Fanfics Brasil - 4 Um amor desastrado - GN

Fanfic: Um amor desastrado - GN | Tema: GN


Capítulo: 4

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Alexandre examinou o estado da companheira de viagem e fez uma careta. Se a cabeça não doesse tanto, provavelmente estaria rindo. Giovanna Antonelli, a eterna vaidosa, parecia uma boneca de trapo em seu vestido feio, sujo e mal-cheiroso. Os cabelos cobertos de laquê estavam despenteados, e o batom desaparecera dos lábios. Sem fazer barulho, chamou a comissária e pediu mais toalhas, tomando o cuidado de limpá-la sem despertá-la.
Com concentração e coragem, limpou primeiro o rosto abatido, admirando a fina textura da pele e os cílios que emolduravam os olhos cerrados. Ela não se moveu, nem mesmo quando passou a toalha úmida nos cantos de sua boca. E pela primeira vez desde que conhecia Giovanna Antonelli, Alexandre sentiu-se perturbado por sua presença.
Movendo-se no assento, tentou sufocar os inadequados sentimentos pela melhor amiga da ex-noiva. Mas, sentada ali com aquele vestido imundo e descabelada, ela lembrava a tigresa selvagem que fora nos tempos de escola, e fazia seu sangue ferver.
Passando a mão pelo rosto, Alexandre culpou o excesso de álcool pela estranha reação. Ainda não estava contente com o papel de idiota que fizera naquele dia. Por que não investir contra Giovanna e vê-la rir até vomitar novamente?
Giovanna era um pássaro voando sobre o campo, mergulhando e alçando vôo novamente, o cheiro de lixo destoando da paisagem bucólica. Acordou assustada e piscou, desorientada. Depois de alguns instantes lembrou que estava num avião a caminho da lua-de-mel de Alexandre Nero, e o cheiro era dela.
— Ugh. — Torceu o nariz com desgosto e ergueu o corpo na poltrona, encolhendo-se ao sentir a explosão de dor na cabeça. Devagar, virou-se para o lado e viu Alexandre dormindo profundamente. O fraque caríssimo fora arruinado de maneira irremediável, mas o paletó permanecia dobrado sobre seus joelhos. Embaraçada, recordou como ele havia segurado o saco plástico enquanto ela os enchia. Era cômico. Alexandre a surpreendera.
Fiapos das toalhas cedidas pela comissária repousava sobre seus cabelos castanhos e, num impulso, ela decidiu removê-los. Uma descarga elétrica a sacudiu quando tocou as mechas sedosas, o que era quase tão assustador quanto o calor que sentia ao ver o peito subindo e descendo a cada movimento dos pulmões. Acordado, ele era apenas Alexandre o Autômato. Mas relaxado, dormindo, parecia absolutamente sexy. Ainda lembrava a paixão que tivera por ele durante o breve período em que freqüentara a escola que pertencia aos pais dele.
Antes que tivesse tempo de explorar os novos sentimentos, a comissária aproximou-se preocupada.
— Sente-se melhor, senhora?
Giovanna moveu a cabeça em sentido afirmativo. A jovem sorriu.
— Sinto muito, Sra. Nero. O vôo não foi exatamente um bom começo para sua lua-de-mel.
— Mas eu não... — e parou a tempo. — Vou me sentir melhor assim que chegarmos a Fort Myers.
— Certamente. Parabéns pelo casamento, senhora. Foi um noivado longo?
— Não. Para ser franca, foi tudo muito... repentino. Pode me dizer onde fica o banheiro, por favor?
A jovem apontou para uma porta fechada no final do corredor e sorriu, retirando-se para a cozinha.
Giovanna levantou-se devagar, mas o movimento foi suficiente para espalhar uma nuvem mal-cheirosa à sua volta. Contendo o ímpeto de vomitar novamente, segurou a saia, levantou-a até os joelhos e caminhou na direção do lavatório.
Não sabia o que esperar, mas, mesmo assim, ficou decepcionada com o que viu.
— As pessoas fazem sexo aqui? — resmungou. Olhar para o espelho foi suficiente para arrancar um gemido aflito de sua garganta. A maquiagem desaparecera, deixando apenas os círculos escuros do rímel borrado em torno dos olhos. Os cabelos imitavam o ninho de uma ave maluca e relaxada. Sentindo-se miserável, olhou para o vestido e conformou-se. Não havia nada que pudesse fazer por ele.
