Fanfic: Solo Dios Lo Sabe/ Nani. | Tema: A Feia Mais Bela

Meu olhar fica fixo no dele por mais alguns instantes. Em seguida, vou descendo esse olhar e percebo sua expressão cansada e com os cabelos molhados pra trás. Ele não está mais com a mesma roupa, acredito que foi embora em algum momento pro hotel e chegou agora. Sei lá. Não sei. Não quero saber e não me importa. Da mesma forma que não me importa em respondê-lo. E demonstro isso terminando de cair o meu olhar e dessa forma dar de ombros como resposta. Escuto sua respirada funda. Ele não se move, continua na mesma posição e apenas vejo de canto de olho seus dedos batendo impacientes na estrutura do final da cama.

Jaime: Você não vai nem me dizer como você tá? Eu to preocupado, Angélica. – Ele diz com uma voz cansada.

Angélica: Pra que? – Mantenho meu olhar fixo em um ponto qualquer sobre meus pés por baixo da fina coberta.

Jaime: Como assim pra que? – Ele demonstra uma confusão em sua voz. E realmente não entendo.

Angélica: Você não acredita em mim de qualquer jeito, Jaime. – Mais uma vez dou de ombros.

Jaime: Você pode pelo menos olhar pra mim? – Respiro fundo. Levanto bem devagar a minha cabeça junto com o meu olhar pra olhá-lo. Não expresso nada. Ao fazê-lo, ele continua: Da onde tirou essa ideia que não acredito em você?

Angélica: Bom, quer mais prova do que minha situação agora depois de tudo que aconteceu ontem? – Depois de um tempo acordada, minha voz começa voltar ao normal.

Jaime: Nunca mais na minha vida eu quero uma prova dessa. – Ele diz sério e firme.

Angélica: Tudo bem. – Só pra não perder o costume, dou de ombros. Ele demora um pouco pra continuar.

Jaime: Os três erraram ontem... – Não sou nem um pouco obrigada e o corto antes que continuasse com suas teorias.

Angélica: Me poupe, Jaime. – Gesticulo com uma das minhas mãos na frente do meu corpo, em uma forma de pedir com que pare.

Jaime: Angélica, por favor....- Ele diz em um tom de suplico com os seus olhos mareando. Não o fico olhando muito pra não me abater por isso.

Angélica: Sabe o que mais me impressionou? Você ser um ator tão profissional e não ver um teatro ridículo na sua frente. – Digo com a voz firme.

Jaime: Pensa pelo meu lado, por favor... – Mais uma vez o corto, acompanhando o movimento das suas lágrimas pelas suas bochechas.

Angélica: Não! Eu não tenho que pensar do seu lado. Não tenho e não vou. Não é você que ta agora todo 0fodido0 nunca cama de hospital sentindo dor em todas as partes do seu corpo... Da sua alma. E ainda sentindo a maior dor da sua vida por ter matado um ser que não era nem um embrião. – Tenho que forçar uma voz firme por estar com ela embargada pelo choro que seguro.

Continuo com o meu olhar fixo no dele que corresponde essa olhada enquanto percebo alguém entrar pelo quarto. A pessoa entra determinada, mas da a impressão que muda de ideia ao nos ver nessa situação. O clima deve estar bem pesado mesmo por aqui pra ser nítido dessa forma da pessoa se sentir incomoda ao ponto de querer sair dali. Decido ver quem é e pra isso desvio meu olhar do Jaime pra minha mãe parada rente a porta, nos olhando. Ela fixa seu olhar no meu e diz.

Maria: Desculpa. Volto daqui a pouco, meu anjo. – Ela sorri um pouco preocupada pra mim e antes que virasse seu corpo, digo rápido.

Angélica: Não, mãe! – Volto a virar meu rosto e encarar o Jaime que não tirou seus olhos de mim: O Jaime já está de saída.

Ele mais uma vez entende o recado, mas demora pra tirar seus olhos de mim pra finalmente virar seu corpo e sair determinado do quarto. É parado no meio do caminho pelo corpo da minha mãe o bloqueando quando leva suas mãos na altura do seu pescoço e o abaixa pra si, fazendo com que o Jaime incline seu tronco pra receber um beijinho em cada bochecha seguido de um sorriso terno da minha mãe pra ele. Acompanho esses movimentos com o olhar até seu corpo sair pela porta do quarto e minha mãe fechá-la atrás dela. Ela vira seu corpo em minha direção e caminha dizendo com uma expressão desapontada.

