Fanfics Brasil - 31 Despedida de Solteira(Adaptada) Mayte & Chistian

Fanfic: Despedida de Solteira(Adaptada) Mayte & Chistian | Tema: Chaverroni


Capítulo: 31

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Acompanhei-a com os olhos até que se sentou em um sofá um pouco distante da piscina. Continuou observando a galera, que havia iniciado uma guerra de água congelante. Eles gritavam e riam com animação, ensopados dos pés à cabeça.


Suas roupas grudavam no corpo de um jeito que me fez sentir alívio.


Sentei-me ao lado da Mayte. Bem perto mesmo, de modo que nossas pernas se encostaram. Foi de propósito.


– Você foi ótima – falei. – Pensei que não acertaria.


– Se eu não soubesse que iria acertar, teria desistido do desafio – respondeu, mas sem olhar para mim.


Confiança. Logo notei que ela estava muito confiante. Mas de onde vinha aquela certeza? Só do meu cheiro?


Não podia ser possível.


– Ainda bem que sou um homem perfumado, não estava a fim de molhar o terno. – Ri.


Mayte se afastou um pouco, fazendo nossas pernas se afastarem. Ainda evitava o meu olhar. Droga! Por que ela tinha que ser tão difícil?


– Pois é. Duvido que acertaria se fosse o contrário.


– O quê? Se eu estivesse com a venda e beijasse suas amigas? – perguntei.


– Exatamente.


Foi então que percebi que Mayte não sabia absolutamente nada sobre mim.


Não fazia ideia do que eu estava sentindo, do desejo absurdo que invadia meu corpo só de olhá-la. Não sabia que eu a queria em um nível incompreensível e nem que poderia reconhecer o seu doce perfume a quilômetros de distância.


– Acertaria do mesmo modo – sussurrei, admitindo aquilo para ela e para mim mesmo.


– Ah, é?


– Sim.


Mayte fez uma expressão esquisita.


Ainda olhava para a piscina, mas pareceu entrar em profunda reflexão. Seus pensamentos deviam ser bem conturbados, pois uma ruga de preocupação e estresse sobressaltou na sua testa. Já a conhecia.


Sabia que ela estava pensando demais, colocando o certo e o errado em uma balança e se horrorizando por dentro. Devia ser assim que se martirizava diariamente.


Entretanto, sua nova reação me deixou chocado. Depois de raciocinar como uma mulher sensata ao extremo, pensei que Mayte ia apenas se afastar de mim ou continuar me ignorando como se eu fosse um nada. Preferia assim. Sem dúvida, preferia a rejeição a ter que presenciar o que aconteceu: Mayte simplesmente começou a chorar.


– Você está chorando? Por quê? – perguntei, entrando em desespero. No impulso, ergui uma mão e lhe toquei a face com a ponta dos dedos. Ela se afastou imediatamente. – Senhorita Mayte, o que...


– Pare! – interrompeu, entre lágrimas.


– Apenas pare, Christian! Isso não tem graça!


“Como assim? O que eu te fiz?”, pensei. Sabia que minhas expressões estavam muito confusas, não consegui contê-las.


– Mas, o que eu... – murmurei, mas quase nada saiu da minha boca.


– Essas mentiras, esse mundo de ilusão que criaram! – Mayte explicou, falando um pouco alto. – É tudo uma
falsidade! Pode ser divertido às vezes, e cheguei a achar que realmente fosse. Oh, sim, seria perfeito se fosse verdade. Mas, não é!


Era isso? Mayte pensava que eu estava mentindo? Que estava apenas fazendo o meu trabalho? Não... Não estava apenas fazendo o meu trabalho. O que eu sentia não estava descrito em um contrato estúpido. Talvez os caras estivessem ali porque eram obrigados, mas eu estava ali porque simplesmente queria. Embora não devesse...


Decidi me aproximar dela. Desta vez Mayte não recuou. Enxugou as próprias lágrimas, ainda olhando para a piscina.


Aquilo me irritou.


– Olhe pra mim, Mayte – pedi seriamente. Minha voz saiu mais rígida do que pude calcular, e realmente me esqueci de chamá-la de senhorita.


