Fanfics Brasil - Capítulo 14 A aposta (Continuação)

Fanfic: A aposta (Continuação) | Tema: Fátima Bernardes William Bonner


Capítulo: Capítulo 14

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                Por volta de três da manhã, o show da banda estava no auge e algumas pessoas arriscavam se levantar e ficarem dançando ao redor de suas próprias mesas. Fátima e William devoravam uma carne de onça, um petisco delicioso tipicamente irlandês. Falavam sobre trabalho e comentavam fofocas a respeito dos colegas de redação e da própria chefe. A banda deu um intervalo de quinze minutos no show, o que fez com todas as pessoas retornassem para seus assentos. Fátima correu os olhos por todo o recinto, tentando localizar o banheiro. Visualizou no canto direito, abaixo da escada, uma luz vermelha de onde várias mulheres saíam de batons retocados. Se tocou de que precisava ir ao banheiro imediatamente, não havia ido nenhuma vez naquela noite. Avisou William, que concordou com a cabeça e sorriu. Ela se levantou da mesa e sentiu-se levemente bêbada, mas não o suficiente para que as outras pessoas percebessem. Traçou uma linha reta da mesa até o banheiro e a seguiu fielmente. Atravessou o pub marchando em seus sapatos altíssimos, com suas pernas torneadas. Era um mulherão, chamava a atenção por sua postura e sua forma leve e incisiva de caminhar, de nariz empinado e peito estufado. William a observava de longe, discretamente encantado. Olhou ao redor. Todos os homens da boate que ele conseguia visualizar olhavam para Fátima. Alguns com um olhar de cobiça e, a grande maioria, com  olhar de desejo. Aquilo o irritou de uma forma inimaginável. Se martirizava mentalmente por estar sentindo ciúmes dela, mas sabia que aquilo era reflexo de um sentimento que ele tentava com todas as suas forças sufocar dentro de si. Sentiu vontade de socar a cara de cada um deles, apenas por terem olhado-a, sem considerarem o fato de que ela poderia pertencer a outro homem. William riu de si mesmo, pois esse homem definitivamente não era ele. Pensou em  como ela reagiria se pudesse ouvir seus pensamentos: “Eu pertenço apenas a mim mesma, seu machista!”, era o que ela com certeza diria. Corria os olhos por todos os cantos atentamente. Viu quando um rapaz se levantou de sua mesa e caminhou até o balcão. Pegou duas bebidas e se recostou em um banco. William o fitava, observando cada movimentação dele. Presumiu do que se tratava aqueles dois copos de bebida, mas aguardou para ver no que daria. Viu Fátima sair do banheiro fechando o colchete da bolsa. Ela passou na lateral do palco e cruzou em frente ao balcão, onde se encontrava o rapaz sentado. Imediatamente, o homem se levantou e caminhou até ela. Ele abordou Fátima, que se virou para ele e sorriu enquanto recebia o copo de bebida das mãos dele. William sentiu seu coração quase saltar do peito. Ficaram por alguns poucos minutos frente a frente, conversando. Olhou para o rosto de Fátima, que gesticulava e dialogava com ele, aparentemente a vontade. Os olhos de William chamuscavam, enquanto ele balançava a perna sem parar de ansiedade. Percebeu uma tentativa de Fátima de devolver o copo a ele, mas sem sucesso. Ela dava passos para trás, em uma insistente tentativa de se desvencilhar dele, mas o rapaz persistia, cercando-a. Em um determinado momento, Fátima colocou o copo no balcão descartando-o e girou o corpo, ficando de costas para o homem, que segurou o braço dela, aparentemente tentando forçá-la a ficar ali. William sentiu o sangue subir até sua cabeça. Levantou-se da mesa atordoado e marchou até o balcão, cego de ódio. Parou ao lado de Fátima, tocou a cintura dela e sorriu para ela, dizendo:


                - Nossa! Como você demorou no banheiro! – e fitou o homem, com um olhar irado. Ele percebeu que ela estava acompanhada e imediatamente soltou o braço de Fátima e saiu de perto.


Fátima girou o corpo, ficando frente a frente para William. Os olhos dela vibravam, tamanha a raiva que sentia. Caminhou ventando até a porta da boate e sumiu das vistas de William. Ele correu atrás dela, desorientado, pensando na burrada que havia feito. Ou não. Correu até o exterior da boate. Viu que estava relampeando e o céu estava avermelhado, armando uma tempestade. Olhou para os lados. Viu-a na calçada, tentando sem sucesso encontrar um táxi. Caminhou até ela, que estava virada de lado para ele, mas mesmo assim o viu. Imóvel, ela deu apenas um aviso, sem olhar na cara dele:


                - Não encoste em mim. – falou pausadamente.


