Fanfics Brasil - 1ª Parte - Os Fios I - II Cidades de Papel - Adaptada Vondy

Fanfic: Cidades de Papel - Adaptada Vondy | Tema: Vondy / RBD


Capítulo: 1ª Parte - Os Fios I - II

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— Mike — cumprimentei do jeito mais amistoso que pude.


Havia uns dois anos que Mike não representava um problema maior para nós — alguém do grupinho de alunos descolados tinha decretado que não era para mexer com a gente. Então era meio esquisito ele vir falar conosco.


Talvez porque eu tivesse falado alguma coisa, talvez não, ele deu um soco no armário e firmou as mãos ali, uma de cada lado e eu no meio, e chegou tão perto do meu rosto que eu podia imaginar qual era a marca da pasta de dente dele.


— O que você sabe sobre Dulce e Dereck?


— Hum — respondi.


Pensei em tudo que sabia sobre eles: Dereck era o primeiro e único namorado sério de Dulce María. Eles haviam começado a sair no fim do ano anterior. Os dois iam para a Universidade da Flórida no ano seguinte. Dereck conseguira uma bolsa pelo time de beisebol da universidade. Ele nunca ia à casa dela, a não ser para buscá-la para sair. Ela nunca agia como se gostasse dele tanto assim, mas… ela nunca agia como se gostasse de ninguém tanto assim.


— Nada — respondi, por fim.


— Para de sacanagem — rosnou ele.


— Eu mal conheço a Dulce — falei, o que tinha se tornado verdade.


Ele refletiu por um instante, e eu tentei encarar aqueles olhos juntos. Ele assentiu muito ligeiramente, tirou as mãos do armário e se afastou, a caminho de sua primeira aula do dia: como manter e cultivar os músculos peitorais. O segundo sinal tocou. Um minuto para a aula. Christian e eu estávamos na turma de cálculo; Poncho, na de matemática finita. As salas eram geminadas; caminhamos juntos, os três lado a lado, confiando que o mar de alunos iria abrir passagem para nós, e abriu.


— Arrumar um par para você vai ser tão difícil que mil macacos digitando em mil máquinas de escrever durante mil anos não digitariam “Eu vou ao baile de formatura com o Poncho” — falei.


Nem o próprio Poncho conseguiu deixar de se zoar:


— Minhas chances de arrumar um par são tão baixas que nem a avó do Ucker me quis. Ela disse que estava esperando o convite do Chris.


— É verdade, Chris. Minha avó adora os retardados.


Christian concordou com um movimento lento de cabeça.


Foi muito fácil me esquecer de Mike e conversar sobre o baile de formatura,ainda que eu não desse a mínima para a festa. E assim foi a vida naquela manhã: nada importava de verdade, nem as coisas boas, nem as ruins.


Estávamos entretidos em divertir uns aos outros, e estávamos mandando razoavelmente bem. 


Passei as três horas seguintes dentro de salas de aula, tentando não olhar para os relógios acima de diferentes quadros-negros e então voltar a olhá-los e me surpreender por só terem passado uns poucos minutos desde a última espiada. Eu tinha quase quatro anos de experiência olhando para aqueles relógios, mas a lerdeza deles nunca deixava de me impressionar. Se alguém me dissesse que eu só teria mais aquele dia de vida, eu iria diretamente para os corredores sagrados do Elite Way School , famosa pelo dia que dura mil anos.


No entanto, embora parecesse que a aula de física do terceiro tempo nunca iria acabar, ela acabou, e eu fui com Poncho para a cantina. Chris almoçava no quinto tempo, com a maioria de nossos amigos, então normalmente éramos eu e Poncho apenas, umas duas cadeiras entre nós e um grupo de alunos do teatro que a gente conhecia. Naquele dia, estávamos comendo mini-pizzas de pepperoni.


— Gosto de pizza — falei. Ele concordou distraidamente. — O que foi?


— Nada — respondeu ele com a boca cheia de pizza. E então engoliu. — Sei que você acha que é uma idiotice, mas eu quero ir ao baile de formatura.


— Um: sim, acho que é uma idiotice; dois: se você quer ir, vá; três: se não estou enganado, você ainda nem convidou ninguém.


— Convidei Bianca Delay durante a aula de cálculo. Passei um bilhete para ela.


Ergui a sobrancelha, questionando-o. Poncho enfiou a mão no bolso e me passou um pedaço de papel dobrado várias vezes. Desdobrei:


Poncho,


Eu adoraria ir à festa com você, mas já falei para o Léo que iria com ele.


Foi mal!


Bia.


Dobrei o bilhete e devolvi a Poncho, por cima da mesa. Ainda me lembrava de jogar futebol com bolinhas de papel naquelas mesas.


— Que merda — comentei.


