Fanfic: A aposta (Continuação) | Tema: Fátima Bernardes William Bonner

​Já era fim de tarde, quase encerrando o expediente. William bebia a terceira xícara de café em menos de uma hora. Fátima não havia aparecido lá novamente naquela tarde. O burburinho da promoção dela já havia se espalhado entre todos. Lúcia saiu da sala dela e foi até o corpo da redação, onde quase todos os funcionários trabalhavam.

​- Pessoal, acho que todos já estão sabendo que a minha sucessora será a Fátima... E não adianta ninguém fazer cara de surpresa, sei muito bem que a notícia corre rápido por aqui e todo mundo já está sabendo... – todos riram,inclusive William. – Então, eu fiz uma reserva em um restaurante que ela gosta hoje a noite. É surpresa pra ela, vai ser uma espécie de happy hour, serão as boas vindas dela e a minha despedida, apesar de que eu só me despeço oficialmente daqui duas semanas, mas enfim, espero que todos estejam presente! – Ela passou ao lado da mesa de William, cutucando com as duas mãos no ombro dele.

William entendeu como um recado. Compreendeu perfeitamente do que se tratava. Mas ficou indeciso. Não estava decidido se ia. Não sabia se era a melhor coisa a se fazer. Ainda estava muito recente, a ferida muito aberta. Mas, por outro lado, esse era um dia em que ela estaria feliz. Talvez, aproximar-se naquelas circunstâncias seria mais fácil... William se lembrou que há uma semana atrás, ele estavam juntos. Na sexta feira anterior, tomaram banho juntos pela primeira vez e transaram no chuveiro. Ele quase podia sentir as mãos dela apertando suas costas molhadas e escorregadias e a voz dela gemendo em seu ouvido, enquanto ele a penetrava. William esfregou o rosto, em uma tentativa de interromper aquele pensamento que o trazia uma tristeza e uma saudade imensa. Estavam felizes, mal sabiam que na semana seguinte tantas coisas aconteceriam e eles estariam agora, separados. William olhou no relógio. Viu que já estava na hora de ir embora, rapidamente arrumou sua mesa e foi pra casa.

​Alguns minutos depois, Fátima manobrava o carro acelerada no estacionamento da empresa. Estava voltando só pra pegar seus cartões de crédito, que ela havia esquecido na gaveta de sua mesa. Desceu do carro, torcendo pra que a porta da redação ainda estivesse destrancada e ela não precisasse pedir a cópia da chave para o porteiro. Subiu o elevador e notou que ainda haviam luzes acesas na redação. Olhou rapidamente e não viu ninguém, mas nem estranhou, podiam ser os meninos da impressão, que eventualmente ficavam fora do expediente finalizando o trabalho. Vasculhou sua gaveta e sentiu alguém se aproximar ao seu lado. Alice.

​- Fátima...

Ela olhou pra Alice, um pouco surpresa. Mas imediatamente, a fúria subiu-lhe pela cabeça. Não suportava mais olhar pra cara daquela dissimulada. Nem respondeu, virou a cara e continuou fuçando em sua gaveta.

​ - A gente pode conversar?

Fátima olhou pra ela.

​- É sobre trabalho?

​- Não, é que... - Fátima interrompeu-a, imediatamente.

​- Então não, a gente não pode conversar.

​- Você não quer nem me ouvir?

​- Não, eu não quero porque eu já sei o que você vai me falar. Vai me pedir desculpas, vai dizer que não foi sua intenção me prejudicar, que você só estava tentando me proteger e mais meia dúzia de asneiras, que é sua especialidade. Acontece que eu sou menos burra do que você pensa. Eu sei muitíssimo bem que você está desesperada porque agora eu vou ser sua chefe e você está tentando se retratar. Eu recomendo que você desista de tentar fazer isso, comigo não funciona. Outra coisa que te recomendo: arrume um macho pra ocupar sua cabeça, pra você parar de se preocupar comigo, acho que é disso que você está precisando. – Alice ficou parada, com os olhos arregalados olhando pra Fátima. – Pronto, era só isso? – Fátima questiona, olhando pra ela.

