Fanfic: Lição de Ternura AyA Finalizada
- Você está cheirosa. - Ele roçava o nariz no pescoço dela aspirando o perfume que lhe dera de presente.
- Não com cheiro de linimento. - No instante em que falou ela se arrependeu. Não sabia por que tinha dito aquilo. Seria um resquício do humor depressivo anterior, determinado a contestar felicidade que desfrutava?
- O que devo entender disso? - Poncho indagou, desconfiado.
- Nada. Quero dizer, não importa. - Contradizendo-se, ela se afastou.
- Any, o que exatamente você quis dizer? - Ele a segurava.
- Esqueça o assunto.
- O que você quis dizer?
- Foi... Foi apenas o que ouvi alguém dizer uma vez. Bem, que tal sairmos desta banheira antes de ficarmos enrugados...
- Quem?
Anahí suspirou, fechou os olhos e suplicou:
- Não insista, por favor.
- Não me trate como um estranho, por favor - ele pediu com igual veemência.
Desta vez, porém, quando ela tentou se desvencilhar de seus braços, Poncho não a deteve. Anahí se refugiou na borda oposta da piscina e afundou nas águas borbulhantes, deixando apenas a cabeça de fora.
- Quem? - ele insistiu.
- Um homem.
- Seu ex-noivo? - Foi um tiro no escuro. Um tiro certeiro.
A surpresa estampada no rosto de Anahí não durou mais que um segundo. Naturalmente ele saberia mais cedo ou mais tarde de seu noivado. Teria adivinhado? Mayte havia lhe contado? Importava?
- Sim - ela confirmou reticente.
- Você já deu o primeiro passo, Any. Não deixe que seja em vão.
Num momento de auto-análise, Anahí concluiu que ele estava certo. Havia dado o primeiro passo ao tocar no assunto. Teria sido por querer lhe contar tudo? Sim. Embora nunca tivesse revelado o fato a quem quer que fosse, parecia-lhe importante que Poncho soubesse. Só não imaginava como fazê-lo. Mas começou antes que a coragem lhe faltasse.
- O nome dele era Ross. Nós nos conhecemos na faculdade e pensamos em casamento antes de mamãe adoecer. Quando isso aconteceu, os planos foram adiados. Depois da morte dela, ele propôs que ficássemos noivos, embora eu preferisse esperar até me refazer emocionalmente. Ross argumentou que queria que eu soubesse que tinha alguém. - Ela suspirou.
- Era algo que eu realmente precisava muito saber. De repente ficar sozinha no mundo... - Não concluiu a frase, mas em seu silêncio residia toda a dor que sufocara pela perda da mãe.
- Não tinha mais família?
- Não. Só alguns primos distantes em Nova Jersey, mas sequer os conhecia.
- Então ficou noiva - ele a instigou.
- Exatamente. Mas daí a artrite começou. Pobre Ross. Ficou atordoado.
Poncho quis mandar o tal Ross para o inferno. Em vez disso, porém, controlou-se e esperou...
- Olhando para trás agora - ela continuou -, vejo que ele tentou me ajudar. Realmente tentou. Mas estava tão... tão, não sei, desnorteado... Assim como eu... Eu sentia muita dor, muito cansaço e passava a maior parte do tempo na cama, descansando. Tornou-se óbvio nesse primeiro ano que minha vida seria... Diferente. Ross não tinha estrutura para isso. - Poncho imaginou quantas lágrimas ela devia ter derramado antes de poder fazer aquela admissão de forma tão racional. - Ele... Ele passou a recear me tocar. Ou talvez a verdade seja que não queria mais me tocar. Certa noite ouvi-o dizer a um amigo que... - Anahí fez uma pausa, recordando a imagem da moça insegura parada descalça e de camisola à porta da sala do apartamento que dividia com o homem que amava.
- Dizer o quê?
Ela encarou Poncho, a dor evidente no olhar.
- Você o ouviu dizer o que ao amigo?
- Que... Um homem quer sua mulher cheirando a perfume, não a linimento. Que um homem desejava ouvir a esposa gritar de êxtase, não de dor.
Se Poncho pudesse, naquele momento teria condenado Ross ao mais terrível dos infernos, sem a menor vacilação ou remorso.
O olhar de Any estava perdido no horizonte, e quando voltou a encará-lo parecia vidrado.
- Foi a primeira vez que tive de realmente enfrentar o que acontecia comigo. É claro que eu sabia que meu corpo mudava e nada poderia impedir isso, mas até aquele ponto havia negado minha condição por covardia. - Ela reprimia as lágrimas. - Quando ouvi o desabafo de Ross, foi a primeira vez que... Que me olhei do ponto de vista de um homem. E vi que era menos do que uma mulher. Então... Odiei o que me acontecia! - O pranto não pôde mais ser contido. - Oh, Deus, como odiei! E ainda odeio! - Poncho tomou-a nos braços e deixou que chorasse.
- Já lhe disse que é a pessoa mais corajosa que conheço? - ele perguntou, mantendo a voz firme a todo custo.
- Não sou corajosa... Fui apenas colhida por um carrossel e não consigo descer.