Ela não pestanejou. Virou seu lindo rosto na minha direção, obrigando-me a tomar uma dose drástica de autocontrole.


Minha vontade real era de beijá-la como se não houvesse amanhã. Teria feito se não fosse proibido.


Segurei-lhe o queixo com delicadeza, observando sua boca deliciosa. Foi automático; meus dedos já estavam alisando o sinalzinho que fazia dos seus lábios algo extremamente apetitoso.


– Não estava mentindo – murmurei.


Nem sabia se podia dizer aquilo em voz alta, mas disse mesmo assim. – Juro. Estou falando o que quero e o que sinto. Sem pensar. Acredite, não menti.


Mayte continuou me observando.


Não desviou os olhos por nada. Meu desejo se espalhava depressa demais. Foi impossível evitar; aproximei nossos rostos até nossas bocas quase se encostarem. Vi quando ela fechou os olhos. Estava pronta,
esperando um beijo meu. Não seria rejeitado como temia.


Eu não conseguia raciocinar. Não podia beijá-la ali, no meio da área externa, com todo mundo olhando. Marlos devia estar em algum lugar assistindo àquilo. Ia levar uma advertência muito chata, mas quem se importava?


Só queria beijá-la, e o resto que se explodisse.


De repente, Mayte reabriu os olhos e se afastou um pouquinho. Certamente havia percebido que seria loucura nos beijarmos ali. Claro que ela tinha outros motivos, pois duvidava de que soubesse sobre a proibição dos beijos. Eu havia demorado demais, esperado muito, perdido a oportunidade.


– Eu sou uma infeliz – ela murmurou.


A certeza em suas palavras havia sido tão evidente que me senti assustado.


– Por quê? – sussurrei.


Mayte se afastou ainda mais, desvencilhando-se completamente de mim.


Refletiu um pouco, talvez pensando se era correto ter aquele tipo de conversa comigo.


– Eu... Eu nunca tinha feito o que fizemos hoje à tarde. – Sua face corou de vergonha. – Nunca permiti.


Tenho certeza de que fiz uma expressão de surpresa.


– Seu noivo... nunca... nunca te...


“Chupou?”


Impressionante. Como um cara podia não ter vontade de chupar aquela mulher?


Aproveitei a primeira oportunidade que me apareceu, e nem fazia vinte e quatro horas que tínhamos nos conhecido.


– Não. – Mayte balançou a cabeça muito confusa. Aquilo realmente a perturbava. – Jamais. A culpa foi minha...


Nunca me senti à vontade o bastante, entende? Mas hoje, eu... Quando você estava lá... Não pensei que fosse assim.


“A culpa não é sua por não ter permitido, é dele por não te fazer se sentir à vontade”, pensei. Tive muita vontade de dizer isso em voz alta, mas meu profissionalismo não permitiu; eu não tinha nada a ver com a vida dela. Quem era eu para sair falando mal de seu noivo? Além do mais, o que me fazia achar que era melhor do que ele?


– Bom, foi uma experiência, Mayte.


– Sorri, mas não senti graça alguma.


Chamei-a só pelo nome pela segunda vez, mas agora foi de propósito. Sabia que era um erro, mas... – Agora você sabe que gosta, e seu noivo poderá te agradar melhor.


Uma algema sua foi solta.


“Abri o caminho pra um otário.”


Ela suspirou.


– Sim... Talvez.


– Está triste por causa disso? – perguntei. – Não deveria. É assim que funciona, agora você é livre para deixar seu noivo explorar melhor o seu corpo.


Tudo bem, aquilo não era mentira.


Perdi as contas de quantos “caminhos” tive que abrir para outros caras. Muitas clientes me procuravam apenas para ganhar experiências e, consequentemente, fazer coisas que não tinham coragem antes com
os namorados ou maridos. Basicamente eu as fazia perder o medo.


– É mais complicado, Christian – respondeu Mayte.


– Conte-me, o que é tão complicado?


Estou aqui para ajudá-la.


Não, não estava ali para ajudá-la.


