Fanfic: A aposta (Continuação) | Tema: Fátima Bernardes William Bonner
Desde a manhã de sol e piscina, se passou um dia resumido a muito trabalho. Já era sábado e o horário avançava as sete da noite. Com uma taça de vinho ao lado do notebook, William custava a se concentrar. Tentou beber um pouco para relaxar, mas foi em vão. Com a TV ligada, ouvia um noticiário local, mas sem prestar muita atenção. Esfregava os olhos e a cabeça, entediado. Alternava o olhar entre a janela do quarto e a tela do computador. Girou a cabeça e olhou para a televisão. Notou que no telejornal, repórteres anunciavam a agenda noturna da cidade fim de semana. O chamou atenção um pub irlandês que teria rodadas de irish car bomb e a música de fundo que ilustrava a programação do local era The Strokes, sua banda favorita da adolescência. Levantou-se da cama em um salto e correu para o banho. Rapidamente, se arrumou vestido uma calça jeans escura, um sapatênis azul marinho e uma camiseta de linho de manga comprida bege. Ajeitou os cabelos com os dedos, borrifou o perfume e foi surpreendido com uma repentina ideia. Como sempre, agiu no ímpeto para que não tivesse tempo de se arrepender.
Sentada na cama, Fátima devorava amendoins japoneses enquanto aguardava que as unhas recém esmaltadas secassem por completo, com os dedos esticados. Ouviu duas batidinhas na porta e levantou-se da cama, surpresa. Olhou para si mesma, avaliou se estava em condições de atender a porta com aqueles trajes e então caminhou descalça até a porta. Se esforçou para que o giro na maçaneta da porta não estragasse sua unha. Se sentiu paralisada com a visão que teve em seguida.
- William? – ela arregalou os olhos, tentando entender o que levou-o até ali.
Ele estava maravilhoso e muito cheiroso, ela pôde sentir. Abriu um discreto sorriso a ela, cumprimentando-a. Estava com os olhos brilhando, parecia empolgado.
- Oi. Aceita um convite?
- Convite? Depende...
- Quer sair? – ela estremeceu por dentro.
- Sair? Com você? Agora?
- Não, não. Sozinha. – William revirou os olhos. – Claro que é comigo, se estou convidando é porque é comigo, porra. E sim, é agora.
Ela respirou fundo, com raiva da ironia dele, mas preferiu ignorar.
- Sair pra onde? – questionou, curiosa.
- Para um barzinho irlandês que vi falando no noticiário. Parece ser bem legal. Olhei no mapa e não estamos longe do centro da cidade, cerca de quinze minutos de carro. Sair de casa é tudo que eu preciso em um sábado à noite. Estou entrando em parafuso aqui dentro, preciso ver gente, ver luzes de poste, ver carros na rua. E quero que você vá comigo.
- Porque?
- Ai, lá vem você... Porque sim, cara. Porque eu não vou sentar e beber sozinho numa mesa de bar, que decadência. Ah não ser que você prefira que eu convide a cozinheira.
Fátima olhou ao redor tentando raciocinar, confusa.
- William, eu não sei se quero ir.
- Você tem quinze minutos para se arrumar e me encontrar lá embaixo. – Ele disse, puxando a porta do quarto dela, fechando completamente na cara dela. Fátima girou a maçaneta e a abriu novamente e já viu William descendo o primeiro degrau da escada.
- WILLIAM! Quem disse que eu vou? Vai esperar sentado! – e bateu a porta.
- Já perdeu um minuto! – ele gritou, sem que ela o visse mais.
