Fanfics Brasil - 1ª Parte - Os Fios I - I Cidades de Papel - Adaptada Vondy

Fanfic: Cidades de Papel - Adaptada Vondy | Tema: Vondy / RBD


Capítulo: 1ª Parte - Os Fios I - I

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O dia mais longo da minha vida começou atrasado. Perdi a hora, demorei muito no banho e acabei tendo que tomar meu café da manhã no banco do carona da minivan da minha mãe às 7h17 daquela manhã de quarta-feira. Normalmente eu ia para o colégio de carona com meu melhor amigo, Alfonso Herrera ,mas naquele dia “Poncho” como os chamávamos tinha saído de casa na hora de sempre, o que não era conveniente para mim. Para nós, “na hora de sempre” significava chegar à escola trinta minutos antes do início da aula, porque a meia hora que antecedia o primeiro sinal era o auge de nossa agenda social: ficar batendo papo em frente à porta lateral que levava à sala de ensaio da banda. A maioria dos meus amigos participava da banda, e eu passava a maior parte do tempo livre no colégio em um raio de seis metros da sala da banda. Mas eu não fazia parte dela porque sofro de um tipo de surdez musical geralmente associado à surdez mesmo.


Estava vinte minutos atrasado, o que tecnicamente significava que ainda chegaria dez minutos antes da aula. Enquanto dirigia, minha mãe me perguntou sobre minhas aulas, as provas finais e o baile de formatura.


— Não acredito em baile de formatura — lembrei a ela enquanto o carro virava na esquina.


Com maestria, inclinei minha tigela de cereal para compensar a força G. Já tinha feito aquilo antes.


— Bem, não faz mal algum ir com uma amiga. Tenho certeza de que você poderia convidar Bianca Delay Hiney.


E eu podia ter convidado Bianca Hiney, que, aliás, era perfeitamente simpática, agradável e bonita, embora tivesse um azar e tanto no sobrenome, gíria para b**da.


— Não é só porque eu não gosto de bailes de formatura. Também não gosto de gente que gosta de bailes de formatura — expliquei, embora não fosse verdade: Poncho estava totalmente alucinado com a idéia de ir à festa.


Mamãe entrou na rua da escola, e eu segurei a tigela quase vazia com as duas mãos enquanto  passávamos por um quebra-molas. Dei uma olhada no estacionamento dos alunos do último ano. O Honda prateado de Dulce María Saviñon estava na vaga de sempre. Minha mãe encostou o carro na rua sem saída em frente à sala da banda e me beijou na bochecha. Vi Poncho e meus outros amigos de pé formando um semicírculo.


Caminhei até eles, e a semi-rodinha se expandiu naturalmente para me incluir. Estavam comentando sobre minha ex-namorada, Belinda Schullz, que tocava violoncelo e aparentemente estava dando o que falar desde que começara a sair com Alberich Mac, um jogador de beisebol. Eu não sabia se aquele era o nome verdadeiro dele. Mas a questão era que Belinda tinha aceitado ir ao baile de formatura com Alberich. Mais uma baixa.


— Cara — disse Poncho, que estava de frente para mim.


Ele balançou a cabeça para cima e para baixo e se virou. Eu deixei o grupo e o segui pela porta. Poncho, um sujeito pequeno que havia chegado à puberdade sem passar por problemas, era meu melhor amigo desde o quinto ano, quando enfim nos demos conta de que provavelmente nenhum de nós seria capaz de atrair outra pessoa para ser seu melhor amigo. Além do mais, ele se esforçava bastante, e eu gostava disso — na maioria das vezes.


— E aí? — perguntei.


Estávamos seguros lá dentro, a conversa das outras pessoas abafando o som da nossa.


— Christian vai ao baile de formatura — disse ele, mal-humorado.


Christian era nosso outro melhor amigo.


— Com aquela garota, a Maitê? — perguntei.


Christian nunca contava nada sobre sua vida amorosa, mas isso não nos impedia de especular com frequência.


