Fanfics Brasil - 11 Despedida de Solteira(Adaptada) Mayte & Chistian

Fanfic: Despedida de Solteira(Adaptada) Mayte & Chistian | Tema: Chaverroni


Capítulo: 11

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Tudo isso porque, na ala de perfumes, estava nada mais nada menos do que o próprio Christian, em carne e osso.


Estava lindo como sempre; vestindo uma calça jeans escura, sapatos super da hora e uma camisa vermelha estilosa por baixo de uma jaqueta preta. Diferente de tudo o que eu já tinha visto nele.


Christian estava meio inclinado, observando as prateleiras de perfume com muita concentração.


Estava tão absorto no que fazia, que não me viu chegar. Por isso, dei meia volta e encontrei Lara perto dos hidratantes.


- Eu não vou lá – murmurei, sentindo minha voz fraquejar. Tinha certeza de que estava tão branca quanto a Lara quando foi me chamar.


- Ah, vai sim! – Ela me empurrou de leve, e aquilo acabou me fazendo voltar para a ala de perfumes.


Christian estava do mesmo modo. Vi quando pegou um dos perfumes e espirrou no punho.


Esfregou com os dedos e cheirou. Balançou a cabeça logo em seguida.


O que raios ele estava fazendo?


- Pois não, senhor – falei baixinho, chegando mais perto.


Christian olhou para mim. Preciso dizer algo mais? Ele apenas olhou para mim. E isso significou tudo, pois meu coração acelerou imediatamente, minhas mãos começaram a tremer, minhas pernas quase falharam e me senti perdida em outra dimensão.


Mas isso não foi tudo. O pior foi quando o maldito ergueu o canto da boca para o lado esquerdo, contracenando a caretinha safada. Foi então que percebi algo diferente nele: estava barbeado, e sua pele lisinha à mostra mexeu com a minha imaginação em questão de segundos.


- Mayte. Que bom te ver de novo – disse, abrindo ainda mais o sorriso. – Sua loja é fantástica. Adorei!


- Que bom que gostou, senhor. Temos uma linha completa de perfumes masculinos, são cheirosíssimos. – Há! Estava fazendo de propósito. Pretendia tratá-lo como cliente até o fim, assim como ele havia feito comigo.


- Isso é bom, mas eu estava procurando um perfume feminino – respondeu, tornando a fitar a prateleira.


- Temos esta linha nova aqui, senhor – falei, pegando um papelzinho e espirrando a amostra de um perfume que tinha acabado de lançar no mercado. – Veja se gosta.


Christian pegou o papel dos meus dedos, porém sem encostar em mim. Inspirou profundamente.


- Não, não é este. É algo mais doce. Com um leve aroma de flores... Eu não entendo de perfumes, desculpe. Só saberei quando senti-lo de novo.


Meu estômago deu uma reviravolta. Por dentro, estava prestes a dar um grito e pular em cima dele. Por fora, apenas mantinha uma seriedade profissional impressionante. E viva a falsidade!


- Bom, temos trinta e sete perfumes femininos distintos, sinta-se a vontade para sentir o cheiro de cada um, senhor. – Empurrei um potinho que continha vários pedacinhos de papéis. Peguei também um pote menor, com um pouquinho de borra de café. Aquilo servia para as pessoas sentirem vários cheiros sem se confundirem.


Christian franziu o cenho, encarando-me com uma expressão esquisita.


- Muito bem, vamos começar, então – falou, pegando o primeiro papel. Segurou uma amostra e espirrou o conteúdo. Levou o papel ao nariz. Jogou-o fora. – Não é este.


Christian pegava o segundo quando decidi dar um fim àquilo.


- O que faz aqui, Christian? – perguntei.


- Vim agradecer o e-mail – comentou, cheirando o café e pegando o terceiro frasco. O segundo também não tinha lhe deixado satisfeito. – E dizer que sou seu novo vizinho.


- O quê? – falei alto demais. – Você comprou?


- Quase. Vamos ver a papelada ainda. Adorei o espaço, é perfeito. Do jeito que sempre quis. O dono da sapataria vai se mudar no fim do mês, então queria vender logo. Tinha algumas pessoas interessadas, mas ele me deu prioridade assim que descobriu que eu pagaria à vista. – Ele se virou na minha direção e piscou um olho. Meu coração derreteu.


- Isso é ótimo, Christian! Fico muito feliz por você! – falei, sorrindo. Adorei ter feito parte daquilo de alguma forma.


- Estou muito contente mesmo, Mayte. – Christian já estava na quinta fragrância. – E você, como está?


- Estou ótima! – menti. Bom, só um pouquinho. A verdade é que me sentia bem com a presença dele.


- E o casamento, como estão as coisas?


- Tudo pronto. Só falta tocarem a marcha nupcial.


Christian me encarou. Havia ficado sério de repente.


- Legal – murmurou, pegando o sétimo perfume. – Bom... Pretendo ir almoçar quando acabar aqui. Mas tem que ser algo especial, pois estou muito feliz. Então... Pensei que eu deveria almoçar com a pessoa que me ajudou nisso.


Encarei-o, mas ele não me olhou. Jogava o papelzinho com a oitava fragrância no lixinho que ficava embutido ao lado da prateleira.


- Isso é um convite? – decidi perguntar. Minha voz quase não saiu.


- É. Quer ir almoçar comigo? – Seus olhos azuis maravilhosos me fitaram por longos minutos.


- Depende – me vi respondendo.


- De quê?


No impulso, peguei seis papeizinhos de uma vez só. Separei alguns perfumes aleatórios, espirrando-os em cada papel. Depois, entreguei-os ao Christian.


- Se acertar, eu vou – murmurei.


Christian fez a caretinha.


- Você sabia o tempo todo o que eu estava procurando? – perguntou, em tom de brincadeira.


- Você é bem previsível, Christian.


- Sou?


Sorri timidamente.


- Não, mas eu queria que fosse.


- Queria?


- Você está me enrolando, vamos! – desviei o assunto. - Aceita ou não o desafio?


- Claro que sim! – Ele pegou os papeizinhos e começou a cheirá-los, um por um. Jogou três deles fora, até que parou no quarto. – É este. Foi muito fácil.


Entregou-me o papel, jogando os outros no lixo. Sua confiança era louvável.


Inspirei o papel que tinha escolhido e estaquei completamente. Minha cabeça deu um giro de trezentos e sessenta graus. Achei que ia desmaiar ali mesmo.


O maldito havia acertado.


- Tem certeza de que é este? – blefei, fazendo uma careta.


- Absoluta. – Ele não se deixou abater.


- E se eu te dissesse que errou?


- Eu diria que você é péssima em blefe. Por isso não quis jogar pôquer.


