Fanfics Brasil - 31 Verdade ou consequência(Adaptada) Dulce & Christopher TERMINADA

Fanfic: Verdade ou consequência(Adaptada) Dulce & Christopher TERMINADA | Tema: DyC Romance e hot


Capítulo: 31

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Eu sabia que tinha que começar pelo fim, e isso significa que neces - sito retroceder ao passado exatamente ao ponto onde fui abandonada como um filhote de uma cadela sarnenta.


Desço do carro de puxo a alça da minha mala de viagem que ganha vida e se move logo atrás de mim. Olho para a enorme casa com piscina, jardim e sapos de gesso, folhas rasteiras encobrindo o muro, muito verde...


Bem, prefiro não me apegar aos detalhes.


Volvo e sorrio para minha irmã. É um sorriso sem graça nada típico. A verdade é que não me sinto bem neste lugar. Ele não faz parte de mim, parte do que sou. Essa casa de tijolos negros de repente é o meu oponente.


Cloe optou por ela, a casa, o dinheiro, o Cristiano - seja lá quem for esse desgraçado.


A porta se abre, grande demais, fria demais. Acho que deliro. Uma mulher alta, esbelta e cinquentona está atrás da porta. Ela tem olhos frios e escuros. Ela olha para mim, estica seu pescoço quase enrugado e então olha para Belle. Franze o cenho. Olha-me dos pés a cabeça e parece que gosta do que vê, pois exibe um sorriso desses de propaganda de creme dental, mas nem de longe me parece sincero.


Então eu me transformo no Christopher só para não perder o costume.


– Hum... – Murmuro constrangida. Meu olhar salta da mulher para Belle. Sou um boneco inflado, flácido demais.


– Oh, perdoe-me a curiosidade, mas é impossível deixar de com parar.


– Sem problemas. – Respondo e coloco o cabelo atrás da orelha. – Sou Dulce.


– Tenho certeza. A Belle fala muito de você, quer dizer... Acho que isso é o máximo que conseguimos chegar, pois Belle resolve adiantar os passos. Ela entra na casa e me faz segui-la. Meus olhos procuram apenas por uma coisa: fotografias. Dela. Preciso saber como ela é. Se ainda é como me lembro.


Suspiro e o meu coração arrebenta-se em contrações nervosas dentro do peito. Por incrível que pareça, não encontro nada. Em vez disso, sou dispersa dos meus dilemas com uma voz da qual o meu cérebro diz ser
cada vez mais familiar.


– Pode deixar a mala aqui mesmo. Pedirei para mandá-las para o seu quarto – diz Belle.


Meneio a cabeça feito um androide. Afinal, eu tenho um quarto – de hospedes?


Subo as escadas e passo por varias portas até ser destinada a abrir uma. Entro no quarto bege com uma aparente e deliciosa colcha. Observo a cortina que voa com vento artificial do ar-condicionado. Um jarro de flores está sobre um dos criados mudo. Uma das portas do closet está aberta e demonstra estar vazio.


Respiro fundo e me desapego rapidamente do que acabo de ver.


Migro para o que me parece ser o banheiro, certa de que tão logo minha mala estará em meu quarto. Tiro a roupa e ando nua pelo carpete do banheiro que é incrivelmente macio. Amarro meu pequeno cabelo em uma
polpa, deslizo o box de vidro, ligo a ducha que despenca do alto e tomba em minha pele numa pressão deliciosa.


Fico um tempo parada debaixo do jato d’água me dando conta de onde estou e o que está prestes a acontecer.


Não sei você, mas me sinto totalmente extasiada, e sinceramente acho que não estou pronta. Eu nunca estive pronta para este encontro, embora sempre desejasse. Quando termino meu longo banho enrolo-me na toalha branca de algodão e saio do banheiro. Como previsto, minhas malas estão no quarto.


Procuro por uma roupa e opto por um vestido longo. Termino de me vesti e decido que vou dormir um pouco, mas sou interrompida dos meus desejos por conta das batidas na porta.