Poncho assentiu.


— Sabe aquele meu plano infalível de convidar uma caloura para o baile porque elas são as únicas que não sabem da história do Alfonso Mija-sangue? — indagou.


Concordei com a cabeça.


— Então — disse ele —, esta manhã, uma gatinha do nono ano veio me perguntar se eu era o Alfonso Mija-sangue, e eu comecei a explicar que tinha sido uma infecção renal, e ela desatou a rir e saiu correndo. Ou seja, o plano já era.


No décimo ano, Poncho foi hospitalizado com uma infecção renal, só que Victória Paz,ou Vicky como era chamada, a melhor amiga de Dulce, espalhou o boato de que o verdadeiro motivo de haver sangue na urina dele era que ele se m*****va muito. Apesar de isso ser medicamente implausível, a história assombrava Poncho desde então.


— Que merda — falei.


Poncho começou a delinear os planos a fim de encontrar um par para a festa, mas eu não prestei muita atenção porque, através da multidão que se aglomerava no corredor, vi Dulce María Saviñon. Ela estava junto ao seu armário, ao lado do namorado, Dereck . Usava saia branca na altura dos joelhos e camiseta azul estampada. Dava para ver seu colo acima do decote. Estava rindo de forma histérica — os ombros curvados para a frente, os olhos grandes enrugados nos cantos, a boca escancarada. Mas não parecia ser de nada que Dereck tivesse dito porque ela estava olhando para o outro lado, para uma fileira de  armários na parede oposta do corredor. Segui a trajetória dos olhos dela e vi Vicky agarrada a um jogador de beisebol como se ela fosse um enfeite e ele, uma árvore de Natal. Sorri para Dul, embora soubesse que ela não podia me ver.


— Cara, você devia tentar. Esqueça o Dereck. Meu Deus, isso é o que eu chamo de excesso de gostosura.


Enquanto caminhávamos, eu olhava de relance para ela de vez em quando através da multidão: uma série de instantâneos fotográficos intitulados A perfeição fica parada enquanto os mortais passam por ela. Ao me aproximar, imaginei que talvez ela não estivesse rindo, afinal de contas. Talvez lhe tivessem feito uma surpresa ou dado um presente ou algo assim. Parecia não conseguir fechar a boca.


— É — respondi para Poncho, ainda sem prestar atenção, ainda tentando olhar para ela o máximo possível sem dar bandeira. Não era nem o fato de ela ser tão bonita. É que ela era o máximo, literalmente. E então já estávamos longe demais dela, muita gente entre nós dois,e eu nem consegui me aproximar o suficiente para ouvir sua voz ou entender qual tinha sido a surpresa hilariante. Poncho balançou a cabeça; ele já me vira olhando para ela milhares de vezes e estava acostumado.


— Sendo sincero, ela é gostosa, mas também não é tudo isso. Sabe quem é gostosa de verdade?


— Quem? — perguntei.


— Anahí Portilla — disse ele, referindo-se a outra melhor amiga de Dul. — E a sua mãe. Cara, eu vi sua mãe beijar sua bochecha hoje de manhã, e foi mal, mas juro por Deus que pensei, cara, eu queria ser o Ucker. E também queria ter um p***s na bochecha.


Dei uma cotovelada nas costelas dele, mas ainda pensava em Dul, porque ela era a única deusa que eu tinha como vizinha. Dulce María Saviñon, cujo nome de sete sílabas era frequentemente pronunciado inteiro, em uma espécie de reverência silenciosa. Dulce María Saviñon, cujas histórias de aventuras épicas se espalhavam pela escola como uma tempestade de verão: um velho que morava num casebre em Hot Coffee, Mississippi, a ensinara a tocar violão. Dulce María Saviñon, que passou três dias viajando com o circo — eles achavam que a menina tinha potencial no trapézio. Dulce María Saviñon, que bebeu uma caneca de chá de ervas no camarim do Mallionaires depois de um show em St. Louis, enquanto eles bebiam uísque. Dulce María Saviñon, que conseguiu entrar no tal show dizendo ao segurança na porta que era namorada do baixista e que eles não a estavam reconhecendo, e, fala sério, cara, meu nome é Dulce María Saviñon, e se você for lá dentro e pedir para o baixista vir aqui me ver, ele vai dizer que ou eu sou a namorada dele ou que ele queria que eu fosse, e quando o segurança fez isso, o baixista veio e disse “é, ela é minha namorada, pode deixar entrar”, e depois, quando o cara quis ficar com ela, ela deu um fora no baixista do Mallionaires.