Estava para fazer o meu trabalho: servir, proporcionar prazer, divertimento... Estava para fazer tudo, menos ajudá-la a resolver seus problemas com o noivo. Nem devia estar ouvindo Mayte falar sobre ele, muito menos dando conselhos. Não sou de dar conselhos, nunca fui. Mas o que podia fazer?


Sua aflição com relação àquele assunto me preocupava.


– Eu... Eu... Nunca... – disse, mas parou desconcertada. Seu rosto ficou vermelho novamente. Desviou os olhos e prosseguiu: – Jamais senti o que senti hoje, Christian. A verdade é que... eu nunca tinha...


Nunca tinha experimentado um orgasmo na frente de alguém.


– O quê?


Ok. O cara era mais do que um otário.


Além de nunca ter feito sexo oral naquela mulher incrível, também não a tinha feito gozar? Como podia ser possível?


– Nunca gostei de nada relacionado a sexo – continuou, explicando-se. Claro, para mim aquilo não tinha explicação. Era injustificável. – Tenho algumas vontades, mas quando chega na hora... Não consigo me concentrar... Não relaxo, fico pensando sem parar... Acho que não nasci para isso.


– Mayte, isso é mais comum do que você imagina, mas... Seu... Seu noivo sabe disso? – perguntei.


Ela balançou a cabeça, negando.


Era só o que me faltava. Idiota. Como não percebia que ela não gozava? Só um otário mesmo, um Zé Mané.


Sei o exato momento em que minhas clientes atingem o clímax. Sei também quando fingem.


Algumas clientes com dificuldades para se concentrar, como a Mayte, às vezes tentam fingir orgasmo, mas comigo isso não funciona, nem que eu invente trezentas formas de estimulá-las. Só descanso quando as vejo se contorcendo para mim, oferecendo-me seu prazer até se saciarem.


– Finjo orgasmo todas as vezes que transamos – completou Mayte. – Christian, eu não tenho excitação com o João Pedro.


Nunca o desejei como desejo vo... – Parou de repente.


– Como o quê?


– Nada. É só isso o que tenho a dizer, mas quero mudar de assunto. – Ela suspirou profundamente e voltou a me encarar.


Prendi a respiração. – Vamos falar sobre você.


– Sobre mim?


Eu ainda estava surpreso por causa de sua confissão. O fato de tê-la feito gozar me enchia de honra, mas ao mesmo tempo havia me deixado bastante preocupado.


Mayte tentava melhorar suas expressões, mas eu sentia que, no fundo, ela estava completamente perdida.


Agora entendia melhor por que sua mania de pensar demais lhe fazia mal. Imagina as coisas que já tinha deixado de fazer por puro medo de parecer ridícula, de não gostar, de não se permitir?


– Sim, por favor. Já me abri demais para você, de todas as formas, literais ou não – ela disse, corando. – Quero saber alguma coisa sobre a sua vida.


Ô-hô. Área restrita prestes a ser invadida. Aquela conversa não podia ser prolongada de forma alguma. O fato de ela ter me contado um segredo não significava que eu tinha que contar os meus. Podia ser perigoso, nossa relação era meramente profissional. Sei bem que Mayte sabia disso, mas estava ignorando.


– Meu nome é Christian, tenho trinta e um anos. Pronto. – Ri, sentindo-me um pouco desconfortável.


– Não é o bastante. Diga-me, trabalha com isso desde quando?


– Não sei, faz muito tempo.


Ela se virou de frente para mim, oferecendo-me seus lindos olhos escuros.


– Como começou? Quando? Estou curiosa.


Não consegui manter meu olhar sobre ela. Seus olhos me desconcertavam, era como se estivessem me desvendando sem a minha permissão. Sentia-me exposto, vulnerável diante deles. Virei o rosto e pensei
inúmeras vezes se falaria alguma coisa sobre mim.


– Sempre  trabalhei como modelo, desde os meus dezessete anos – soltei, achando que estava ficando louco.


Péssima escolha aquela. – Trabalhava muito, o dia todo, arduamente, e fazia dietas malucas.


Era uma vida difícil, e eu ganhava pouco.


Certo dia, descobri que podia ganhar muito mais de um jeito mais fácil.