– Dulce? – É a Belle.


– Sim, pode entrar.


A porta se abre como um rompante.


– Ah, ainda bem que não está dormindo. Sei que você deve estar cansada, mas precisamos ir até o hospital.


Faço uma careta mentalmente. Não quero ser insensível, só que eu estava pensando em descansar um pouco.


– Tudo bem, só vou calçar uma sandália.


Desço do carro e o estacionamento do Hospital é quente demais. Nossos passos ecoam pelo ar e a
turbulência zune acima de nossas cabeças. Belle segura a minha mão e é como se repentinamente ela nunca havia estado ausente antes. Somos as duas garotinhas de antes enfrentando nosso primeiro dia de aula.


As portas de vidro se abrem automaticamente e o vento gelado do interior do Hospital invade a minha pele.


Sinto o choque térmico por um segundo. Na recepção apanhamos dois crachás e subimos as escadas de mármore. Meu estômago dá giros acrobáticos e estou despencando da primeira queda da montanha-russa sem parar.


Paramos.


– Você quer que eu entre primeiro ou entramos as duas? – Pergunta Belle.


Levo um tempo crucial para processar a pergunta. Minhas mãos soam sem parar. Estou muito nervosa. Tão nervosa que sou capaz de cair aqui por meus joelhos não aguentarem o meu peso.


– Acho melhor você ir na frente.


E é isso que ela faz. Não antes de planar um beijo em meu rosto. Os minutos que se passam é uma eternidade e já nem sei mais onde estou. Sou uma planta vegetativa que perdeu a capacidade de reter oxigênio. Uma árvore oca.


– Ela pediu para você entrar. – A voz me tira do transe.


Aperto as mãos uma nas outras. Um passo de cada vez. Você caminha em placas de ovos. O mundo é
estranho e a vida é abstrata...


E eu vejo primeiro um volume na cama com tecido em branco e listas azuis. Até que esse volume ganha pequenos movimentos e uma cabeça se vira para mim. É ela. Cloe. Minha mãe.


Sinto-me tão assustada que estanco no lugar. Meus olhos ardem tanto que já perdi parte da visão.


Está tudo embaçado. Fecho os olhos. As lágrimas quentes descem e logo ganho minha visão perfeita
novamente.


Aqueles olhos que tanto esperei rever de novo olham para mim, fix- am-se na criatura que sou hoje.


Ela chora. A Belle chora. Eu choro. Sinto uma dor no peito completamente insuportável.


Então me dou conta da caricatura que a Cloe se tornou, ali, deitada nessa cama de hospital. Não é a mulher que eu imaginava que era; não é a mulher de minhas lembranças. É sim uma desconhecida. O rosto que tanto procurei está diante de mim, mudado, distorcido, mesmo assim ainda é ela – uma ruga ali, um detalhe aqui. É ela.


– Dulce...


Deus, eu nem lembrava mais da voz da minha própria mãe.


Finalmente ganho vida própria e caminho até ela. Seguro as mãos estendidas para mim que pendem de dois braços finos. Eu não sei o que ela fez para merecer essa doença e, se eu pudesse, mesmo que ela não mereça, trocaria de lugar com ela porque no fundo do meu peito sinto uma dor desconhecida nunca habitada antes em meu peito.


– Mãe...


Queria poder dizer o quanto é estranho chamar essa estranha de mãe, muito embora também seja
reconfortante.


– É você mesmo?


– Sim. – Meneio a cabeça.


E passamos um tempo, bastante tempo, em silêncio, olhando uma para outra. Para ser honesta, eu também sinto raiva dela, da Cloe.


Espero que me entendam.


As coisas começam a perder todo esse conto de fadas quando ela me faz a seguinte pergunta:


– Você me perdoa?


Foi assim que notei que eu não queria agradá-la, eu queria agradar a mim. Ser honesta com ela seria ser honesta comigo mesma. Eu a perdoava?


