Fanfics Brasil - 2 Lição de Ternura AyA Finalizada

Fanfic: Lição de Ternura AyA Finalizada


Capítulo: 2

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 Alfonso Herrera nunca fazia concessões. Sempre jogava para ganhar. Levava a vida a todo a vapor. Portanto, surpreendeu-se ao perceber, enquanto girava um copo de uísque com gelo e ouvia o burburinho da festa, que sem querer comprometia o prazer daquela noite.

Chegara à suntuosa mansão nos Jardins com o firme propósito de se divertir como de costume. Entretanto, a depressão continuava a perturbá-lo, impedindo-o de aproveitar a festa como pretendia. Como uma ressaca de bebida de segunda categoria, o desânimo não se dissipava.

- Puxa vida! Olhe para esta casa! - Christian Chavez comentou, percorrendo o olhar pelo ambiente sofisticado. - Faz o casarão de Scarlet O`Hara, em Tara, parecer um cortiço.

- Definitivamente nada humilde - Poncho concordou, tomando um gole do uísque.

O salão em que se realizava a festa era ornamentado por antiguidades, e o dourado combinando com o branco constituía o padrão predominante de cor. Os lustres de cristal inundavam o ambiente de luz, fazendo reluzir ainda mais o assoalho. Um piano de cauda ocupava um lugar de destaque, embora naquela noite estivesse silencioso. A música suave ficava por conta de um conjunto num canto do amplo recinto. Vários casais dançavam.

Por uma razão inexplicável, a canção romântica e a visão dos pares dançantes emocionavam Alfonso. "Céus, o que há comigo?", ele imaginou com aflição.

- Onde está o Chris? - perguntou, determinado a afastar sensações indesejáveis.

- Tentando se desvencilhar da morena - Christian respondeu, virando-se na direção da lareira.

Alfonso reconheceu a mulher glamourosa de braço dado com Chris. Era a mesma que lhe havia pedido um autógrafo mal tinha chegado na festa e de quem custara a se livrar. O companheiro de equipe parecia sofrer o mesmo problema.


- Acha que já está na hora de entrarmos em cena e avisá-lo que a esposa acaba de ter trigêmeos? - Poncho sugeriu. Tratava-se da tática que os três solteirões inveterados adotavam para salvar um companheiro em apuros com fãs ardorosas demais. A notícias de que "acabaram de ligar do consultório de seu médico com o resultado de seus exames de sangue" também costumava funcionar.

- Vamos dar a ele mais dez segundos e então entraremos em cena - Christian respondeu. - Quero ver o quanto nosso amigo é bom de drible.

Em seguida a essas palavras, Chris se desvencilhou da morena fatal e, olhando ao redor como que em busca de um porto seguro num mar tempestuoso aproximou-se dos dois amigos.

- Onde diabos vocês se meteram? - ele indagou, tirando o copo de uísque da mão de Poncho. - Quase caí numa rede e vocês aqui, vendo tudo sem fazer nada para me salvar.

Poncho e Christian tentavam, sem muito sucesso, reprimir o riso.
- Podem rir. - O tom de Chris era indignado.

- Você estava se saindo bem - Christian argumentou.

- Sim, de todos os oito tentáculos - Chris acrescentou com sarcasmo. Até me propus a apresentá-la ao irresistível Malandro Irlandês.

- Obrigado, companheiro - Poncho retrucou. - De fato, eu e ela já travamos alguns rounds.

O moreno balbuciou um palavrão.
- Sabia que eu era a segunda opção. - Então, um largo sorriso iluminou seu rosto enquanto olhava para Christian, embora falasse com Poncho. -Considerando que já sofremos uma investida, eu diria que agora é a vez de Christian. O que acha, companheiro?

- Parece razoável - Poncho concordou.

- Para o inferno, vocês! - Christian protestou. - Sinto muito, mas acabaram de ligar do consultório de meu médico com o resultado dos exames de sangue.

Os três caíram na risada e Chris mudou de assunto.
- Ouçam, rapazes, Wokowski está coletando apostas para o jogo de domingo. Querem participar?

- Quanto é? - Christian se interessou.

- Cinqüenta. E é melhor decidirem rápido porque...


Poncho não prestava mais atenção na conversa, o olhar perdido pelo salão.

À esquerda, ainda próximo da lareira, a morena voltava a atacar. Desta vez, a vítima era Wokowski, o jogador polonês. Ao lado dos dois, reconheceu o relações públicas da Federação Nacional de Futebol Americano. Qual era mesmo o nome do sujeito? Kern? Não, Kerr, Avery Kerr. A atenção de Herrera se voltando naturalmente para a moça que conversava com ele.