Mayte aquiesceu como se estivesse me compreendendo.


– Como descobriu? Pode me dizer?


“Não, não posso”, pensei. Entretanto, acabei fazendo o contrário.


– A dona da agência. Ela estava... meio carente. Ofereceu muito dinheiro em troca de favores sexuais. Eu aceitei.


Mayte, ela me pagou o valor que ganharia em seis meses de trabalho.


– Não tente se justificar, Christian. Para mim, nada te justifica. Só quero mesmo saber. – Suas expressões mudaram para uma que eu conhecia muito bem: preconceito. Ela estava me julgando por eu ser o que sou.


– Por que quer saber tanto? – perguntei, contrariado. – Sou o que sou. Não preciso de sermões; sou homem e faço a minha vida do jeito que quero.


– Esse é o seu maior desejo? – Mayte perguntou, devolvendo-me a pergunta que eu já tinha feito para ela.


Encarei-a fixamente. O meu maior desejo não lhe interessava. Ela mesma havia me dito isso uma vez, mas não tive vontade nem coragem de lhe devolver a resposta malcriada. Muito pelo contrário, acabei soltando mais uma informação sobre mim:


– Não.


– Eu sabia! – gritou, sorrindo amplamente. – Sabia! SA-BI-A!


– Como você mesma disse, nem sempre fazemos o que queremos. Eu não desejo isso, mas foi a melhor saída – expliquei e estava sendo muito sincero. – Não faria de novo, mas não me arrependo.


É simples.


– Por que foi sua melhor saída? Podia fazer uma faculdade e ir trabalhar como uma pessoa normal. Desculpe-me, você é normal, não quis dizer isso...


Ótimo. Mayte continuava me julgando. Talvez ela não soubesse que era difícil se manter sozinho em prol de um sonho. Quando era mais novo, sonhava em ser modelo. Queria as passarelas, as revistas, as viagens...


Queria todo aquele glamour. Meu pai nunca aceitou isso, sempre quis que eu cursasse uma faculdade de Direito como ele e o meu avô. Recuseime a viver do jeito que ele queria, por isso saí de casa aos dezoito anos. Logo, fui contratado em uma agência de pequeno porte, mas nem tudo foram flores.


Mesmo diante das dificuldades, jurei a mim mesmo que venceria na vida, que teria dinheiro o suficiente para esfregar na cara do meu pai, provando que podia ser alguém bem sucedido sem precisar ser um advogado.


Provaria que ele estava errado, que não devia ter me menosprezado por querer ser diferente. Prometi a mim mesmo que meus sonhos não seriam sonhados em vão.


O problema era que as dificuldades pareciam não ter fim, e as contas se acumulavam muito depressa. Quanto mais esforço fizesse, mais achava que estava nadando contra a corrente. Minha vida era vazia, e as pessoas que me cercavam também. Sempre tive uma boa educação – isso meus pais me deram –, portanto nunca fui um cara fútil, que preza mais o corpo do que o cérebro. Inteligência me atrai tanto quanto um par de seios volumosos, talvez até mais, de modo que simplesmente não tinha amizade alguma no meio. Não quis me envolver com gente mesquinha, só queria ser modelo e viver em paz. Este foi o começo da minha solidão. E, a partir dali, dei-me conta de que estaria sozinho para sempre. Por conta própria.


A proposta da dona da agência me livrou de uma dívida fundamental; estava devendo quase cinco meses de aluguel. Se não pagasse a tempo, seria despejado e não teria para onde ir. Meu pai simplesmente não me aceitaria de volta, e meu orgulho certamente não me levaria para casa.


Mas Mayte não sabia disso e nem iria saber.


– Não disse que não tive escolhas, disse que foi a melhor saída – respondi simplesmente.


– Não acha que essa saída é feita para pessoas que têm preguiça de correr atrás do que querem? Uma vida fácil, confortável e cheia de riquezas... Isso não é nada se tiver que abdicar do caráter e do valor moral.


Nossos valores são as únicas coisas que temos de verdade.


– Não abdiquei de valor moral algum, além daquele que a sua sociedade tem a hipocrisia de dizer que deve ser mantido.