Depois de lavar o rosto com bastante água fria, abriu a bolsa de maquiagem para recuperar o dano da melhor maneira possível. No último minuto, decidiu usar o vidro de perfume para amenizar o terrível odor do vestido. Tarde demais, percebeu que só conseguira piorar a situação. Resmungando termos indignos de uma mulher educada, saiu do banheiro e atravessou o corredor de volta ao assento, percebendo que alguns passageiros encolhiam-se quando passava perto deles.
Alexandre ainda cochilava quando ela se sentou. A dor de cabeça diminuíra, abrindo espaço para a enormidade do que estava fazendo. Na profissão que escolhera, férias eram um luxo a que poucos tinham direito, porque afastar-se do trabalho significava perder comissões sobre transações já iniciadas, mas concluídas por outros colegas durante a ausência do veranista. Passara uma semana na Jamaica com Nick, o Noite-Toda, e um final de semana prolongado em San Francisco com Dale, o Delicioso.
E agora estava prestes a passar sete dias numa suíte nupcial com Alexandre, o Aborrecido.
A voz do piloto anunciou que estavam aterrissando em Fort Myers. Alexandre acordou, tentou sorrir, mas sentiu o cheiro do vestido e fez uma careta enojada.
— Meu Deus — lamentou, levando a mão ao nariz.
— Você não está muito melhor — Giovanna acusou irritada.
— Uma ducha seria a realização de um sonho — Alexandre concordou, tocando a testa. — Sem mencionar duas aspirinas. Acho que exageramos.
— A tequila é capaz de levar uma pessoa a fazer e dizer coisas estranhas. — Tentou descobrir se ele arrependera-se do convite impulsivo, mas os olhos castanhos eram misteriosos.
— É melhor apertar o cinto — ele indicou. — Precisa de ajuda?
— Não, obrigada. — Podia lidar com os machistas, os convencidos e os superficiais, mas os bondosos a assustavam.
Eram seis e meia quando saíram do aeroporto, e a noite já começava a cair sobre a cidade. Depois de algumas tentativas frustradas, encontraram o balcão da locadora de automóveis onde Alexandre fizera uma reserva.
— Lamento, senhor, mas houve um terrível engano — o balconista informou. — Não dispomos de nenhum modelo luxuoso no momento. Vai ter de optar por outro tipo de automóvel, menor e mais simples. É claro que terá um bom desconto.
— Está bem, pode providenciar um carro de porte médio — Alexandre suspirou resignado.
O rapaz examinou uma lista na tela do computador e bAlexandreçou a cabeça.
— Também não temos nenhum, senhor.
— Um utilitário?
— Nada.
— Afinal, o que têm a oferecer?
O homem sorriu e apontou pela janela para uma fileira de minúsculos carros populares. Alexandre irritou-se e explodiu.
— De jeito nenhum!
Giovanna franziu a testa. Não tinha paciência para aquela arrogância dos Nero.
— Alexandre, seja razoável. É só um carro alugado, uma condução. O que esperava?
— O melhor.
— Escute aqui, estou cansada, suja e enjoada. Pegue o maldito carro de uma vez e vamos sair daqui, está bem?
Contrariado, Alexandre aceitou o modelo popular.
— Eu dirijo — disse alguns minutos mais tarde, quando se aproximavam do veículo.
— Como quiser. Espero que o tal hotel não fique muito longe daqui. Estou exausta.
Encolhido atrás do volante, Alexandre desdobrou o mapa que havia comprado e percebeu que a folha colorida ocupava todo o interior do automóvel.
— Pelo visto, a viagem levará cerca de vinte minutos.
Mas perderam dez deles tentado dobrar o mapa novamente.
Giovanna fechou os olhos e tentou conter-se. Não podia permitir que alguns imprevistos a tirassem do sério. Estava nervosa, admitia, mas desse momento em diante trataria de controlar-se. Afinal, não havia motivo para tensão. Alexandre não estava interessado nela, o que significava que podia sentir-se segura. Mas era seu comportamento obsessivo que a tirava do sério.
Furiosa, arrancou o mapa das mãos dele, amassou-o, jogou-o no banco de trás e ordenou:
— Vamos embora!
Alexandre inquietou-se ao passar por uma placa.
— O que estava escrito ali? Penwrote ou Pinron?
— Estamos perdidos, não é? Ele ajeitou os óculos.