– Não. – Digo. – Não te perdoo.


Seu rosto ganha uma expressão confusa demais para descrever. Sou uma bruxa, uma vaca, uma cretina.


Chamem-me do que quiser, porém não é porque ela está deitada na cama a beira da morte que merece ser redimida de todos os seus pecados.


– Espero que entenda... Só que não dá, o que você fez comigo acredito que não existe perdão.


– Mesmo assim você está aqui.


– Estou aqui porque precisava olhar para você. Precisava te perguntar por que me abandonou quando eu era só uma criança.


A pergunta parece perdurar no ar pelo resto da vida de todos os seres humanos da Terra e a impressão que tenho é que nem ela sabe a resposta de sua monstruosidade, pois é assim que classifico isso.


– Porque eu precisava tentar.


– Tentar o quê?


– Tentar uma vida melhor e... Deixar você... Deixar você foi a única alternativa que encontrei.


Ela ainda não me respondeu.


– Por quê?


– Não me deixaram escolhas. Eu não tive. Eu conheci o Cristiano e me apareceu a oportunidade que eu sempre desejei. Eu queria ter uma vida melhor, mas ele não gostava de criança. Nunca gostou.


Então eu consegui fazer com que ele me deixasse levar pelo menos uma de vocês... E, ah, Dulce, naquela época você aparentava ser a criança mais forte...


– Mais forte para ser abandonada, deixada de lado como uma coisa qualquer? Abandona como uma boneca que você enjoou?


– Não diz assim, Dulce...


– Mas foi assim que me senti todos esses anos: uma boneca sem graça. Eu andava nas ruas procurando por rostos semelhantes aos seus; eu queria acreditar que tudo era mentira... – A esta altura a minha voz está embargada demais e o choro inibe os meus pensamentos. – Nunca passou pela sua cabeça que enquanto estava aqui vivendo uma vida de luxo eu estava lá, chorando, convivendo com uma estranha, perguntando por você todos os dias, chorando e sentido a sua falta todos os dias?


– Eu sei que o que fiz não tem perdão, Dulce.


– Sim, não tem perdão. Passei todo este tempo tentando encontrar a minha identidade, quem realmente sou.


Perguntei-me várias vezes por que tinha me deixado e nenhuma resposta nunca me foi convicta. Quando eu precisei conversar sobre um garoto que eu gostava, você não estava lá; quando a minha primeira menstruação desceu, você não estava lá, mãe! Nos dias do meu aniversário, você não estava lá. Mesmo assim, por alguma ironia boba, eu imaginava que a qualquer momento a minha mãe atravessaria a porta e diria que tudo não passou de um sonho. Você precisou ficar doente para poder aparecer e eu pergunto por quê?


Com que intuito?


– Dulce, você está sendo muito dura com mamãe.


Fuzilo a Belle com o olhar feliz por finalmente dizer o que sempre esteve engasgado, preso; feliz por tirar esse peso que me sufocava.


Limpo o nariz com as costas das mãos.


– Você bancava a boa samaritana. Dizia isso e aquilo e que tudo era pecado. Tudo. Às vezes eu me
perguntava em que Deus você acreditava ou se tudo era mentira. Alguém que falava de Dele daquela forma jamais abandonaria um filho por dinheiro.


– Eu me apaixonei pelo Cristiano, Dulce.


– É isso que não entendo. Você amava um cara mais do que amava a sua própria filha? Quem era você, afinal? – Ela fecha os olhos e vejo uma lágrima cambalear pelo seu rosto.


– Acho que eu era a mentira.


Pisco com a resposta. Acho que já deu. Já consegui atingir o que desejava e agora posso voltar para casa e viver a minha vida como antes. Só que eu não queria voltar para casa assim. A maneira como a mulher à minha frente me olha é digno de piedade.


– Você se arrependeu alguma vez na vida do que fez? – Pergunto minutos depois.


– De verdade?


– Sim.