Liberdade sexual não significa desvio de caráter – falei, chateado de verdade. Além de não saber das minhas dificuldades, Mayte ainda queria dizer que não tenho moral? Era só o que me faltava. – Só porque transo por dinheiro não quer dizer que eu seja uma pessoa ruim. Sou um cidadão, tenho os mesmos direitos e deveres que você. Além do mais, Mayte, você não faz ideia do quanto é difícil fazer o que faço. Não chame a minha vida de “fácil, confortável e cheia de riquezas”, isso é ignorância de sua parte.


– Tudo bem, Christian, não quero discutir contigo – ela falou. – Cada um faz o que quer, eu te respeito muito.


É sério.


Aquilo me desarmou totalmente. A palavra respeito sempre foi muito importante para mim, e saber que ela me respeitava, apesar de tudo, era um alívio.


– Obrigado – murmurei, encarando-a.


Mayte permaneceu calada, mantendo seu olhar sobre o meu como se isso não a abalasse. Pelo menos não parecia abalá-la tanto quanto a mim. Ela era tão linda... Tão doce e inteligente. Possuía um poder único de me tirar do sério.


Era difícil acreditar que estivesse prestes a se casar com um cara que não a merecia. Isso mesmo, não a merecia. Um homem que não sabe agradar sua mulher simplesmente não a merece.


– Mayte, fiquei preocupado com você – confessei. Chamei-a pelo nome de novo. Isso estava ficando esquisito, mas depois da conversa mais íntima que tivemos, soou natural. Parecíamos velhos amigos. Pelo menos eu jamais havia falado tantas coisas sobre mim para alguém, exceto para a Júlia, claro. Tentei não me sentir vulnerável demais com isso, afinal, Mayte nunca tinha gozado durante a relação. Estávamos quites.


– Comigo? – Ela franziu o cenho, fazendo uma caretinha linda.


– Sim. Tudo isso que me falou... sobre o seu noivo. Eu... Estou preocupado com o seu casamento. – Estava mesmo. E se Mayte casar e as coisas permanecerem iguais? Se continuar sem sentir prazer durante o sexo?


Se jamais gozar novamente?


Ela suspirou.


– Não quero falar nisso. Conte-me, Christian, você disse que seu maior desejo não é viver assim. Então qual é o seu maior desejo?


Sorri torto. Mayte estava mesmo disposta a me desvendar. O que eu podia fazer? Ignorar? Com aqueles olhos me encarando de um jeito tão perfeito, era impossível lhe negar alguma coisa.


– Gosto muito de fotografia. Já fiz vários cursos e estou montando um estúdio – soltei.


– Pretende largar essa... vida? – perguntou. Parecia incrédula.


– Pretendo, Mayte. Beleza não dura para sempre. Os anos vão passando e não tenho mais a mesma paciência que tinha.


– Não parece. Foi tão paciente comigo.


“Como não ser? Você é perfeita.”


– Não falei de você, prometo. Você não me irritou em momento algum, exceto, talvez, quando disse que sou um mau caráter. Mas não te julgo, é sério.


– Me desculpa – ela falou, fazendo uma expressão diferente.


Para minha total surpresa, Mayte ergueu os braços e os entrelaçou no meu pescoço, dando-me um forte abraço. Inspirei o seu cheiro de imediato, sentindo-me tonto com sua aproximação repentina. Segurei-lhe a cintura, retribuindo o gesto com igual intensidade. O conforto que sua pele causava na minha era notável.


Desejei que o momento jamais tivesse fim.


Inexplicavelmente, senti-me em casa.


– Me conta mais... Você tem namorada ou já teve? – ela perguntou, desvencilhando-se devagar.


Fiz uma careta. Foi automático. Não esperava por uma pergunta daquele tipo depois de um abraço tão aconchegante.


– Não tenho namorada desde os vinte e dois anos. Não daria certo. A escolha que fiz para mim exige muita solidão. Não acho ruim, gosto de ficar sozinho. Uma vez tentei ter uma namorada, mas ela... – Eu não ia contar aquilo, ia? – Ah, esquece.