Bufou e se encostou na porta, indignada com a prepotência dele de concluir que ela iria antes mesmo que ouvisse sua resposta. Mas se pegou pensando quais roupas de sair havia levado na mala. “Nem você mesma sabe o que quer, Fátima.”, pensou com raiva. Foi até a janela. Não conseguiu ver se William a esperava, mas viu que o carro dele estava lá, exatamente no mesmo lugar em que ele estacionou no dia que chegaram na casa. Engoliu seco, indecisa. Não acreditava que recebeu um convite do Sr. Ridículo para sair naquele fim de mundo. Justo ele. Mas pensou em como seria divertido conhecer novos lugares. Isso lhe faria muito bem e facilitaria suas próximas semanas enfurnada dentro de um casarão imenso. Decidiu que iria, mas talvez nem precisaria ficar o tempo todo ao lado dele. Talvez até pegaria um táxi na volta para não precisar depender dele. Poderia de repente conhecer alguém agradável, quem sabe? Ia sim, estava decidida. Revirou a mala com pressa, procurando algo adequado, mas que não estivesse muito amarrotado. Encontrou um vestido de renda vermelha, justo e bem curtinho, com uma fenda no decote dos seios. “Não me lembro de ter trago esse vestido... Deve ter sido a Alice que o enfiou na minha mala!” e sorriu, lembrando com saudades da amiga. Se enfiou dentro do vestido com certo esforço, mas gostou do resultado. Se olhou de vários ângulos no espelho. Ficou muito sexy e valorizou seu corpo. Calçou um peep toe preto, com a meia pata altíssima. Teve medo de que fosse alto demais e lhe causasse dor nos pés, mas insistiu em ir com ele. Se maquiou rapidamente, passando um batom vermelho matte, que deixou sua boca ainda mais carnuda do que realmente era. Prendeu o cabelo em um rabo de cavalo alto, quase no topo da cabeça. Virou sua bolsa em cima da cama, espalhando todos os seus pertences. Selecionou o que iria levar, colocando-os em uma bolsinha de mão preta. “Maquiagem para retocar, a carteira e o perfume portátil.”, falou em voz alta para si mesma. Conferiu o relógio, se passaram doze minutos. Deu uma última olhada no espelho, ajeitou os seios no bojo do vestido e desceu apressada. Olhou por toda sala. As luzes estavam apagadas, não notou movimento de ninguém. Lentamente, se esgueirou pela porta que dava acesso a varanda. Começava a se enfurecer fortemente ao presumir que William havia ido sem ela. Olhou para os dois lados e o viu no fundo da varanda, no escuro. Apenas a luz da lua clareava a casa. Encostado em um pilar, ele fumava imóvel. Fátima quase se arrependeu de estar ali, maquinou em sua mente uma forma de dar meia volta e sair dali, retornando para o seu quarto e retomando sue trabalho. Mas era tarde demais. Ele a viu. Apagou o cigarro imediatamente no cinzeiro. Fátima não se mexeu, ficou parada exatamente onde estava, com o coração disparado. William fitou-a.
- Puxa! Que rápida! Me mandou esperar sentado, mas não tive tempo nem de sentar ainda! – provocou-a.
- Você que perde a noção do tempo quando consome essa porcaria. – ela apontou para o cigarro dentro do cinzeiro.
- É, pode ser... – ele respondeu, sério.
- Vamos? Ou me fez arrumar correndo a toa?
- Vamos!
William quase não resistiu a tentação de olhar direito para ela. Naquele escuro, visualizar os detalhes da roupa e do corpo dela era uma tarefa difícil. Então ele seguiu olhando para frente, mas louco de vontade de olhar para ela, que caminhava atrás dele em direção ao carro. Ele destravou o alarme e foi até a porta do passageiro. Abriu a porta para ela e esperou que ela entrasse. Fátima ficou parada olhando para ele.
- Entra! – ele disse, no imperativo.
- Porque está abrindo a porta para mim? – ela não entendeu o motivo daquela babaquice.
- Meu pai sempre me obrigou a abrir a porta dos carros para as minhas irmãs e esperar que elas entrassem antes de mim. Ele fazia o mesmo com a minha mãe. Dizia que era cavalheirismo. Qualquer mulher normal aceitaria e acharia uma gentileza, é que as vezes me esqueço que você não é normal. – Sorriu, debochado.
- Isso para mim é um machismo da pior espécie. Tenho duas mãos que me permitem abrir a porta de um carro, não preciso que ninguém faça isso por mim. – ela empurrou a porta que ele segurava, fechando-a e abrindo-a novamente sozinha, com as próprias mãos. William observava calado, incrédulo. Sorriu com a petulância dela, mas naquele momento achava mais divertido do que irritante. Entrou no carro, afivelou o cinto e ligou o som.
- O que você gosta de ouvir? – olhou para ela.
- Não se preocupe, isso aqui não é um encontro romântico, portanto não precisa de trilha sonora. – ela o desafiava-a pelo olhar. William riu e ela trepidou por dentro com o sorriso dele, mas conseguiu disfarçar.