William sentiu um arrepio na espinha. “Meu Deus, o  que foi que eu fiz?”, pensou.


                - Eu te protegi daquele imbecil! – ele revidou em alto tom. Ela se virou para ele e vociferou:


                - EU NÃO PRECISO DE PROTEÇÃO. EU NÃO QUERO QUE ABRA A PORTA DO CARRO PARA MIM, NÃO QUERO QUE PUXE A CADEIRA PARA EU ME SENTAR, EU NÃO ADMITO QUE INTERCEDA POR MIM EM NENHUMA CIRCUNSTÂNCIA. EU NÃO PEDI A SUA AJUDA, EU NÃO DISSE QUE QUERIA QUE VOCÊ ME PROTEGESSE. NÃO OUSE SE APROXIMAR DE MIM INSINUANDO QUE VOCÊ É MEU DONO PARA ESPANTAR UM HOMEM DE PERTO DE MIM, ISSO É RIDÍCULO. – ela berrava. – Você é um ridículo. Eu não sou sua e nunca serei.


William engoliu seco. Não sabia o que responder, mesmo que já imaginasse que aquela seria a reação dela quando viu o seu olhar para ele.


                - Ele foi agressivo com você! – ele disse, de cabeça baixa.


                - Ele segurou no meu braço, assim como VOCÊ fez há dois dias atrás! O QUE FOI QUE EU TE DISSE QUANDO VOCÊ VEIO SE DESCULPAR?


                - Que você não era frágil.


                - EXATAMENTE, EU NÃO SOU. Não me trate como se eu fosse, PARE DE SUBESTIMAR A MINHA CAPACIDADE DE ME DEFENDER. Você achou que ele fosse fazer o quê? Me estuprar no meio da boate? - William negou com a cabeça.


                - Claro que não!


                - Então você queria me proteger de quê? – ela cruzou os braços e olhou para ele, aguardando a resposta.


William pensava mil coisas ao mesmo tempo e, honestamente, não sabia o que responder. Fechou os olhos. O excesso de irish car bomb que tomou acabou atravessando as intenções que William tinha de ser coerente. Vomitou as palavras e imediatamente se arrependeu com todas as forças:    


                - Eu senti ciúmes. – ele prendeu a respiração de tensão e arrependimento.


Fátima o fitou, chocada. Ele sentiu ciúmes? Como assim? Tentava digerir rapidamente o que acabara de ouvir. Além de um ogro machista, era um ciumento neurótico. Sacudiu a cabeça, atordoada. Ela desviou dele e caminhou em direção contrária, largando-o plantado. William se voltou para ela.


                - Fátima! – ele gritou e ela continuou andando sem olhar para trás. William começou a segui-la lentamente. – Fátima, espera! Eu não quero encostar em você, então por favor, me ouça! - Ela parou e se virou para ele. – Vamos embora comigo. Eu não vou deixar você entrar dentro de um táxi a essa hora para pegar rodovia até sair naquele fim de mundo.


Fátima tapou o rosto com as mãos.


                - Por favor, não me diga que você tem medo do taxista me violentar.


                - Não, não é isso. Eu tenho medo dele bater com o carro, dele dormir no volante, dele estar bêbado. Olha só pra isso, tá armando chuva. E você vai pagar uma fortuna de táxi sendo que eu estou indo para o mesmo lugar que você! Vamos comigo. – ele deu uma pausa. - Por favor?


Fátima pensou um milhão de vezes, mil coisas ao mesmo tempo. Afirmou com a cabeça, aceitando o pedido de ir de carona com ele, nem refletiu muito sobre isso. Não viu um único táxi durante todo o tempo que esteve do lado de fora do pub. Só queria ir pra casa, apenas isso. William, então, entregou a chave do carro para ela e pediu que ela esperasse por ele, enquanto acertava a conta. Fátima não se opôs, apenas foi até o veículo completamente em transe. Sentou-se no banco do passageiro e encostou a cabeça para trás. Seu coração batia acelerado e ela quase sentia-o pulsando em sua garganta. Aquele silêncio absoluto com as portas e vidros do carro fechados estava sufocando-a. Meteu o dedo no botão do painel, ligando o som. Tocava Run, do Snow Patrol. Fechou os olhos e quase cochilou. Estava exausta. Foi despertada pelo barulho de William abrindo a porta. Levantou a cabeça e olhou para baixo. William sentou-se no banco do motorista e olhou para ela. Ele sentiu uma vontade violenta de abraçá-la. Ela era tão forte e tão frágil ao mesmo tempo, era o que ele achava, mas jamais poderia expor a ela sua opinião. Ligou o carro e arrancou, em silêncio. Arriscou uma pergunta ousada.