— É, tanto faz. — Naquele instante foi como se os muros de som estivessem se fechando sobre nós, e ficamos em silêncio por um instante e então Poncho ergueu o olhar para mim e disse, muito sério: — Eu vou zoar muito na faculdade. Vou entrar no Guinness na categoria “O maior pegador de gatinhas”.


Eu ri. Estava pensando nos pais de Christian, que estavam de fato no Guinness, quando reparei em uma morena bonita, com longos cabelos lisos negros e brilhosos, caminhando em nossa direção. Levei um tempo para perceber que se tratava de Maitê, a quem-sabe-namorada de Christian.


— Oi — cumprimentou ela.


— E aí? — respondi.


Nós éramos da mesma turma em algumas matérias, então eu a conhecia um pouco, mas a gente não se cumprimentava no corredor, nem nada parecido.


Cheguei para o lado, para que ela se sentasse conosco. Ela puxou uma cadeira e ficou na cabeceira.


— Acho que vocês conhecem o Christian melhor do que qualquer um — disse ela, e inclinando-se em nossa direção, os cotovelos na mesa.


— É um trabalho sujo, mas alguém tem que fazer — respondeu Poncho,sorrindo.


— Vocês acham que ele, tipo, tem vergonha de mim?


— O quê? Não.


Poncho riu.


— Tecnicamente, você é quem deveria ter vergonha dele — acrescentei.


Ela revirou os olhos, sorrindo. Estava acostumada a receber elogios.


— Mas ele nunca me chamou para sair com vocês, por exemplo.


— Ahhh — falei, finalmente entendendo a questão. — Isso é porque ele tem vergonha da gente.


Ela riu.


— Vocês me parecem ser bem normais.


— É porque você nunca viu Poncho beber Sprite pelo nariz e depois cuspir pela boca — respondi.


— Eu fico igual a um chafariz desvairado de refrigerante — acrescentou ele na maior cara de pau.


— Mas, é sério, vocês não ficariam preocupados? Quer dizer, estamos saindo há cinco semanas e ele nunca nem mesmo me levou à casa dele — Poncho e eu trocamos um olhar cúmplice, e eu fiz uma careta para conter uma gargalhada.


— O que foi? — perguntou ela.


— Nada — respondi. — Mas, sendo honesto, Maitê, se ele estivesse forçando você a sair com a gente e levando você à casa dele o tempo todo…


— Aí sim significaria que ele não gosta muito de você — completou Poncho para mim.


— Os pais dele são esquisitos?


Responder àquela pergunta com honestidade era uma saia justa:


— Hum, não. Eles são legais. Só um pouco superprotetores, acho.


— É, superprotetores — concordou Poncho meio depressa demais.


Ela sorriu e se levantou, dizendo que precisava encontrar alguém antes do fim do almoço. Poncho a esperou se afastar para dizer:


— Essa garota é o máximo.


— Eu sei. Será que a gente consegue trocar o Poncho por ela?


— Mas ela provavelmente não manda bem em computadores. A gente precisa de alguém que seja bom com computadores. Além do mais, aposto que é fraca em Resident Evil — Esse era nosso video game preferido. — Aliás — acrescentou Poncho —, foi uma boa saída dizer que os pais do Chris eram superprotetores.


— Pois é não sou eu quem tem que dizer a ela.


— Quanto tempo até ela conhecer a Residência e Museu Família Christian?


Poncho sorriu.


* * *


Nosso horário de almoço estava quase no fim, então Poncho e eu nos levantamos e levamos nossas bandejas até a esteira de coleta. A mesma em que Mike Parson me atirara no primeiro ano, quando fui parar no assustador inferno das lavalouças da Elite Way. Caminhamos até o armário de Chris e ficamos ali até ele aparecer correndo logo depois do primeiro sinal.


— No meio da aula sobre ciências políticas concluí que literalmente era melhor chupar bola de jumento do que assistir àquela aula até o final do semestre — disse ele.


— Dá para aprender muito sobre o governo a partir das bolas de um jumento — falei. — Ah, e por falar em motivos pelos quais você gostaria de almoçar durante o quarto tempo, acabamos de almoçar com Maite.


Ben lançou um sorrisinho malicioso para Chris e disse:


— É, ela quer saber por que você nunca a levou à sua casa.


Chris expirou por um longo tempo enquanto girava o cadeado do armário.


Ele soltou tanto ar que achei que fosse desmaiar.


— Bosta — disse ele, afinal.


— Você está com vergonha? — perguntei, sorrindo.


— Cale a boca — respondeu ele, dando-me uma cotovelada na barriga.


— Você tem uma casa encantadora — comentei.


— Sério, cara — acrescentou Chris. — Ela é mesmo uma garota muito legal.


Não entendo por que você não pode apresentá-la aos seus pais e mostrar a Casa Chavéz.


