Fanfic: Solo Dios Lo Sabe/ Nani. | Tema: A Feia Mais Bela

Acordo em um sobressalto com o meu coração pulsando forte, como se estivesse na boca. Levo uma das minhas mãos na altura do meu peito sobre o meu coração. Aos poucos lembro quem sou, onde estou e fico mais tranquila. Eu queria dormir por meses. Toda hora que eu acordar sentirei essa dor quase que insuportável por todo o meu corpo. Na verdade, quem dera que a dor fosse só no meu corpo. Respiro fundo e seguro o ar para me ajeitar na cama e assim tentar amenizar as dores. Percebo algo envolta da minha barriga e com as mãos sinto uma cinta bem larga circundando o meu corpo nessa região. Mais essa agora. Olho ao redor e não tem ninguém.  Apenas uns copos descartáveis em cima de uma mesinha ao lado da poltrona de vistas. Ta bem escuro lá fora, mas não faço a mínima ideia de qual dia e que horas sejam. Aliás, não faço a mínima ideia de mais nada.

Sou tirada dos meus pensamentos com a entrada de uma mulher no quarto. Toda de branco, jaleco, calça, blusa e sapato sorri pra mim ao cruzar nossos olhares. Não sou obrigada a ser simpática com ninguém nesse momento, me desculpa. Ela se aproxima da cama segurando uma prancheta e da mesma forma que o outro médico, desliza seus dedos pelas folhas que vai empurrando pra cima conforme corre seus olhares por elas. Eu fico com a minha cabeça apoiada nos travesseiros atrás de mim e apenas acompanho os seus movimentos com o olhar. Sem vontade de mais nada. Ela se aproxima mais e para ao lado da minha cama também olhando para os aparelhos. Faz as marcações que têm que fazer e vira seu corpo em minha direção. Usa um rabo de cavalo bem alto que prende seus cabelos pretos.

 Dr. Louise: Boa noite, Angélica! – Ela diz sorrindo. Esses médicos têm que parar com essa mania de quererem sorrisos de voltas porque não vou dar. Acredito que ela percebe e continua: Fico feliz em te pegar acordada. Queria mesmo conversar contigo antes que entrasse no meu plantão.  

Angélica: Ok. – Digo com a voz pesada, já que acabara de acordar.

Dr. Louise: Bom, primeiramente, meu nome é Louise. Sou ginecologista obstetra e acompanhei seu quadro ontem desde o momento que chegou. – Sinto meu estômago embrulhar. Não sei se realmente quero saber o que ela tem pra me dizer.

Angélica: Prazer. – Esboço um sorriso forçado sem mostrar os dentes. Ela sorri terna antes de continuar.

Dr. Louise: Quero te fazer umas perguntas, tudo bem? – Ela diz sentando ao meu lado da cama. No espaço que todos andam sentando ultimamente.

Angélica: Tudo bem. – Acompanho seus movimentos com o olhar ao mexer e olhar nas folhas em sua frente novamente.

Dr. Louise: Você consegue lembrar quando foi sua ultima menstruação? – Faço uma breve careta por começar com perguntas de raciocínio. Ela acaba soltando um riso baixo: Não precisa ser o dia exato.

Angélica: Mês passado. – Ela me ouve com atenção e escreve alguma coisa no papel sobre a prancheta.

Dr. Louise: Certo. – Volta a me olhar e continua: Teve náuseas, tonturas, um sono excessivo e um certo inchaço nos seios por esses dias?

Angélica: Tive. Sim. Eu tive. – Eu acabo ficando surpresa por realmente ter tido esses sintomas esses dias e demonstro isso na minha voz um pouco animada pela surpresa.

Dr. Louise: Teve algum acompanhamento médico? – Ela volta sua atenção pros papéis enquanto continua suas perguntas.

Angélica: Não tive. Pensei que fosse um mal estar que costumo ter. – Fico com o olhar acompanhando sua mão escrevendo com uma caneta em um dos papéis.

Dr. Louise: Tudo bem! É normal não darem atenção pra esses sintomas de gravidez justamente por serem sintomas corriqueiros. Que temos no dia dia em situações normais. – Ela diz voltando a me olhar, sorrindo.

Angélica: É... – Eu não sabia o que responder. Não pensei ainda sobre isso e não quero.

Dr. Louise: Minha função é cuidar de você enquanto estiver nos domínios deste hospital e por isso preciso te dizer o que aconteceu contigo, tudo bem? – Fico sem forças pra respondê-la e apenas movimento positivamente minha cabeça. Ela entende e não força, apenas continua: Você chegou com uma hemorragia pélvica que logo fui chamada pra saber o porquê. Primeiramente foi feito um exame de ultrassom pra vermos mais ou menos o que estava acontecendo. Com a suspeita de gravidez, fizemos um  exame de sangue para saber o nível do hormônio específico para determinar uma gestação. Apenas com esse nível de hormônio em mãos eu consegui identificar uma gestação inicial quase em duas semanas. – Ela diz pausadamente. Não sei se é pra me fazer entender bem o que está falando ou por medo das caretas que devo estar fazendo a cada palavra que ela me diz. Mas, continua: Foi diagnosticada com um aborto completo em consequência de um acidente. Diz-se aborto completo pelo fato do teu próprio corpo eliminar o feto, todas as membranas envolvidas e placenta. E diz-se acidente, por não ter sido um aborto espontâneo e sim como o próprio nome diz, foi um aborto acidental.

