Capítulo 10

                Eddie soltou um grito de alegria quando Herrera jogou um pacote com as sobras do jantar no banco da frente.

                – Bônus! E então, o que vou comer? Lagosta Newburg? Filet mignon?

                Os dois esperavam enquanto Anahí se despedia da mãe em frente ao clube.

                – Acho que é espaguete.

                Eddie girou o corpo.

                – Deixa eu ver se entendi. Você entra num lugar como esse e pede um maldito espaguete?

                – Eu não pedi – Anahí estava com o rosto tenso enquanto sorria e acenava despedindo-se da mãe. Herrera surpreendeu-se porque a mãe não percebeu a apreensão da filha.

                – Como assim não pediu a comida? Será que uma fada trouxe esse pacote com uma varinha de condão?

                – Não sei de fada nenhuma, mas o pacote foi entregue por um pequeno capanga.

                Eddie deu risada.

                – Nunca vou entrar nesse lugar.

                – Muito sábio de sua parte.

                Depois que a mãe entrou em um carro preto, Anahí se aproximou da SUV e Herrera abriu a porta para ela. Enquanto Eddie dava a partida no carro, Herrera olhou para o outro lado do assento. Embora tivesse com uma aparência de quem acabara de ser triturada num espremedor, Anahí não exclamava por piedade. Não houve suspiros de exaustão, nem comentários ou piadas sobre o que estava acontecendo de errado entre ela e a mãe.

                Havia apenas uma contenção silenciosa. Uma força delicada. Engraçado. Herrera jamais pensou que essas duas palavras pudessem ser utilizadas juntas.

                – Refeição indigesta? – Herrera finalmente perguntou.

                Anahí inclinou a cabeça para trás, apoiando-a no assento do carro. Olhou para Herrera com os olhos semicerrados.

                – Poderia ter sido pior.

                Ela virou-se.

                O carro tinha percorrido três quarteirões quando Herrera de repente ordenou a Eddie:

                – Acho que estamos sendo seguidos. Encosta.

                A cabeça de Anahí movimentou-se para frente involuntariamente quando a Explorer parou de súbito. Um carro branco passou direto por eles.

                – Parece o sedan que estava me seguindo no funeral do meu pai – disse ela.

                – Siga esse carro – ordenou Herrera a Eddie.

                A Explorer disparou de volta à pista. Herrera fez de tudo para conseguir enxergar a placa do carro, mas os outros veículos permaneciam à frente deles, dificultando a ação. Ao se aproximarem de um cruzamento, Herrera imaginou que finalmente a sorte estava ao lado deles. A luz foi ficando laranja e havia apenas um carro que os separavam de sua presa.

                Mas, numa abrupta explosão de velocidade, o sedan disparou e conseguiu se esquivar por um beco. Eddie acelerou atrás do carro, mas um táxi bloqueou a passagem no último momento. Herrera observou as luzes da lanterna do sedan ficarem cada vez menores até desaparecerem.

                – Conseguiu alguma coisa, Eddie?

                – Não… Estava muito ocupado tentando chegar perto daquela droga.

                Herrera olhou para Anahí, e ela disse:

                 – Nos leve para casa.

                – Claro, chefe.

                Depois que pararam em frente ao prédio dela, Herrera deixou o carro e ajudou Anahí a sair. Quando ela estava de pé ao lado de Herrera, ele foi até o porta-malas e pegou uma mochila e algumas maletas de metal que Eddie havia trazido do hotel.

                – Obrigado por trazer as minhas coisas – agradeceu ao amigo.

                – Sem problemas. E o porteiro recebeu a entrega do supermercado há vinte minutos. Disse que deixaria no corredor. Que horas você precisa que eu venha amanhã?

                – Sete e meia.

                – Certo.

                E então, apesar de parecer prestes a desabar, Anahí inclinou-se até a janela dianteira do carro e sorriu para Eddie.

                – Quando for esquentar a massa, use o fogão, se puder. Coloque água bem quente e mexa bastante. Assim os vegetais ficam mais crocantes. Acho que você vai gostar do sabor. O chef do restaurante veio da Toscana. Boa noite, Eddie.

                Herrera olhou para o amigo. O homem estava com a expressão confusa, como se estivesse completamente encantado.

                – Boa noite, Eddie – despediu-se Herrera.

                – Falou, chefe! – disse o homem, meio distraído, e saiu com o carro.

                No caminho até o edifício, Herrera perguntou:

                – Como você sabia o que eu pedi no jantar?

                – Você não é o único observador por aqui.

                Ao chegarem ao apartamento, as mãos de Anahí tremiam enquanto ela tentava abrir a porta. Foram várias tentativas até ela conseguir e eles finalmente entrarem. Quando ela se abaixou para pegar as sacolas do supermercado, ele se apressou para ajudá-la e pediu para que não se preocupasse.