Tratava-se de uma loira bastante atraente, embora loiras não fizessem seu gênero. Ia desviar o olhar quando a viu sorrir. Algo no sorriso o cativou.

- Poncho?

Quem era ela? Não parecia namorada de Kerr. Estaria acompanhada?

- Hei, Poncho!

O chamado insistente atraiu a atenção de Alfonso. Os dois amigos o encaravam com curiosidade.
- Vai participar ou não? - Chris indagou.

Alfonso notou o dinheiro na mão do companheiro e se lembrou da questão da aposta.

- Vou -respondeu distraído, voltando a olhar para a moça.

Ela não mais sorria, falava. Alfonso procurou observá-la com os olhos críticos. Não era como Dulce, com seus traços perfeitos, mas a combinação da pele clara com os cabelos cor de mel lhe davam um ar etéreo.

A moça sorriu de novo, afetando-o do mesmo jeito que da primeira vez. Ele nunca havia sentido uma atração tão imediata por uma mulher, e a sensação o confundia. Achava-a sexy, porém existia algo mais. Não conseguia definir o que, só sabia que ao fitá-la vinha-lhe a idéia de predestinação. Tinha a estranha impressão de que já a conhecia.

O sorriso se alargou em despedida a Avery Kerr. Pela primeira vez, Alfonso percebeu um toque de melancolia na fisionomia da moça.
Existia uma disparidade entre o sorriso nos lábios e a expressão no olhar. Uma misteriosa disparidade. Essa constatação apenas aguçou-lhe o interesse.

Ele ouviu ao longe o conjunto começar a tocar a canção romântica Feelings. Ainda mais remotamente, escutou chamarem seu nome.

- Herrera? Ei Poncho!?

Então se virou para os companheiros que o encaravam com preocupação.


- Ei, você está bem? - Christian perguntou.

- Não tenho a menor idéia - Alfonso respondeu e, sem dar explicações, dirigiu-se ao alvo de seu interesse.

***
O encontro com Avery Kerr havia correspondido às expectativas de Anahí. Tinha conseguido o que desejava: a confirmação da presença de alguns jogadores de futebol em sua agência na segunda-feira de manhã. Só faltava convocar a imprensa.

Uma vez cumprida a missão, Anahí sentiu o cansaço dominá-la. A dor na perna persistia, e ela considerou a possibilidade de dar a noite por encerrada. Onde estava May?

Olhando ao redor, localizou a amiga servindo-se do pródigo bufê. Anahí sorriu. Devia ter adivinhado que Mayte estaria perto da comida. Invejava-a por viver comendo e não engordar, pois lhe bastava sentir cheiro de comida para ganhar peso. Sabia que isso se relacionava com falta de atividade física normal, entretanto, essa consciência não ajudava a saciar seu estômago sempre.

Nesse instante, Mayte se virou para ela e, com um gesto, ofereceu-se a trazer algo para comer. Anahí assentiu com a cabeça. "Dane-se", pensou. Para variar, satisfaria o apetite em detrimento das calorias a mais.

Enquanto esperava a comida, acomodou-se melhor no sofá e deixou o olhar passear pelo salão. Uma parte dos convidados se dividia em grupos e conversava animadamente, enquanto a outra dançava de rosto colado.
Então notou um homem alto, de ombros largos e porte atlético que atravessava o ambiente. As feições lhe pareceram familiares, embora não fizesse a menor idéia de onde poderia conhecê-lo. Provavelmente era apenas impressão.

Logo percebeu, porém, que o homem vinha em sua direção. Embaraçada por encará-lo de modo tão direto, baixou o olhar. Só voltou a erguê-lo ao notar que alguém parava à sua frente. Para sua surpresa, era o moreno atraente.


Quando seus olhares se cruzaram, dois pensamentos ocorreram simultaneamente: 

****Há definitivamente algo familiar nesse olhar brincalhão**** 

****Ela é mais bonita do que imaginei. É capaz de levar um homem às raias da loucura****

Foi exatamente onde Alfonso imaginou estar - nas raias da loucura - ao se ouvir propor: 

- Gostaria de dançar ou prefere dispensar as formalidades e fugir comigo?