- Vamos de Snow Patrol então, já que você insiste. – ela riu com a ironia dele. Poucas vezes ele a viu sorrindo. Se ela soubesse o quanto tinha o sorriso lindo, viveria gargalhando por aí. No carro, tocava Chasing Cars. Foram em silêncio durante o percurso. De rabo de olho, William olhava para as coxas e para os seios dela acomodados elegantemente dentro da fenda. Ele podia vê-los de lado, olhando para ela de perfil. Se imaginou arrancando aquele tubinho vermelho, descendo as mangas dele lentamente até que pudesse ver os seios dela nus. Se arrepiou excitado e mordeu na boca. Procurou prestar atenção na estrada ao invés de se deixar levar por devaneios eróticos que ela o provocava. Estava solteiro já fazia algum tempo, atribuía todo esse tesão que sentia por ela à carência excessiva que estava sentindo. “É isso, só pode ser.”, concluiu em pensamento.
Fátima observava o interior do carro. Tinha um sutil cheiro de cigarro, mas o odor que predominava era o perfume dele. Era delicioso, um dos melhores perfumes masculinos que já havia sentido. Examinou cada detalhe. No quebra-sol em cima da cabeça de William tinha um porta óculos escuros. Dentro do compartimento central, abaixo do som, haviam chicletes e algumas chaves. Se perguntou quantas mulheres já se sentaram exatamente onde ela estava sentada. Nem o próprio William saberia afirmar exatamente, com certeza. Será que ele já havia feito sexo dentro daquele carro? Naquele banco? Mentalmente, se reprimiu por estar pensando uma idiotice daquela.
O percurso de carro demorou menos do que ela esperava, mas um pouco mais do que ela gostaria. Se sentia um pouco constrangida em ficar em silêncio ao lado dele, sozinhos dentro de um carro. Mas não conseguiu pensar em nada que pudesse falar para puxar assunto com ele. Preferiu não arriscar falar alguma bobagem que pudesse se arrepender depois.
O centro de Petrópolis tinha alguns monumentos históricos, mas as avenidas eram largas e muito arborizadas. Fátima se lembrava muito pouco de quando visitou uma tia na cidade, na adolescência. Ela observou William. Ele conferia o GPS regularmente e olhava para as placas com os nomes das ruas.
- É impressão minha ou você está perdido? – ela falou, com um tom de preocupação.
- Não... – ele nem prestou muita atenção no que estava falando.
- Não, não é impressão minha ou não, você não está perdido?
- Não, eu não estou perdido. Estou procurando um retorno, se você avistar me avise por favor? - ela concordou com a cabeça.
Com alguns pequenos desvios no caminho, conseguiram finalmente encontrar o bar. Estava movimentado, mas aparentemente não havia fila. Por sorte, William conseguiu uma vaga bem próxima da portaria. Caminharam juntos até a bilheteria. Aguardaram em silêncio em uma pequena fila. Quando chegou a vez deles comprarem os ingressos, Fátima atravessou na frente de William e comprou o dela. Tinha verdadeiro horror de que ele insinuasse que poderia pagar para ela. Ela caminhou até a entrada e espiou lá dentro enquanto esperava William receber seu troco. Entraram lado a lado e ambos correram o olhar por todo o ambiente. Era uma penumbra esverdeada, com mesas de madeira pequenas no canto direito. No canto esquerdo, um enorme balcão percorria toda a extensão da boate, com pequenos banquinhos de estofado verde. Um mezanino bem alto, à direita, possuía um guarda-corpo de grade preta, toda rebuscada em motivos irlandeses. No fundo, um pequeno palco com instrumentos já instalados e uma escada de madeira. Fátima adorou o som, o ambiente e as pessoas que nele estavam. Pareciam ser bem animados e tinham mais ou menos a faixa de idade dos dois. Tinham casais e turmas numerosas, sentados em diversos pontos do salão. William se curvou em direção ao ouvido dela para que ela ouvisse sua pergunta.
- Onde você quer se sentar? Prefere as mesas ou o balcão?
Ela achou que talvez as mesas fossem mais confortáveis para ela, que estava de vestido curto.
- Prefiro as mesas.
Ele acenou com a cabeça, concordando. Se acomodaram no canto, ligeiramente perto do palco. Um garçom se aproximou. Os entregou o cardápio e anunciou as atrações da noite.
- O show começa por volta de meia noite. Cobramos dez reais pelo couvert. Hoje temos rodadas de irish car bomb, vocês conhecem? – os dois negaram com a cabeça. – É uma bebida típica irlandesa, uma mistura de cerveja preta com Steinhaeger. É um copo pequeno que fica mergulhado dentro da tulipa de cerveja, a medida que vocês vão bebendo, a bebida vai se diluindo, dando o sabor do licor associado ao da cerveja. Tem também o irish car bomb no balcão, o garçom coloca fogo no copo e vocês bebem enquanto estiver quente. É a atração da casa. É a primeira vez que o casal está vindo? – William e Fátima ficam ligeiramente embaraçados por ele ter os considerado como um casal, mas ele responde para não gerar polêmica.