– Às vezes, quase sempre. Mas gosto de acreditar que tudo nessa vida tem um propósito. Eu te abandonei por algum motivo maior do que parece, acredite. Talvez só você não tenha percebido.


E talvez seja verdade, ainda não percebi.


Cloe olha para o meu braço e sorri.


– Fez uma tatuagem...


– É, fiz. Uma hora cheguei à conclusão que não adiantava levar tudo a sério o que você me pregava.


– Fico feliz. Você se tornou uma pessoa muito bonita. Pode não parecer, mas eu te amo, Dulce.


Sempre amei, sempre... Eu só fui fraca demais, idiota demais.


E naquele exato momento eu soube que eu já tinha perdoado – ou acho que sim, por causa do momento – a minha mãe desde que ela tinha partido em busca da sua oportunidade. No fim acredito não ser pecado correr atrás do que realmente você quer para sua vida, mesmo que isso coloque algumas coisas fora do lugar e você precise deixar alguma coisa para trás. Tudo é uma questão de escolha.


Passei o resto da tarde conversando com a minha mãe sobre a minha vida, sobre a faculdade, os amigos e, claro, o Christopher. O enigma. Ela me disse para eu ser feliz e me sussurrou algo em meu ouvido, no entanto não me sinto à vontade de compartilhar com quem quer que seja no momento.


Cloe morreu quando o crepúsculo caiu.


Primeiro, ela estava sorrindo e segurando a minha mão, e depois as máquinas começaram a apitar.


Os médicos entraram da sala e me afastaram, embora a mão dela estivesse fixa na minha como uma rocha.


Acredito que ela queria viver pelo menos mais um minuto. Enfim, assisti aos seus choques e ao seu corpo pular na cama sem vida.


Não havia mais chances para ela neste mundo. Cloe morreu de câncer de mama. Quando seus nódulos foram descobertos já era tarde demais para os tratamentos médicos, até mesmo os avançados.


Pergunto-me agora: do que adiantou todo o seu dinheiro?


Pela primeira vez compreendo a expressão “dinheiro não traz felicidade”.


Chorei por um bom tempo, se querem saber. Ela era a minha mãe, caramba, e de uma forma ou de outra me sinto um pouco culpada por ter dito todos os disparates que disse.


Sentada no quarto escuro, após passar um tempo abraçada à Belle, o Christopher me liga.


– Oi, garota carioca.


Ouvir essa voz me traz um conforto imediato. Fico em silêncio apenas escutando sua respiração do outro lado da linha e finalmente libero o que está preso em minha garganta. Um ruído rouco e desconexo. Meu choro.


Minha incrível dor.


– Aconteceu alguma coisa, Dulce? – Posso perceber a sua preocupação.


Ajeito-me na cama e me deito feito uma concha.


– Ela morreu.


– A sua mãe morreu?


– É.


Ficamos assim por um tempo. Saber que ele está ali, do outro lado da linha, já me é o bastante.


Queria poder estar com o Christopher agora. Colocar a cabeça em seu peito e ouvir as batidas do seu
coração, saber que ele está vivo.


Sinto a lágrima escorrer dos meus olhos e pairar na ponta do meu nariz.


– Eu queria estar aí com você. – Ele diz.


– Eu queria que você estivesse aqui.


– O que eu posso dizer para que você fique bem?


– Só... Só fique ai. Só me deixe ouvir a sua respiração e tudo vai ficar bem. Pode parecer pouco, mas ajuda.


– Sim, qualquer coisa.


Não me lembro exatamente de quando desligamos o telefone porque eu estava bastante sonolenta, mas lembro-me que antes de apagar o ouvi dizer que me amava – ou acho que imaginei.


Ao acordar, depois do banho, desço as escadas da casa enorme, não antes de me perder um pouco, para variar. Quando chego à sala de estar, sou conduzida até a sala de jantar onde uma deliciosa mesa de café da manhã está posta. No entanto é outra coisa que chama a minha atenção. É a figura dele de costas. Estanco no lugar. Pisco os olhos duas vezes e a Belle suspende seu pescoço para que ele se vire para mim.