– Não, vai... Conta! – Mayte riu de um jeito infantil.


Como negar? Diga-me, como negar?


– Ela descobriu sobre o meu verdadeiro “emprego” e colocou fogo no estúdio que eu estava montando antes.


Ainda bem que eu não estava lá. Isso foi pior para ela, pois pretendia parar assim que ele estivesse pronto. – Sorri. Não queria assustála com aquela história, afinal, já tinha superado tudo. Anelise fazia parte de um
passado que eu fiz questão de esquecer.


Entretanto, as expressões da Mayte foram de puro horror.


– Faz quanto tempo isso? – questionou, contracenando uma carranca que, nela, ficava a coisa mais linda.


– Uns quatro anos. Fiquei desanimado demais para construir outro estúdio e acabei torrando todo o dinheiro que tinha guardado.


Passei algum tempo sem economizar, mas voltei neste ano. Está na hora de recomeçar.


Meu Deus, estava passando dos limites. Não devia ter falado sobre a minha vida, ainda mais algo tão pessoal.


Contudo, sentia-me confortável demais. Era como se soubesse que podia confiar na Mayte, como se ela fosse a pessoa pela qual eu procurava; alguém que, enfim, me compreendesse.


– Ela foi presa por causa disso?


– Não. Não abri processo algum contra ela. Fingi que havia sido um incêndio natural.


– Por que fez isso? – Mayte franziu o cenho. Parecia estupefata com aquilo.


– Não sei. Acho que me senti merecedor. – Soltei um longo suspiro. De fato, coloquei-me no lugar da Anelise.


Se eu descobrisse que minha namorada era uma prostituta, ficaria extremamente irritado.


Claro que não colocaria fogo em nada, mas vai saber, né? Cabeça quente, atitudes impensadas.


– E falta muito? Digo, para concluir seu novo estúdio? – Mayte levou uma mão à boca, perturbada.


– Nem tanto. Ando trabalhando demais nos últimos meses. – “Ou seja, ando transando demais”, pensei. – Basicamente, só falta o espaço para colocar minhas coisas.


É difícil arranjar um lugar bacana no Centro, e não queria alugar.


– Tem razão, eu me virei em duas para conseguir um lugar bom. Tenho uma loja de cosméticos no Centro – comentou, fazendo-me conhecer mais um detalhe sobre a sua vida. – Ei! Uma loja de calçados vai ser desocupada ao lado da minha! Eles vão vender, tenho quase certeza! Posso pegar o contato para você!


– Sério? Eu adoraria, seria... ótimo! – respondi no impulso. Foi totalmente espontâneo, eu juro. Queria muito um lugar bom no Centro, mas era óbvio que não podia me estabelecer ao lado de uma excliente.


Principalmente sendo a Mayte.


Jamais daria certo.


– O que foi? – ela perguntou, notando minha confusão.


– Nada. Relaxa.


Sorriu.


– Seu portfólio é bom? Queria vê-lo depois. Ah! Tive uma ideia! Por que não aparece lá no meu casamento e faz umas fotos? Eu já contratei um fotógrafo, mas queria ter umas fotos suas. Que tal? – Mayte estava realmente animada com a possibilidade.


– Não sei... A gente vê – respondi. Ela tinha enlouquecido? Por que estava me convidando para o seu casamento? Estranho demais!


– Você tem um cartão de visitas?


Balancei a cabeça, aquiescendo.


– Eu quero, faço questão!


– Está... Não tenho um aqui comigo.


– Mas você trouxe?


– Acho que sim, devo ter alguns na minha carteira.


– Pode pegar?


– Cla... Claro – respondi, ainda muito surpreso. Mayte sempre me surpreendia, era impressionante. Suas atitudes são verdadeiras caixinhas de surpresas. Não faço ideia do que vai acontecer quando estou com ela.


Isso é constrangedor, mas ao mesmo tempo excitante.


Levantei-me do sofá e caminhei vagarosamente na direção do casebre. A sensação de torpor que a presença da Mayte me causava ainda circulava junto com o meu sangue. Tentei não pensar em nada, mas foi impossível. Não conseguia parar de refletir sobre a vontade absurda que ainda me sufocava, vontade de tê-la para mim.