Apesar do brilho maroto no olhar, ele se conscientizou de que no fundo falava sério. Naquele exato momento, cedendo a um incontrolável gesto de loucura, fugiria com aquela mulher para onde ela quisesse ir. Uma ilha deserta, o topo de uma montanha, o paraíso ou até o inferno. De repente, uma sensação totalmente inusitada de vulnerabilidade o tomou de assalto.

Anahí, por sua vez, o fitava atônita. Aquelas palavras mais a desconcertavam do que surpreendiam, pois sabia que situação embaraçosa criaria ao revelar por que não podia aceitar o convite.
Ela engoliu em seco, desejando sumir como num passe de mágica.

- Eu... Eu agradeço, infelizmente não posso fazer nem uma coisa nem outra.

- Não há problema, posso ensiná-la...- Alfonso respondeu interpretando mal a recusa... - a fazer as duas coisas.

O embaraço de Anahí se intensificou, trazendo um rubor às suas faces.

- Realmente sinto muito, mas...

- A primeira - ele a interrompeu - é apenas uma questão de se mover com a música; a segunda... - O que acha de uma praia deserta no Caribe?

- Parece interessante, mas...

- Ou um acampamento no topo de uma montanha?

- Por favor, eu...

- Você escolhe.

A tentação era quase irresistível. Anahí teve de se agarrar à realidade de sua condição para reprimir o impulso de aceitar a proposta. A realidade de uma doença complexa da qual com toda probabilidade jamais se livraria. Além disso, havia o fato de que, quando aquele homem descobrisse sua deficiência, ela seria a última mulher no salão com quem ele flertaria.

- Seu convite é lisonjeiro - ela sorria, tentando esconder a frustração, - mas...


- Não! - a exclamação interrompeu a conversa entre os dois. - Não! - Mayte repetiu. - Não acredito, não pode ser. Ou sim? É você mesmo? Oh, não acredito! - Ela estava com olhar cravado em Alfonso. - Mas é verdade! Sou uma grande fã sua. E meu pai, então, preferia morrer a perder um jogo do Marauders.

- Obrigado. - Alfonso riu. - E agradeça seu pai por mim.

- Ouça, sei que as pessoas lhe pedem isso o tempo todo, mas poderia me dar um autógrafo? Isto é, para o meu pai.

- Claro... Só que não trouxe caneta.

- Arrumarei num instante. - Mayte deixou os pratos numa mesa e começou a vasculhar a bolsa.

Anahí apenas observava o desenrolar de cena, tentando descobrir quem era o homem. Agora sentia confirmar-se à impressão de que já o tinha visto, porém, onde?

Uma caneta e um guardanapo foram prontamente providenciados para Alfonso.
- Aqui está - ele disse, ao devolver a caneta e o papel devidamente autografado a Mayte.

Enquanto isso, Anahí começava a associar os fatos. Jogadores de futebol, Marauders, o olhar brincalhão...

- Muito obrigada. - A amiga se desmanchava em sorrisos. - A propósito sou Mayte Perroni.

Alfonso apertou-lhe a mão e então olhou para Anahí, para forçar uma apresentação. Mayte entendeu a deixa.

- E esta é minha amiga Anahí. Anahí, este é Alfonso...

-...Herrera - ela concluiu pela outra.

Os três ficaram apenas a se olhar. Anahí e Alfonso, um para o outro, enquanto Mayte para a amiga que, embora não se interessasse nem um pouco por futebol, sabia o nome do quarto-zagueiro do Marauders.

- Agora que nos conhecemos... - o olhar de Alfonso revelava esperança.

- Sinto muito, mas a resposta ainda é não - Anahí interrompeu com firmeza, embora o coração batesse forte. Apesar de habituada a situações patéticas de falta de tato e covardia. - Na verdade, já estávamos de saída.

Mayte arregalou os olhos.
- O quê? - ela protestou, olhando para os pratos intactos de comida.


- Não! - a exclamação interrompeu a conversa entre os dois. - Não! - Mayte repetiu. - Não acredito, não pode ser. Ou sim? É você mesmo? Oh, não acredito! - Ela estava com olhar cravado em Alfonso. - Mas é verdade! Sou uma grande fã sua. E meu pai, então, preferia morrer a perder um jogo do Marauders.

- Obrigado. - Alfonso riu. - E agradeça seu pai por mim.

- Ouça, sei que as pessoas lhe pedem isso o tempo todo, mas poderia me dar um autógrafo? Isto é, para o meu pai.

- Claro... Só que não trouxe caneta.

- Arrumarei num instante. - Mayte deixou os pratos numa mesa e começou a vasculhar a bolsa.