                - Queria te perguntar uma coisa, mas tenho medo da sua reação.


                - Então não pergunte, se está com medo é porque é merda.


                - Não, não é. Na verdade eu queria saber sua opinião a respeito de uma coisa. - Ela olhou para ele séria, aguardando a pergunta. – Eu tenho irmãs que saem a noite e eu morro de medo de algum cara mal intencionado fazer algo com elas. Não que eu ache que mulher é frágil, não é isso. Mas mulher está sempre mais vulnerável, até por uma questão de força física, de forma geral. Concorda?


Fátima concordou com a cabeça, fazendo que sim.


                - Então... Você não tem medo de que algo assim te aconteça? Você age como se não precisasse ter certos cuidados para evitar uma situação de risco. As minhas irmãs sempre foram orientadas a nunca aceitar bebida de estranhos, não entrar no carro de algum desconhecido, tentar andar sempre acompanhada de amigas, enfim. O que você pensa a respeito disso? É só uma curiosidade mesmo.


                - William... Não é uma mulher que deve aprender a não ser estuprada. É um homem que deve ser ensinado a nunca estuprar uma mulher. Eu nunca vou conseguir ser imune à violência. Mas isso não significa que eu não possa pegar um táxi sozinha, que eu não possa dar um fora em um homem de igual pra igual. Eu não quero abrir mão de viver a minha vida, como por exemplo deixar de sair na rua sozinha só porque estou correndo riscos. Tenho nojo de quem vitimiza uma mulher só porque ela é vulnerável. Isso é um retrocesso. TODOS NÓS, homens e mulheres, somos vulneráveis, inclusive você! Não quero sair por aí queimando sutiãs no meio da rua, apenas gostaria de ser tratada como se eu não fosse indefesa, como de fato não sou. Se eu gritar socorro, não pense duas vezes em vir me ajudar. MAS NÃO PARTA DO PRESSUPOSTO que eu SEMPRE preciso de alguém intercedendo por mim. Eu nunca precisei. Só isso. – e virou para o outro lado.


William coçou a cabeça. Fazia bastante sentido o que ela dizia, mas que diabo de mulher orgulhosa e metida a ser durona ela era! Qual o problema em ver que um homem se preocupa com ela e não quer que outro cara a faça algum mal? O que ela queria, afinal? Que ele visse um cara segurar seu braço, tentando forçá-la a ficar com ele e não fizesse nada, ficasse assistindo? Era pedir demais, William JAMAIS seria omisso em uma situação como essa. Mas decidiu se defender de todo o machismo que ela o acusava indiretamente.


                - Eu entendo. Só gostaria que você soubesse que eu não fiz por mal.


                - Não, você não fez. Ninguém nunca faz. Está no inconsciente das pessoas. É a forma com que você foi criado, é a sociedade que nós estamos inseridos. Eu acredito na sua boa intenção. Só te peço que não se repita. Respeite a MINHA forma de encarar a minha vida. Mas de qualquer forma, obrigada pela tentativa.


Ele concordou com a cabeça e sorriu. Admirava o posicionamento dela. Era ousada e corajosa. Mas continuava achando-a uma tremenda teimosa e cabeça dura.


                Assim que pegaram a rodovia, notaram que estava muito movimentada. Não andaram nem 1 km e despencou uma tempestade horrorosa. William ligou os para-brisas e se esforçava ao máximo para se nortear. A neblina que a água proporcionava obstruía toda sua visão. Procurou dirigir numa velocidade baixa, por uma questão de segurança. Fátima tentava ajudá-lo, esfregando seu vidro para desembaçá-lo para conseguir visualizar a estrada também. Entraram na estrada de terra que acessava o condomínio de casas serranas onde estavam hospedados. Estava muito esburacada e as imensas poças d’água tornavam o percurso ainda mais difícil. Presumiu que já havia chovido bastante naquela região, afinal de contas, haviam alguns galhos caídos no meio da pista. William ligou o farol alto enquanto desciam uma ladeira em meio a árvores de copas enormes. Foi quando notaram que um certo trecho da estrada estava completamente submerso. Era um trecho de cerca de 20 metros, mas não era possível mensurar a profundidade da poça. Fátima olhou para ele.