As histórias, quando passadas adiante, invariavelmente acabavam com um “Dá para acreditar?”. Normalmente não dava, mas elas sempre se provavam verdadeiras.


E então chegamos aos nossos armários.Christian estava recostado no armário de Poncho, digitando em um tablet.


— Quer dizer que você vai ao baile de formatura — falei para ele.


Ele levantou o olhar para mim e então voltou a encarar o aparelho.


— Estou desvandalizando um artigo no Omnictionary sobre um ex-primeiro ministro francês. Ontem à noite alguém apagou o verbete inteiro e deixou só a frase “Jacques Chirac é v***do”, o que foge não só à verdade como também à gramática.


Christian é megaeditor de uma enciclopédia on-line aberta chamada Omnictionary. A vida inteira dele é dedicada à manutenção e ao bem-estar do Omnictionary. Por isso, e por vários outros motivos, o fato de ele ter alguém com quem ir à festa era algo tão surpreendente.


— Quer dizer que você vai ao baile de formatura — repeti.


— Foi mal — desculpou-se ele, sem erguer o olhar.


Todo mundo sabia que eu era contra o baile de formatura. Nada que tivesse a ver com essa festa me interessava — nem dançar música lenta, nem dançar música agitada, nem os vestidos e, definitivamente, nem os smokings alugados.


Alugar um smoking me parecia uma ótima maneira de pegar uma doença medonha do locatário anterior, e eu não tínhamos a menor pretensão de ser o único virgem do mundo com chatos.


— Cara — disse Poncho a Christian —, as calouras já sabem da história do Alfonso Mija-sangue. — Chris finalmente desviou os olhos do aparelho e assentiu em solidariedade. — Então — continuou Poncho —, as duas estratégias que me restam são: contratar pela internet um par para o baile de formatura ou pegar um avião para um fim de mundo, tipo o Missouri, e sequestrar uma gatinha caipira.


Eu já tinha tentado avisar ao Poncho que “gatinha” soava machista e caído,em vez de retrô e descolado, mas ele se recusava a abandonar a gíria. Chamava até a própria mãe de gatinha. Poncho não tinha jeito.


— Vou perguntar a Maite se ela conhece alguém — disse Chris. — Só que lhe arrumar um par para o baile de formatura vai ser mais difícil do que transformar chumbo em ouro.


— Arrumar um par para você vai ser tão duro que só com a simples hipótese já daria para cortar diamantes — acrescentei.


Christian bateu o punho duas vezes em um dos armários, em um gesto de aprovação, e veio com outra:


— Poncho, arrumar um par para você é tão difícil que o governo norte americano acha que não dá para fazer isso só com diplomacia, e que vai ser preciso usar a força.


Eu estava tentando pensar em algo mais quando nós três vimos, ao mesmo tempo, a massa humana de anabolizantes que atende pelo nome de Mike Parson caminhando cheio de si em nossa direção. Mike Parson não participava de nenhum esporte coletivo porque isso o afastaria de seu principal objetivo na vida: ser preso por homicídio algum dia.


— E aí, seus bi****as — disse ele.



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Autor(a): Ree Vondy

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 3



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  • viciorbd Postado em 25/08/2014 - 14:25:59

    Posta mais

  • plopes Postado em 22/08/2014 - 11:46:01

    Leitora nova posta mais :)

  • dulcemariaeanahi Postado em 21/08/2014 - 19:54:48

    posta posta


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