Anahí apenas observava o desenrolar de cena, tentando descobrir quem era o homem. Agora sentia confirmar-se à impressão de que já o tinha visto, porém, onde?

Uma caneta e um guardanapo foram prontamente providenciados para Alfonso.
- Aqui está - ele disse, ao devolver a caneta e o papel devidamente autografado a Mayte.

Enquanto isso, Anahí começava a associar os fatos. Jogadores de futebol, Marauders, o olhar brincalhão...

- Muito obrigada. - A amiga se desmanchava em sorrisos. - A propósito sou Mayte Perroni.

Alfonso apertou-lhe a mão e então olhou para Anahí, para forçar uma apresentação. Mayte entendeu a deixa.

- E esta é minha amiga Anahí. Anahí, este é Alfonso...

-...Herrera - ela concluiu pela outra.

Os três ficaram apenas a se olhar. Anahí e Alfonso, um para o outro, enquanto Mayte para a amiga que, embora não se interessasse nem um pouco por futebol, sabia o nome do quarto-zagueiro do Marauders.

- Agora que nos conhecemos... - o olhar de Alfonso revelava esperança.

- Sinto muito, mas a resposta ainda é não - Anahí interrompeu com firmeza, embora o coração batesse forte. Apesar de habituada a situações patéticas de falta de tato e covardia. - Na verdade, já estávamos de saída.

Mayte arregalou os olhos.
- O quê? - ela protestou, olhando para os pratos intactos de comida.


- Sabe muito bem sobre o que... Ou talvez seja mais apropriado dizer sobre quem. - Mayte também estava imersa na banheira. - Respeitei seu silêncio durante todo caminho de volta para casa, mas agora quero algumas respostas.

- Que Respostas? - apesar do tom indiferente, a pulsação de Anahí acelerava.

- Respostas a perguntas como "o que aconteceu esta noite?" ou "pq tivemos de ir embora com tanta pressa?"

- Olhe só quem fala em pressa - Anahí ironizou.

- Não mude de assunto. O que aconteceu lá na festa?

- Você pediu e ganhou um autógrafo de Alfonso Herrera.

- Acho que aconteceu muito mais do que isso. E pode começar me contando como sabia que aquele homem era Alfonso Herrera.

- Elementar, minha cara Perroni, eu o vi na televisão hoje. Ele e os companheiros do trio Infernal.

- Infernal? Ora, ora, estou impressionada com esse seu conhecimento de um assunto que pensei que não lhe interessava. Mas não tente me distrair. Vamos, conte. O que você e Alfonso Herrera estavam conversando?

- O que dois convidados numa festa normalmente conversam.

- Anahí!

As duas se encararam, uma mais teimosa que a outra. Foi Anahí quem finalmente cedeu: 
- Muito bem, você venceu. Ele me convidou para dançar - ela limitou-se a dizer, omitindo a outra proposta. De repente imaginou a quantas mulheres o convite tinha sido feito. E quantas haviam aceitado.

- E o que respondeu?

- O que acha? - o tom soou mais ríspido do que ela pretendia. - Desculpe-me. 

Mayte suspirou.
- Anahí, por que foge de todo homem que demonstra interesse por você?

- Já lhe disse isso mil vezes. Fujo deles antes que fujam de mim.

- Não está sendo justa com você mesma nem com eles. Aposto que, se...

- Talvez sim, talvez não. - Lembranças que jamais partilhara com ninguém, nem mesmo com a melhor amiga, voltaram a sua mente.

- Mas...


- Por favor, May, vamos esquecer o assunto?
Mayte hesitou, entretanto acabou cedendo, afundando mais na água tépida e espumante.


- Como vai sua sobrinha? - Anahí perguntou para aliviar o clima tenso?

- Absolutamente linda. Está com três semanas e tem o rosto mais bochechudo que já vi, sem falar nos cabelos ruivos. É uma graça!

- Você adoraria ter um bebê, não?

- Se gostaria! O problema é arrumar um homem que queira ser o pai. E eu não tenho mais muito tempo para esperar. Estou com trinta e sete anos, amiga.

Embora seu caso fosse diferente, há muito Anahí se conformara em não ter filhos. Mesmo que estivesse casada, sua saúde representaria um fator de complicação. Talvez por isso dedicava-se com tanto carinho a crianças artríticas.

De repente, Mayte soltou uma gargalhada.
- Que dupla formamos! Eu procuro um homem enquanto você os rejeita.

