Fanfic: Solo Dios Lo Sabe/ Nani. | Tema: A Feia Mais Bela

Angélica: Me diz que você tem empregada, por favor. – Eu decido quebrar esse silencio, mas digo quase em um sussurro. Eu já subo mais um degrau com o corpo de lado, ainda de frente pro Jaime.

Jaime: Tenho, mas... – Eu não esperei ele continuar. Só o fato de ter falado “mas” já me fez subir de uma vez as escadas que faltava da piscina, dar uma breve volta pra segurar as minhas roupas com as mãos.

Olho ao meu redor, e mais uma vez vejo as árvores extensas ao lado da casa da piscina. É pra lá que me dirijo nas pontas dos pés, porém, quase correndo. Escuto pelo percurso que faço os movimentos do Jaime pela piscina. Ele volta a entrar na água. Saio desse contorno de cimento que tem ao redor da piscina e sinto meus pés tocarem a grama. Continuo andando bem rápido até me posicionar atrás de uma arvore que não fica muito distante e por isso, consigo escutar com tranquilidade os passos de outra pessoa que vem por um dos corredores do lado da casa. Tenho que agachar o meu corpo, pois percebo que faço sombra na grama por ter uma luz próxima de mim. Encosto as minhas costas no tronco da árvore, com as minhas pernas bem juntas e minhas mãos sobre elas, segurando as minhas peças de roupas. Se eu não estivesse realmente tensa, riria da situação. Eu to praticamente pelada, atrás de uma árvore e pra piorar, molhada pela água. Isso me faz sentir saudade do calor que senti há pouco tempo quando venta. Saio dos meus pensamentos ao escutar sua voz.

Heidi: Amor... O que ta fazendo aí? – Sabe, eu to me sentindo a mais idiota de todas nesse momento. A rainha do mundo das idiotas. A rainha das merdas idiotas. A rainha das merdas do mundo das idiotas.

Jaime: Ué, to na piscina. – Não vou ousar me mexer nesse momento.

Heidi: Pelado? – Sua voz fica mais alta. Acredito que se aproxima mais da piscina.

Jaime: Não queria que eu entrasse de roupa, né? – Eu tenho que segurar o meu riso. Respiro fundo.

Heidi: Ai, desse jeito vou ficar com vontade de entrar aí também. – Não. Por favor.

Jaime: Não! Eu já to saindo. To bem cansado hoje... entrei mais pra dar uma relaxada. – Obrigada, Jaime. Ela demora um pouco pra responder.

Heidi: Então vem... Tenho uma coisa pra te contar. – To ficando cada vez mais tensa. Como vou sair daqui?

Jaime: Vai indo que já te encontro... – Sorrio por pensar na possibilidade de sair logo daqui.

Heidi: Eu te ajudo, vem. – Reviro os olhos.

Jaime: Sabe, eu acho que vou ficar mais um pouco. – Ele diz com a voz sem certeza. Isso só fode as coisas.

Heidi: Jaime, eu quero conversar com você... Por favor, vai. Chega de graça! – Ela responde firme.

Jaime: Qual a diferença de conversar aqui fora e lá dentro? – Nesse momento eu percebo o quanto estou curiosa por essa conversa deles. Meu coração está na boca.

Heidi: Af, então pelo menos sai da piscina. – Fica um silencio por alguns instantes. Em seguida, escuto o barulho da água da piscina pelos movimentos que o Jaime faz. Ele já deve ter saído porque o barulho da água parou. Não demoro pra escutar sua voz: Olha, se eu soubesse que estaria assim, teria vindo mais cedo. – Coloco uma das minhas mãos na frente do meu rosto e ameaço enfiar um dedo pela garganta. Que vontade de vomitar.

Jaime: Falando nisso, porque voltou antes? – Essa pergunta também me interessa. Volto com a minha mão junto ao corpo.

Heidi: Consegui resolver o que queria antes e preferir voltar pra você, amor... – Eles ficam em silêncio. Não poder ver o que tão fazendo ta me matando.

Jaime: Enfim, me diga. – Finalmente escuto a sua voz. Tenho a impressão que eles se beijaram.

Heidi: Você não vai colocar nem a sua cueca? Não da pra conversar direito assim. – Eu sei do que ela ta falando. Não da pra se concentrar mesmo.

Jaime: Tá bom. Mas, já vai adiantando... – Ele deixa sua frase solta e escuto brevemente alguns movimentos que faz. Acredito que ta colocando a sua cueca.

Heidi: Porque suas roupas estão molhadas? – Puta merda. Ele demora. Faz breves barulhos de gemidos como se estivesse com dificuldade pra subir a cueca ou calça. Não da pra saber.

Jaime: Por que tirei a roupa e deixei perto aqui da borda... Ai quando entrei, a água subiu e molhou. Sei lá, Heidi... Que pergunta! – Tenho que me segurar pra não rir. Que desculpa mais ridícula.

Heidi: Sei... Vamos entrar agora. Ta um pouco frio aqui. – Nem me fale nesse frio. Nem me fale.

Jaime: Fala de uma, pelo amor de Deus... O que quer conversar? – Eu to quase levantando e pedindo pra ela desembuchar de uma vez.

Heidi: Lembra que esses dias estava me sentindo um pouco mal? – Escuto apenas seu murmuro como um sinal pra ela responder. E ela continua: Conversei com a minha mãe e ela me disse pra procurar um médico e o fiz.

