Fanfic: La Dueña de Mi Vida | Tema: ValeCamil fanfic

Nos dias que se passaram, ocupei minha mente com o trabalho buscando esquecer a ideia da tal reprise. E até que estava indo bem, até aquela manhã. Acordei cedo, me arrastei pra fora da cama quase que por instinto. Fui até o banheiro e lavei o rosto para acordar. Ri do meu reflexo no espelho: Cara amassada e cabelo mais que bagunçado. Precisava de um banho, mas antes, de um café quente e forte.

Saí do quarto, indo até a última porta do corredor. Caminhava tranquilamente, meio atordoado por acordar tão cedo. Entrei na cozinha buscando algum resto de café, já que a preguiça não me deixaria preparar. Virei o pouco que encontrei em minha xícara e coloquei no micro-ondas. Enquanto esperava, ouvi meu celular tocando no quarto.

Corri feito louco, na esperança que a Heidi não tivesse acordado completamente com o barulho. E para minha sorte, ao entrar no quarto, ela ainda parecia dormir. Desliguei antes mesmo de olhar quem era e saí da forma mais silenciosa possível. Fechei a porta atrás de mim e suspirei aliviado. Se tem uma coisa que irrita minha mulher é acordar cedo quando não precisa. E acredite, você não vai querer vê-la irritada.

Enquanto voltava para cozinha, verifiquei quem havia me ligado. Era do México. Por alguns segundos cheguei a imaginar que seria Angélica, mas logo lembrei que ela também morava em LA. Além disso, ela não me ligava há tempos. Seria da Televisa? Algo sobre Que Pobres Tan Ricos ou algum trabalho novo pra mim? La Fea Mas Bella. Era isso, só podia ser. No México os fãs também queriam uma reprise, talvez tenham conseguido. Não vou retornar essa ligação de jeito nenhum, disse a mim mesmo.

Tirei meu café do micro-ondas, dei um gole. Estava horrível mas bebi mesmo assim. Voltei para o quarto, tomei um banho e tentei arrumar minhas coisas sem fazer muito barulho. Quando já ia saindo, ouvi minha esposa chamar. Abri a porta e a vi, sentada na cama fazendo beicinho.

Heidi: Jaime? Vai assim, sem se despedir de mim?

Deus, como odeio quando ela faz drama, parece uma criança mimada. Sentei ao lado dela na cama, abracei e dei um beijo, meio sem querer. Tinha dias que eu não acordava de bom humor e aquele era um deles.

Jaime: Achei que você estivesse dormindo e não quis acordar.

Heidi: Achou mesmo que eu ia continuar dormindo com teu celular fazendo escândalo a essa hora? Quem era?

Jaime: Não sei, desligaram antes que eu pudesse atender.

Heidi: Desligaram ou você desligou? Não queria que eu ouvisse é?

Jaime: Nossa, quantas perguntas a essa hora da manhã. E que diferença faz quem desligou? O que importa é que desligou e pronto. Estou indo.

Sai do quarto ignorando os gritos dela. Não pretendia brigar por bobagem tão cedo assim. Caminhei pelo jardim em direção a garagem. Subi na moto, liguei e me preparei pra arrancar. Então o celular tocou. Novamente a ligação era do México.

Jaime: Sim?

Agustín: ¡Don Fernando, Fernandito! ¿Como estás?

Jaime: Agustín? Cara, que saudade de você irmão.

O Agustín era quase um irmão pra mim. Desde o nosso primeiro trabalho juntos, ele se tornou um cara especial, alguém que eu posso confiar. É um idiota, assim como o personagem era, mas ainda assim é um grande amigo. E ouvir a voz dele ao invés de algum assessor inconveniente da Televisa era quase um alívio. Quase.

Agustín: Você diz isso mas não liga, não manda um email, não me responde no twitter... É, está mesmo com saudades

Jaime: Ah Agustín, para né? Estou sem tempo.

Agustín: Eu sei cara, relaxa. Mas enfim, não te liguei pra reclamar do seu descaso com os amigos e sim pra te contar uma novidade. Aliás, duas.

Gelei completamente. Não acreditava que a Televisa tinha mandado ele me avisar da reprise. Razão eles até tinham, porque eu não sei brigar com o Agustín. Não dá para discutir com um cara que leva tudo na brincadeira e que faz graça com qualquer situação.

Agustín: Ei Don Fernando, tá me escutando?

Jaime: Cara, para de me chamar assim pelo amor de Deus. E sim, eu tô te escutando, fala logo a tal novidade. Deve ser algo muito importante para você me ligar tão cedo.