Ri. Achei graça naquilo, apesar de ainda estar quase sem ar.


- Olha, eu não teria tanta certeza assim. Acho que você errou, hem? – continuei com o disfarce.


- Mayte... Não tente me enrolar. Se não quer almoçar comigo, é só dizer. Sei perfeitamente que este daí é o seu perfume. Não pode ser outro.


- Você acertou mesmo – murmurei, pegando na prateleira o perfume que eu usava. Entreguei-o a ele.


- Vou levar.


- Vai levar? – Fiz uma careta. Céus... Esse homem vai me matar um dia.


- Sim, algum problema?


- Nenhum. É só levá-lo ali no caixa, a Fabíola vai te atender. Vou pegar a minha bolsa. Estou morrendo de fome.


- Te vejo na saída – ele disse, e piscou um olho novamente.


Estava frita.


Dez minutos depois, encontrei Christian muito concentrado, analisando a vitrine da minha loja.


- Essas fotos são boas. – Ele apontou para as fotografias das modelos que haviam feito ensaio com os produtos da loja. Tinha quadros imensos no fundo da vitrine. – Mas sabe o que eu acho?


Você podia fazer um ensaio e colocar suas próprias fotos.


- Eu? Ser a modelo? – Comecei a rir.


- Sim, por que não?


- Vou nem responder! – Balancei a cabeça, achando tudo muito hilário.


- Você é linda, Mayte. Acredite. – Ele pareceu bem sério enquanto me olhava. No mesmo instante, meu sorriso foi embora. Só conseguia ver o oceano de seus olhos se aproximando com uma onda cruel, um tsunami que arrasaria tudo o que havia posto de pé. Era perigoso estar com ele. E eu, de boba, dando corda.


- Bom, vamos lá? – mudei de assunto. – Aonde pretende me levar?


- A um lugar que eu gosto. Você está de carro?


- Estou sim, e você?


- Também. Vamos comigo, depois te trago de volta.


- Ok. Traga mesmo, hem? – Rimos.


Certo, tudo bem, o Christian tinha um BMW. Era lindo, todo prateado, chegava a reluzir.


Impossível não chamar atenção. Abri minha boca quando vi o carro dele, e quase pensei em desistir.


Sério, o que eu ia fazer rodando pela cidade sozinha com Christian dentro de um BMW?


Tentei fingir normalidade, e até que consegui. Respirei fundo e me sentei no banco do carona.


- Bela máquina – murmurei, depois que ele deu partida.


Christian não respondeu na hora. Só depois de um tempo, quando o silêncio no carro se tornou um pouco sufocante:


- Gastei bem o dinheiro.


- Estou vendo.


- Bom, me acostumei com a Charlotte, não troco nem vendo por nada – disse.


- Charlotte? – Franzi o cenho.


- É o nome da BMW. – Riu abertamente.


Comecei a gargalhar, e ele me acompanhou.


- Gosto de colocar nome nas coisas. Quase tudo que possuo tem nome. Sei lá, deve ser porque não tenho amigos. Faço de conta que as coisas podem me compreender. – Christian ainda ria, mas eu simplesmente parei. Não vi graça no que falou.


Fiquei observando seu perfil, enquanto dirigia com muita prudência. Isso mesmo, ele não estava querendo se amostrar com seu carro caríssimo. Dirigia como se estivesse guiando um popular.


- Pensei que não te veria mais – soltei, sem querer.


Christian me olhou, mas não demorou muito. Teve que prestar atenção no trânsito.


- Eu também – ele disse baixinho, num sussurro.


Fiquei calada depois disso. Não tinha o que dizer, nem o que pensar. Sua voz havia feito o meu corpo inteiro ficar paralisado. Ele tinha tanto efeito sobre mim! Só queria ser imune a tantos encantos, mas simplesmente não conseguia.


As lembranças do fim-de-semana invadiram a minha mente. Uma onda de desejo se apossou do meu corpo enquanto o via diante de mim, tão diferente, mas tão igual.


Paramos no estacionamento de um restaurante. Já o conhecia, por isso fiquei aliviada. Não queria estar em um lugar esquisito, pois me sentiria perdida. Deixaria apenas que a própria presença do Christian ficasse incumbida disso.


Escolhemos uma mesa no canto. O ambiente era bem legal; elegante na medida certa. Eu gostava mais era da organização do lugar e do cheiro cítrico delicioso que alguns arranjos de flores forneciam. Christian deixou sua jaqueta preta na entrada, bem como deixei o meu blazer cinza-escuro.


- Já veio aqui? – Christian perguntou, depois que nos sentamos.


- Poucas vezes, mas sim.


O garçom veio nos atender.


- O que você quer? – Christian me perguntou.


Encarei-o demoradamente.


- Me surpreenda – murmurei.


Christian era fã de massas de qualquer tipo, e como o lugar tinha uma variedade muito boa, acabamos pedindo várias coisas distintas. Bom, na verdade foi ele quem pediu, pois ficou com medo que eu não gostasse de alguma coisa.


Como ele estava dirigindo, e eu trabalhando, pedimos apenas suco de laranja.


- Estou impressionado, Amande – comentou, enquanto esperávamos nosso pedido chegar. – Sua loja é incrível. Bem espaçosa, cheia de variedades e toda equipada com um bom gosto absoluto. Os móveis são belos demais... E aquelas esculturas entre as prateleiras? São perfeitas!


Ri timidamente, sentindo-me corar.


- As esculturas são da Paloma, ela é uma artista e tanto! O restante é resultado de um trabalho muito grande e meticulosamente planejado. Também tive ajuda de uma colega designer de interiores.


- Ficou perfeita, meus parabéns. Você é muito competente. Há quanto tempo tem a loja?


- Três anos. Mas passei uns dois apenas planejando. Só tirei do papel quando tive certeza de que iria dar certo. Graças a Deus, deu.


- Fez tudo sozinha? – Christian pareceu surpreso.


- Sim. Meu pai me ajudou um pouco com o capital inicial, mas eu mesma consegui reunir boa parte dos fundos.


Sou formada em administração de empresas, então coloquei em prática cada detalhe do que estudei.


- Perfeito. Fico muito orgulhoso de você.


Corei de novo.


- Obrigada.


O garçom trouxe nossos sucos, então Christian ergueu seu copo e juntou com o meu.


- Ao seu sucesso, que seja absoluto – ele disse.


- Não, nada disso! Ao seu estúdio, que será um sucesso absoluto – rebati.


- A nós, então – Christian murmurou e parou de sorrir. Ficou me encarando daquele jeito que não devia. Senti meu corpo esquentar automaticamente.