— É claro que não!
— Estamos!
— Bem, estar perdido é uma expressão muito relativa.
— E você é um desses sujeitos que prefere rodar até esvaziar o tanque a parar e pedir informações.
— Se não houvesse amassado o mapa...
— Esqueça o mapa! Siga à esquerda na próxima saída.
Um estouro precedeu o solavanco que sacudiu o carro e o obrigou a diminuir a velocidade.
— Droga! — Alexandre explodiu. — O pneu estourou.
— Que maravilha! Estamos perdidos e com um pneu estourado.
— A culpa não é minha. Foi você quem insistiu em aceitar esta miniatura de carro antigo.
— Chame a locadora e peça para nos trazerem outro carro.
— Meu celular ficou na mala em Savannah.
Giovanna abriu a bolsa para apanhar o celular, mas franziu a testa ao tocá-lo.
— A bateria está descarregada.
— Ótimo! Melhor seria impossível. Ela apontou para a estrada.
— Deve haver um telefone na próxima saída.
— Oh, sim, mas posso trocar dois pneus durante o tempo que passaremos caminhando até lá.
Giovanna suspirou e, decidida, abriu a porta e saiu. Alexandre imitou-a e foi abrir o porta-malas, grato por ter conseguido chegar ao acostamento ao ver os veículos que passavam em alta velocidade.
— Tem certeza de que sabe o que está fazendo? — Giovanna Perguntou desconfiada.
— É claro que sim. — Gostaria de sentir a mesma confiança que exibia. Certa vez lera num manual como trocar pneus, e tinha certeza de que recordaria todas as etapas do processo assim que começasse a executá-las. Todos os homens sabiam trocar pneus, não?
Trinta minutos mais tarde, Alexandre ainda não havia conseguido encaixar o macaco para levantar o carro. Irritada, Giovanna caminhou até a beirada da estrada, levantou uma ponta da saia e posicionou o polegar num gesto conhecido por todos os viajantes.
— O que está fazendo? — ele gritou.
— Pedindo carona.
— Quer fazer o favor de abaixar esse vestido? Vai atrair todos os maníacos da vizinhança!
— Não me importo, desde que um deles nos leve ao hotel.
— Estou quase conseguindo — ele mentiu.
— Oh, eu sei — Giovanna respondeu, sorrindo para os carros que passavam.
De repente um caminhão aproximou-se, diminuiu a marcha e parou alguns metros à frente deles.
— Funcionou! — Giovanna gritou entusiasmada, correndo na direção do caminhão.
Alexandre a seguiu, agarrou-a pelo braço e a obrigou a parar.
— Você enlouqueceu? Sua mãe não ensinou que não se deve aceitar carona de estranhos?
— Alexandre, não conheço ninguém mais estranho que você — e soltou-se com um movimento brusco.
Notando que havia levado a chave de roda, testou o peso da ferramenta contra a palma da outra mão e decidiu correr atrás de Giovanna. Pelo menos poderia quebrar os joelhos do tarado, caso ele tentasse alguma gracinha.
O assassino barbado e grandalhão já estava descendo da cabine e caminhando na direção da vítima. O homem ainda não o notara.
— Olá, boneca. Problemas com o carro?
Não conseguiu ouvir a resposta de Giovanna, mas pela inclinação da cabeça, ela devia ter dito algo feminino, patético e apropriado à situação. Finalmente apontou para Alexandre e o sujeito olhou em sua direção, franzindo a testa ao ver a chave de roda em sua mão. Alexandre bAlexandreçou-a casualmente enquanto aproximava-se de Giovanna, insinuando que poderia usar a ferramenta como arma, se julgasse necessário.
— Meu nome é Jack — o motorista do caminhão apresentou-se, estendendo a mão.
Alexandre examinou-o da cabeça aos pés. Jack, o Estripador, Jack, o Chacal, Jack Jugular.
Mudando a chave para a mão esquerda, aceitou o cumprimento e cuspiu no chão no que esperava ser um gesto masculino reconhecido em todo o mundo.
— Sou Giovanna, e este é Alexandre.
— Estão em lua-de-mel?
— Não — Alexandre respondeu.
— Sim — Giovanna declarou ao mesmo tempo.
O caminhoneiro retrocedeu um passo, temendo o estranho casal. Giovanna olhou para Alexandre com ar desesperado.
— Quero dizer, sim — ele riu, encolhendo os ombros e piscando para o homem. — Ainda não consegui me habituar à idéia.