- Ah, mas está montando os cavalinhos com dignidade!
- Não quero cavalgar com dignidade. Só quero descer.
Durante o desabafo, a mágoa e o medo passados se tornavam presentes. Uma mágoa e um medo que Anahí normalmente mantinha ocultos. Poncho apertou o abraço.
- Que tal se eu andar no carrossel com você? - Ele oferecia a única coisa que estava ao seu alcance.
Em resposta ela se aninhou mais ao seu peito. Não ousava confiar na própria voz. E pela segunda vez naquele dia, apenas se agarrou a ele. Agarraram-se um ao outro. Como se segurassem com firmeza as rédeas de um cavalo do carrossel. Com Poncho o tempo todo a murmurar que a queria, precisava dela e a amava mais do que ela jamais poderia imaginar.
Mayte e Christian telefonaram para avisar que jantariam na cidade e depois iriam ao cinema. Não voltariam, portanto, antes da meia-noite. Embora nem Any nem Poncho expressassem o sentimento, ambos ficaram satisfeitos com o tempo extra a sós. O que havia acontecido na piscina de hidromassagem criara um clima que nenhum dos dois queria que acabasse. Era um clima de emoções à flor da pele, em que um olhar, um toque, uma palavra sussurrada provocava uma torrente de sensações incontroláveis. Em resumo, estavam um pouco mais intensamente, um pouco mais maravilhosamente apaixonados.
Após o jantar, acomodaram-se no sofá da sala para assistir a filmes de vídeo. Any se encarregava de selecionar as fitas. A primeira escolhida foi uma da família Poncho, filmada na Flórida durante um de seus encontros anuais no feriado de quatro de julho. Assim conheceu os pais e irmãos de Poncho, não deixando de sentir uma pontada de inveja pela união e alegria que demonstravam.
A fita seguinte mostrava Poncho jogando. Mas ele não agüentou assistir mais do que dez minutos, alegando monotonia e a péssima lembrança de um músculo distendido que havia exigido um litro de linimento. Então acrescentou que suportaria o linimento dela, se ela suportasse o seu.
Em seguida assistiram a um filme antigo, enquanto comiam pipoca. No decorrer da fita, porém, Any e Poncho se sentiram mais e mais compelidos a ajudar nas cenas de amor. Enfim, abandonando o filme pela metade; ele a carregou para o quarto e se amaram... E se amaram... E se amaram...
Saciados, ficaram estirados na cama rodeados pelo silêncio da noite. Any, aconchegada ao peito dele, se distraía puxando lhe os pêlos.
- Case comigo - ele pediu com a impulsividade de sempre.
Any ficou momentaneamente paralisada. Então ergueu o olhar.
- Case comigo - Poncho repetiu.
A ambigüidade de sentimentos voltou a martirizá-la. Esperava e não esperava por aquele momento. Sabia que o casamento não era justo para ele. Ainda se lembrava vividamente do malogro de sua primeira tentativa. O medo a dominava.
Desvencilhou-se do aconchego dos braços dele e passou as mãos pelos cabelos despenteados.
- Você certamente sabe como surpreender uma mulher, Alfonso Herrera.
- Está realmente surpresa? - Ele não ousava tocá-la, apenas esperava.
- Não sei. Quero dizer... Sei lá. Casamento é tão, tão drástico. - Forçou um sorriso, que não foi correspondido.
- Você não me ama?
Anahí se indignou com a pergunta.
- É claro que sim.
- Pois casamento é a atitude drástica que duas pessoas normalmente tomam quando se amam.
- Normalmente - ela repetiu. - Essa é a questão. Não sou normal. Sou diferente, Poncho, e aceito isso.
- Talvez aceite rápido demais.
O comentário só serviu para mostrar a ela o quanto seus mundos se distanciavam. A constatação a magoou. Muito. Também fez com que se sentisse isolada.
Num gesto brusco, apanhou a primeira peça de roupa que encontrou no chão, a camisa dele, e a vestiu. Então se muniu da bengala para se levantar. A dor correu veloz por sua perna, mas a suportou em silêncio.
- A capacidade de sobrevivência emocional de uma pessoa - disse - está diretamente ligada à sua capacidade de aceitação. Toda a minha vida adulta tem se caracterizado pela aceitação. Ou concessão, se preferir. Mas nunca foi tão fácil ou rápido quanto você imagina.
- Any, eu não quis dizer... - Ele abandonou a observação por não saber realmente o que queria dizer. E, se dissesse o que queria, ela não estaria pronta para ouvir. - Não estou me envolvendo às cegas, se é o que teme.
Autor(a): eduardah
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 4
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dessaya Postado em 21/01/2015 - 19:42:52
u.u
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franmarmentini Postado em 21/01/2015 - 13:57:34
:)
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franmarmentini Postado em 25/08/2014 - 16:34:36
consegui ler tudo ;)
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franmarmentini Postado em 25/08/2014 - 07:53:46
nossa...fiquei muito feliz por vc repostar denovo :) ja vou começar a ler por aki os primeiros capitulos ;)