhos pra ele. Fico pensando se falei alguma coisa que não era pra ter falado pra ele ter dito isso.

Angélica: Não o que? Nem terminei de contar. – Sento-me aos poucos na cama. Fico com as pernas cruzadas em forma de índio.

Otto: Não ta pensando em comprar, não é? – Ele fixa seu olhar em mim.

Angélica: Estou. Estou pensando em comprar sim. Se tivesse deixado eu terminar a... – Ele me corta novamente. Respiro fundo. Não vou brigar com ele por causa dessas cortadas. Respiro fundo novamente. Bem fundo.

Otto: Ah Angélica, não inventa nada agora. – Fico completamente perdida com essa reação.

Angélica: Eu não to te entendendo. – Ele fica em pé agora no final da cama, mas com o corpo posicionado na minha direção e na minha frente. Demora um pouco pra me responder, tenho a impressão que para pra pensar em algum argumento.

Otto: Você me disse esses dias que quer voltar a atuar. Já mudou de ideia? – Tento ficar o mais tranquila possível.

Angélica: Eu vou voltar a atuar. Enquanto não me interesso por um papel, eu posso muito bem cuidar de um restaurante. E mesmo atuando, tenho capacidade de cuidar das duas coisas. Por isso, não... – Ele me corta. Sim. De novo. E agora eu cansei.

Otto: Você ta atropelando as coisas. – Ele altera um pouco a sua voz.

Angélica: Qual o seu problema, Otto? Não tem sentido essas coisas que está me dizendo. – Eu também altero a minha voz. E realmente estou brava agora.

Otto: Só acho que você ta se precipitando nas suas decisões. Fiquei quieto na questão de voltar a atuar, mas agora... Comprar um restaurante não é simples assim. – Juro que me esforço pra tentar entender o que ele quer dizer com tudo isso.

Angélica: Eu sei que não é simples. Eu não faria isso tudo sozinha... De verdade, eu não to entendendo seus argumentos. – Expresso confusão em meu rosto.

Otto: Ah... Deixa pra lá. – Acompanho com um olhar surpresa quando ele vira o seu corpo e me deixa ali, falando sozinha praticamente. Caminha em direção ao closet e entra no mesmo.

Não, não, não. Não vou deixar isso assim não. Me solto das cobertas, escorrego pela cama até saltar da mesma com um pulinho. Calço meus chinelos e ando determinada pro closet. Entro e o vejo de costas pra mim, deixando seu relógio dentro da gaveta apropriada. Dou breves passos pra dentro do closet e cruzo meus braços contra os meus seios, sem tirar os meus olhos dos dele. Digo firme.

Angélica: Eu não sei qual é o seu problema hoje e nem vou perder o meu tempo perguntando, porque sei que não vai me dizer... Só quero que me responda qual é realmente o seu problema em relação a essa compra? – Escuto sua respiração funda antes de virar o seu corpo pra mim. Me olha nos olhos.

Otto: Já te disse. Acho que está se precipitando. – Ele demonstra um certo cansaço na sua voz.

Angélica: Me precipitando com o que? –Digo firme. Não vou deixar me abater.

Otto: Em acreditar que irá conseguir lidar com várias coisas ao mesmo tempo. – Ele diz tranquilo enquanto ao ouvi-lo pensar assim quase me faz xingá-lo.

Angélica: E eu já não fiz isso antes? Aliás, praticamente a minha vida toda tive que fazer várias coisas ao mesmo tempo e não me lembro de alguém dizendo que fracassei em algo por esse motivo. – Coloco as minhas mãos na minha cintura, sem tirar meus olhos dos dele.

Otto: Bom, se você acha... – Ele é interrompido com o som do seu celular tocando. Esta em cima do sofá de centro do closet. Ele não se move, por isso, aproximo mais deste sofá e inclino o meu corpo para pegá-lo. Leio o nome que mostra na tela e sorrio amarelo quando estico meu braço, lhe entregando o celular.

Angélica: Toma, é a Karla... – Ele estica seu braço e segura o seu celular, finalizando a ligação.

Otto: Não vou falar com ela agora. – Ele diz indiferente enquanto deixa o seu celular sobre uma prateleira do armário atrás do seu corpo.

Angélica: Ah, é? Que interessante. Porque não? – Digo isso ao vê-lo ficar de frente pra mim novamente.

Otto: Porque eu to aqui conversando com você. – Ele sempre tão calmo. Isso às vezes consegue me irritar mais.

Angélica: Claro. Agora você ta conversando comigo. Mas ali no quarto me deixou falando sozinha. Interessante esse seu jeito de conversar comigo. – Demonstro essa irritação pelo tom da minha voz e pela forma que gesticulo com uma das mãos.