É um giro ágil que faz o meu coração pular em frenesi. Antes que eu veja seu rosto, tenho certeza que é ele apenas pelo perfume.


Christopher.


Sou abraçada e estou literalmente assustada, confusa. Não sei que diabos ele faz aqui, mas isso me faz bem, me conforta. É impossível resistir. Abraço-o. Aperto seu corpo com força e tenho vontade de chorar porque meu nariz arde com tanta clemência que acabo cedendo ao meu sentimentalismo barato.


Empurro seu corpo para olhá-lo melhor. Viro-me para Belle.


– Se importa... – Ela balança a cabeça em um sinal de negação e é notório que andou chorando.


Seguro a mão do Christopher e o puxo escadas acima em direção ao meu quarto tentando ao máximo não
tropeçar em meus próprios pés.


– O que você está fazendo aqui? – É a primeira coisa que me vem à cabeça.


– Você disse que queria que eu estivesse aqui, então eu vim. Lembra?


Franzo o cenho porque, por mais que fosse verdade, disse apenas por dizer. E eu sei, é tudo muito romântico e coisa e tal, em um filme. Mas, na vida real? Ora, quem sou eu para ser digna de grandiosa deslocação?


– São 1.678 quilômetros... – murmuro.


– Que me separavam de você – ele coloca uma mecha do meu cabelo atrás da orelha. – Vamos lá, Dulce, até parece que não está feliz que eu esteja aqui.


– Por Deus, eu estou feliz, só que é estranho.


– Eu senti a sua falta. Tipo: muito. Quando fiquei sozinho em casa era como se uma parte de mim tivesse ido embora para sempre. O que foi bom, porque cheguei à conclusão de que não sou eu mesmo sem você e que já nem sei como viver sem essa pessoa aqui – ele me empurra com a ponta do dedo indicador, o que me faz exibir um frouxo sorriso.


Aí me quebro toda porque sou eu quem o beija, e não o contrário. Essa me parece uma ótima hora para isso, pois já estava cansada de prolongar o que estava predestinado a acontecer. Rapidamente suas mãos de longos dedos deslizam pelas minhas costas de baixo para cima. Quero me perder nele.


– A que horas você saiu de casa, ou o melhor, como chegou aqui?


– Esqueceu que fui eu quem descobriu onde a Belle está? Enfim, era mais ou menos oito da noite quando juntei uma muda de roupa e comprei as passagens na internet. Foi tudo muito rápido.


Nossa, me pareceu muito tarde ontem. Se bem que eu estava bastante exausta e nem tinha reparado nas horas.


– Muito bem, agora vamos falar de outra coisa. Como você está?


Se eu fosse uma filha normal, presente, poderia apenas fuzilá-lo com os olhos. No entanto, essa pergunta é convincente.


– Bem, se é que me entende. Não é como se eu fosse me desesperar por uma desconhecida porque, sejamos realista, era isso que a Cloe se tornou para mim. É claro que dói, mas é uma dor suportável.


– Que horas é o enterro?


– Sei lá.


– Pelo menos você a viu antes dela morrer.


– Foi o que pensei. Será que ela estava apenas me esperando?


– É bem provável.


O velório aconteceu em uma linda capela repleto de pessoas com roupas negras, óculos e saltos altos
exibindo lágrimas que pelo menos da grande maioria nem eram verdadeiras. Ops, quase esqueci de dizer que acabei por me tornar a grande novidade do velório. Afinal, não eram todos que sabiam o segredo da Cloe. Eu.


Sua filha abandonada. Gêmea.


Foi no velório que conheci Eric, namorado da Belle. Eles se conheceram na faculdade quando ela deixou cair de propósito seu estojo, e disso surgiu um papo e depois as coisas evoluíram – foi assim que ela me contou.


