Fanfic: Um amor desastrado - GN | Tema: GN
Uma semana longe de Savannah era uma proposta tentadora.
O sorriso de Alexandre era convincente.
— Dias inteiros na praia, bebendo margaritas e comendo camarões, noites ao luar saboreando lagostas e outros pratos exóticos... homens seminus...
Finalmente conseguira conquistar a atenção dela.
— Disse alguma coisa sobre homens? — Giovanna riu.
— Sim, eu disse. E você pode ter sorte.
Mas não podia imaginar-se passando uma semana ao lado de Alexandre, e jamais dormiria na mesma cama com ele, mesmo que fosse uma cama espaçosa.
— Não posso.
— Vamos lá, Giovanna! Eu durmo na cama de armar.
— O que as pessoas vão pensar? O que Lucy vai pensar?
— O que quer dizer?
— Ah, você sabe... Vamos passar uma semana juntos...
A expressão chocada de Alexandre foi um duro golpe contra sua vaidade feminina.
— Está insinuando que alguém pode pensar que estamos... que temos... um envolvimento? — A gargalhada rouca a fez sentir-se uma idiota.
Era evidente que ninguém chegaria a essa conclusão. Um cavalheiro fino e elegante, nascido numa das mais aristocráticas famílias da cidade, envolvido como uma mulher de formação duvidosa criada num projeto social? Era ridículo!
— Quanto a Lucy — Alexandre prosseguiu —, se ela acreditasse na possibilidade de nos sentirmos atraídos um pelo outro, não teria sugerido que eu a acompanhasse a todas aquelas funções de caridade.
O cérebro confuso de Giovanna registrou o insulto oculto por trás das palavras inofensivas, mas estava bêbada demais para reagir. Alexandre encolheu os ombros.
— Além do mais, a viagem não será anunciada no jornal de Savannah.
Ela olhou para o horrível vestido cor de pêssego.
— Mas eu não tenho roupas.
— Faremos compras quando chegarmos lá. E então? Vem comigo, ou não?
Há anos não tirava férias. Tinha apenas uma transação pendente, e podia acompanhá-la por telefone. E Lucy havia pedido para cuidar de Alexandre. Se não fosse aquela terrível dor de cabeça talvez pudesse pensar melhor.
Giovanna esvaziou o copo e limpou a boca com o dorso da mão. Em seguida, encarou-o e sorriu.
— Pensando bem, estou precisando de sandálias novas. O que estamos esperando?
CAPÍTULO II
Alexandre cumprimentou a comissária de bordo e sentou-se, encolhendo-se ao sentir a dor que ameaçava explodir seu cérebro confuso. Tinha a sensação de estar esquecendo alguma coisa, mas não sabia o quê. Reclinando a cabeça, fechou os olhos e tocou a carteira no bolso da calça. Não era isso. Então, o quê?
— Dess... culpe... — ecoou uma voz feminina. Ao abrir os olhos, viu Giovanna Antonelli acertar a cabeça de um passageiro com a bolsa. — Desculpe, docinho — ela pediu com voz pastosa, depositando um beijo na calva do pobre homem.
Alexandre sorriu e tentou estalar os dedos, mas não conseguiu uni-los. Giovanna! Havia esquecido Giovanna.
— Aí está você! — ela exclamou com olhos brilhantes. — Quando saí do banheiro, você havia desaparecido. Felizmente sou esperta, ou não teria convencido a comissária a deixar-me embarcar. Disse a ela que meu sobrenome era diferente daquele na lista porque havíamos acabado de nos casar e ainda não providenciei novos documentos. Uau! — exclamou ao deixar-se cair no banco. — Nunca voei na primeira classe.
— Drinques ilimitados — ele informou com dificuldade.
— Está brincando! Vou pedir outra jarra.
— Lamento, mas terá de se contentar com uma dose de cada vez. E companhia não serve margarita.
Ela suspirou diante da inconveniência e tentou afivelar o cinto. Alexandre levantou a cabeça e ofereceu-se para ajudá-la.
— Está torcido — constatou, debruçando-se sobre ela para acertar o equiGiovannaento. O babado de chiffon pinicou seu queixo. Corajoso, tentou concentrar-se na missão, mas os olhos insistiam em mergulhar no decote generoso de Giovanna. O sutiã provocante aparecia cada vez que ela respirava. Depois de três tentativas frustradas, finalmente conseguiu prender o cinto e voltou ao seu lugar.
A comissária os olhou com desconfiança quando pediram uísque e água, mas os serviu prontamente. Terminaram a primeira dose antes da decolagem, e Alexandre começou a cochilar enquanto o comandante terminava de taxiar. A mão gelada em seu braço o despertou.
Giovanna segurava seu pulso com tanta força que os nós dos dedos estavam brancos. As unhas rosadas feriam sua pele, e o rosto se tornava verde como os limões que ela chupara no bar.
— O que foi?
— Lembra-se do que disse sobre nunca ter voado na primeira classe?
— Sim.
— Pois bem, nunca voei, ponto final.
— Está brincando? Por que não?
— Acabei de me lembrar. Tenho fobia de aviões. — Pálida, levou uma das mãos à boca. — Oh, meu Deus!
— O que foi?
— Vou vomitar.
Alexandre entrou em pânico.
— Não faça isso!
Ainda segurando a boca, ela fez um movimento afirmativo com a cabeça e inclinou-se para frente. Alexandre agarrou o saco plástico e colocou-o diante dela no instante em que o avião saiu do chão. Giovanna cumpriu a promessa, mas errou o saco plástico, e Alexandre culpou-se por não ter conseguido manter o aparato higiênico perto dela. Os passageiros mais próximos gemiam e emitiam exclamações de desgosto.