- Sim.
- Então a casa vai dar como cortesia uma rodada para vocês experimentarem, pode ser?
Os dois concordaram com a cabeça, sorrindo agradecidos.
A noite estava sendo divertidíssima. A partir da segunda rodada de irish car bomb, eles foram se soltando e ficando mais a vontade na companhia um do outro. Conversaram sobre diversos assuntos, mas nada muito pessoal até então. Fátima se sentiu feliz na companhia dele. Ele era divertido, engraçado, apesar de um pouco ignorante com seus pensamentos, mas naquele momento, aquilo não a incomodava nem um pouco. William, por sua vez, cada vez mais desfazia a própria impressão de que ela era uma insuportável que vivia só de trabalho. Ela demonstrava ser uma mulher descolada, independente e autêntica, além de linda. Era impressionante como de perto ela era ainda mais linda. Cantavam em voz alta as músicas do Three Doors Down, Linkin Park e U2. A banda tinha um estilo meio folk e adaptavam as músicas para seu próprio estilo. William ficou surpreso que o gosto musical dos dois era parecido. Pelo menos foi o que pareceu, afinal, ela sabia a letra de praticamente todas as músicas. Estava sendo uma ocasião de alegres descobertas. Mas a noite estava apenas começando.
Autor(a): bonemerlove
Este autor(a) escreve mais 5 Fanfics, você gostaria de conhecê-las?
+ Fanfics do autor(a)Prévia do próximo capítulo
Por volta de três da manhã, o show da banda estava no auge e algumas pessoas arriscavam se levantar e ficarem dançando ao redor de suas próprias mesas. Fátima e William devoravam uma carne de onça, um petisco delicioso tipicamente irlandês. Falavam sobre trabalho e com ...
Capítulo Anterior | Próximo Capítulo
Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 40
Para comentar, você deve estar logado no site.
-
karlalr Postado em 13/05/2015 - 18:04:32
Linda linda linda
-
FicsBonemers Postado em 02/10/2014 - 16:52:03
http://fanfics.com.br/fanfic/38533/uma-mulher-chamada-misterio-william-e-fatima- bonemer
-
FicsBonemers Postado em 02/10/2014 - 16:51:36
Amanda, adorei a Fic. parabéns. acompanhei todos os capítulos. escrevo uma fic também se puder divulgar obg. http://fanfics.com.br/fanfic/38533/uma-mulher-chamada-misterio-william-e-fatima- bonemer
-
dii_paulla Postado em 01/10/2014 - 00:39:27
Eu to feliz e triste ao mesmo tempo. Feliz pq o final foi simplesmente o melhor de todos os tempo, e triste pq foi o fim. Vc deve continuar escrevendo. Faz outra fic dos tempos atuais, tenho certeza q vai ser ¨®tima!
-
neucj Postado em 01/10/2014 - 00:04:32
Poxa uma pena q a fic acabou,vc escreve muito bem. Parabéns!!! Vc devia escrever outra fic nos tempos atuais, seria ótimo.
-
andersen Postado em 30/09/2014 - 23:36:39
continua a escrever, vc é ótima parabéns
-
luiza_piedras Postado em 30/09/2014 - 22:18:18
Cara, você acabou com meu emocional esses meses que acompanhei a fic, e de verdade, uma parte de mim "morreu" hoje, com esse último cap. Você escreve muito bem, devia continuar!! Parabéns, amei a fic ♥ Bjoos
-
andersen Postado em 29/09/2014 - 18:53:20
Que lindo esse capitulo, to emocionada até, só falta ser trigêmeos hahaha
-
dii_paulla Postado em 26/09/2014 - 00:32:11
Tomara q ela conte logo da gravidez. De preferência no próximo cap. A cada dia q passa a fic fica melhor. Ansiosicima pelo próximo cap. :D
-
ma_bassan Postado em 25/09/2014 - 17:56:24
Cada dia que passa fico mais apaixonada por essa historia!Pois parece ser mais real do que o normal,nunca tinha lido uma fic deles tão perfeita, que descreve tudo e cada detalhe !!!Perfeita perfeita, esses dois marrentinhos e perfeitos