Maria: Chega a ser crueldade o que ta fazendo com ele, Angélica. – Ela para no mesmo lugar em que ele estava, nos pés da cama, em minha frente.

Angélica: Mãe, por favor... – Digo em um tom de suplico. Eu não preciso da minha mãe do lado dele. Não agora.

Maria: Ele ficou mais de 24h do seu lado. Desde que cheguei nesse hospital ele não saiu daqui. Eu pedi diversas vezes pra ele ir descansar ou pelo menos tomar um banho, mas ele só resolveu ir depois de receber uma chantagem do seu médico que se ele não fosse o Dr. Francis iria proibi-lo de vê-la. – Eu a escuto com a atenção e ela da uma pausa pra ver se eu assimilo as coisas que está me dizendo, logo termina: E fiquei sabendo que a primeira coisa que ele perguntou quando chegaram, foi quem era o melhor médico da cidade. Na verdade, ele não só perguntava como gritava pra todos querendo uma resposta. 

Angélica: Não sei o que você espera que eu responda. – Respiro fundo e solto o ar pelo nariz sem desviar meu olhar do dela.

Maria: Meu Deus, Angélica... Esse rancor não vai te levar a lugar algum. – Ela me repreende com o tom da sua voz e seu olhar.

Angélica: Mami... – Eu digo com a voz fraca, não aguentando mais segurar: É porque foi... Horrível... – Digo me rendendo ao meu choro.

Levo minhas mãos na altura do meu rosto e assim tampo meus olhos enquanto não demoro pra sentir a presença da minha mãe ao meu lado. Comprovo isso com as suas mãos alisando meus cabelos com as pontas dos dedos e ela inclinando seu corpo pra depositar beijinhos pela minha cabeça. Eu não tenho mais forças pra segurar esse choro e por isso choro tudo que segurei desde o momento que a médica entrou aqui. Com toda a certeza do mundo esses são os piores dias da minha vida. A morte do meu pai também mexeu dessa forma comigo, mas nada se compara com o que eu vi e vivi ontem e ainda perder um filho. Mesmo que não tenha sido realmente um filho, só o fato de pensar que se nada disso tivesse acontecido ele seria um filho, me mata aos poucos.

Maria: Você quer conversar sobre o que aconteceu? – Tiro minhas mãos do meu rosto pra enxugar minhas bochechas com as pontas dos dedos.

Angélica: Aconteceu que vi o pior ser humano na minha frente ser mais importante do que eu pro homem da minha vida. – Desisto de secar minhas bochechas já que não vou parar de chorar tão cedo.

Maria: Mas o que ela fez, meu amor? O Jaime não soube me explicar direito. Ele apenas disse que chegou com você aos berros e querendo bater nela. – Minha mãe inclina um pouco o seu corpo pra trás e assim me olhar.

Eu correspondo esse olhar e respiro fundo na tentativa em vão de conter o meu choro, mas conto pra ela mesmo assim. Conto desde o momento que desliguei o telefone com ela e que reparei que vi a moça morena conversando com alguém. Que quando me aproximei me toquei que era Heidi com a sua prima querida. Contei tudo. Que bati sim nela e ainda duas vezes foram poucas pro tanto que ela merecia. Eu nunca fui de brigar com ninguém verbalmente muito menos brigar a base de tapas e porradas, mas ela realmente me tirou do sério. Me tirou de qualquer grau de sanidade que tinha. A sua falsidade, ironia, hipocrisia me transformou e assumo isso pra minha mãe que me escuta com atenção. Digo todos os nossos diálogos que logo foi interrompido pela presença do Jaime que só atrapalhou mais as coisas. Contei das minhas vontades e reações até me perder um pouco no final da historia, lembrando apenas de acordar aqui.  Minha mãe demora pra demonstrar alguma reação e fica me olhando por alguns instantes antes de dizer.

Maria: Mas você bateu mesmo? Com gosto? – Ela sorri com uma expressão animada em seu rosto.