Fanfic: Solo Dios Lo Sabe/ Nani. | Tema: A Feia Mais Bela

Desço as escadas pra tomar meu café mais tarde que o normal. Mais uma vez, estou apenas de camisola com um coque em meus cabelos. Essa noite foi muito difícil pra dormir. Quando deitei, fiquei pensando em um monte de coisas que não me deixaram dormir cedo. Estou exausta. E não só emocionalmente, mas também, fisicamente. Ficar ontem com o corpo molhado todo aquele tempo, indo tomar banho só depois que criei coragem, me da sensação hoje de corpo pesado. Como se fosse ficar resfriada. Mais uma vez, eu não tenho  mais idade pra essas coisas. Mas, o pior, foi acordar e dormir na mesma posição e no mesmo espaço. Como se estivesse alguém ainda do meu lado. Vou demorar pra acostumar em dormir sozinha. Em ter uma cama toda só pra mim. Eu to triste e não é por mim. É pelo Otto. Muitas vezes disse que não queria magoá-lo dessa forma. Toda a minha precaução em protegê-lo não resolveu nada. Pelo ao contrário, sinto que foi pior. No fundo eu sabia que aquela cobra não tava só ameaçando. É bem a cara dela fazer esse tipo de coisa.

Respiro fundo ao entrar na cozinha. A Paula tava como sempre de costas pra porta e de frente pra pia, fazendo alguma coisa. A cumprimento e me sento, sem vontade alguma de comer algo. Tomo um suco enquanto conto pra ela por cima certos acontecimentos de ontem. Ela tinha que saber que a partir de agora seria só nós duas naquela casa. A conversa foi esticando e quando vi a Paula já tava sabendo de praticamente tudo que aconteceu desde a homenagem no México. Ela não sentiu nem um pouco de vergonha em demonstrar sua felicidade em saber sobre mim e o Jaime. Isso me fez até rir. O lado bom de toda essa historia é que muitas pessoas estariam do nosso lado. Muitas mesmo. Não só como amigos e familiares, mas principalmente fãs. Ao terminar, ela me conforta dizendo que começará a sair de casa mais tarde, pra eu ficar pouco tempo sozinha de noite. Eu to tão sensível com tudo, que isso quase me fez chorar. A Paula ta se tornando alguém muito especial pra mim. Eu agradeço e subo novamente pro meu quarto. Hoje só quero ficar na minha, tranquila.

Entro no meu quarto e decido ligar pra minha mãe. Hoje não vou aguentar ficar sem falar com ela; preciso dela. Caminho até a minha cama e me sento de frente pra porta enquanto estico meu braço pra pegar meu celular no criado mudo. Deslizo meu dedo pela tela e seleciono seu nome. Não demora pra me atender. Tento fingir uma voz alegre, falar de coisa a toas pra ela não ficar tão preocupado, mas fracasso. Até por telefone ela sabe quando to atuando. Mais uma vez no dia de hoje, tenho que lembrar de toda a conversa que tive com o Otto ontem. Digamos que ela ficou bem brava pela ousadia que Jaime e eu tivemos. Frisou bastante que falo tanto que já sou mulher e ainda fico com atitudes de adolescente. Olha, levar bronca dessa mulher não é fácil. Mas, ela ta certa como sempre. Depois da bronca, ela começa a me mimar. Pergunta como eu to, como passei a noite, se já tomei algum remédio pra realmente não ficar resfriada. Só que me desconcentro com o barulho de coisas caindo lá embaixo. Coitada da Paula, nunca perguntei se ela precisa de mais alguém aqui em casa pra ajudá-la. Enfim. Volto a me concentrar na minha mãe.

 Angélica: Pode repetir o que falou por ultimo, mãe? – Por causa dessa desconcentração, não acompanhei sua ultima fala. Inclino um pouco a minha cabeça pra baixo, fico mirando meus pés.

Maria: Você quer que eu passe alguns dias ai com você? Quero ir há tempos. Aproveito essa oportunidade e também te faço companhia, meu amor. – Isso me faz sorrir. Acabo suspirando antes de respondê-la.

Angélica: Quero mãe. Isso me faria muito bem agora! Preciso de você... – Levanto meu rosto com um sorriso nos lábios que logo se desfaz ao ver o corpo do Jaime parado na porta do meu quarto. De jeans e camisa social. Ele tem que parar de fazer essas coisas; chegar assim do nada. Antes que minha mãe respondesse algo, falo: Mãe, posso te ligar daqui a pouco? To com um probleminha aqui.

Maria: Tudo bem, filha. Espero sua ligação mais tarde. – Ela diz isso enquanto deslizo pela cama até sair da mesma. Nos despedidos e finalizo a ligação, deixando o celular sobre o criado mudo. O encaro. Ele diz antes de mim.

Jaime: Pelo menos me chamou de probleminha e não de problemão. Probleminha é melhor, não é? – Ele diz dando breves passos em minha direção. Não tira seus olhos dos meus.

Angélica: O que ta fazendo aqui? – Coloco as minhas mãos na cintura. Espero que seja rápido, porque hoje não vou conseguir me manter firme por muito tempo.