                - William, não vai. Parece ser muito funda, seu carro vai atolar.


                - Como assim, não vai? E nós vamos ficar aqui até que horas? Você acha que essa poça vai secar e desaparecer em uma madrugada?


Fátima fechou os olhos e bufou com a resposta mal criada dele.


                - Não! A gente fica aqui esperando a chuva dar uma aliviada e procuramos um outro caminho. Deve haver um outro acesso ao condomínio. Nós estamos muito longe?


                - Não, estamos chegando. Faltam uns 2 km até o condomínio. E como você sugere que descubramos se há outro caminho? Já sei, vamos ligar para alguém nos dar informação, OPA PERAÍ, não tem sinal de celular, nós estamos no meio do mato, esqueci de te avisar!


Fátima revirou os olhos e recostou no banco, impaciente com a ironia dele.


                - Ai, William... Sua burrice me comove. Você já ouviu falar em PEDIR INFORMAÇÃO? Dá meia volta, vamos para a cidade, paramos em um posto de gasolina ou em uma farmácia 24 horas, sei lá! Se for o caso também, a gente procura um hotel para passarmos a noite, amanhã com o dia claro tentamos voltar.


                - Não, fica quieta! Eu vou lá tentar ver a profundidade desse troço.


                - William, a profundidade não muda nada, o que não pode é o motor do carro girar por 20 metros dentro da água!


                - É? E desde quando a madame entende de motor de carro? – ele cruza os braços e olha para ela.


                - Ah, e agora com vocês o Sr. Troglodita, protetor de mocinhas indefesas, mas que  acha um total absurdo uma mulher entender de carro, que dirá saber dirigir. Cala sua boca, William. Meu avô foi mecânico por 50 anos, eu praticamente cresci dentro de uma oficina. Seu carro é alto mas é pesado, você não vai conseguir atravessar uma poça d’ água dessa extensão.  


                - É? E vai acontecer o que? Um laguinho desse vai fundir o meu motor, é isso? – William deu uma gargalhada sarcástica.


Fátima tremia de ódio.


                - NÃO IMBECIL, ELE VAI ATOLAR. E VOCÊ VAI TENTAR ACELERAR, ELE VAI COMEÇAR A PATINAR E NÃO VAI SAIR DO LUGAR. Vão precisar umas três pessoas para empurrá-lo depois que o barro endurecer. Não conte comigo.


                William gargalhou mais ainda. Ele já estava completamente irritado com aquela situação e ainda tinha que aturar aquela sabichona dar ordens a ele do que ele deveria ou não fazer. Ainda se colocou em um patamar de tal importância de achar que ele precisaria dela pra alguma coisa. Olhou fixamente para ela, com os olhos faiscando.


                - EU NÃO PRECISO da sua ajuda.


Fátima respirou fundo e se controlou com todas as forças para não cuspir na cara dele. Se abaixou no banco e tirou os sapatos. William a observava, incrédulo. Ela abriu a porta do carro e desceu, embaixo da tempestade. William berrou:


                - FÁTIMA! – mas foi inútil.