Jaime: Certo. To acompanhando, prossiga. – Ele também não gosta que as pessoas digam as coisas picadas. Como eu, prefere que contem tudo de uma vez. É nítida sua impaciência no jeito de falar.

Heidi: Jaime, para de falar assim... – Pra ela ter capacidade de perceber o jeito impaciente dele, ele deve ter feito uma cara de impaciência também, porque se ela acreditou na historia da roupa molhada é porque não tem muitas capacidades mentais. E nem o conhece suficiente.

Jaime: Continue... – Ele fala mais tranquilo.

Heidi: Fui no médico e... – Ela para a frase, isso ainda vai me dar um troço.

Jaime: Eeeeee... ? – Ele demonstra uma alegria na voz. Sem olhá-lo, não da pra saber se ta sendo sincero ou satírico.

Heidi: To grávida! – Eu inclino rápido a minha cabeça pra trás, com os olhos arregalados.

Jaime: Como assim grávida? – Tenho que colocar uma das minhas mãos rente a minha boca e pressiona-la pra tentar controlar a minha respiração que aumenta.

Heidi: Jaime, quando um casal se ama, eles fazem coisinhas... – Meu Deus. Aperto firme minha mão contra a minha boca.

Jaime: Heidi, não vai começar com essa história de novo. – Sinto meus olhos marearem.

 Heidi: Você ainda ta pensando no divórcio? – Eu abaixo um pouco o meu rosto. Deixando a minha mão firme contra a minha boca.

Jaime: Não to pensando. Eu quero! As papeladas estão pra chegar. Te avisei hoje cedo. – Escutar isso me acalma um pouco. Ele ainda não sabe do meu divorcio definitivo, mas já pediu o seu.

Heidi: Não acredito que ta falando sério, Jaime... Não vou conseguir ter esse filho sozinha. – Por um momento me coloco no lugar dela. Deve ser horrível ter que criar um filho sozinha.

Jaime: Heidi já conversamos tanto sobre isso... – Sua voz parece um pouco cansada. Escuto breves passos. Depois continua: E não vai estar sozinha. Vou estar do seu lado pra o que precisar.

Heidi: Mas não é a mesma coisa. Pelo amor, você... – Ele a corta. Com a voz um pouco mais firme.

Jaime: Você tem certeza que ta grávida? Daquela outra vez foi um alarme falso. – Outra vez? Apenas dublo suas palavras sem emitir a voz.

Heidi: Não to escutando isso, sério! Acabei de te falar que fui ao médico... – Ela novamente deixa a frase solta e antes de escutar a resposta do Jaime, ela continua: Olha, eu vou subir. Se quiser entrar pra gente conversar sobre isso direito, entre. To cansada da viagem e com frio de ficar aqui. Agora não posso mais pensar só em mim.

Ele não responde. Em seguida, escuto passos dela que acredito ir pelo mesmo corredor que a trouxe até aqui. Finalmente, ao não escutar mais nada vindo de lá, começo a ficar em pé. Minhas pernas pesavam por ficar muito tempo nessa posição. Faço uma expressão de dor conforme estico o meu corpo. Novamente, não tenho idade pra essas coisas. Agora sinto o vento arrepiar todo meu corpo com o frio que fazia junto com a minha pele gelada da água. Meus cabelos ainda faziam escorrer pingos pelas minhas costas. Aqueles pingos bem gelados que te faz contrair o corpo todo. Ao acostumar com o meu corpo em pé, coloco a minha roupa. Calcinha seguido da saia. Porra. Cadê a blusa? Foda-se.

Quase bato no corpo do Jaime quando viro a arvore pra sair dali. Ele me olha preocupado, colocando suas mãos em meus braços assim que meu corpo fica de frente pro dele. Cruzar nossos olhares faz meus olhos marearem novamente. Ta mais do que na hora da gente se tocar que não vamos conseguir ficar juntos. Se não são as atitudes dele do passado que me deixam receosa com essa relação, agora tem isso. Não quero ser a mulher que tirou o pai de uma criança. Ele estica sua mão rente ao meu rosto pra colocar meu cabelo atrás da orelha, mas me esquivo. Dou um passo pro lado e saio de frente do seu corpo, voltando a andar. Não digo nada. Ando mais rápido pelo caminho que viemos pra cá quando vejo algumas luzes se ascenderem no andar superior da casa. Tinham duas sacadas que davam pra esse jardim e pelas suas janelas, dava pra ver que ligaram as luzes daquele cômodo. Passo por todo o caminho que fizemos, mas sou parada pelo seu braço me segurando firme já na cozinha.

Jaime: Angélica, espera... – Viro meu corpo pela forma que ele me segura. Ele diz com a voz mais baixa que o normal.

Angélica: Você ta louco? Me solta. Me deixa sair daqui antes que ela volte... – Não quero nem pensar em olhar pra cara dessa mulher. Muito menos continuar escutando sua voz.

Jaime: Só não pensa m&rda, por favor... – Ele mantém sua mão segurando meu braço. Seus olhos mareiam e isso quase me faz desmontar de chorar na sua frente. Respiro bem fundo pra isso não acontecer.

Angélica: Eu sei bem o que penso... Agora me solta. Quero sair daqui! – Forço o meu ombro pra trás, trazendo junto meu braço. Assim ele é obrigado a me soltar.

Jaime: Só não esquece que eu amo você! Isso que ouviu não vai mudar nada do que sinto e do que quero ter contigo. Muito menos sobre o restaurante. – Eu já não aguento segurar e deixo algumas lágrimas escorrerem pelo meu rosto. Eu tava tão feliz, tão feliz. Af.