Otto: Não começa com suas ironias, Angélica. – Ele finalmente muda o tom da sua voz.

Angélica: Não. Não começa você achando que sou idiota, Otto. – O clima nesse closet fica cada vez mais tenso.

Otto: Porque eu te acharia idiota? – Agora é a vez dele de colocar uma das suas mãos na altura da sua cintura. Ele demonstra uma certa confusão.

Angélica: Eu não sei qual é essa sua relação com essa tal de Karla, mas poderia ao menos dizer pra ela não ligar pra você depois que chega à sua casa. – Faço uma cara irônica. Agora sim estou sendo.

Otto: Você não ta pensado que eu tenho um caso com ela, não é? – Ele inclina um pouco o seu rosto pro lado. Parece curioso.

Angélica: Não to achando nada. – Realmente não sei o que achar sobre essa Karla. Não sei quem é, mas também não acredito que ele me trairia.  

Otto: Eu não tenho um caso com ela, Angélica! – Tenho impressão que ele está se divertindo com isso.

Angélica: OK. Então me diz quem ela é... Porque eu nunca ouvi você falando dessa mulher. – Cruzo meus braços novamente.

Otto: Não é ninguém de importante. – Sua expressão divertida acabou.

Angélica: Não é ninguém de importante? Ela te liga quase todos os dias que eu sei. – Forço meus olhos pra ele. Impossível ter essa cara de pau em dizer que ela não é importante sendo que liga desse jeito.

Otto: De verdade, não tem porque ter essa desconfiança, tá? Vou tomar meu banho. – Ele abaixa seu rosto e tranquilamente caminha em direção à entrada do closet, como se nada estivesse acontecendo ali. Claro que não iria deixar. Paro com o meu corpo na frente do dele, dando um passo largo pro lado.

Angélica: Não vai a lugar algum sem me dizer quem é ela! – Confronto ele. Agora com seu corpo mais próximo, nossos olhos se cruzam com mais intensidade.

Otto: Não tem sentido esse papel de ciumenta que resolveu fazer agora, Angélica. – Seus olhos correm da minha boca e volta pro meu olhar.

Angélica: Não é ciúme. Só quero que as coisas fiquem claras por aqui. – Inclino um pouco o meu rosto pra cima.  

Otto: Não sei se você realmente quer que as coisas fiquem claras por aqui. – Ele tem um tom ameaçador em sua voz.  

Angélica: Não ouse mudar de assunto. – Eu também sei fazer ameaças. Não quero nem pensar na hipótese do que eu faria se ele mudasse de assunto. Principalmente se tocasse no nome do Jaime nessa conversa que não tem nada a ver com ele.

Otto: Ela é só a gerente do meu banco. – Sua expressão muda. Ele fica bravo e diz com a voz alta.

Angélica: Que banco? Nós usamos o mesmo banco e ela não é a gerente do meu. Logo, não é do seu também. – Da mesma forma, aumento a minha voz também. Descruzo meus braços e gesticulo.

Otto: De outro banco. – Ele desvia seu olhar do meu como se estivesse cansado.

Angélica: Ahhhh, agora você tem outro banco? – Falo em um tom sarcástico.

Otto: Angélica... por favor. – Ele demonstra que realmente está cansado pela forma que diz. Mas, eu não estou cansada. Pelo ao contrário.

Angélica: Por favor você, Otto. Eu to cansada de não me contar as coisas que acontecem. Cansada! Você prometeu que me contaria e agora já tem outro banco... Pelo amor. – Eu afasto o meu corpo do dele e acabo dando uma volta nos calcanhares, tentando entender.

Otto: Eu tive que ir atrás de outro banco, só isso. – Ao voltar com meu corpo de frente pro dele, não consigo segurar a minha cara de desprezo pela forma que ele me diz isso.

Angélica: Teve? Porque teve? Que 0porra0 ta acontecendo? – Minha voz fica embargada. Eu tenho vontade de chorar quando não me dizem as coisas que podem fazer muita diferença na minha vida.

Otto: Não ta acontecendo nada... – Ele percebe minha voz e se aproxima de mim. Leva suas mãos na altura do meu rosto e antes que pudesse tocar nele, eu afasto. Esquivo meu corpo dando um passo pra trás.

Angélica: Otto, eu juro que saio por essa porta e não olho mais na tua cara se não me contar o que realmente está acontecendo! – Percebo uma lágrima escorrer por um dos meus olhos, mas não é de tristeza. É de raiva. De impotência em não saber o que passa na vida do meu marido. Talvez agora, ex marido.