Fanfic: Cidades de Papel - Adaptada Vondy | Tema: Vondy / RBD
O lance com Dulce María Saviñon era que, na verdade, tudo o que eu podia fazer era deixá-la falar, e então, quando ela parava de falar, encorajá-la a continuar falando, e isso porque 1) Eu era incontestavelmente apaixonado por ela; 2) Ela era absolutamente imprevisível em todos os sentidos; e 3) Ela nunca me perguntava nada, então o único jeito de evitar o silêncio era mantê-la falando.
E assim, no estacionamento do Publix, ela me disse:
— Certo, eu fiz uma lista para você. Se você tiver alguma dúvida, me ligue no celular. E escute, isso acaba de me fazer lembrar que tomei a liberdade de colocar umas coisas na mala do carro hoje mais cedo.
— Como assim, antes de eu concordar com tudo isto?
— Bem, é. Tecnicamente, sim. Enfim, me ligue se você tiver alguma dúvida, mas sobre a vaselina, você pega o frasco que é maior que a sua mão. Tem a vaselina bebê, tem a vaselina mamãe e tem a vaselina papai gordão, e é essa que você tem que pegar. Se não tiver, então pegue umas três da vaselina mamãe. — Ela me entregou a lista e uma nota de cem e disse: — Isto aqui deve dar.
A lista de Dul:
3 Bagres inteiros, Embalados separadamente
Veet (é para Depilar as pernas, Só que não Precisa De barbeador. Fica na
parte de cosméticos para Mulheres)
Vaselina
6 latas de Mountain Dew
Uma dúzia de Tulipas
uma Garrafa De água
Lenços de papel
uma Lata de tinta Spray azul
— Legal como você usa as maiúsculas — falei.
— É. Sou uma grande adepta do uso aleatório de maiúsculas. As regras de letra maiúscula são muito injustas com as palavras que ficam no meio.
* * *
Agora, não sei bem o que se costuma dizer à mulher do caixa à meia-noite e meia,quando você junta diante dela quase seis quilos de bagre, Veet, o tubo papai gordão de vaselina, seis latas de Mountain Dew, uma lata de tinta spray azul e uma dúzia de tulipas. Mas eis o que eu disse:
— Não é tão estranho quanto parece.
A mulher pigarreou, mas não olhou para mim.
— Ainda assim, é estranho — murmurou ela.
* * *
— Eu realmente não quero me meter em confusão — falei a Dulce quando voltei ao carro, enquanto ela usava a água da garrafa e os lenços de papel para remover a tinta preta do rosto. Aparentemente, ela só precisou do disfarce para sair de casa. — Em minha carta de admissão da Universidade Duke eles dizem expressamente que não vão me aceitar se eu for preso.
— Você é muito ansioso, Chris.
— Só não vamos nos meter em confusão, por favor — pedi. — Quer dizer, eu quero me divertir e tal, mas não à custa de, tipo, meu futuro.
Ela ergueu o olhar para mim, o rosto quase inteiramente limpo, e lançou o menor dos sorrisos.
— Eu fico impressionada com o fato de você achar essa merda toda remotamente interessante.
— O quê?
— Universidade: entrar ou não. Confusão: se meter ou não. Colégio: tirar dez ou dois. Carreira: ter ou não. Casa: pequena ou grande, própria ou alugada. Dinheiro: ter ou não. É tudo muito chato.
Comecei a falar, dizendo que ela certamente também se importava pelo menos um pouco, porque tirava notas altas e havia conseguido uma bolsa para a turma especial na Universidade da Flórida do ano seguinte. Mas ela apenas falou:
— Wal-Mart.
* * *
Entramos juntos no Wal-Mart e pegamos uma trava de volante daquelas que a gente vê em comerciais na tevê, chamada The Club, que prende o volante do carro. Caminhávamos para a seção infantil quando perguntei a Dulce:
— Por que a gente precisa dessa trava?
Ela deu um jeito de desfiar seu solilóquio enlouquecido de sempre sem me responder:
— Você sabia que na maior parte de toda a história da humanidade a expectativa média de vida foi inferior a trinta anos? Você podia contar com mais ou menos uns dez anos de vida adulta, certo? Não havia planos de aposentadoria. Não havia planos de carreira. Não havia planos. Não havia tempo para planejar. Não havia tempo para o futuro. Mas aí a expectativa de vida começou a aumentar, e as pessoas começaram a ter mais e mais futuro e a passar mais tempo pensando nele. No futuro. E agora a vida se tornou o futuro. Todos os momentos da vida são vividos no futuro: você frequenta a escola para entrar na faculdade para arrumar um bom emprego para comprar uma casa legal e mandar os filhos para a faculdade para que eles consigam arrumar um bom emprego para comprar uma casa legal para mandar os filhos para a faculdade.
Era como se ela estivesse só enrolando para não responder à pergunta.
Então repeti:
— Por que a gente precisa dessa trava?
Dulce me deu um tapinha de leve nas costas.
— É claro que tudo será revelado a você antes que a noite acabe.
E então, na seção de pesca, Dulce pegou uma corneta de ar comprimido e eu disse:
— Não. — E ela disse:
— Não, o quê? — E eu disse:
— Não, não toque essa corneta. — Só que no t de toque, ela apertou a corneta com força, produzindo um barulho tão alto e ensurdecedor que soou dentro de minha cabeça como o equivalente sonoro de um aneurisma, e então ela disse:
— Foi mal, não ouvi o que você falou. O que foi? — E eu disse:
— Não t… — E ela apertou de novo.
Um funcionário não muito mais velho do que a gente veio em nossa direção e disse:
— Ei, você não pode usar isso aqui dentro. — E Dulce disse, com aparente sinceridade:
— Foi mal, eu não sabia. — E o cara disse:
— Tudo bem. Na verdade, eu não ligo. — E então a conversa pareceu terminar, só que o cara não conseguia parar de fitar Dulce e, para falar a verdade, eu não o culpo, porque é difícil parar de olhar para ela. E enfim ele disse:
— O que vocês vão fazer hoje?
— Nada de mais — respondeu Dulce. — E você?
— Eu largo uma da manhã e aí vou para um bar chamado Orange, se estiver a fim de ir. Mas você teria que deixar seu irmão em casa; eles são muito rígidos no lance de checar as identidades.
O quê?!
— Eu não sou irmão dela — protestei, olhando os tênis do cara.
E então Dulce começou a mentir:
— Na verdade, ele é meu primo. — E então se pôs ao meu lado e passou o braço ao redor da minha cintura, de um modo que senti seus dedos apertando meu quadril, e acrescentou: — E meu amante.
O cara apenas revirou os olhos e foi embora. A mão de Dulce continuou ali, e eu aproveitei para passar o braço ao redor dela também.
— Você é mesmo minha prima favorita — falei para ela.
Ela sorriu e me empurrou de leve com o quadril, soltando-se do meu abraço.
— Como se eu não soubesse!
Autor(a): Ree Vondy
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Estávamos dirigindo pela rodovia I-4, felizmente vazia, e eu seguia as orientações de Dulce. O relógio no painel indicava 1h07. — Bonito, não é? — disse ela. Estava olhando pela janela, o rosto distante do meu, então eu mal podia vê-la. — Adoro dirigir depressa sob a luz dos postes. — Luz &mdash ...
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