Jaime: Uow... – Não sei por que, mas ele fica impressionado com a minha resposta e meu jeito. Continua: Vim entregar sua blusa e saber como está! – Agora que caio meu olhar pra suas mãos e realmente seguram a minha blusa.

Angélica: Ok. Obrigada. – Estico meus braços e seguro minha blusa quando seu corpo já está próximo do meu. Mantenho meu olhar sobre ela. Tento puxa-la das suas mãos, mas ele a segura firme.

Jaime: Olha pra mim... – Ele da mais um passo que separava nossos corpos. Agora tenho que abaixar bem o rosto pra manter meu olhar firme em nossas mãos segurando a blusa. Só esse jeito dele de falar comigo já deixam meus olhos mareados. Escuto-o novamente: Angélica... – Vejo que tira uma das suas mãos da blusa e a leva pra altura do meu queixo.

O segura com as pontas dos dedos e dessa forma, sou obrigada a inclinar meu rosto pra cima, para olhá-lo. Sua expressão muda quando me olha mais de perto. Seus olhos percorrem cada canto do meu rosto com uma expressão triste. Ele não diz nada. Simplesmente tira a blusa da sua mão livre a jogando sobre a minha cama e a sua mão no meu queixo desliza pra trás da minha cabeça. A puxa pra si, me fazendo deita-la sobre o seu peitoral. Pronto. Era mais do que necessário pra eu começar a chorar. Desde o desaforo da sua mulher no banheiro, eu venho segurando muito choro. Depois veio a historia do dinheiro que perdi, que mesmo tentando não aparentar, foi uma historia que mexeu muito comigo. É incrível como a gente sempre se decepciona mais com as pessoas que não esperamos esse tipo de atitude. Nunca passou pela minha cabeça que o Otto me decepcionaria desse jeito e isso ter acontecido, foi pior do que se eu estivesse esperando uma atitude dele assim. Pra piorar tudo, ele ainda descobre as coisas de um jeito totalmente errado. Por isso, aproveito esse momento pra enlaçar meus braços na cintura do Jaime e assim me aconchegar mais no seu peitoral. Ele mantém sua mão atrás da minha cabeça, segurando-a contra seu peito, enquanto a outra começa a deslizar pelas minhas costas. Sinto seu queixo apoiado no topo da minha cabeça.

Fazia tempo que não chorava desse jeito. Não é a toa que o Jaime é meu amigo há anos. Mais do que amigo, na verdade. Sempre foi. Sempre soube exatamente quando e onde precisava dele. Nessas questões de amizades, a gente sempre se entendia só com um olhar. Talvez seja por isso que nunca demos certos. Nos conhecíamos demais. Lembrar-se desse apoio dele de anos me acalmou. Aos poucos consigo parar de chorar, mas fico na mesma posição. Ele também. Agora que percebo seu coração batendo bem forte. Por estar com o rosto deitado sobre o seu peito, acabo ficando com a orelha posicionada na direção do coração. Frouxo um pouco os meus braços e ele, ao perceber, faz o mesmo com a sua mão atrás da minha cabeça. Posso incliná-la pra trás e pra cima, olhando-o nos olhos.

Angélica: Ta nervoso? – Ele abaixa seu rosto junto com o seu olhar. Novamente esse olhar percorre todo o meu rosto. Acredito que pra verificar se to bem agora.

Jaime: Claro que to nervoso, Angélica! Não suporto te ver desse jeito... – Ele volta a me olhar nos olhos. Sua mão de trás da minha cabeça, escorrega pra lateral do meu pescoço e com o polegar, ele limpa suavemente minhas bochechas. Continua: O que aconteceu?

Termino de soltar meus braços da sua cintura e assim volto a me sentar na cama. Decido contar. Mais uma vez nesse dia estou contando essa historia. Lembro-o da ameaça da sua mulher no banheiro e encaixo na historia que aconteceu ontem depois que cheguei em casa. Ele, ao escutar o nome da Heidi, decidiu sentar-se ao meu lado na cama. Com certeza sabia que vinha chumbo grosso. Viro um pouco meu corpo em direção ao dele e ele faz o mesmo. Me escuta com atenção. Conto tudo e acabo respirando fundo no final. Fico com o meu olhar no dele. Ele inclina suas mãos até encontrar as minhas e ao fazê-lo, as segura firme.

Jaime: Sobre a Heidi, a gente conversa depois, mas ago...- Ele é cortado. Somos desconcentrados desse momento por uma voz que vem da porta. Viramos nossos rostos juntos para olhar o corpo do Otto ali. O que ta acontecendo hoje nessa casa?

Otto: Nossa. Como vocês são rápidos! – Ele tem um olhar surpreso nos seus olhos e um sorriso irônico no canto dos seus lábios.

Angélica: O que ta fazendo aqui? – Essa pergunta ta bem fluente no meu vocabulário. Solto minhas mãos das do Jaime para virar meu corpo e olhar diretamente pro Otto.

Otto: Não sabia que ia ter visitas... – Ele deixa a frase solta conforme se movimenta ao entrar pro quarto. Continua: Apesar de que ele não é mais uma visita pra você, não é? –  Sua voz é irônica. Jaime ao meu lado decide se levantar da cama.