Ela mais uma vez da uma pausa em sua fala. Isso me da oportunidade de respirar fundo enquanto percebo os meus olhos marearem. Acabo abaixando-os instantaneamente e fico com o olhar perdido por alguns instantes na sua prancheta. Ela aproveita esse momento de pausa e também escreve mais alguma coisa enquanto vira alguns papéis. Gostei dela pelo fato de não forçar que eu expresse ou diga alguma coisa. Respeita meu tempo de assimilar as coisas. E melhor que isso, respeita me deixando quieta e na minha. Já sinto minhas lágrimas escorrendo pelas minhas bochechas quando volto a erguer meu rosto e assim manter meu olhar no rosto dela, agora na lateral do seu rosto que está concentrado em seus papéis.

Angélica: Que tamanho que era? – Digo com a minha voz falha pelo choro. Escutar minha voz a faz olhar rapidamente pra mim.

Dr. Louise: Deixa eu esclarecer uma coisa pra você... – Ela se ajeita do meu lado, deixando a prancheta de lado. Fica com toda sua atenção em minha direção: Nós dizemos feto pra ficar uma linguagem mais fácil de ser entendida. Na verdade, antes da sexta semana, é chamado de saco gestacional. E nós temos duas contagens pra gestação: a primeira que é a idade gestacional, que é medida desde o primeiro dia da sua ultima menstruação, que pelo o que você me disse, tem umas quatro semanas. E a idade ovulatoria que é a contagem a partir da concepção em si. Portanto, não existia nem o embrião nessa fase e sim o saco gestacional. – Ela da mais uma pausa sem deixar de me olhar firme nos olhos: Era muito precoce, Angélica.

Angélica: Não sei se saber disso é bom ou ruim. – Digo com o choro controlado. Pensar nessas coisas que ela me disse me distraiu por alguns instantes.

Dr. Louise: Eu sou mulher e sei que no fundo independente do tamanho que seja, perder um filho não tem nada de bom. – Ela sorri terna enquanto traz uma das suas mãos de encontro com a minha ao lado do meu corpo. Ela acaricia com o polegar, continuando: Mas eu percebi que tem pessoas que te amam e muito. Vai superar essa. Você tem uma saúde perfeita, um útero também perfeito e conseguirá engravidar novamente.

Angélica: Se eu não fosse idiota ainda estaria grávida, não precisaria pensar nisso como um futuro. – Mais uma vez abaixo meus olhos ao senti-los marearem.

Dr. Louise: Eu não sei você, Angélica, mas eu não acredito em coincidência. Se você teve que passar por isso, foi por algum motivo. Pode descobrir esse motivo hoje, amanhã, semana que vem, daqui alguns anos... Mas tem um porque pra passar por isso! – Ela acaricia minha mão com o seu polegar e eu fico acompanhando esses movimentos com o olhar. Ficamos por alguns instantes em silêncio que ela logo quebra: Você tem alguma duvida?

Angélica: O que acontece agora? – Digo e só então levanto meu rosto pra voltar a mirá-la nos olhos.

Dr. Louise: Fizeram outro ultrassom em você hoje de tarde, mas estava desacordada. Agora é acompanhar de perto o processo do seu útero em se estabilizar novamente. Ainda podem ocorrer breves hemorragias, mas acredito que seja melhor fazer isso naturalmente. Isso SE ocorrer. De qualquer forma, não quero te dar medicamentos ou usar de instrumentos pra limpar esse útero sendo que até agora ele expeliu tudo sozinho. Como eu disse, seu útero é perfeito. – Ela diz bem calma e tranquila, e isso acaba me deixando da mesma forma: Só te peço repouso por alguns dias, tudo bem? Pode sentir ainda dores como cólicas, além das fraturas que vi aqui que sofreu na costela. Isso vai te incomodar por alguns dias.

Angélica: Certo. – Sorrio mais uma vez forçada sem mostrar os dentes. To toda 0fodida0 mesmo. Meu Deus.

Dr. Louise: Se tiver mais alguma duvida, é só me ligar. Deixei meu número pros seus acompanhantes. E hoje estarei por aqui a noite toda. – Ela termina e aos poucos levanta da cama. Fica com o seu corpo ainda virado na minha direção enquanto pega a prancha do lado do meu corpo: Não sei quando vão te dar alta, mas caso não te veja mais, se cuide! E me mantenha informada, sim? Mesmo que volte pra LA e prossiga o tratamento por lá. – Ela não tira seu sorriso dos lábios enquanto inclina seu corpo um pouco pra baixo e deposita um breve beijo no topo da minha cabeça. Caminha em seguida pelo quarto e antes de sair de uma vez, vira pra me dizer: Repouso, hein. – Sorri e ao mesmo tempo que ela abre a porta alguém abre a porta junto com ela.

Ela leva um breve susto, mas logo abre um sorriso, abaixando seu rosto e caminhando pra fora do quarto quando Jaime da passagem pra ela. Eu não sei por que to tendo essa repulsa ao vê-lo, mas tenho. Tanto é que é praticamente intuitivo eu revirar meus olhos na sua presença e não olhá-lo. Pra disfarçar, tento mais uma vez me ajeitar na cama gemendo baixinho de dor sentindo como sempre, todo meu corpo doer. E foi só essa médica dizer sobre o meu útero que resolvo também sentir breves agulhadas vindas de lá. Quando volto a levantar meu rosto, o corpo do Jaime já está parado no pé da cama, bem na minha frente, com as suas mãos apoiadas na estrutura feita no final da cama. Ficamos nos olhando por alguns instantes até que o quebra.