Ela caminhou na frente do carro, parando em frente a poça d’água. Olhou ao redor, aproveitando o farol do carro ligado. Viu que nas laterais havia uma parte mais alta, que não estava alagada. Não pensou duas vezes, se apoiou em um galho da árvore e atalhou pelas laterais da pista. William olhava aquilo abismado, sacudindo a cabeça negativamente. Acendeu o farol alto para tentar auxiliá-la, iluminando seu caminho. Esperou que ela passasse por toda a lateral da poça e ligou o carro. Iria tentar passar de qualquer forma, já havia traçado um plano em  sua cabeça. Ele arrancou e foi lentamente. Sentiu os pneus girando por cima da areia fofa. Franziu o cenho, tenso. Quando estava mais ou menos no meio da poça, notou que perdia aos poucos o controle da direção. O carro ziguezagueava e ele tentava frear para conter, mas era em vão. Evitou andar pelo meio, procurou andar pelas beiradas, presumia que estavam mais rasas. Mas quando faltavam cerca de 3 metros para concluir a travessia, acabou atingindo um banco de areia que se afundou e fez com que os pneus dianteiros travassem. O carro apagou imediatamente. William fechou os olhos e deu três socos no volante, irado. Tapou o rosto. Olhou para frente e viu Fátima lá na frente, encharcada e com os sapatos na mão. Notou que ela olhou para trás. “Deve estar rindo de mim essa maluca!”, pensou. Ele refletiu sobre o que faria. Viu dois galhos finos, mas bem compridos bem na direita do carro e teve uma ideia. Desceu do carro, fazendo careta quando sentiu a chuva gelada pingando pelo seu corpo. Pegou um dos galhos e tentou cavucar a areia que estava ao redor dos pneus, para tentar assim fazer com que eles conseguissem girar. Atolou-se das canelas para baixo dentro da lama. A chuva insistia em cair, em alguns momentos William achava que ela havia até aumentado. Ele seguiu na tentativa de desvencilhar seu carro daquela poça.


                Fátima começou a notar a falta de iluminação te incomodando. Não podia negar que foi estúpida em descer do carro e caminhar no escuro debaixo de chuva. Não conseguia mais enxergar nem um metro a sua frente. O farol de William permanecia ligado, mas ele já não a alcançava mais. Ela decidiu parar. Pensaria no que poderia fazer. Debaixo daquela tempestade, tentar clarear o caminho usando a lanterna do celular era um tiro no pé, o celular com certeza seria atingido pela  água e pararia de funcionar. Se arrependeu um milhão de vezes por ter aceitado o convite de William para sair naquela noite. Era pra estar em sua cama quentinha, dormindo nesse momento. Ficou parada, torcendo para que William conseguisse desatolar aquele maldito  carro e iluminar o caminho pra ela, apesar de temer que ele fosse sumir na sua frente e largá-la sozinha no escuro e na chuva. “Palhaço!”, pensou, bufando.


                William cutucou no fundo do lamaçal por muitos minutos e fez várias tentativas de arrancar com o carro, mas nenhuma deu certo. Com o pé, cavava um pouco também. Resolveu fazer mais uma tentativa, já sem esperanças de que desse certo. Bateu a chave e o carro ligou. Acelerou, sem engrenar a segunda marcha. Pisou fundo no acelerador e ouvia o carro berrar. Engatou ré, notou que o carro se movimentou de leve. Então, engatou primeira marcha novamente e pisou de uma vez no acelerador. O carro deu duas patinadas e avançou. Willam fechou os olhos de alívio. Conseguiu se livrar daquele inferno de poça. No carro, começou a tocar Be like that, do Three Doors Down. Ele aumentou no último volume, empolgado e ensopado.


Fátima viu que o carro dele saiu do lugar e mais do que depressa, começou a caminhar novamente como se nem tivesse parado. Comemorou no  íntimo ele ter conseguido. Ouviu o carro se aproximar dela. Fechou a cara e decidiu que não ia olhar para o lado. William freou e ficou andando na mesma velocidade  que ela, acompanhando-a lado a lado de dentro do carro.


- Fátima, deixa de bobagem e entra no carro.


Ela continuava caminhando, ignorando-o.


                - Fátima... Por favor, deixe de ser pirracenta. Entra no carro.


                - EU NÃO VOU ENTRAR! Não adianta insistir. – ela berrou.


William sentiu vontade de acelerar com tudo, tacando barro nela e deixando-a sozinha no escuro. Mas não teve coragem. Seguiu-a em silêncio. Ficaram naquela cena patética, ela caminhando a pé na chuva e ele ao lado dela de carro.


                - Fátima! Você me irrita muito! Do jeito que você fala, você me tira do sério!


                - VOCÊ me tira do sério com essa ignorância ridícula sua. Acho bem feito pra você ter ficado com o carro atolado. Poderia ter ficado a madrugada inteira, só pra deixar de ser trouxa. Palhaço!


                - Para de me xingar! Poxa, eu não me considero um cara difícil de lidar. É só uma questão de jeito pra falar comigo que você consegue me levar pra qualquer caminho. É como diz o ditado, me puxa, mas não me empurra não! Na marra, ninguém consegue nada de mim.


                - William, desculpa mas não estou interessada em saber lidar com você. Sério. Quanto mais eu te conheço, mais eu me certifico de que você é um babaca.


                - É? Porquê? O que você conhece de mim?


