Fanfic: Solo Dios Lo Sabe/ Nani. | Tema: A Feia Mais Bela

Caminho rápido pelo corredor do hospital. Esta tudo tão vazio. Não tem ninguém pra me dizer o que ta acontecendo ou pelo menos pra onde devo ir. Não quero ficar aqui. Já to cansada de dizer que quero ir pra casa. Quero descansar. Quero ter a minha vida de volta e esquecer esse momento que to passando. Por isso procuro desesperada por uma saída. No final desse corredor bem claro e iluminado vejo uma porta com uma marcação dizendo saída e que pisca com uma luz vermelha. Caminho determinada pra essa porta e ao abri-la, tropeço em um degrau de desnível que tem por sair de um piso e ir para outro. Isso me faz ficar confusa e abaixar o rosto pra prestar atenção onde ando. Mas não é por falta de luminosidade porque entro em outra sala bem clara. É uma sala de maternidade que identifico por ter várias câmaras onde são colocados os bebês recém nascido. Me aproximo de uma em uma, mas não tem bebê algum. Sinto uma dor forte no ventre da minha barriga. Levo instantaneamente minhas mãos nessa região e aperto minha pele na intenção de fazer parar de doer. Que dor. Aqui não é a saída. Mas não tava escrito saída? Eu quero sair. Quero ir embora.

Jaime: Angélica! – Acordo em um pulo com a voz alta do Jaime parado do lado de fora do carro, com a porta aberta. Ele me olha em um misto de confusão e preocupação.

Angélica: Oi? Que? – Ainda to desorientada com isso. Era tudo um sonho. Um pesadelo pra falar a verdade. Nossa. Que angustia.

Jaime: Ta tudo bem? O que ta doendo? Quer ir ao hospital? – Ele inclina um pouco do seu corpo pra dentro do carro, ficando com seu rosto bem próximo de mim. Observando cada parte do meu corpo, buscando algo fora do normal.

Angélica: A gente já chegou? – Meu coração ta na boca. Nunca tive um pesadelo desse jeito.

Jaime: Já. Já chegamos faz um tempinho. Já até desci as malas... Ta doendo? – Ele direciona seu olhar pras minhas mãos que só agora percebo estarem pressionando firme o meu ventre, exatamente como fazia no sonho. Rapidamente as tiro de lá.

Angélica: Um pouco, na verdade. – Minha voz ta falha, pesada por ter acabado de acordar e ainda com a respiração pesada.

Jaime: Quer ir ao hospital? Ligar pra algum médico? Eu conheço vários aqui. – Ele volta a me olhar nos olhos conforme faz suas perguntas.

Angélica: Não! Quero entrar. Por favor... – Finalmente o olho firme nos olhos desde que tudo isso aconteceu. Ele corresponde esse olhar por alguns instantes e em seguida diz.

Jaime: Vem. Vira de frente pra mim... Deixa eu te segurar. – Não vou relutar contra essa ajuda dele. Eu realmente quero entrar e me sentir tranquila na minha casa.

E não reluto. Ele afasta aos poucos seu corpo pra me dar um certo espaço enquanto seguro o ar pra me movimentar e assim conseguir virar meu corpo em direção à porta. Minhas pernas ficam suspensas pra fora do carro e ele rapidamente se posiciona no meio delas enquanto suas mãos junto com os seus braços envolvem firme, mas sem me machucar, a região da minha cintura. Exatamente como fez na cama do hospital, ergue e tira meu corpo bem devagar de dentro do carro depois de envolver as minhas pernas na sua cintura. Dessa vez eu também envolvo os meus braços no seu pescoço, ficando com a coluna bem reta quando ele começa a andar em direção a minha casa. Parou com o carro bem em frente, então não demora pra passar me carregando no colo assim pela porta. Minha mãe esperava com o seu corpo do lado dela com um sorriso terno nos lábios. Ao passar pelo meu corpo, vejo ela atrás do corpo do Jaime.