- Eu não diria exatamente isso. - A imagem de um par de olhos encantadores lhe vieram inadvertidamente à lembrança. - Por que os três são chamados de Infernais?

- Os repórteres esportivos que começaram com isso. Os três se entendem bem em campo e são super rápidos. Quando um lança a bola para o outro é ponto na certa. - Mayte se interrompeu, rindo. - Pelo seu súbito interesse por futebol, devo concluir que vai assistir à final do campeonato, no domingo.

- Dificilmente. E se eu não sair logo desta banheira vou encolher.

Embora o calor tivesse abrandado a dor, a perna de Any continuava rígida, dificultando a saída da banheira. A amiga a ajudou.
- Prometa - Mayte pediu - que não tentará usar a hidromassagem sozinha enquanto estiver com problemas na perna. - Antes que Anahí objetasse, acrescentou - Sei que ofendo seu senso de independência, mas me dê esse prazer. Está bem?

- May, posso perfeitamente...

- Prometa.

- Não é...

- Passarei aqui todos os dias, no final da tarde, para ajudá-la, está bem?

- Está bem - Anahí aquiesceu, embora sem esconder que o fazia a contragosto.

- Prometa.

- Certo, certo, eu prometo!

- Ótimo. Agora me passe a toalha e me deixe ir para casa.


Quinze minutos depois, Anahí foi se deitar. Cansada como estava esperava adormecer logo. Contudo, por mais que tentasse, não conseguia conciliar o sono, revendo na mente os acontecimentos daquela noite.

O escritório estava um caos.
Como uma secretária, uma amiga, um repórter, duas mães, uma assistente social e três crianças podiam fazer tanto barulho? Até então Anahí não havia se dado conta de quanto sua sala era pequena. Onde ficariam os jogadores de futebol quando chegassem? A propósito, estavam atrasados.

A Viagens e Excursões Puente dividia um casarão antigo com uma companhia de seguros e uma ceramista. A mobília era de segunda mão, sendo que as cadeiras haviam recebido um novo estofamento por conta do pai de May. As paredes exibiam uma combinação eclética de quadros: um Van Gogh multicolorido com motivo de girassóis em meio a uma variedade de pôsteres mostrando pontos turísticos de San Francisco, o Caribe e Nova York. À parte estavam as menções honrosas que Anahí tinha recebido pelo trabalho voluntário desenvolvido junto à Fundação de Pesquisas, expostas por insistência da amiga.

Sentada à sua mesa, ela observou a algazarra das crianças. Havia uma garotinha de dois a três anos de idade, um menino com aproximadamente cinco e outro de sete a oito. Este, Jason Holland, era negro e órfão, vivendo atualmente sob a tutela do Estado. Em pior estado que as outras crianças, movia-se com lentidão e seu olhar triste e cansado.

Anahí imaginou se carregava a mesma expressão depois de lutar quase dez anos contra a própria doença.

Mayte terminou de contar uma história às crianças e então se levantou do chão e se juntou a Anahí.
- Eles estão atrasados, não?

- Alguns minutos, - Anahí confirmou.

- Sabe quem vem?

- Não. Avery Kerr disse apenas que mandaria alguns jogadores de futebol.


- Jason está muito ansioso para conhecer pessoalmente um jogador de rúgbi. Acredita que aquela criança linda não tem lar? - Mayte comentou indignada. Então mudou de assunto com a impaciência que lhe era característica. - Como se sente?

- Bem Anahí respondeu, embora sentisse o corpo dolorido.

- O quadril dói?

- Um pouco.

- Tem certeza?

Anahí apenas deu de ombro, provocando um suspiro na amiga.
- Você é rainha da minimização, sabia?

- Minha chefe lhe contou sobre as flores? - Susan interrompeu a conversa, alarmando Anahí.

- Susan, por que não oferece café às pessoas?

- Que flores? - Mayte percebeu a manobra da amiga.

- Ela não lhe contou sobre as rosas?

- Susan, o café...

- Que rosas? - Mayte arregalava os olhos.

- Alguém quer café? - Anahí falou bem alto para que todos presentes ouvissem.
A oferta foi aceita por unanimidade.

- Susan, você poderia...

- Alfonso Herrera mandou as flores - a secretária continuou, ignorando os pedidos da chefe. - Rosas brancas maravilhosas.

- Susan, poderia servir café aos nossos convidados? - O tom de Anahí já era exasperado.

- Pode acreditar nisso? Alfonso Herrera enviou flores a Anahí! 