Sorri feito uma boba e bati meu copo no dele. Depois, tomei dois goles grandes.


Nosso pedido foi atendido enquanto discutíamos sobre o cheiro que emanava dos arranjos.


Christian não sabia de nada sobre perfumes, mas gostava de sentir e analisar as fragrâncias. Pensei que não tinha notado o leve odor que parecia rodopiar no ambiente, afinal, quase ninguém parava para perceber certas sutilezas. Fiquei admirada com a sua sensibilidade.


- Então por isso descobriu qual era o meu perfume. Fui enganada.


- Senti bem o seu perfume, Mayte. Não tem como esquecer.


Ele não me olhou enquando disse aquilo, e dei graças a Deus. Havia ficado muito desconcertada, por isso nada respondi.


Fui salva pelo garçom, que trazia mais suco de laranja.


Percebi que havíamos pedido comida demais. Sério, tinha uns cinco pratos distintos que, juntos, podiam servir bem umas quatro pessoas. Começamos a rir disso, mas não hesitamos em comer. Christian tinha muita fome e comia empolgado, enquanto eu, inexplicavelmente, estava com o apetite nas alturas. Nossa mesa ficou lotada de comida, e tudo estava delicioso.


Saboreava um pouco de nhoque com massa de batatas quando ele decidiu tocar no assunto.


- Conseguiu resolver os problemas com o seu noivo? – questionou, sem me olhar.


- Que problemas? – perguntei baixinho. Meu sangue parou de circular nas minhas veias. Pelo menos a sensação era essa.


- Ah, não me faça dizer isso aqui. – Riu. – Você sabe, as algemas.


- Bom, tenho uma lua-de-mel inteira para isso.


- É verdade. Já sabem aonde vão? – Christian ainda não me olhava. Só observava o próprio prato e, às vezes, seu copo de suco.


- Fernando de Noronha.


Ele assobiou.


- Belo lugar.


- Já esteve lá?


- Uma vez, com uma clien... Sim, uma vez. – Pareceu desconcertado. Já eu, senti minha cabeça esquentar.


Não sabia o que era aquilo, mas era muito, muito quente. Imaginar Christian numa ilha paradisíaca de mãos dadas com uma mulher mais velha - rica e cheia de botox - não me fez bem.


Soltei meus talheres no prato. Ele não percebeu, continuou comendo de um jeito meio nervoso.


- Não precisa ter vergonha do que é – falei, suspirando profundamente. – Sei bem o que você faz, então podemos falar sobre isso abertamente. O que acha?


- Prefiro não tocar neste assunto.


- Tudo vai ficar no passado mesmo. Você será um bom fotógrafo.


Christian suspirou, voltando a me encarar. Agradeci por isso, mas ao mesmo tempo quase implorei para que não me olhasse daquela forma. Ele parecia tenso. Seus olhos estavam mais escuros. Só um pouquinho, visto que jamais deixavam de brilhar.


- Não sei. Às vezes tenho dúvidas.


- Ei, vai sim. Acredite, sua vida vai ser outra. Finalmente realizará seu maior desejo, não é?


- Sim, mas... Não sei se vou me adaptar – confessou. - Tenho medo de ficar fazendo as duas coisas... De me complicar. Conheço muita gente, Mayte, e muita gente me conhece. Vai ser difícil ser levado a sério como um profissional.


Senti o receio de Christian pular dentro do meu peito como se, na verdade, pertencesse a mim.


- Vai dar certo, acredite. Mantenha o profissionalismo, seja competente. Competência é uma coisa que ninguém pode distorcer. Se for competente, terá respeito.


Christian aquiesceu, desviando os olhos.


- Respeito... É isso. Exatamente isso o que quero.


- Então... Ei, olha pra mim. – Ele me atendeu. Prendi a respiração. – Vai dar certo. Se te faltarem com respeito, pode me chamar na loja ao lado. Vou ter uma conversinha com o sujeito.


Christian gargalhou. Eu o acompanhei, mas fiquei observando mais do que propriamente rindo.


Como era bom vê-lo sorrir!


- De fato, ninguém ganha de você numa discussão! – ele falou, ainda rindo.


- Que mentira! Só ando perdendo feio desde que te vi – comentei.


- Sério? – Christian franziu o cenho. – Pensei que tinha perdido todas.


- Se tivesse perdido, eu não teria dormido contigo – soltei.


Ele resfolegou. Sim, bem na minha frente, como se o ar tivesse lhe faltado nos pulmões. E eu me odiei por dentro por ter sido tão cara de pau. Não devia ter tocado no assunto, mas simplesmente não parava de me lembrar, enquanto o observava, do modo como ele me tocou e me agradou no fim-de-semana. Era esquisito tê-lo perto de novo.


- Pensei que tinha feito porque queria, e não pelo que falei – ele disse, seriamente.


- Vamos mudar de assunto? – pedi.


- Ok.


Voltamos a comer, silenciosos. Devoramos tudo o que conseguimos, de modo que não sobrou tanta coisa.


Mesmo assim, pedi para que embalassem as sobras.


- Tem muita gente passando fome, não aguento desperdiçar comida – confessei. – Olha, são... – Olhei no meu relógio de pulso. – Duas e meia? Nossa, já devia estar na loja!


- Vou te levar agora. Porém, pensei que ia querer uma sobremesa. Tenho uma ótima, especialmente para você – falou. Meus pensamentos voaram longe, muito além de um mero doce.


Pensava em outro tipo de sobremesa.


- Poxa, desse jeito não vou resistir.


- Não resista – ele murmurou, com uma voz rouca maravilhosa.


Christian chamou o garçom e falou baixinho com ele. Não consegui escutá-lo. Logo em seguida, virou-se para mim e sorriu. Coisa linda! Ficava tão diferente sem a barba por fazer, mas ao mesmo tempo tão... Sexy. Acho que isso nunca mudaria.


Alguns minutos depois, o garçom chegou com nossas sobremesas.


O prato diante de mim me mostrava um bolinho branco, similar a um pudim. Ao redor, uma calda, também branca, deixava evidente que estava delicioso.


- O que é? – perguntei, mas já sabia a resposta.


- Pudim de leite condensado... – Christian sussurrou. Meu braço e perna esquerda se arrepiaram. – Com calda de leite condensado.


A sobremesa estava deliciosa, e confesso que a cada colherada, recordava-me do sabor do Christian na minha língua. Foi difícil comer tudo com ele me olhando de um jeito tão safado. Estava me seduzindo, e isso era óbvio. Só não conseguia entender porque fazia aquilo. Não estávamos mais na praia, portanto não havia necessidade.


- Agora posso te levar? Está satisfeita?