Maria: Ta tudo bem? Vocês demoraram. – Ela fecha a porta atrás de si quando finalmente passamos por ela.

Angélica: Ta sim, mami. Só peguei em um sono pesado. – Sorrio falso pra ela. Desvio meu olhar do dela pra ela não perceber que estava mentindo.

Maria: Vai subindo então, meu amor... Vou ver onde ta a Paula. – Ela diz caminhando atrás do corpo do Jaime conforme ele entra pelo saguão que da acesso ao restante da casa.

Ele não para ali e começa a subir as escadas segurando firme meu corpo contra o dele. Acabo frouxando um pouco meus braços envolta do seu pescoço e apoio suavemente meu queixo no seu ombro enquanto meus braços caem até os seus, o abraçando por ali. Desvio meu olhar pra baixo e acompanho os degraus irem aumentando em quantidade até finalmente estarmos no topo da escada onde ele caminha determinado em direção ao quarto. Me surpreendo ao escutar sua voz.

Jaime: Parece um neném assim. – Isso me faz sorrir pequeno por alguns instantes, mas logo me faz lembrar do meu sonho e do neném que não tinha na maternidade e que não tem dentro de mim também.

Minhas lágrimas brotam com facilidade nesses dias. E não seria diferente agora depois de lembrar desse sonho. Entro no quarto praticamente em prantos e acredito que o Jaime perceba isso, pois acelera seus passos e atravessa o quarto até parar rente a cama e aos poucos abaixar o seu corpo pra me soltar ali bem devagar. Só finalmente frouxa suas mãos quando tem certeza que to firme. Solto também as minhas pernas da sua cintura e assim libero o seu corpo que da um passo pra trás pra ficar com o seu rosto rente ao meu. Na primeira oportunidade que tenho, coloco as minhas mãos contra os meus olhos, chorando como sempre o faço de uns dias pra cá. Logo, meu choro é misturado com a sua voz falando baixo perto do meu rosto.

Jaime: Me desculpa, Angie. Não queria te fazer lembrar disso. – Eu percebo a sua voz um pouco embargada.

Angélica: Era...Nosso... Nosso... – Digo pausadamente entre o choro, com a voz bem fraca.

E esse choro se intensifica quando sinto as mãos do Jaime tocarem na lateral do meu rosto e dali deslizarem pra minha nuca enquanto percebo seu corpo sentar ao meu lado. Assim, ele leva minha cabeça em direção ao seu peito com uma das mãos enquanto a outra desliza pras minhas costas e dali pousa em meu braço, com o seu braço envolvendo o meu corpo, o puxando pra si. Ele o faz com um certo cuidado pra não me machucar mais ou me fazer sentir mais dor. O que eu acho bem improvável nesse momento. Eu to no limite da minha dor e do que posso suportar. Não quero chegar de novo ao extremo de desmaiar por causa disso e, portanto, tento me controlar, o que é praticamente em vão.

Jaime: Me perdoa! Me perdoa! Me perdoa! – Ele diz firme, mas com a voz de choro. Diz apertando um pouco mais o meu corpo contra o dele.

Ele falar assim me faz lembrar de tudo que realmente aconteceu. Isso acaba me dando forças pra conseguir me controlar um pouco no choro e o faço trazendo o meu corpo ao normal. Faço uma expressão de dor por isso enquanto minhas mãos enxugam as minhas bochechas com as palmas, conseguindo melhor enxuga-las dessa forma. Ele frouxa seu braço que envolve o meu corpo pelas minhas costas e com a mão livre também enxuga suas bochechas pela forma que consegue. Ignoro o seu pedido e então viro um pouco pro lado oposto do seu corpo pra arrumar alguns travesseiros pra poder me encostar depois. O faço bem devagar e assim consigo ficar mais tempo sem ter que olhá-lo depois disso. Mas ele me conhece.