Anahí se recusava a encarar Mayte, mas sentia o olhar penetrante da amiga. Embaraçada, ergueu-se resmungando: 
- Eu mesma vou servir café aos convidados antes que eu mate alguém.

Mayte e Susan, porém, a seguiram até a pequena cozinha.
- Deixe que eu levo isso. - A secretária se ofereceu para carregar a bandeja, arrependida por ter falado demais.

Mayte permaneceu na cozinha, enquanto Anahí se ocupava em secar a pia.
- Por que não me contou?

"Por que por algum motivo que não compreendo eu queria apreciar o perfume das flores sozinha", Anahí desejava dizer, Em vez disso respondeu: 
- Por que não significa nada. Ele quis apenas se desculpar por uma situação embaraçosa que criou. E ponto final.

- Lá vai você minimizando...

- E você maximizando.


- Anahí, quando deixará de pensar em si mesma como uma deficiente?

- Quando deixar de ser uma - ela não vacilou em retrucar.

- Eles chegaram - Susan voltou para anunciar, mal contendo o entusiasmo.

- Eles chegaram - Anahí repetiu à amiga.

- Continuaremos esta conversa mais tarde - Mayte insistiu.

- Está certo. No ano que vem. -Apoiando-se na bengala, Anahí foi para a sala.

Ela acabava de se congratular pela facilidade com que se livrara do assunto Alfonso Herrera, quando se deparou com um par de familiares olhos castanho esverdeados.

Por um instante, Anahí imaginou que sonhava e a qualquer momento alguém iria acordá-la.

Sinto muito pelo atraso - Alfonso enfim falou. O tom era terno, como se os dois estivessem a sós na sala. Como se os dois se conhecessem não por alguns minutos embaraçosos, mas desde sempre. Então seus lábios se curvaram num sorriso maroto. - Dormi demais.

O sorriso irresistível levaria qualquer mulher a perdoá-lo pelo mais sério deslize.
- Está tudo bem - Anahí respondeu. - agradecemos por você gentilmente nos ceder seu tempo, você e... - ela olhou para os dois que acompanhavam Alfonso. Sinto muito, mas receio que só me lembre de vocês como os Infernais.

Os homens sorriram.
- Estes são Christopher Uckermann e Christian Chavez. - Alfonso fez as apresentações. - Rapazes, esta é Anahí Puente.

Houve um momento de hesitação, em que os dois jogadores pareceram em dúvida quanto a iniciativa e Anahí aliviou o embaraço. Transferindo a bengala para a mão esquerda, estendeu a direita.
- Muito prazer em conhecê-los, Christopher... Christian.

- E você é Mayte, certo? - Alfonso perguntou.

- Você se lembrou! - Mayte confirmou, embevecida. - Christopher... Christian, muito prazer.

- Ele nunca se esquece de um rosto bonito - Christian comentou, fitando Mayte com evidente interesse.

- Cuidado com esse aí, Mayte - Christopher brincou. – Nós só o soltamos em noites sem lua.


Todos riram, e Alfonso voltou à atenção novamente para Anahí.
- Bem... - Ela observou, procurando ordenar os pensamentos.

- Que tal conhecerem as crianças? - Ao se virar, esbarrou na secretária. Oh, esta é Susan Lailbrook.

- Susan? - Anahí chamou, fazendo-a cair em si, atrapalhada.

- E... Eu... Desculpem-me. Adorei as rosas. - Apertou a mão de Alfonso e, ao dar-se conta do que havia dito, corou. - Quer dizer, sei que não as mandou para mim, mas vieram aqui para o escritório e... Eram tão bonitas... Pena que Anahí as levou para casa... Oh, meu Deus, não estou falando coisa com coisa, não é?

Todos exceto Anahí, achavam graça da tagarelice de Susan.
- Que bom que gostou delas - Alfonso comentou com a secretária e, sentindo o embaraço de sua chefe, sugeriu com tato: - Que tal conhecermos as crianças agora?

Mayte deteve a amiga apenas o suficiente para lhe sussurrar no ouvido: 
- Quer, por favor, sorrir?

- Sorrirei - Anahí respondeu no mesmo tom -...Assim que esganar Susan.

No decorrer da sessão de fotos, Anahí se apanhou pensando que a idéia desse tipo de promoção lhe parecera boa até deparar-se com os jogadores enviados por Avery Kerr. Não que Alfonso Herrera não tivesse jeito com as crianças, muito pelo contrário. Ele e os amigos sabiam cativa-las.