Chris jogou os livros no armário e bateu a porta. O burburinho à volta diminuiu assim que ele olhou para cima e berrou:


— EU NÃO TENHO CULPA POR MEUS PAIS TEREM A MAIOR COLEÇÃO MUNDIAL DE PAPAIS NOÉIS NEGROS  !


Eu já tinha ouvido Chris dizer “a maior coleção mundial de Papais Noéis Negro” mais de mil vezes, e ainda assim nunca perdia a graça. Mas ele não estava brincando. Eu me lembro da primeira vez que o visitei. Devia ter uns treze anos. Era março ou abril, ou seja, vários meses depois do Natal, mas ainda havia Papais Noéis negros no parapeito da casa. Papais Noéis negros de papel pendendo do corrimão da escada. Velas de Papais Noéis negros decorando a mesa de jantar.


Acima da lareira, um óleo sobre tela de um Papai Noel negro, e na prateleira abaixo várias estátuas de Papais Noéis negros. Eles tinham uma caixa de balas de Papai Noel negro comprada na Namíbia. A luminária plástica de Papai Noel negro que enfeitava a caixinha do correio entre o dia de Ação de Graças e o Ano Novo passava o restante do ano vigiando orgulhosamente um canto do banheiro de visitas, que era coberto por um papel de parede pintado em casa com tinta e uma esponja em formato de Papai Noel. Eles estavam em todos os quartos, exceto no de Christian, e a casa era o próprio império papai-noelístico: de gesso,


plástico, mármore, argila, madeira, resina e tecido. Ao todo, os pais dele tinham mais de mil e duzentos Papais Noéis negros dos mais variados tipos. Ao lado da porta da frente, uma placa anunciava que a casa de Chris era oficialmente um ponto de referência na tradição dos Papais Noéis, de acordo com a Sociedade do Natal.


— Você tem que contar para ela, cara — falei. — É só dizer: “Maitê, eu gosto mesmo de você, mas tem uma coisa que você precisa saber: quando a gente for lá em casa dar uns amassos, vamos ser observados por dois mil e quatrocentos olhos de mil e duzentos Papais Noéis negros.”


Chris correu os dedos pelo cabelo curto e balançou a cabeça.


— É, acho que não vai ser bem assim que vou dizer, mas vou dar meu jeito.


Segui para a aula de ciências políticas e Poncho para a eletiva de design de vídeo-game. Observei relógios por mais dois tempos, e finalmente o alívio irradiou de meu peito quando as aulas acabaram — o final de cada dia como uma espécie de ensaio para o final do ensino médio, a menos de um mês.


Fui para casa. Lanchei dois sanduíches de manteiga de amendoim com geleia.


Assisti ao pôquer na tevê. Meus pais chegaram às seis, se abraçaram e me abraçaram. Jantamos uma caçarola de macarrão. Eles me perguntaram sobre a escola. Perguntaram sobre o baile de formatura. Ficaram maravilhados com o excelente trabalho que desempenharam em minha criação. Contaram sobre o dia deles, lidando com gente que não tinha sido criada tão bem assim. Foram assistir à tevê. Eu segui para meu quarto e fui ler meu e-mail. Escrevi um pouco sobre O grande Gatsby para a aula de inglês. Li alguns artigos de O Federalista a fim de me preparar para a prova final de ciências políticas. Estava no chat com Poncho, depois Chris ficou on-line. Enquanto conversávamos, ele usou a expressão “a maiorcoleção mundial de Papais Noéis negros” quatro vezes, e eu ri em todas elas. Eu disse que estava feliz por ele, por ter uma namorada. Ele disse que o verão seria ótimo. Concordei. Era cinco de maio, mas não fazia diferença. Meus dias tinham uma agradável uniformidade. E eu sempre gostei disso: eu gostava da rotina. Gostava de sentir tédio. Não queria gostar, mas gostava. E assim, o cinco de maio poderia ter sido um outro dia qualquer — até pouco antes de meia-noite, quando Dulce María Saviñon abriu a janela sem tela do meu quarto pela primeira vez desde que me mandara fechá-la nove anos antes.


 


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Bjos ;*



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Autor(a): Ree Vondy

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Girei na cadeira de rodinhas quando ouvi a janela ser aberta, e os olhos castanhos de Dulce me encaravam. No início eu só consegui enxergar os olhos dela, mas logo minha visão se ajustou e eu percebi que ela havia pintado o rosto de preto e vestia um moletom com capuz também preto. — É s*xo virtual? — perguntou ela. — Es ...


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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 3



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  • viciorbd Postado em 25/08/2014 - 14:25:59

    Posta mais

  • plopes Postado em 22/08/2014 - 11:46:01

    Leitora nova posta mais :)

  • dulcemariaeanahi Postado em 21/08/2014 - 19:54:48

    posta posta


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