Ele me aparenta ser um cara legal e cuidará muito bem da Belle.


Como nos filmes, não choveu. Em vez disso, o Sol brilha. Aperto a mão do Christopher quando o pastor
começa a pregar sua palavra. Meus olhos ardem e choro. Encosto a cabeça no peito do Christopher e mal
escuto nada. Pergunto-me se devo tomar a palavra e dizer que espero, de coração, que seja lá onde a Cloe esteja, que Deus a abençoe e a perdoe por seus pecados. Ninguém é tão perfeito que não possa pecar. É claro que sofri todos esses anos por seu abandono, mas também posso dizer que sou feliz hoje, que tenho tudo o que quero e desejo bem aqui comigo, ao meu lado. Christopher. E se eu fosse a escolhida da Cloe, com certeza eu não o teria conhecido, e conhecê-lo de repente ameniza qualquer dor, raiva ou sofrimento causados pela minha mãe. De verdade, acho que devo até mesmo agradecê-la por ter sido abandonada.


Decido não dizer nada.


Olho para seu rosto lívido e está muito melhor do que quando a vi. Longe de mim dizer que ela ficou melhor morta. Só quero dizer que minha mãe mostra estar em paz consigo mesma e isso me tira um peso de toneladas das costas.


Deslocamo-nos para a rasa cova feita em um lindo gramado. É o cemitério mais belo que já vi. O caixão é fechado e colocado na vala. O vento sopra e ouço um ruído que vem da Belle. Ela caminha como uma alma penada até a cova e se ajoelha com uma dúzia de rosas brancas e amarelas. E ela chora muito. Confesso que a dor dela dói mais do que ver a minha própria mãe morta.


Deixo o abraço do Christopher e me movo até a minha irmã, certa de que neste momento existem vários pares de olhos me observando. Ajoelho-me e atiro um punhado de terra na madeira envernizada e depois incentivo a Belle a atirar as rosas. Ela me entrega metade delas. Levo-as aos lábios e depois as jogo.


Minutos mais tarde, quando quase todos já se foram e estou apenas esperando a Belle se despedir – e isso já faz mais de uma hora -, meu celular toca.


– Dulce, onde você está? Já tentei te ligar várias vezes e cai na caixa postal.


– Ah... Eu estou no Rio, não te disseram? – Lanço um olhar de chateada para o Christopher que arregala os olhos.


– Que diabos você está fazendo no Rio? – Ele ri. – Todo mundo sabe que o Rio Jacuipe não anda em
condições de receber visitantes...


Reviro os olhos.


– Larga de ser idiota, Derek, estou no Rio de Janeiro... A Belle, Derek, a Belle apareceu. É uma longa história.


A verdade é que ela me fez vir ao Rio... Você não vai acreditar, a minha mãe, ela...


Hum, ela morreu.


Ouço-o limpar a garganta e imagino-o sentando em um dos degraus da escada de sua casa, fazendo careta com a testa franzida.


– Como?


– É simples. Acabei de enterrar a Cloe.


– Cara, não consigo acreditar no que estou ouvindo. Como e quando você foi? Você não me disse nada...


Dulce,você chegou a conversar com a sua mãe?


– Sim, cheguei.


– Conseguiu a resposta que sempre quis?


– Consegui. Mas nós já sabíamos a resposta. Ela fez o que nos foram dito: veio tentar uma nova vida, tudo pelo dinheiro. Ela me abandonou pelo dinheiro, por um cara. É claro que isso não é nem de longe uma explicação plausível, porém eu entendi. Às vezes a gente precisa deixar de lado alguma coisa, mesmo que a ame muito, para conseguir o que quer.


– Confuso. E como se sente?


– Me sinto eu mesma com um pouco mais de informação sobre quem eu sou, quem deveria ser.


Lambo os lábios e tiro um fiapo de linha do meu vestido preto bási- co. E querem saber a verdade?