— Só precisamos de uma carona. Para o... — e olhou para Alexandre em busca de ajuda.
— Para o Paliçadas do Prazer — ele respondeu constrangido. Giovanna ergueu uma sobrancelha e Alexandre sentiu o rosto quente.
— Sabe onde fica esse lugar? — ela perguntou ao motorista grandalhão.
— Sim, eu sei. Já estiveram lá?
— Não — Alexandre adiantou-se. — Minha secretária faz uma espécie de estágio como agente de viagens e... ela fez todos os arranjos. Ouvi dizer que o lugar é realmente especial.
— E... dizem que sim.
— E então? Pode nos dar uma carona? — Giovanna insistiu. — Pagaremos o combustível, se quiser — e enterrou um cotovelo nas costelas de Alexandre, que gemeu e fez um movimento afirmativo com a cabeça.
— Não é necessário. Estou indo naquela direção. Subam.
— O que está transportando? — O tom de voz e o andar de Giovanna sugeriam que ela se deliciava com a nova aventura.
— Porcos — o homem disse orgulhoso ao abrir a porta do passageiro.
— Porcos? — Alexandre repetiu com uma careta de desgosto. Giovanna já se havia acomodado no interior da cabine. Estava descalça novamente e levava os sapatos nas mãos.
— Sim, porcos. E vai ter de deixar a chave de rodas aqui, amigo.
— Por quê? — Alexandre inquietou-se.
— Para carregar Churrasco — e apontou para o piso da cabine.
— Oh, é um bebê! — Giovanna exclamou encantada.
— O nome dele é Churrasco. Nasceu há alguns dias. O resto da ninhada morreu, e por isso decidi transportá-lo aqui na frente. Acho que assim o pobrezinho vai se sentir mais amparado.
— Ele é adorável — Giovanna sorriu, fazendo ruídos tão altos quanto os do leitão assustado.
— Entre, amigo — Jack convidou, empurrando Alexandre para o caminhão.
Conformado, ele se acomodou ao lado de Giovanna e esperou que o motorista fechasse a porta para murmurar:
— Estamos perdidos.
— O que disse?
— O homem deve ter dezenas de ferramentas de açougueiro na carroceria. Um machado para cada um de nós.
— Não seja ridículo, Alexandre! Tivemos sorte por ele ter parado. Jack abriu a porta do outro lado e subiu à cabine, acomodando-se diante do volante com a experiência conferida por anos de trabalho. Sorrindo, ligou o motor e engatou a marcha.
— Para o Paliçadas do Prazer — disse. — Terão uma noite de núpcias inesquecível naquele lugar.
Alexandre não ousou olhar para Giovanna. Em vez disso, consultou o relógio e quase deixou escapar uma gargalhada. Menos de oito horas antes estava preparado para subir ao altar com Lucy Montgomery, esperando que o compromisso desse um novo impulso à enfadonha vida sexual de que partilhavam. Além de continuar solteiro, descobria-se sentado num caminhão de porcos com uma mulher que cheirava tão mal quanto a carga e com a incômoda perspectiva de uma cama de armar para passar a noite. Isto é, se conseguissem chegar ao hotel.
Giovanna conversava com Jack, enquanto Alexandre afundava mais e mais no assento. Sentiu uma estranha umidade nos pés e inclinou-se a tempo de ver Churrasco esvaziando a bexiga em seu sapato de couro alemão. Como não tinha energia para mover-se, decidiu ficar onde estava e conformar-se com o que o destino lhe reservara. Literalmente, descera ao nível do chiqueiro dos porcos. Que final poético para o que deveria ter sido o dia mais importante de sua vida.



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Autor(a): GN

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— Isso é sério? — Giovanna olhou pela janela para a estrutura de quatro andares. Metade das letras no luminoso estavam apagadas.— É aqui — Jack confirmou.— Linda disse que o hotel era o mais antigo da região, mas tinha estilo — Alexandre comentou com a testa franzida. — Fica perto da praia... Creio que pos ...


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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 1



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  • opslolo Postado em 01/10/2015 - 15:34:07

    awwnn qe lindo,to apaixonada nessa historia


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