O problema era Alfonso Herrera ter surgido de novo em sua vida, estar em seu escritório, agindo como se estivesse em casa. E cada vez que olhava para ele flagrava-o observando-a.

O problema era que ela não sabia qual o problema!

Contudo, por mais tentasse, não conseguia tirar os olhos dele. Tratava-se, sem dúvida, de um homem que jamais passaria desapercebido com aquele porte atlético. Sem falar nos olhos esverdeados realçados pela tonalidade castanha dos cabelos.

Mais uma vez flagrou-o a encará-la. Além disso, percebeu que o quadril começava a doer de tanto ficar em pé e, afastando alguns papéis, sentou-se na borda da mesa. Mal conteve uma careta de dor.


"Ela sofre de artrite", Poncho pensou.
Era a única resposta que fazia sentido. Explicava o andar manco e as mãos marcadas por cicatrizes cirúrgicas, além da participação ativa naquela Fundação.

"Também tem pernas lindas", ele reparou percorrendo o olhar por toda sua extensão. Tratava-se de uma mulher atraente e... "Com dor". Esta se revelava no leve tremor ao redor dos lábios, só perceptível a alguém familiarizado com dores lancinantes.
Como atleta profissional, havia mais de uma vez jogado com ferimentos que deixariam a maioria das pessoas de cama. Ele acrescentou admiração à lista de emoções inexplicavelmente evocadas por Anahí Giovanna Puente.

- Sr. Herrera, posso tirar outra foto de vocês três com Jason? -O repórter fotográfico pediu. As duas crianças menores haviam se cansado e ido embora.

- Claro que sim - Poncho concordou.

- Poderia ser a última? - Mayte sugeriu. -Jason parece cansado.

- E se eu segurá-lo para a próxima? - Poncho propôs.

- Boa idéia. Depois um refrigerante cairia bem, não, Jason?

O garotinho concordou entusiasticamente com a cabeça.

Com cuidado, Poncho pegou o menino no colo e parou no local indicado pelo fotógrafo. Tomado por timidez na presença do jogador que tanto admirava, Jason escondeu o rosto no peito dele.
- Jason a assistente social falou - conte qual é o seu time favorito.

Não houve resposta.
- Qual é seu time favorito? - Chris insistiu, tentando enxergar o rostinho enfiado no pulôver do companheiro de equipe.

Continuaram sem resposta.
- Eu sei - Christian arriscou. - É o cowboys.

Jason arriscou espiar de seu esconderijo.
- Eles ganharam o campeonato - ele comentou.

- Ganharam sim - Christian confirmou. - É um time com muitos torcedores.

- Não sou um deles - o garotinho refutou, esquecendo-se da timidez.

- Não? Então para quem torce? - Poncho instigou.

- Para os Marauders.

- Ah! Esse menino tem bom gosto! - Chris brincou.

- Serei um Marauder quando crescer - Jason anunciou com orgulho.


Houve um momento de silêncio compungido, pois cada adulto presente sabia que jogador de futebol certamente era a última coisa que aquele garoto poderia se tornar quando crescesse.
- É mesmo? - Christian quebrou o silêncio. - O que acha de arranjarmos uma bola da federação?

- Uma bola de verdade? - O menino arregalava os olhos castanhos.

- Naturalmente - o jogador confirmou. - E tem mais: posso pedir a todos os membros do time que a autografem para você.

- Fará isso? - Jason mal cabia em si de contentamento.

Anahí sorria enternecida com o simples prazer da criança quando percebeu que Alfonso a fitava, como se de alguma forma soubesse exatamente o que pensava e sentia. Instante depois, tirada a última fotografia, viu-o entregar o menino a Christian e se aproximar dela.

O coração disparou, mas para seu alívio a assistente social, Sra. Glover, logo se juntou a eles.
- Ele falará sobre isso o dia todo - ela comentou.

- É um menino cativante - Alfonso observou - Está sob cuidados do Estado, não? 

- Sim, seus pais morreram num acidente automobilístico há três anos. Não tem nenhum outro parente.

- Quais são as chances de ser adotado?

- Poucas. Em primeiro lugar, devido à idade; a maioria dos casais prefere bebê. Em segundo, por causa do problema de saúde, que faz dele um verdadeiro deficiente em termos de adoção.

Deficiente... A palavra cortou o coração de Anahí com toda sua brutal realidade. Ela sabia exatamente como era sentir-se um deficiente. Felizmente o pequeno Jason ainda não tinha consciência disso. Tomara que demorasse muito até atingi-la.