Não me sinto a mesma. Sinto-me estranha, principalmente por achar que me tornei uma insensível.


– Dulce? – Espero que ele continue. – A Belle. Ela está bem? Como ela é?


Eis um boato que nunca contei. Antigamente, quando era Derek, Belle e eu, surgiu uma conversa no colégio de que ele era terrivelmente apaixonado pela Belle. Isso porque o Derek segurava a mão dela debaixo da mesa.


Eu mesma vi. No início fiquei com muita raiva, claro. Eu tinha medo dele gostar mais da Belle do que de mim.


Sério, sempre fui muito ciumenta. Deu pra perceber, né?


– Ela está, digamos assim, muito bem. É uma pessoa adorável.


– E como é ela? Muito parecida com você?


– Bem, te mandarei uma foto assim que der. Não estou em Londres de férias, Derek...


– Foi mal. Sério... E sinto muito pela sua mãe.


Graças aos céus a Belle se levanta da terra batida e seu rosto está mais inchado do que o normal. Seu
namorado, Eric, caminha atrás dela com as mãos enfiadas no bolso da calça.


– Então, Derek, tenho que ir. Ligo para você mais tarde. Te amo, cabeçudo.


Desligo o telefone e tomo a mão do Christopher. Decido que irei voltar para casa. Não tem sentido eu ficar
aqui fingindo uma vida que nunca tive. Por mais que eu pense, não consigo de jeito nenhum me acostumar com isso, com este lugar.



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Autor(a): jessica_ponny_steerey

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 64



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  • stellabarcelos Postado em 14/01/2016 - 06:55:27

    A história foi tão linda! Linda e surpreendente! Nada mais lindo do que ler sobre o amor de verdade. Amei

  • maianamr Postado em 13/12/2014 - 10:50:12

    Ameeeei a fic, muito linda *---* parabens

  • vondy4everponny Postado em 19/09/2014 - 00:03:58

    Parabéeeens mana, mais uma fic maravilhosa sua que eu acompanhei! *-----* Tu é bandida menina, foi tudo tão perfeeeeito, o casamento, eles dando entrevistas, os babys vondy .. Aaaaawn, sou sua fã amiga, tu sabe né? Mas não vou ficar falando muito não porque seu ego cresce demais ai ja era pra mim KKKKKKK Parabéns amiga, te adoro muito doidinha <3 Até a proxima fic! u.u

  • juhcunha Postado em 18/09/2014 - 23:38:31

    poxa acabou to triste por te acabado mais feliz porque no deu tudo certo sua web foi maravilhosa Ei qual vai ser sua outras web ????

  • vondy4everponny Postado em 18/09/2014 - 17:40:21

    Sério, é muita tragédia pra dois capitulos e o pior, que ao invés de me emocionar com o discurso dela no teatro, eu quis rir da situação KKKKKKKKKK! E ela e o Derick? PQP, os doidos não conseguiam manobrar um carro, meu Deus! Nãaaao, Chris não pode ir embora :/ Diz que ele fugiu do avião e viu a Dulce sendo levada pelos seguranças! :/ Pleaaaase!

  • gabivondy Postado em 18/09/2014 - 08:39:54

    tadinho do christopher tudo que ele sofreu chorei serio que ele foi embora eles tem que ficar juntos :(

  • vondy4everponny Postado em 16/09/2014 - 22:40:46

    Gzuis, tadinho do Christopher, pqp , que história mais triste :/ Sofri horrores com ele contando a história dele, te falei ne? Nossa, espero que ele e a Dul se resolvam, porque ela é a unica felicidade dele tadinho :/

  • juhcunha Postado em 16/09/2014 - 20:22:25

    coitado do christopher sofreu muito posta mais quero saber o que vai acontece com eles

  • vondyh Postado em 16/09/2014 - 19:38:15

    continua

  • nandafofinha Postado em 15/09/2014 - 15:15:39

    Nossa nem sei o que disser to branca igual papel kkkkkkk POSTA MAIS


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