Será que aquilo teria fim em algum momento? Estava cansado de desejá-la, mas a exaustão só podia ser curada com a mesma dose de desejo. Mayte era, ao mesmo tempo, o meu veneno e o meu remédio. Não havia saídas ou meios-termos; precisava dela e ponto final.


Peguei o cartão de visitas bem depressa. Não sabia direito o que estava fazendo; podia ter dito à Mayte que não tinha trazido ou até mesmo ter sido sincero, dizendo que não desejaria manter contato com ela após aquele trabalho. Mas o problema era justamente esse: uma parte de mim queria que ela me ligasse. Não para conversarmos sobre a loja que está sendo vendida ao lado da sua, muito menos sobre o seu casamento. Tudo bem, tirando essas duas coisas, Mayte me ligaria para quê?


Nem eu mesmo sabia responder.


Voltei para a área externa. Estava tão envolvido com a Mayte que sequer tinha reparado no pessoal. Olhei para a piscina, mas não havia ninguém lá. Por isso tudo tinha ficado em silêncio. Paloma estava entrando na casa junto com a Cláudia, mas não vi as outras garotas.


Foi então que percebi que apenas Marcelo e Henrique estavam arrumando as coisas com a ajuda de Marlos e um dos auxiliares do Sr. Amoretto. O restante dos caras provavelmente tinham se dado bem; deviam ter levado suas acompanhantes para “dormir”. Não posso negar, meu objetivo era fazer exatamente igual.


Para o meu azar, Mayte se levantou do sofá assim que me aproximei.


– Estou indo dormir, Christian. Ando meio cansada. O dia foi longo.


– Tudo bem. Posso acompanhá-la, senhorita? – perguntei na maior cara de pau.


Situações urgentes pedem medidas drásticas. Não podia deixá-la ir sem mais nem menos.


Mayte me encarou fixamente. Seus olhos vacilaram, então eu soube que ela queria, no fundo, dizer sim, só era sensata demais para se permitir, para dar vazão ao desejo que sentia. Não estava enganado; Mayte me desejava. Era visível.


– Não sei. – Balançou a cabeça freneticamente. Estava realmente pensando na possibilidade, caso contrário teria negado de vez. – Acho melhor não.


– Este é o seu maior desejo? – incitei.


Era óbvio que não era, só queria que enxergasse isso. Quem sabe parasse de pensar tanto e começasse a fazer o que sentia?


Mayte ainda me olhava de um jeito profundo. Os olhos grandes, muito abertos, indicavam a guerra que se travava no seu interior. Por um segundo quis estar exatamente lá, empunhando uma espada e finalmente matando o dragão que a impedia de dizer sim. O dragão chamado consciência, sensatez, discernimento. Não sabia seu nome, mas queria acabar com ele.


– Eu tenho um desejo – ela murmurou, inspirando como se estivesse sem ar.


Mal deu para acreditar. Um desejo?


Quer dizer, uma fantasia? Não sei se tinha entendido direito, mas meu coração acelerou drasticamente. Bateu tão depressa que achei que não suportaria.


– Posso realizá-lo – respondi.


“Posso e quero realizá-lo. Por favor, pelo amor de Deus, deixe-me realizá-lo”, implorei mentalmente.


– Eu sei.


– Você disse a mim que não tinha desejos – soltei. Não devia ter dito aquilo, mas realmente fiquei curioso. Mayte havia falado, na noite passada, que não possuía vontades, desejos ocultos ou fantasias diferentes. Pelo menos não que não pudesse realizar com o noivo. Palavras dela. Só que o otário não sabia fazê-la gozar, duvidava muito de que seria capaz de lhe realizar um desejo.


Melhor para mim.


– Acho que a tal algema que me amarrava os prendia – disse Mayte, soltando um longo suspiro. – Não vai haver nada, Christian, acredite. Só preciso de você e de leite condensado.


Leite condensado e eu? Eu e leite condensado? Mistura interessante e inacreditável. O que Mayte faria com o
leite condensado? Não fazia ideia, mas minhas palavras de ordem eram: só se for agora.