Olhei para o relógio. Três e dez da tarde. Minha loja só fechava as seis, mas com o trânsito provavelmente só conseguiríamos chegar as quatro horas. Bom, eu já tinha perdido uma boa parte da minha tarde, por que não perder logo o restante?


- Estou satisfeita, mas que tal levarmos a comida que mandamos embalar até a praça que tem aqui perto?


Podemos dar a algum morador de rua antes de irmos – sugeri.


Christian sorriu.


- Você é fantástica.


- Só faço as coisas certas. O que me diz?


Ele olhou o próprio relógio no pulso. Fez uma leve careta, quase imperceptível, mas eu notei.


Pareceu refletir um pouco.


Não sou tão besta quanto pareço. Percebi rapidinho que ele tinha cliente marcada.


- Christian, se não puder ir, tudo bem. Eu compreendo. Posso oferecer a comida para alguém perto da galeria.


Ele não me olhou.


- Preciso fazer uma ligação – informou.


- Fique à vontade.


- Com licença. – Christian foi se levantando, mas fiz um sinal para que ficasse.


- Não precisa sair. Vou ao sanitário e volto já – falei, levantando-me da mesa.


Fui até o banheiro elegantíssimo do restaurante. Soltei todo o ar que havia prendido nos pulmões. O que estava fazendo? Não devia ter aceitado almoçar com Christian. Não mesmo!


Era tudo tão... Estranho. Ser o que ele é, fazer o que ele faz. Se eu fosse vista com ele na rua, e alguém o reconhecesse? Pensariam que eu estava contratando seus serviços. Talvez me tirassem de tempo, achando que também fazia parte daquele tipo de vida lastimável. Se alguém da família me visse com ele? E se algum amigo, ou o próprio João, aparecesse do nada?


Fui mesmo muito imbecil. Christian estava pagando um almoço para mim, sendo que o dinheiro foi conseguido por meio de sexo com outras mulheres. Talvez até do sexo que tinha feito comigo no fim-de-semana. Afinal, quanto tinha ganhado com aquilo? Isso era simplesmente ultrajante!


Uma lágrima sorrateira caiu, mas eu a enxuguei muito depressa. Lavei as mãos, retoquei o batom e respirei fundo. Precisava me livrar dele o quanto antes. Era o correto a ser feito.


Quando saí do banheiro, Christian ainda falava ao celular. Fui me aproximando devagar, com medo de escutar coisas que não queria. Como ironia do destino, foi exatamente isso o que aconteceu.


- Não, tudo bem, querida – ele falava, com uma voz doce. – Ainda neste mês, prometo. Vou encontrar um horário bom na minha agenda. Só não dá pra ser hoje, desculpe.


Um momento de pausa.


- Sei que sente saudades, vou fazer o possível.


Outra pausa.


- Certo, não se preocupe. Até mais. Um beijo. – E desligou.


Foi o fim da picada. Sério. Soltei um soluço alto e levei uma mão à boca, tentando me conter.


Christian acabou me ouvindo e olhou na minha direção. Eu estava perto, mas não tanto. Pensei em ir embora.


Meu desejo era simplesmente sair correndo, porém não pude.


Ele me olhava de uma forma tão... Não sei explicar sua expressão. Talvez fosse infelicidade.


Só sei que tive muita pena. Se o abandonasse sozinho, nunca iria me perdoar. Principalmente depois de ter cancelado com uma cliente. Não queria ser um estorvo, pois não tinha nada a ver com a sua vida. Ele que fizesse o que bem entendesse, e eu seria uma boba se começasse a me importar.


Sentei-me na mesa, pegando um guardanapo. Enxuguei as lágrimas até elas secarem. Christian nada falou.


Não queria olhá-lo, mas não tive saída; o que vi foi horrível. Sua expressão era de puro sofrimento.


- Desculpa – murmurei.


- Eu que peço perdão. Isso vai ter fim em breve.


- Sim, eu sei. Fico feliz por você. Enfim... Acho melhor ligar pra ela de novo e dizer que vai encontrá-la. Quero ir embora, e vou pegar um táxi.


Christian ficou calado. Depois de séculos, perguntou:


- É o seu maior desejo?


Balancei a cabeça, negando. Estava sendo sincera, não queria deixá-lo. Eu precisava, mas não queria. Não depois de ter visto tanta infelicidade em seus olhos.


- Quanto custa? – perguntei.


- O quê? – Christian não entendeu.


- Qual é o seu preço? Quero saber o seu preço.


Ele fez uma cara muito feia. Pareceu irritado.


- Pra quê quer saber?


- Quero saber o tamanho do absurdo. – Balancei a cabeça de novo, indignada.


- Varia muito – murmurou. – Depende de muitas coisas. Do lugar, da pessoa, da ocasião.


- Quanto? – rosnei.


- Vai de oitocentos a três mil reais – disse, sem me olhar. – A hora.


Abri meus olhos ao máximo.


- A hora? – quase gritei.


- É.


Não consegui resistir. Comecei a chorar como uma criança, debulhando-me em lágrimas. Era difícil entender aquele jogo; ao mesmo tempo em que era um valor alto demais – que explicava totalmente a BMW –, era muito pouco.


Uma hora com Christian simplesmente não tinha preço. Não para mim.


- Mayte... Não chore, por favor. – Ele se levantou e me puxou da cadeira, fazendo-me levantar. – Vamos sair daqui, podemos dar uma volta na praça, como sugeriu. Já paguei a conta.


Que escolha tinha? Segui-o para fora do restaurante, tentando parar de chorar.


Idiota. Essa sou eu.


Chegamos à praça com muita tranquilidade. Eu havia parado de chorar e me mantinha silenciosa, enquanto Christian segurava o meu blazer nas costas. Só me senti um pouco melhor quando entreguei a embalagem de comida a uma senhorinha que estava sentada em um dos bancos de cimento. Ela pedia dinheiro com um chapeuzinho surrado, e parecia com frio.


Christian resolveu doar a própria jaqueta para ela, que ficou contente e nos fez ganhar o dia. É sempre bom fazer o bem. Sinto-me mais leve quando percebo que fiz alguma coisa certa, e é por isso que faço em todos os âmbitos da minha vida. Bom, pelo visto, menos em um. O meu coração não ia
nada bem...


Adoraria conversar com Christian, mas não encontrava assunto. Não queria falar nada sobre o casamento, a prostituição, nem sobre o fim-de-semana ou qualquer coisa que envolvesse nós dois. O maior problema era que todos esses assuntos estavam na minha cabeça, de modo que não conseguia pensar em nada diferente.


- Você vai trabalhar sempre assim, elegante? – ele perguntou quando estávamos cruzando uma pequena ponte. Havia um riacho abaixo de nós. Era um lugar bonito, bem arborizado. Tinha até uma pista de cooper.


