Fanfic: Lição de Ternura AyA Finalizada
Cansada de buscar um sono afugentado por pensamentos perturbadores, ela deixou a cama.
Tornou a vestir a camisa dele e foi para a sala. Lá, uma força inexplicável atraiu sua atenção para a coleção de fitas de vídeo de Poncho, mais precisamente aquelas que documentavam momentos de sua vida. Baixando o volume para não perturbar a ele ou a May e Christian, que haviam chegado pouco depois da meia-noite, assistiu a um filme atrás do outro. Viu-o jogar, com a família, os amigos e... A ex-mulher.
Já era alta madrugada quando pôs para rodar o filme cujo rótulo revelava ser do Natal de quatro anos atrás. Não fora filmado na propriedade do Texas. Disso Anahí tinha certeza. O cenário lembrava a Califórnia. Com a habitual árvore ao fundo, ela assistiu à abertura dos presentes. Exceto Christopher, os demais convidados lhe eram estranhos. Membros da família de Dulce? Talvez. Então a ação passou para fora, para uma partida entusiasmada de futebol americano. Alfonso e a ex-mulher pertenciam a times opostos. A bola se ergueu no ar, e ela pulou para apanhá-la. Nesse momento ele a derrubava no chão.
Anahí congelou a cena exatamente no instante em que as pernas de Dulce estavam suspensas no ar e Poncho mergulhava em direção à sua cintura. A surpresa marcava o rosto dela enquanto o riso marcava o dele.
A dor no coração de Anahí tornou-se insuportável, como se passasse por uma cirurgia sem anestesia.
Era engraçado como sempre as coisas mais simples da vida ensinavam as maiores lições. E havia algo a aprender daquela cena. Poncho podia ter razão em tudo que alegara sobre a covardia dela em assumir um compromisso. Entretanto, o fato de ele estar certo ou não a tornava errada. Por amá-lo, não podia selar a vida dele à sua. Jamais pularia alto e livre no ar como Dulce. E, mesmo que por um milagre isso acontecesse, Poncho jamais a derrubaria no chão.
Ele recearia machucá-la.
A mágoa comprimia mais e mais seu coração. Ela estudou a imagem congelada na tela até conhecer cada detalhe, até as lágrimas rolarem por suas faces. Mesmo assim continuou com o olhar cravado nela. Obsessivamente. Torturantemente. Pois precisava fortalecer sua determinação.
Poncho a encontrou quando os primeiros raios de sol irrompiam no céu.
Por um longo instante ele também estudou a cena congelada na tela e a mulher encolhida no sofá. Não era preciso muita imaginação para adivinhar os pensamentos de Anahí. Sentia o coração se partir. Por ela. Por ele. Pelo que podia ter sido.
Ao notar a presença de Poncho, ela se virou, os olhos ainda molhados encontrando outros desolados.
Por favor, tente entender, os dela pediam. Por favor, não faça isso conosco, os dele imploravam. Poncho esperou, esperou e esperou. Mas Anahí não disse nada. Finalmente ele desapareceu da sala. Ela amaldiçoou a inflexibilidade dele. Poncho amaldiçoou a palavra concessão.
Anahí adiou a operação, pois a dor no quadril parecia o acompanhamento perfeito para a do coração. Esta, maior do que julgava humanamente possível. Era interminável. Estivera presente a cada hora, cada minuto, cada segundo das duas semanas que se passaram desde o impasse com Poncho.
Durante toda a vida adulta tinha conseguido, como fênix, renascer das cinzas de suas decepções e dar continuidade à vida. Mas agora não se sentia capaz de superar a frustração. Só parecia capaz de sofrer. E pensar. Poncho estaria certo sobre sua inabilidade em se comprometer com um relacionamento?
Talvez. De fato, era bem possível. Realmente, suas relações afetivas passadas haviam terminado dolorosamente. Podia ser que tentasse agora se poupar de outra perda.
Além disso, ele talvez tivesse também razão quanto às concessões. Não se surpreenderia se descobrisse que se precipitara e se contentava com um estilo de vida restritivo. Quem sabe não aceitara muito pouco?