Não contive um riso torto.


– Leite condensado? – sussurrei.


Minha voz quase não saiu. Ainda estava pasmo com a situação; Mayte topando realizar uma fantasia envolvendo leite condensado. Comigo. Comigo!


COMIGO!


– Sim. Pode conseguir isso? – ela perguntou. Estava envergonhada, o que só a deixava ainda mais atraente.


– Só se for agora.


– Ok...


Ela piscou os olhos várias vezes. Seu desconcerto era perceptível, mas eu precisava tranquilizá-la. Só que, para isso, tinha que tranquilizar a mim mesmo. Estava tão excitado com a ideia que tive que controlar seriamente uma ereção.


Aproximei-me um pouco.


– Vá para o seu quarto. Chego em alguns minutos, vou pegar o que me pediu – falei.


Mayte aquiesceu e, sem olhar para trás, entrou na casa.


Não pude me controlar; sorri amplamente depois que ela se foi. Balancei a cabeça, mal acreditando naquilo.


Era bom demais para ser verdade.



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Autor(a): jessica_ponny_steerey

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Não queria perguntar para o Marlos onde podia conseguir leite condensado. Vergonha era a última coisa que eu tinha, mas não queria expor a Mayte daquela forma. Fui ao estande e abri a geladeira sem pedir licença, aproveitando que todos estavam ocupados demais desmontando o minibar. Achei um tubo de calda de leite&nb ...


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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 70



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  • gr_perroni Postado em 08/01/2015 - 16:06:03

    Posta maaaaaaaaaaaais....

  • mirelly_perroni Postado em 03/01/2015 - 09:43:02

    Postaaaaaaaaaa mais por favor que perfeito, nossa na Chuva cara rs que louco, o christian tá tão fofo, a musica que cantou pra ela foi tão demais tão perfeita, postaa mais por favor tô curiosa, o que vai rolar os problemas que vão aparecer tudo, então postaaa por favor.

  • vondy4everponny Postado em 13/12/2014 - 23:10:15

    Oooh hot na chuva?? Pqp esses dois são fogo. Christian mudou mesmo a Maite e a Maite mudou mesmo o Christian *-------* lindinhos <<<<<3

  • vondy4everponny Postado em 01/12/2014 - 19:41:51

    Nossa,tadinho do Christian, a história dele é foda.Como um pai pode tratar um filho assim só porque ele não quer ser advogado? E a humilhação na festa do natal? AF, tadinho dele, ninguém merece.

  • vondy4everponny Postado em 16/11/2014 - 15:26:24

    Odeio quando a Maite faz algo que magoe o Christian, AF. Ele precisa de muito apoio dela e ela vive assustada com tudo, aném

  • vondy4everponny Postado em 12/11/2014 - 13:10:59

    Sinceramente, estou com pena do Chris :/ Maite já está pensando em mentir, e eu entendo, mas essa história dele ainda vai dar muito problema :/

  • vondy4everponny Postado em 05/11/2014 - 00:54:26

    Awn, eles estão tão amorsinhos *-----* Mai pensa mais que o Chris, sinceramente UHAUAH! Vish, o que será que ela quer contar logo agoooora? AF Espero que seja coisa boa

  • vondy4everponny Postado em 26/10/2014 - 19:55:47

    Xtian aregou mana KKKKKKKKK Ai ai, Maite ficou ''desejosa'' tadinha UAHUAHU! Ele cantando uma canção de ninar pra ela, e ela cantou pra ele... Aaaaaaaaawn, que meigos e engraçados kk *---* Achei lindo! Posta mais Jess

  • vondy4everponny Postado em 24/10/2014 - 01:39:13

    Amando o terceiro livro amiga, que perfeitos *--* To com dó da Maite, eles ainda tem muita coisa pra acertar, isso nao vai ser facil :/

  • vondy4everponny Postado em 23/10/2014 - 20:31:54

    Ebaaaaaaa, terceiro livro! OMG, eles vão se casar? Como assim? kkkkk Coitado do ''Jão'' e da familia da Mai :/ Isso ainda vai dar mts problemas ne?


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