Alice dá meia volta e sai de perto, muda e incrédula. Com mais duas reviradas na gaveta, Fátima encontra seus cartões, pega a bolsa e atravessa o corredor sem olhar pra trás.

***

​De frente para o espelho, Fátima estava estonteantemente linda. Ela usava um tubinho amarelo, liso. As mangas eram ¾, era curto e muito justo. O cabelo estava solto. O tom do vestido realçava o tom de sua pele. Ela nem estava entendendo muito bem que jantar era aquela que Lúcia tinha a convidado. Se falaram por telefone e ela disse que eram um jantar com uns diretores da regional da revista, e que por ela ser a sucessora, era interessante que ela acompanhasse. Fátima se arrumou adequadamente para uma ocasião noturna profissional. Se perfumou, ajeitou sua bolsa e saiu de casa. Adorou a coincidência do jantar ter sido marcado justamente em seu restaurante favorito. Estacionou e caminhou cuidadosamente em cima de seus saltos. Foi informada por Lúcia que a mesa foi reservada em uma sala íntima, no subsolo do restaurante. Desceu as escadas e levou um susto com o que viu. Toda a redação se voltou pra ela e a aplaudiu, inclusive Lúcia. Ela ficou ligeiramente emocionada, abriu um sorriso largo  e se aproximou de todos. Cada um deles se levantou de sua cadeira e abraçou Fátima, parabenizando-a pela conquista. Foi uma surpresa muito agradável, ela não desconfiou nem por um minuto. Adorou que todos se deslocaram até lá pra prestigiá-la, se sentiu importante e honrada. Notou que Alice não estava presente. E isso não era de se espantar. No íntimo, Fátima desejou loucamente a presença de William. Queria saber como ele tinha reagido à notícia, se ele estava magoado, furioso ou deprimido. Mas tinha certeza que ele não viria. Ele jamais daria o braço a torcer de prestigiar a mulher que tomou seu cargo tão desejado.Mas ela não sabia exatamente se queria vê-lo, a ferida ainda sangrava muito, não fazia nem uma semana... Estava confusa. Afastou seus pensamentos nele. Se concentrou em todas as pessoas que estavam a sua volta. Alguns beberam vinho, outros beberam chopp, em um clima ótimo e muito alegre. Se passaram alguns minutos. Sentada no canto da mesa, Fátima olhou para a escada que descia do restaurante até o ambiente reservado em que estavam. Ela sentiu suas pernas bambearem, agradeceu por estar sentada. William desceu rapidamente os degraus e apontou no subsolo. Ele vestia um jeans, uma camiseta de linho de manga comprida bege, com o símbolo da Hollister no canto direito. Com as mãos no bolso, ele estava mais lindo do que o de costume, ou então era a saudade de Fátima que estava falando mais alto. Ela sentiu suas mãos tremerem. Ele se aproximou da mesa, todos se voltaram pra ele e fizeram brincadeiras por ele ter chegado atrasado. William cumprimentou um a um, deixando ela por último. Fátima estava estupefata com a presença dele, ela jamais esperou. Ao mesmo tempo que seu coração batia acelerado, olhar pra ele a fazia lembrar daquele artigo e a raiva fincava em seu peito, misturada com a empolgação de vê-lo. Nem mesmo ela sabia o que estava sentindo. A medida que ele se aproximava, cada vez mais perto dela, a tremedeira aumentava. Lúcia estava sentada ao lado de Fátima e se levantou pra cumprimentá-lo. William deu a volta na cadeira de Lúcia e parou ao lado da cadeira de Fátima. Ela se levantou, de cabeça baixa. Não olhou pra ele. Ouvir a voz dele tão próxima dela novamente fez com que ela trepidasse.

​                   - Parabéns! Você merece! – Fátima levantou os olhos, olhando pra ele.