Nesse caso, por que não telefonava para Poncho e lhe dava razão? A resposta era simples e complexa ao mesmo tempo, mas acima de tudo dolorosa. Em alguma parte de seu coração, naquela em que o amava abnegadamente, ainda sentia que seria injusto colocar sobre os ombros dele o peso da responsabilidade por sua saúde.
Além disso, o silêncio dele poderia significar que ele também tinha finalmente chegado à mesma conclusão. Poderia estar aliviado, grato até, por ela ter tomado a decisão pelos dois.
Isso doía tanto que Anahí não agüentou continuar sentada. Com a ajuda da bengala, levantou-se do banco da cozinha. Outro tipo de dor se fincou em sua perna, fazendo-a suar frio e, por uma fração de segundo, sentir tontura. Apoiou-se na borda da mesa.
- Você está bem? - May perguntou.
- Sim... Estou bem. - Apanhando a xícara, Anahí foi até a pia, praticamente arrastando a perna esquerda.
O que Poncho estaria fazendo? Eram seis da tarde. Certamente não planejava passar a noite de sexta em casa.
Por mais que tentasse, porém, Anahí não conseguia imaginá-lo com outra mulher. E sabia que essa inabilidade constituía um mecanismo de defesa.
- Pelo amor de Deus, Any - May argumentou -, porque está fazendo isso a si mesma? Por que não marca logo a cirurgia? Nem mesmo a medicação mais forte alivia sua dor agora.
- Marcarei.
- Quando?
- Em breve. Prometo.
May hesitou, mas foi bastante objetiva:
- Por que não telefona para ele e diz que aceita o pedido de casamento?
Anahí voltou com dificuldade para a mesa e se acomodou no banco.
- Por que não tenho certeza se será justo para ele. Na realidade, estou quase certa de que não será.
- Talvez tenha razão - May comentou, recorrendo a outra tática, uma vez que havia tentado todas as demais sem sucesso.
Anahí estremeceu. As palavras da amiga magoavam, embora fossem apenas um eco das suas.
- Talvez seja importante para Alfonso casar-se com uma mulher tão ativa quanto ele, como você argumenta. Talvez seja importante ter alguém com quem dançar a noite toda ou jogar tênis ou correr. Talvez seja mais importante velejar fisicamente para o sol do que voar emocionalmente para a lua. Talvez seja importante esquiar com uma mulher que não se ama do que sentar diante de uma lareira com a amada.
Antes que Anahí pudesse protestar contra a estratégia evidente da amiga, May prosseguiu:
- Pessoalmente, acho que você estaria louca se se casasse com esse homem. Que mulher deseja um marido que a ama, adora, venera? Ou qual quereria viver com Alfonso Herrera? Quem gostaria de perder a respiração só de olhar para o companheiro?
Um sorriso débil, o primeiro em duas semanas, surgiu nos lábios de Anahí.
- Anahí, você está louca? Ele está tão apaixonado por você que dá dó.
- Sei que ele pensa que está, mas...
- Isso é um insulto a ele e um pretexto para você.
- Não pode tentar enxergar a situação do meu ponto de vista?
- Pois vou lhe dar um bom conselho a respeito, Any. A-ban-do-ne esse seu ponto de vista!
Anahí deixou aquelas palavras assentarem dentro de si.
Curiosamente, elas aplacavam e ao mesmo tempo inflamavam seu sofrimento. Cansada da batalha interior, fechou os olhos e em seguida sentiu a mão de May sobre a sua.
- Você sempre teve coragem para enfrentar o pior. Onde está sua coragem agora para enfrentar o melhor?
Onde? Anahí repetiu a pergunta para si mesma milhares de vezes depois que a amiga saiu para apanhar o filho na casa de um amiguinho. Ou será que sua coragem residia exatamente em não telefonar para Poncho quando desejava tanto?
***
- Pretende usar essas roupas quando chegar em Nova York? - Christian perguntava a Poncho no exato momento em que Mayte conversava com Anahí sobre coragem. Poncho olhou para as roupas literalmente socadas na mala.
- Quanto tempo tenho?