                - Várias coisas. A que mais se destaca é o seu machismo asqueroso. Você é daqueles homens que precisa falar grosso pra se impor para uma mulher. Pena que cara feia pra mim é fome.


William ficou irado. QUEM ELA PENSAVA QUE ERA PRA FALAR ASSIM COM ELE? Puxou o freio de mão, parando o carro. Fátima continuou andando. Não sabia o que ele ia fazer, mas não tinha sequer um vestígio de medo dele. Não estava nem aí. Ele desceu do automóvel, deu a volta e parou na frente dela. Largou o carro com vidros e portas abertas tocando Away from the Sun e encharcando os bancos e o assoalho, mas não se importou. Olhou pra cara de Fátima na penumbra. Ela olhou pra ele, desafiando-o. William sentiu seu coração disparar, repentinamente. Decidiu não reprimir a vontade que o subiu com todas as forças. Trespassou as mãos na cintura de Fátima e deu um tranco nela, puxando-a pra si. Encostou-a no corpo dele e a beijou. Fátima não teve reação, sentia como se não tivesse mais controle algum do seu próprio corpo. Suas mãos e pernas bambearam de uma forma que ela nunca havia sentido, fazendo com que ela deixasse cair os sapatos e a bolsa. Fechou os olhos e apenas sentiu a língua de William no céu de sua boca, a respiração dele na bochecha dela e as suas mãos imensas e quentes deslizando pelas suas costas geladas e molhadas. Ela retribuiu o beijo, esquecendo-se apenas naquele momento de todas as diferenças dos dois. Sentia o calor de William e o cheiro dele penetrando toda a sua pele. O coração parecia que ia sair pela boca. Ela sentia as mãos dele apertando seu quadril, pouco acima do bumbum. Percebeu que ele estava excitado, ela também estava. Poderia tê-lo empurrado, mas não sentiu que seria capaz. No íntimo, não quis se desvencilhar dele. Ficaram por vários minutos, enroscados um no outro, envolvidos pela melodia da música, do barulho da tempestade e dos estalos de seus beijos. 



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Autor(a): bonemerlove

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 40



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  • karlalr Postado em 13/05/2015 - 18:04:32

    Linda linda linda

  • FicsBonemers Postado em 02/10/2014 - 16:52:03

    http://fanfics.com.br/fanfic/38533/uma-mulher-chamada-misterio-william-e-fatima- bonemer

  • FicsBonemers Postado em 02/10/2014 - 16:51:36

    Amanda, adorei a Fic. parabéns. acompanhei todos os capítulos. escrevo uma fic também se puder divulgar obg. http://fanfics.com.br/fanfic/38533/uma-mulher-chamada-misterio-william-e-fatima- bonemer

  • dii_paulla Postado em 01/10/2014 - 00:39:27

    Eu to feliz e triste ao mesmo tempo. Feliz pq o final foi simplesmente o melhor de todos os tempo, e triste pq foi o fim. Vc deve continuar escrevendo. Faz outra fic dos tempos atuais, tenho certeza q vai ser ¨®tima!

  • neucj Postado em 01/10/2014 - 00:04:32

    Poxa uma pena q a fic acabou,vc escreve muito bem. Parabéns!!! Vc devia escrever outra fic nos tempos atuais, seria ótimo.

  • andersen Postado em 30/09/2014 - 23:36:39

    continua a escrever, vc é ótima parabéns

  • luiza_piedras Postado em 30/09/2014 - 22:18:18

    Cara, você acabou com meu emocional esses meses que acompanhei a fic, e de verdade, uma parte de mim "morreu" hoje, com esse último cap. Você escreve muito bem, devia continuar!! Parabéns, amei a fic ♥ Bjoos

  • andersen Postado em 29/09/2014 - 18:53:20

    Que lindo esse capitulo, to emocionada até, só falta ser trigêmeos hahaha

  • dii_paulla Postado em 26/09/2014 - 00:32:11

    Tomara q ela conte logo da gravidez. De preferência no próximo cap. A cada dia q passa a fic fica melhor. Ansiosicima pelo próximo cap. :D

  • ma_bassan Postado em 25/09/2014 - 17:56:24

    Cada dia que passa fico mais apaixonada por essa historia!Pois parece ser mais real do que o normal,nunca tinha lido uma fic deles tão perfeita, que descreve tudo e cada detalhe !!!Perfeita perfeita, esses dois marrentinhos e perfeitos


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