Cruzaram os olhares e ele sorriu pra ela. Fátima permaneceu séria, com os olhos marejados. Faltou-lhe as palavras, ela sofreu um bloqueio. Respirou fundo pra não chorar. Ficou imóvel e muda. William reclinou a cabeça e beijou o rosto dela. A sensação da boca dele tocando-a  de novo fez com que ela se arrepiasse. O cheiro dele penetrou todo o nariz dela. Ela engoliu seco e não se mexeu. Ela percebeu que todos da mesa observavam em silêncio. William se afastou, a procura de uma cadeira. Se sentou de frente pra ela, do lado de lá da mesa. Fátima fitou-o no fundo dos olhos dele e ele retribuiu. Ela desviou o olhar, tentando se concentrar em outra coisa, mas foi impossível. Ela estava visivelmente mexida. Se perguntou se a essa altura a redação inteira já sabia do envolvimento dos dois. Ficou em silêncio. Admirou a hombridade dele de ir até lá parabenizá-la. Ele não sabia, mas foi importante pra ela, mais do que ela gostaria. Ela ficou completamente desconfortável, sentiu os olhos dele engolindo-a o tempo todo. Eventualmente, notava que ele estava distraído conversando com alguém e olhava rapidamente pra ele. Ele estava muito tranqüilo, alegre e não demonstrava nenhum tipo de insatisfação por não ter conseguido o cargo. Pelo contrário, ele parecia estar realizado por ela tê-lo conseguido. Fátima ficou admirada. E estranhamente, sua felicidade aumentou repentinamente. E no fundo, BEM no fundo, ela sabia o motivo.

​

***

​A noite foi divertida, leve e comemorativa. Todos riram, conversaram e relaxaram de uma semana exaustiva e trabalhosa. Saíram todos juntos do restaurante e se despediram na calçada, na parte externa dele. William pretendia enrolar, até que todos fossem embora pra ficar sozinho com ela, mas decidiu não fazer isso. Temia que ela pedisse novamente que ele se afastasse e não a procurasse mais, ele não queria ouvir isso, não naquela noite. Então, ele se aproximou dela ao lado de vários outros colegas que ainda conversavam antes de ir embora e olhou fundo nos olhos dela. As mãos de William suavam e ele se pegou nervoso, como um adolescente desajeitado.

​- É... – ele gaguejou, desconcertado. – Eu já vou indo... – William olhou pra ela, com cautela. Seu olhar dizia tudo o que a sua boca omitia.

Fátima estremeceu de leve. Olhou pra ele.

​- Obrigada por ter vindo.

Ele sorriu pra ela, com um brilho no olhar e concordou com a cabeça. Sentiu uma incontrolável vontade de tocá-la. Mas é óbvio que não o faria. Precisava ir com calma. Respirou fundo, girou o corpo, virando as costas pra ela e indo em direção ao carro. Dirigiu pra casa, pensando naquela noite. Entrou em casa lentamente e bateu a mão no interruptor. Girou o olho por toda a sala, com a cabeça na lua. Olhou pra sacada. Lembrou-se do amasso com ela, encostados naquela porta de vidro.Se jogou no sofá e fechou os olhos, deitado de barriga pra cima. Subitamente, sentiu seu coração mais calmo e menos angustiado. Por mais gélidas que tenham sido as poucas palavras que Fátima direcionou a ele, o olhar dela transmitiu que ainda existia sentimento. E que foi importante pra ela a presença dele. Ele se lembrou do seu cheiro e de como a pele dela se arrepiou quando ele beijou-a no rosto. William sorriu feito um bobo, esfregando o rosto. Caminharia persistente em direção a reconquista de Fátima. Aquela noite foi apenas um passo. E ele daria um milhão, se fosse preciso. Pensou nas palavras de Lúcia: “Lute por ela, com as armas que tem.”  Estava orgulhoso de Fátima e de sua conquista. Exausto, fechou os olhos. Sentiu seu corpo se desligar lentamente. Meio acordado, meio dormindo, pensou alto:

​- Parabéns, meu bem... Parabéns!