- Muito. Seu vôo está marcado para daqui a duas horas. - Christian balançou a cabeça, divertido diante do nervosismo do amigo. - A que horas é a entrevista?
- Amanhã à uma.
Poncho não imaginava o que transcorreria então. Não tinha a menor referência para prever uma entrevista entre o dono de uma das principais redes nacionais de televisão e um comentarista esportivo em perspectiva.
Comentarista esportivo...
Gostava mesmo da idéia de se tornar comentarista esportivo?
Ainda não acreditava que havia aceito a proposta do empresário naquela tarde. Mal podia acreditar que a importante rede o estivesse sondando quanto à possibilidade de deixar o campo para descrever a ação nele. A perspectiva o assustava. Era capaz disso? Mas também o entusiasmava. Mesmo assim sabia que o velho Alfonso Herrera não teria tido coragem para arriscar. O Alfonso Herrera pré-Anahí teria deixado a chance passar.
Anahí...
Como acontecia há duas semanas, sofria só de pensar nela. Pior ainda, porém, era tentar esquecê-la.
- Como? - indagou ao perceber que Christian dissera algo.
- Perguntei se realmente quer esse emprego.
- Acho que sim.
- Então, boa sorte, amigo.
- Obrigado. - Poncho se permitiu um sorriso que pareceu estranho em seus lábios. Respirou fundo e fechou a mala. - Estarei hospedado no The Carlyle, se precisar de mim.
Christian compreendeu que o amigo queria dizer: "Se Anahí precisar de mim".
- Herrera, por que não liga para ela e acaba logo com esse tormento?
Poncho vacilou uma fração de segundo antes de fechar o semblante a qualquer emoção.
- Não quero falar sobre isso.
- Querendo ou não, esse assunto está acabando com você.
- Já disse que...
- Tudo que tem de fazer é levantar o fone e...
- Droga, Christian, não quero falar sobre isso!
Um silêncio tenso caiu sobre o quarto. Então, Poncho passou os dedos pelos cabelos, despenteando-os, e se desculpou pela explosão. - Sinto muito.
- Não se preocupe comigo. - Christian o acompanhou com o olhar até a janela do outro quarto, de onde se via o pôr-do-sol. Arriscou nova investida:
- Veja a situação do ponto de vista dela.
- Acha que já não fiz isso?
- Fez?
Poncho suspirou.
- A bem da verdade, já estou cansado de tanto pensar. E fim de conversa.
- Então me deixe pensar um instante por você. O que há de tão errado em ela querer a certeza de que o tem ao lado por livre e espontânea vontade? Considerando sua saúde, o que passou com o outro sujeito, que mal há em ela querer a certeza de que você está junto dela por querer? Não pode lhe dar um pouco de tempo para se acostumar com a idéia de que não vai perdê-lo?
Poderia? Poncho se fizera a mesma pergunta milhares de vezes. Entretanto, agora que sabia que ela o amava, desejava tudo de forma egoísta. Tudo ou nada.
- Talvez ela tenha razão - Christian continuou. - Talvez a vida se resuma a concessões.
- Ou pretextos?
- Ou a combinação de bom e mau, justo e injusto, ter o que se quer e não ter o que se quer.
- Ou então apenas uma questão de se contentar como o segundo lugar.
- Herrera, alguém já lhe disse que você é um teimoso?
Autor(a): eduardah
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- Sabe onde me encontrar - Poncho lembrou.- E você sabe como acabar com o sofrimento.Poncho não respondeu. Simplesmente embarcou, com sofrimento e tudo.Enquanto ele apertava o cinto, o telefone tocava em sua casa Anahí ouvia o chamado monótono. A razão ordenava que desligasse, mas não o fazia. Não queria interromper a liga&cced ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 4
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dessaya Postado em 21/01/2015 - 19:42:52
u.u
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franmarmentini Postado em 21/01/2015 - 13:57:34
:)
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franmarmentini Postado em 25/08/2014 - 16:34:36
consegui ler tudo ;)
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franmarmentini Postado em 25/08/2014 - 07:53:46
nossa...fiquei muito feliz por vc repostar denovo :) ja vou começar a ler por aki os primeiros capitulos ;)