Olhei para mim mesma. Estava vestindo uma saia cinza combinando com o blazer e uma blusa fina de cetim na cor champagne. Meu sapato scarpin era de salto e bem discreto, mais ou menos da cor da minha pele.


- Gosto de me vestir bem.


- Você tem bom gosto em tudo. – Ele fez a caretinha. Senhor... Dai-me forças.


- Não me generalize.


Christian riu.


- Tem razão, devo conhecer apenas a sua ponta do iceberg. Mas, pode ter certeza de que, cada vez que descubro mais sobre você, fico impressionado.


Corei um pouquinho.


- Posso dizer o mesmo de você – murmurei.


Andamos em silêncio até alcançarmos um banco de ferro que ficava de frente para um chafariz.


Era uma construção antiga, diferente. Dois anjos cuspiam as águas que escorriam aos montes, provocando um barulhinho que mantinha a constância.


Ficamos observando os anjos por um bom tempo, calados. Eu não pensava em nada, apenas observava tudo ao meu redor e tentava manter a respiração calma. Às vezes passava uma rajada mais forte de vento, e conseguia sentir o cheiro dele, bem de leve. Toda vez que isso acontecia, meu couro cabeludo arrepiava.


Foi olhando para o céu do fim daquela tarde, que me lembrei de um assunto.


- Ei! Preciso ver seu portfólio! – gritei. – Está com ele aí?


- Ah... – Christian pensou um pouco. – Não, na verdade não trouxe.


- Poxa, quero muito que tire umas fotos do casamento. É sério! – Peguei a minha bolsa e puxei um convite.


Sempre guardava um dentro dela, caso encontrasse alguém que tivesse me esquecido de convidar para o casamento. Claro que isso não chegou a acontecer, visto que a minha lista foi repassada pelo menos umas trezentas mil vezes. – Tome, é seu.


Ele pegou o papel prateado e o observou dos dois lados. Hesitou um pouco, olhando para mim.


Depois puxou uma pequena aba para fora, e o convite se abriu inteiro em formato de coração.


- Legal... – Suspirou.


Realmente era legal. O convite estava mesmo muito bem formulado. Além de ele se abrir em forma de coração, tinha uma foto minha e do João estampada, e as informações do convite ficavam ao redor. Aquele design custava uma nota, mas, como dizia o dono do Jurassic Park, “não poupei despesas”.


- Este é o seu noivo? – Christian perguntou, apontando para o João.


A foto estava bem maneira. Havia sido tirada em uma viagem que fizemos a praia, portando estávamos abraçados e sorridentes, enquanto no fundo as ondas do mar morriam na areia.


- Não, é o meu irmão – falei, rindo. – Claro que é o meu noivo, né?


- Você tem irmãos?


- Não, sou filha única. E você?


- Tenho uma irmã mais nova, a Júlia. Ela mora na cidade vizinha.


- Hum... – Sorri. Christian estava um pouco sério, observando o convite em suas mãos. Acho que estava lendo as informações sobre o endereço da igreja e da casa de recepções. – Então, se estiver ocupado no sábado, tudo bem. A cerimônia é às oito da noite, mas a festa vai rolar até o amanhecer.


- Não vou estar ocupado no sábado... – ele murmurou, ainda muito sério.


Silêncio total.


Olhei o meu relógio. Dali a algum tempo começaria a escurecer, já eram cinco horas e dezesseis minutos.


Havia sido o almoço mais prolongado da minha vida.


- Você quer mesmo ver o meu portfólio? – Christian perguntou, ainda com o convite em mãos.


- Claro que sim!


- Bom... Neste caso a gente pode ir lá no meu apartamento. Eu te mostro as coisas que já tenho para o estúdio. Coloco tudo dentro de um quarto.


- Não sei, Christian... Preciso pegar o meu carro. Está ficando tarde – falei, olhando-o de perto. A verdade era que eu tremia só de pensar em ficar sozinha com ele.


- Não seja por isso; passamos na loja, pegamos o seu carro e seguimos para o apartamento.


Não vai demorar, estará em casa antes das sete.


Ele virou o rosto na minha direção. Permaneceu daquele modo por muito tempo, enquanto eu travava uma guerra interna. Um lado meu, composto por um anjinho puro e casto, chorava e esperneava, dizendo para não ser tão boba a ponto de aceitar. Já o outro lado, um demônio sedutor que cuspia chamas ardentes, pedia educadamente, usando sua voz mais sexy e tentadora. Ele dizia:


“Mayte... O que está esperando, meu bem?”


Christian ainda olhava dentro dos meus olhos, aguardando uma resposta. Do nada, ergueu uma mão e alisou a lateral da minha face com a ponta dos dedos. Foi descendo para os meus lábios bem devagarzinho. Seu toque fez meu corpo inteiro tremer, e a minha respiração se tornar ofegante.


Certamente aquele homem impressionante estava de acordo com o meu lado demônio. Os dois juntos não davam sequer uma chance remota ao anjinho que chorava.


Uma pena.


Passei na loja rapidamente. Lara já estava organizando as coisas para fechar. Não me demorei, apenas disse que precisava sair rápido e peguei as chaves do carro na minha gaveta. Confio muito em Lara, então fiquei despreocupada. O que é raro, pois nunca agi desta forma e com certeza ela notou - só foi prudente o bastante para ficar calada. Se bem que, se Lara tivesse dito alguma coisa, poderia ter me impedido de cometer aquela loucura.


Quem já se viu, sozinha com Christian em seu apartamento?


Bom, o fato é que segui a BMW dele pelo trânsito caótico da cidade e, quando menos esperei, já estava em um bairro cheio de prédios sofisticados. Não devia ficar impressionada, mas fiquei. Era o bairro onde eu morava.


Passamos direto pelo meu apartamento. Cruzamos uma avenida e entramos na quinta rua à esquerda. Sei disso porque estava calculando. A BMW parou na frente de um prédio enorme e, em questão de segundos, um portão eletrônico se movia. Eu não sabia se podia entrar com o meu veículo na garagem.


Adivinhando meus pensamentos, Christian saiu do próprio carro e caminhou até o meu.


- Pode entrar, vou estacionar na vaga vinte e sete. Você estaciona na vinte e oito, certo?


- Ok!


Meus braços começaram a tremer. Minhas pernas também. Foi difícil estacionar, embora não tenha sido perceptível o tamanho esforço que eu fazia para dirigir. Parecia que estava em um sonho ou em alguma coisa irreal que não fazia parte da minha vida.


- Mayte... – sussurrei para mim mesma, assim que desliguei o motor. – Você está ficando doida. – E saí do carro.