Agustín: É o seguinte... - Ele faz um barulho, numa tentativa frustrada de imitar uma música de suspense. - Vão reprisar nossa novela! Vão reprisar La Fea Mas Bella!

Droga, droga, droga! Por que isso agora? A mesma novela sendo reprisada no Brasil e no México.

Agustín: Sabia que você ia ficar sem palavras! Imagina cara, reprisarem nossa novela no Brasil, no seu segundo país.

Jaime: O que? Ahhhh... Tu tava falando do Brasil, cara? - suspirei aliviado. - Que susto, por um instante, eu... Não deixa pra lá.

Agustín: Por um instante você achou que eu estava falando de uma reprise aqui, não é? Seria uma boa, mas não, por enquanto não. Aliás, que mal teria se fosse aqui?

Jaime: Não tem mal nenhum, por que teria?

O Agustín sabia. O elenco inteiro sabia, mas o Agustín sabia mais. Desde o início com a minha relação com a Angélica, eu me abria com ele, contava meus sentimentos, meus ciúmes... Por isso, ele sabe muito bem porque eu não queria essa reprise. Mas como sempre, ele queria que eu dissesse isso.

Agustín: Não quer lembrar dos velhos tempos, meu querido Don Fernando? Não quer lembrar das cenas com Angélica Vale?

Jaime: Se você sabe então porque pergunta, cara?

Agustín: Jaime, Jaime, Jaime... Até hoje você não superou isso? Não foi capaz de esquecer a Angélica?

Jaime: Bom, eu... É... Ahhh, você sabe que não! Pô, ela foi a mulher que eu mais amei na vida, ela é a mulher que eu mais amo na vida.

Suspirei, olhando para os lados, torcendo para que a Heidi não tenha resolvido me vigiar como sempre. Se ela me ouvisse falar assim, certamente me mataria.

Agustín: E mesmo assim você a magoou e a perdeu...

Ok, já entendi. Ele resolveu acordar cedo, ligar lá do México simplesmente para me fazer lembrar de todas as coisas erradas que já fiz na vida. Retiro o que disse sobre ser um grande amigo.

Jaime: Olha, se você ligou só para isso, eu já estava sabendo, tá? Então tch...

Agustín: Ei, ei, calma. Eu disse que tinha duas novidades. Essa é só a primeira, falta a segunda. E essa eu tenho certeza que você vai gostar.

Jaime: Tô ouvindo.

Agustín: Você sabe que com essa reprise, todos nós lucramos né? E para aumentar ainda mais os ganhos, a Televisa e o SBT quer promover um encontro com todo elenco e os fãs lá no Brasil! E adivinha? Tua Angélica vai!

Jaime: QUE? - Dei um grito tão alto que devo ter acordado o quarteirão inteiro. - Como assim um encontro de fãs? No Brasil? Não, não... Tá brincando comigo né? Isso é bem a cara das suas brincadeiras de sempre.

Agustín: Não, Don Fernando, eu não estou brincando! Não é o máximo?

Pensei em mil respostas mas nenhuma fazia sentido. Eu estava atordoado, talvez até assustado. A última coisa que eu queria nesse momento era um encontro com todo o elenco da novela. Não que eu não queira vê-los, tenho um carinho especial por cada um e sinto por ter me afastado deles, mas o problema é que nesse elenco está Angélica Vale. E eu não preciso vê-la e sim me esquecer dela.

Agustín: Não consegue acreditar né, Jaime? Vai poder ver sua Angie, e melhor, no clima de Fernando e Lety. Que tal?

Jaime: Olha Agustín, e-eu... Eu preciso ir. Depois conversamos.

Desliguei antes que ele pudesse responder. Liguei a moto, olhei pelo retrovisor e vi Heidi parada na porta lateral, pronta para me dizer alguma coisa. Certamente ela ouviu parte da conversa e o que não ouviu, imaginou. Minha sorte era não ter mencionado a Angélica em nenhum momento. Daí eu poderia inventar alguma desculpa. Arranquei fingindo não ter visto. Se eu ficasse mais um segundo ali, faria o interrogatório de sempre, quase como Marcia Vilarroel. Opa. Por que eu lembrei logo da personagem da Elizabeth? Ótimo, vivendo a novela mais uma vez.

Acelerei, tentando prestar atenção no transito. Ouvi meu estomago roncar e lembrei que não tinha comido absolutamente nada. E não era uma boa ideia chegar com fome no ser. Virei a esquina, procurando alguma lanchonete e parei em frente a primeira que vi. Desci da moto e entrei.

Pedi qualquer coisa e fiquei de pé em frente ao balcão. Foi quando ouvi alguém me chamar. Conhecia muito bem aquela voz. Era Otto Padron.