Jaime: Angélica... – Ele diz com a sua voz um pouco melhor, mas a corto quase que instantaneamente.

Angélica: Quero descansar, Jaime. – Minha voz fica embargada ainda pelo choro que seguro.

Jaime: Você precisa me ouvir...  – Novamente o ouço.

Angélica: Não. Eu não preciso. O que eu preciso agora é descansar. – Ainda continuo com o corpo praticamente de costas pro dele. Ele se movimenta atrás de mim.

Jaime: Eu só quero que escute. – Ele já esta parado em minha frente novamente. E agora já sinto dores por ficar nessa posição. Viro meu corpo.

Angélica: Eu não quero escutar. Não me importo em não escutar. – Termino de virar meu corpo, mas não o olho.

Jaime: Olha pra mim, Angélica. Olha... – Dou uma bufada enquanto inclino meu rosto pra cima pra olhá-lo. Sempre me arrependo em olhá-lo com os olhos mareados. Ele continua: Você acha que eu queria te ver desse jeito?

Angélica: Eu não me importo mais com o que você acha. – Dou de ombros, fazendo uma expressão de desprezo.

Jaime: Eu tava confuso na hora, não sabia o que tava acontecendo e... – O corto praticamente de imediato.

Angélica: Ah, e por isso você defendeu ela? – Eu amento o tom da minha voz. To ficando boa em fazer isso com facilidade.

Jaime: Eu não defendi ela. Eu só não tava entendendo porque você tava batendo nela. – Ele corresponde ao tom da minha voz, gesticulando.

Angélica: E você acha que eu bateria em alguém sem motivos, Jaime? Você diz tanto que me conhece, mas pelo o que eu vi, não me conhece em nada. – Eu desvio meu olhar do dele, mais uma vez dando de ombros e balançando a cabeça negativamente.

Jaime: Ela tava grávida, eu não... - O corto, voltando a olhar instantaneamente pra ele.

Angélica: Eu também estava! – Digo alto e bem claro. Não preciso fazer qualquer tipo de esforço pras minhas lágrimas escorrerem mais uma vez. Ele abaixa seu rosto. 

Jaime: Eu... não.... sabia... – Diz pausadamente com a sua voz de choro. Ele chorando. Desvio meu olhar pro teto. Meu Deus. Quanta dor pra eu aguentar. Volto a minha atenção pra ele que já esta com o seu olhar em mim quando o escuto novamente: Me perdoa!

Angélica: Jaime, eu quero descansar. Por favor. – To com a minha voz na merda de novo. Tenho que tirar o restante de forças que ainda tenho pra conseguir dizer alguma coisa.

Maria: Eu realmente não acho que agora seja uma hora apropriada pra esse tipo de conversa. – Levo uma susto com a voz da minha mãe vindo da porta.

O Jaime abaixa seu rosto e enxuga rápido as suas lágrimas com os dedos. Eu faço o mesmo, mas mantenho meu rosto normal conforme acompanho os movimentos da minha mãe se aproximando de nós. Ela para entre o meu corpo sentado e o do Jaime em pé, em minha direção. Abaixo meu rosto quando ela começa a olhar pra mim e pro Jaime repetitivas vezes com uma expressão desapontada em seu rosto. Da um pequeno passo em direção ao Jaime que vejo por ainda estar no meu campo de visão, e então escuta sua voz.

Maria: Desça almoçar. Paula está com a comida pronta. – Ela diz com uma voz tranquila e relativamente baixa comparada aos tons de vozes antes da sua entrada. Levanto meu rosto quando o escuto.

Jaime: Não estou com fome. Tenho umas coisas pra resolver... – Ele deixa a frase solta enquanto desvia seu olhar do da minha mãe pro meu. Sua voz ainda está embargada quando continua: Só quero que saiba que eu daria tudo... Tudo... Pra estar no seu lugar. Tudo!