Entramos em um elevador grande e muito sofisticado. Christian apertou o número dezessete e se virou, sorrindo para mim. Eu não parava de encará-lo como uma idiota.


- Sabia que somos quase vizinhos? Moro neste bairro – comentei.


- Sério? Onde você mora?


- Na rua do Subway. Uns três apartamentos depois.


Christian balançou a cabeça, incrédulo.


- Que mundo pequeno!


Sorri em resposta. Estava ficando cada vez mais nervosa. Mal acreditava que estava prestes a conhecer o apartamento do Christian. Não, sério, eu? No apartamento dele? Por quê? Diga-me, por quê?


Tentava responder a esta pergunta, mas as respostas vinham embaralhadas. Então, sem alternativas, simplesmente desisti de respondê-la.


O apartamento dele era... Limpo. Organizado. Tinha um cheirinho bom, misturado com o seu perfume. Claro que a minha pele arrepiou quando entrei no recinto. Esperava ver um cafofo desarrumado, afinal, ele é um homem solteiro que mora sozinho. Porém, o que vi me deixou surpreendida.


Amplo e confortável, o apartamento tinha móveis de última geração, mesclados com antiguidades lindíssimas.


Ambos faziam do ambiente algo atual e muito aconchegante. Não contive um “uau” quando fomos entrando na sala de estar. Os sofás eram compridos e brancos, as estampas ficavam por conta das almofadas. A TV era enorme, embutida na parede, e tinha uma aparelhagem de som, DVD - e umas coisas esquisitas que supus serem videogames – disposta em um hack branco com detalhes de metal.


Por um momento pensei que fosse ver um ambiente escuro, talvez todo pintado de vermelho – a cor da luxúria -, mas estava enganada. O branco era predominante, embora uma das paredes da sala tivesse completamente revestida por fotos enormes de Christian. Certamente eram fotografias de estúdio, da época em que era modelo. Se bem que havia também alguns retratos em que ele estava mais velho.


Passei um tempão olhando para aquela parede, percebendo cada mudança nele. Não havia sido muita coisa afinal. Em algumas fotos Christian estava com o cabelo maior, em outras, bem curtinho. Os olhos eram os mesmos, bem como o desenho de suas grossas sobrancelhas. Pirei na batatinha quando reparei melhor numa foto em que ele estava na praia e usava um chapéu, tendo uma camisa de botões molhada e totalmente aberta. No seu abdome maravilhoso, um caminho da felicidade evidente se perdia dentro de uma calça escura.


A carinha sexy que fazia matava qualquer ser vivente que usasse calcinhas. E alguns que usavam cuecas também.


- Você sai com homens? – perguntei, do nada, ainda olhando a parede. Foi no impulso.


- O quê? – Christian riu. – Não sou gay, Mayte.


- É sério... Não achei que fosse gay, mas o seu trabalho exige certos sacrifícios, não?


- Alguns colegas fazem isso, mas eu não. Só faço acordo com mulheres.


- Já tentou?


Christian ficou em silêncio. Senti meu coração quase sair pela boca.


- Já, mas não rolou nada.


- Hum... – Toquei numa foto em que Christian vestia um terno escuro com uma camisa branca por baixo. Seu cabelo estava mais comprido. Havia pousado com a maldita caretinha estampada na face.


– Estou tentada a levar sua parede para o meu apê – soltei. Foi sem querer, juro. Eu acho.


- Mesmo? Por quê? – Christian parou do meu lado. Evitei o seu olhar.


- Estou brincando – murmurei. – Então, sua secretária é uma mulher muito rigorosa com a organização. Gostei de ver. Sua casa está impecável!


- Não tenho secretária. – Riu. – Eu mesmo arrumo minhas coisas. Não gosto de ninguém arrumando nada por mim.


Congelei no tempo. Minhas pernas vacilaram em cima do salto. Tentei dizer alguma coisa, mas simplesmente não consegui. Sério. Aquele homem na minha frente tinha mania de organização, assim como eu? Não devia me admirar, o modo como tinha separado as minhas calcinhas não podia ser mera coincidência.


Com muito custo, tirei os olhos das fotografias na parede e encarei o original. Balancei a cabeça.


- O que foi? – perguntou.


- Nada e tudo. Quando eu me decidir, respondo.


Ele ia fazer a careta. Sei que ia. Só que eu não podia deixar, não mesmo. Com um curto movimento, coloquei meu dedo indicador na sua boca.


- Não faça isso...


- Isso o quê?


- Essa cara de boca entortada. Pelo amor de Deus, não a faça! Isso é um perigo. Você sabe que é uma arma, e usa sem pudor algum. Que coisa feia, Christian!


Ele gargalhou.


- Sabe, você é engraçada.


Acabei rindo também. Não me achava engraçada, só estava abobalhada com a presença dele e com as coisas que descobria sobre sua vida.


De repente, seu celular começou a tocar. Ele o tirou do bolso da calça e sorriu.


- É a minha irmã – murmurou e atendeu. – Oi, Ju! Tudo bem?


Uma pausa.


- Sim, eu sei disso! Fiz exatamente aquilo que te falei.


Christian me olhou, ainda sorridente.


- Eu sei, Ju! Relaxa! Depois te ligo, prometo. Beijo, te amo. – E desligou.


“Ainnnnnnnnnnnnnnnnn”, pensei. Sim, pensei isso mesmo, exatamente deste modo. Fiquei encantada com a forma carinhosa pela qual tratou a irmã mais nova. Que fofo!


Christian, de repente, olhou ao redor. Parecia estar procurando por alguma coisa. Ele seguiu até o fim da sala, reparando em algum ponto ao lado do sofá. Depois voltou e sorriu para mim. Logo em seguida, puxou minhas mãos e me guiou por um corredor amplo, que tinha quadros maravilhosos e de muito bom gosto.


Entramos na cozinha. O que dizer? Grande, toda equipada em inox e madeira enegrecida.


Parecia um pedacinho de ambiente da Tok&Stok, ou vinda de um programa culinário da TV.


- Ah, achei! – disse Christian, soltando a minha mão e se curvando rente a uma mesa linda, de madeira toda trabalhada. – Mayte, conheça a rainha desta casa.


Ele pegou uma gatinha nas mãos, abraçando-a.


- Esta é a Lulu. Não ria do nome, estava sem imaginação. – Christian pegou a patinha da gata e contracenou um “tchauzinho”. – Oi, Mayte, sou a Lulu. Dou tanto trabalho! Papai já trocou o sofá três vezes por minha causa! Mas ele me ama mesmo assim! – imitou uma voz engraçada.


Rachei de rir.