Mais uma vez, Anahí reparou que Alfonso a observava.
De repente, ela sentiu como se ele lhe desvendasse os mais íntimos pensamentos, o que a levou a uma posição defensiva. Mais do que depressa, escondeu a vulnerabilidade atrás de muros altos que erguia com a crença de que não se importava com a solidão e continuaria assim pelo resto da vida.


- Susan, por que não apanha um refrigerante para Jason? - Anahí sugeriu, deslizando da borda da mesa ao mesmo tempo em que se escondia por trás de uma máscara de indiferença. - Verifique também se alguém mais aceita refrigerante ou café.

A secretária seguiu as instruções, e em menos de meia hora todos começaram a sair. O repórter foi o primeiro, seguido pela Sra. Glover com Susan, que havia passado a manhã lançando olhares de adoração para o ídolo, e com muita relutância acatou a ordem de ir almoçar. Mesmo assim, só depois de conseguir um autógrafo.
Mayte também se despediu, embora parecesse intrigada com o fato de os três jogadores não revelarem a menor pressa em partir.

- Comporte-se - ela cochichou com malícia enquanto a amiga a acompanhava até a porta.

Assim Anahí ficou a sós com três homens.

- Eu... Bem, não sei como lhes agradecer...Em nome da Fundação de Pesquisas... Por terem contribuído com seu tempo dessa forma...

Os jogadores concordaram em uníssono que o prazer era deles.
- Espero que a semana que planeja para os garotos seja realmente um sucesso - declarou Chris. 

- Obrigada.

- Onde será? - Christian indagou.

- Se tudo der certo, em El Paso - Anahí respondeu, com um indisfarçável brilho de satisfação no olhar. - Há um hotel fazenda lá, de onde espero uma carta de confirmação da reserva a qualquer momento. Eles atendem especialmente a crianças deficientes.

- Se precisar de mais alguma coisa de nós...- Christian ofereceu.

- Obrigada. É muita generosidade sua. - Anahí se conscientizou que evitava olhar para Alfonso. Também se deu conta de que ele não dizia nada. Além disso, queria encontrar um meio de lhe agradecer pelas rosas, porém, só desejava que eles fossem embora. - Mais uma vez, muito obrigada a vocês todos.

Os jogadores já se dirigiam para a porta quando o telefone tocou.
- Com licença - Anahí se desculpou, atravessando a sala com a habitual dificuldade.

- Tchau! - Christopher e Christian se despediram. - Foi um prazer conhecê-la - um deles acrescentou.


Gostou?


 


 


Anahí se virou p/ acenar antes de atender ao telefone. Sentia alívio por vê-los partir. Na verdade, sentia alívio por Alfonso partir. Aquele homem lhe tirava a respiração.
A ligação era de uma mulher interessada numa viagem à Escócia com o marido que vivia preso a uma cadeira de rodas. Enquanto dava as informações, Anahí notou que Alfonso confabulava com os amigos, que então seguiram sem ele. Seus olhares se cruzaram. Breve, porém significativamente. Em seguida, Herrera se pôs a caminhar pelo escritório.

A pulsação de Anahí se acelerou.

- Como? - ela voltou a falar ao telefone. - Sim, a viagem aérea é muito confortável.

"Por que ele ficou?"

Como as mãos enfiadas nos bolsos da calça, Alfonso examinava as menções honrosas penduradas na parede.
- A Inglaterra é um local adorável para visitar - Anahí continuou, distraída, enquanto o acompanhava com o olhar. - Escócia! Quero dizer, a Escócia é um lugar adorável para visitar.



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Autor(a): eduardah

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"O que ele está fazendo? Por que não vai embora?"  - Eu lhe proponho o seguinte, Sra. Hecker: prepararei um prospecto e o enviarei à senhora, se me der seu endereço. - Enquanto apanhava uma caneta, ela fitou de relance. "Meu Deus! Ele está lendo todas as menções?" - Muito bem, entrarei em contato com a senhora. E obri ...


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  • dessaya Postado em 21/01/2015 - 19:42:52

    u.u

  • franmarmentini Postado em 21/01/2015 - 13:57:34

    :)

  • franmarmentini Postado em 25/08/2014 - 16:34:36

    consegui ler tudo ;)

  • franmarmentini Postado em 25/08/2014 - 07:53:46

    nossa...fiquei muito feliz por vc repostar denovo :) ja vou começar a ler por aki os primeiros capitulos ;)


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