Quando o acesso passou, ela recostou-se no assento e respirou fundo, pálida como se estivesse prestes a desmaiar. Uma comissária aproximou-se com uma toalha úmida.
— Vou precisar de mais que uma — Giovanna comentou, notando a confusão que criara à sua volta.
Alexandre lutava contra a ânsia e, valente, entregou o saco plástico usado à aeromoça. Dizendo estar fraca demais para ir ao lavatório, Giovanna limpou-se como pôde sem deixar o assento. A comissária, obviamente confusa, tentou consolá-la dizendo que a viagem de duas horas passaria depressa.
— Meu Deus — Giovanna gemeu, apoiando a cabeça no encosto. — Não devia ter entrado neste avião.
— Relaxe — Alexandre anunciou, estendendo a mão para tocar seu braço e mudando de idéia antes de tocá-la. Optando pela cabeça.
Os cabelos duros escapavam do coque elaborado no alto da cabeça.
— Vai ver que seu temor não tem fundamento. Viajo constantemente e nunca enfrentei problemas.
De repente a aeronave mergulhou no vazio, corrigiu a altitude, mergulhou mais uma vez e voltou à altura adequada. O sinal de apertar os cintos foi aceso e a voz do piloto ecoou pelo auto-fAlexandrete.
— Senhores passageiros, estamos enfrentando uma zona de turbulência. — A comissária foi jogada para fora de sua cadeira dobrável numa das laterais do avião, mas recuperou-se depressa e continuou sorrindo enquanto afivelava o cinto de segurança. — Por favor, mantenham-se em seus assentos enquanto alcançamos maior altitude.
Foi o pior vôo que Alexandre já experimentara. A aeronave perdia altura constantemente, arrancando gemidos e gritos dos passageiros. A porta de um dos armários na pequena cozinha se abriu, e dezenas de bandejas de comida foram lançadas no corredor.
Alexandre tentava convencer o estômago a suportar a provação, pressionando a cabeça contra o encosto do banco para mantê-la imóvel. Sentia-se mal por ter convidado Giovanna. Ela carregaria o trauma pelo resto da vida. Ouvia os vizinhos de banco passando mal e olhava ansioso na direção dela, certo de que logo ela repetiria a lamentável cena.
Giovanna mantinha os olhos cerrados e movia os lábios.
— Ave Maria, cheia de... de... cheia de graça — ela abriu os olhos e, vendo que era observada, sussurrou: — Nunca rezei bêbada. Acha que isso anula o efeito?
Alexandre pensou um pouco antes de bAlexandreçar a cabeça em sentido negativo. Então ela fechou os olhos e continuou a prece, concluindo-a com dificuldade.
— Rezai por nós... pecadores, agora e... e... na hora da nossa morte. Amém.
— Ei, vamos ficar bem. Logo estaremos aterrissando.
Como se as palavras tivessem o dom de interferir no funcionamento do avião, a nave deu um novo mergulho. Giovanna engoliu em seco e virou-se para ele.
— Está maluco, Alexandre? Vamos morrer e eu serei enterrada neste vestido horrível. Se encontrarem nossos corpos...
Ele suspirou.
— É claro que encontrarão os... — e parou, bAlexandreçando a cabeça para clarear as idéias. — Pare com isso! Não vamos morrer, ouviu bem? Recuso-me a falecer num acidente aéreo no dia do meu casamento.
— Oh, o Sr. Bolsos Cheios vai comprar uma saída para esta enrascada em que nos metemos?
Alexandre franziu a testa. Passara a vida toda tentando encontrar o próprio caminho, mas havia sempre alguém para lembrar que era um Nero e, portanto, tinha o dever de dividir os créditos de suas realizações com o nome da família. Cruzando os braços, fechou os olhos e recusou a provocação.
— Não vou discutir com você porque estou bêbado e amanhã isso não terá mais nenhuma importância.
— Alguma coisa o afeta, Alexandre? — Giovanna perguntou em voz alta. — Foi abandonado no altar há algumas horas e mesmo assim embarcou rumo à lua-de-mel como se nada houvesse acontecido. Agora está prestes a morrer num acidente horrível e fica aí sentado como um xapá!
— É paxá — ele corrigiu sem abriu os olhos.
— Sabe o que quero dizer. Estou bêbado, mas ainda tenho um pouco de coerência e... e... oh, meu Deus, vou vomitar outra vez.
Alexandre abriu os olhos. Rápido, agarrou o saco plástico de seu assento e colocou-o sob o queixo de Giovanna.
— Arghhh! — gritou, surpreso com a falta de pontaria. Desviando os olhos, tentou alcançar a campainha da comissária com o cotovelo.
Assim que terminou de transferir o conteúdo do estômago para o saco, o chão e todas as superfícies à sua volta, ela se deixou cair no assento, completamente exausta. Finalmente o piloto conseguiu estabilizar a aeronave e a turbulência foi superada. Os passageiros aplaudiram, e segundos depois Giovanna mergulhou num sono profundo.
Autor(a): GN
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Alexandre examinou o estado da companheira de viagem e fez uma careta. Se a cabeça não doesse tanto, provavelmente estaria rindo. Giovanna Antonelli, a eterna vaidosa, parecia uma boneca de trapo em seu vestido feio, sujo e mal-cheiroso. Os cabelos cobertos de laquê estavam despenteados, e o batom desaparecera dos lábios. Sem fazer barulho, chamou ...
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