Lulu era uma gatinha linda, toda branquinha. Tinha os olhos tão azuis quanto os do pai. Ela deu uma miadinha singela e se recostou no Christian, totalmente relaxada. Ele a abraçou forte, encostando-a ao seu rosto. Um amor!


Ergui minhas mãos para segurá-la, e Christian a apoiou como se fosse um bebê recém-nascido.


- Gosta de animais? – perguntou.


Abracei Lulu com cuidado. Ela era tão macia!


- Gosto, mas não crio. Tenho pena.


- Pena?


- Sim, sempre acho que estão sofrendo por alguma coisa. Fico deprimida... Enfim, eu me apego fácil e morro de medo se algo ruim acontecer.


Christian sorriu.


- Sempre acontece alguma coisa, mas adoro animais. São minhas companhias, na verdade. A Lulu é a minha melhor amiga, né, Lulu? – disse, inclinando-se para a gata. Depois se ergueu novamente. – O Don deve estar em algum lugar. É o filho da Lulu, ele adora se esconder nos lugares mais inusitados. Tive que reorganizar a casa para não machucá-los, está tudo seguro para ambos circularem como desejarem.


- Muito bom, você é um ótimo pai – comentei, sentindo meu coração se apertar.


Ok. Christian era lindo. Mas, veja só, isso é só um detalhe! Ele também era educado, consciente, charmoso, inteligente, sexy, cheiroso... De tudo isso eu já sabia! Só não sabia que ele era engraçado, sensível, carinhoso, solitário, prudente, organizado e tinha um extremo bom gosto para decoração.


Será possível que esse homem não se cansa de ter tantos adjetivos?


Súbito, seu celular começou a tocar novamente. Ele o pegou e atendeu.


- Ju, você está me enlouquecendo! – reclamou, fazendo uma careta engraçada. – Já te disse!


Enquanto Christian atendia a irmã, fui deixando a Lulu no chão. Estava com medo de machucá-la, não sabia se ela estava gostando das minhas carícias.


- Eu sei, garota! Que coisa! Não se preocupe. Vai lá, vê se me erra na próxima!


Uma pausa.


- Também te amo, maninha. Tchau!


Ele desligou e sorriu. Sorri de volta.


- Desculpa, ela está me ajudando a resolver uma coisa.


- Tudo bem – respondi. – Fiquei curiosa... Ela sabe o que você faz?


Christian fechou a expressão.


- Sabe. Toda a minha família sabe, e é por isso que sou um homem sozinho. A Júlia é a única que mantém contato comigo, mas ela mora um pouco longe. Só nos vemos às vezes.


Aquiesci. Meu coração, coitado... Não sabia se batia ou se parava. Olhei para o chão.


Suspirei profundamente. Uma tristeza imensa invadiu o meu peito.


Senti Christian se aproximando. Ai, não...


- Não tenha pena de mim – falou, tocando-me novamente no rosto.


Balancei a cabeça e me afastei um pouco. Não podia deixá-lo se aproximar muito.


- Vamos... Mostre-me seu portfólio – murmurei, vacilante.


Fiz uma pequena oração; algo do tipo “não me deixeis cair em tentação”. Contudo, estava quase certa de que aquilo não funcionaria. Quase.


Christian me mostrou o quarto onde estava juntando as coisas para o estúdio. Era o único lugar da casa – pelo menos o único que eu tinha visto até agora – que estava um pouco desarrumado. Os móveis estavam desmontados, cobertos por plásticos. Alguns o Christian tentou montar, mas não tinha concluído. Havia um monte de máquinas, tripés, e coisas que não fazia ideia do que era.


- Sorria! – Christian chamou, e eu me virei.


Ele tirou uma foto, e a máquina fez um monte de ruídos.


- Acabei de tirar um monte de fotos sua apenas com um clique – falou, sorrindo amplamente.


Depois, colocou a máquina dentro de uma caixa.


- Duvido que alguma tenha prestado!


- Oh, sim, todas prestaram.


Corei um pouco.


- Vem, vou te mostrar meu portfólio. – Christian segurou a minha mão e me guiou de volta para a sala de estar.


Sentamos no sofá branco. Era muito confortável, meu corpo inteiro afundou. Christian abriu uma gaveta embutida na mesa de centro e retirou de lá vários encadernados.


- Este aqui é de paisagens. – Apontou para um álbum que tinha a capa preta, depois me ofereceu o de capa vermelha. – Este é de pessoas.


Conferi cada fotografia com muita excitação. Christian era mesmo incrível! A maioria das fotos de pessoas foi feita por meio de tomadas com modelos. Havia retratos em praias, piscina, academias, e as tradicionais no estúdio.


No fim do portfólio havia algumas fotos sensuais. Uma mulher muito linda, com olhos azuis felinos, pousava trajando apenas um lingerie branco e um véu de noiva. Ela fitava a câmera como uma profissional, contracenando diversas posições. Suas curvas perfeitas foram meticulosamente fotografadas.


Sim, ficaram incríveis. Todavia, meus dedos começaram a tremer tanto que precisei parar de passar as páginas. Aquela mulher parecia muito à vontade com o fotógrafo. Muito mesmo.


- Esta é a Júlia. – Christian apontou. Estava sentado ao meu lado, e tinha percebido quando eu parei.


- Su... Sua irmã? – murmurei. Claro que me senti uma completa idiota.


- Sim, essas fotos foram tiradas antes do casamento dela, no quarto de hotel que alugou para fazer a maquiagem, o penteado... Enfim.


- Sei, também aluguei um quarto com essa finalidade... – ponderei. – Sua irmã é linda, Christian.


Maravilhosa. Eu devia ter notado, ela tem os seus olhos.


- Ela é linda mesmo – sussurrou, muito perto. Seu hálito soprou meu cabelo. Minha calcinha deu um tremelico.


Afastei-me um pouco no sofá e peguei o álbum das paisagens. Estava tão magnífico quanto o de pessoas, porém gostei muito mais daquele. A visão de perspectiva do Christian era muito boa; as cores eram sempre vivas, as imagens pareciam querer saltar dos retratos. Fotografava detalhes tão sutis!


Prova de que era um homem sensível, curioso, observador. Apaixonante...


- São lindas – murmurei, fechando o último álbum. – Você tem talento. Muito, muito talento.


Encarei-o. Ele sorria enquanto me olhava.


- Obrigado. Vindo de você, o elogio é mil vezes melhor.


Fiquei envergonhada.


- Na verdade você tem muitos talentos, Christian. Onde aprendeu a fazer tantas coisas? Digo, a pirofagia, a massagem corporal... – Diminuí a voz gradativamente.


- Na área que atuo muitas portas são abertas com a inclusão de certas habilidades. Fiz um curso de massoterapia completo. Também fiz um de garçom, mas não cheguei a concluir. Já a pirofagia, peguei algumas aulas com o Edu. Ele é bem mais fera do que eu.


- O loirinho da Fabiana? – perguntei, recordando-me do garçom loiro gostosão.


- Sim, ele mesmo. É meu colega, trabalhamos juntos em alguns eventos.


- Sei... – De repente, lembrei-me da Jéssica. – Você é colega da minha amiga Jéssica também, não é?


Christian fez uma careta. Pareceu refletir um pouco.


- Já fizemos uma tomada de fotografia juntos uma vez, faz muitos anos. Não mantenho muito contato com ela.


- Soube no domingo que ela é uma... Que trabalha como você. Jéssica me confessou tudo, mas as meninas nem desconfiam. Foi um choque, sabe? Ainda me sinto esquisita quando penso em tudo.


Fui meio rígida com ela.


- Desculpa dizer isso, mas é meio óbvio. O jeito que se comporta é similar a muitas... Bem, conheço várias garotas...


- Acho que fomos todas umas cegas. Não percebemos os problemas que enfrentava... Sabe, ela era abusada pelo padrasto desde os quinze anos! Um absurdo! Podíamos ter ajudado, e tudo seria diferente.


- Histórias assim são mais comuns do que imagina. Já vi casos piores, mas sim, é muito triste.


Uma grande covardia.


- Sim... Enfim. – Suspirei. Não queria prolongar o assunto, pois ainda tinha muito o que conversar com a Jéssica. – E a massoterapia? Você faz perfeitamente! Podia trabalhar com isso também, teria muitas clientes.


- Não me vejo trabalhando com isso – admitiu.


- Por que não?


- Porque não consigo não me envolver quando estou fazendo uma massagem. Tem que ser um momento íntimo, entende? Um momento de entrega de ambas as partes. Eu relaxo tanto quanto a pessoa.


Encarou-me fixamente.


- Sei... – aquiesci e, tentando controlar a minha respiração, olhei a hora. – Olha só, você disse que eu ia sair antes das sete. Já são sete e meia!


Christian se aproximou um pouco.


- Não especifiquei se seria sete da noite – murmurou.


Seus olhos me prenderam completamente. Sério, dava para sentir algemas enormes saindo deles e me prendendo contra o sofá, deixando-me sem saídas. As mesmas reações que dominavam meus sentidos se fizeram presentes, como se nada fosse capaz de mudar a atração que Christian exercia sobre mim. A promessa de suas palavras fez meu corpo amolecer, e eu já não mandava mais nos meus próprios pensamentos.


Parecia loucura, e era.


Em câmera lenta, Christian se aproximou ainda mais, deixando nossos rostos muito próximos. O imã latente em seu corpo chamava o meu aos murmúrios, implorando para que eu me entregasse.


- Preciso fazer uma pergunta – ele sussurrou. Sua boca estava quase encostada a minha. Os dois oceanos que carregava no olhar reuniam forças para me inundar de novo. Conseguia sentir todo aquele poder, e sabia que nada que eu fizesse seria o bastante para vencê-lo.


- Faça logo – respondi, murmurante. O desejo fez meu corpo latejar mais uma vez, soltando espasmos que acendiam minhas vontades e fantasias. A imaginação ia longe e, para mais longe ainda, ia a minha capacidade de raciocínio. Era loucura... Tudo era louco demais.


Já sabia qual era a sua pergunta.


- O que você quer? – disse, encostando a ponta de seus lábios, de leve, nos meus.


Ele sabia a minha resposta.


- Me sur...


Sequer esperou eu terminar de responder. Christian finalmente nos uniu de novo.



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Autor(a): jessica_ponny_steerey

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Seu beijo era exatamente o mesmo de que eu me lembrava. Tinha uma tranquilidade dominante, mas ao mesmo tempo era forte, poderoso. Enlaçava-me de todas as formas, acendia em mim possibilidades improváveis. Sua língua na minha contracenava malabarismos que só me deixavam ainda mais excitada. Segurei seus cabelos, trazendo-o para mim ...


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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 70



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  • gr_perroni Postado em 08/01/2015 - 16:06:03

    Posta maaaaaaaaaaaais....

  • mirelly_perroni Postado em 03/01/2015 - 09:43:02

    Postaaaaaaaaaa mais por favor que perfeito, nossa na Chuva cara rs que louco, o christian tá tão fofo, a musica que cantou pra ela foi tão demais tão perfeita, postaa mais por favor tô curiosa, o que vai rolar os problemas que vão aparecer tudo, então postaaa por favor.

  • vondy4everponny Postado em 13/12/2014 - 23:10:15

    Oooh hot na chuva?? Pqp esses dois são fogo. Christian mudou mesmo a Maite e a Maite mudou mesmo o Christian *-------* lindinhos <<<<<3

  • vondy4everponny Postado em 01/12/2014 - 19:41:51

    Nossa,tadinho do Christian, a história dele é foda.Como um pai pode tratar um filho assim só porque ele não quer ser advogado? E a humilhação na festa do natal? AF, tadinho dele, ninguém merece.

  • vondy4everponny Postado em 16/11/2014 - 15:26:24

    Odeio quando a Maite faz algo que magoe o Christian, AF. Ele precisa de muito apoio dela e ela vive assustada com tudo, aném

  • vondy4everponny Postado em 12/11/2014 - 13:10:59

    Sinceramente, estou com pena do Chris :/ Maite já está pensando em mentir, e eu entendo, mas essa história dele ainda vai dar muito problema :/

  • vondy4everponny Postado em 05/11/2014 - 00:54:26

    Awn, eles estão tão amorsinhos *-----* Mai pensa mais que o Chris, sinceramente UHAUAH! Vish, o que será que ela quer contar logo agoooora? AF Espero que seja coisa boa

  • vondy4everponny Postado em 26/10/2014 - 19:55:47

    Xtian aregou mana KKKKKKKKK Ai ai, Maite ficou ''desejosa'' tadinha UAHUAHU! Ele cantando uma canção de ninar pra ela, e ela cantou pra ele... Aaaaaaaaawn, que meigos e engraçados kk *---* Achei lindo! Posta mais Jess

  • vondy4everponny Postado em 24/10/2014 - 01:39:13

    Amando o terceiro livro amiga, que perfeitos *--* To com dó da Maite, eles ainda tem muita coisa pra acertar, isso nao vai ser facil :/

  • vondy4everponny Postado em 23/10/2014 - 20:31:54

    Ebaaaaaaa, terceiro livro! OMG, eles vão se casar? Como assim? kkkkk Coitado do ''Jão'' e da familia da Mai :/ Isso ainda vai dar mts problemas ne?


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