Fanfics Brasil - 5 Lição de Ternura AyA Finalizada

Fanfic: Lição de Ternura AyA Finalizada


Capítulo: 5

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Anahí a ignorou e tentou se levantar. Uma dor forte percorreu sua perna, provocando um gemido involuntário. Apoiando-se com mais força nas mãos, fez nova tentativa, mas também em vão. O sofá era baixo demais. Precisava de ajuda e olhou para Mayte, que entendeu a mensagem silenciosa e a amparou pelo braço. Então lhe passou a bengala recostada ao lado do móvel.

- Obrigada pelo convite... - disse ofegante, devido ao esforço, e sem encará-lo, consciente do tipo de reação que veria na fisionomia dele. Primeiro haveria surpresa, depois um lampejo de culpa. A isso se seguiria um silêncio desconcertante que nenhum dos dois saberia como romper. Como desejava estar a mil quilômetros dali! - Boa noite, sr. Herrera - ela se despediu, agora mais do que nunca ansiando pelo refúgio do seu lar.

Atônito, Alfonso não disse nada. Seguiu-a com o olhar, enquanto o ruído da bengala ecoava pelo assoalho e por sua mente. De repente, num impulso, correu em seu encalço e a segurou pelo braço. Desta vez seus olhares se cruzaram.

- Ouça, eu... Eu sinto muito. Não fazia idéia... Quero dizer, se soubesse, certamente não teria... - ele hesitou e suspirou. - Sinto muito.

- Não há necessidade de se desculpar - Anahí argumentou, sentindo embaraço pelos dois. Por algum motivo inexplicável, queria aliviar o dele mais do que o próprio. Enfim, acrescentou com voz e olhar brandos: - Boa noite outra vez. - Então forçou uma postura empertigada e se afastou mancando. Mayte a seguiu em silêncio.

Alfonso continuou a acompanhá-la com o olhar, lutando contra a vontade de ir atrás dela de novo... E fazer o quê? Desculpar-se novamente e piorar a situação? Aquele dia infeliz teve o final apropriado, pensou com ironia.

- Está disposta a falar? - Mayte perguntou, em meio ao ruído da água borbulhante.

Anahí voltou o olhar indolente para a amiga. A água morna da hidromassagem relaxaria pouco a pouco seu corpo dolorido.

- Falar sobre o quê?


 


- Sabe muito bem sobre o que... Ou talvez seja mais apropriado dizer sobre quem. - Mayte também estava imersa na banheira. - Respeitei seu silêncio durante todo caminho de volta para casa, mas agora quero algumas respostas.

- Que Respostas? - apesar do tom indiferente, a pulsação de Anahí acelerava.

- Respostas a perguntas como "o que aconteceu esta noite?" ou "pq tivemos de ir embora com tanta pressa?"

- Olhe só quem fala em pressa - Anahí ironizou.

- Não mude de assunto. O que aconteceu lá na festa?

- Você pediu e ganhou um autógrafo de Alfonso Herrera.

- Acho que aconteceu muito mais do que isso. E pode começar me contando como sabia que aquele homem era Alfonso Herrera.

- Elementar, minha cara Perroni, eu o vi na televisão hoje. Ele e os companheiros do trio Infernal.

- Infernal? Ora, ora, estou impressionada com esse seu conhecimento de um assunto que pensei que não lhe interessava. Mas não tente me distrair. Vamos, conte. O que você e Alfonso Herrera estavam conversando?

- O que dois convidados numa festa normalmente conversam.

- Anahí!

As duas se encararam, uma mais teimosa que a outra. Foi Anahí quem finalmente cedeu: 
- Muito bem, você venceu. Ele me convidou para dançar - ela limitou-se a dizer, omitindo a outra proposta. De repente imaginou a quantas mulheres o convite tinha sido feito. E quantas haviam aceitado.

- E o que respondeu?

- O que acha? - o tom soou mais ríspido do que ela pretendia. - Desculpe-me. 

Mayte suspirou.
- Anahí, por que foge de todo homem que demonstra interesse por você?

- Já lhe disse isso mil vezes. Fujo deles antes que fujam de mim.

- Não está sendo justa com você mesma nem com eles. Aposto que, se...

- Talvez sim, talvez não. - Lembranças que jamais partilhara com ninguém, nem mesmo com a melhor amiga, voltaram a sua mente.

- Mas...


- Por favor, May, vamos esquecer o assunto?
Mayte hesitou, entretanto acabou cedendo, afundando mais na água tépida e espumante.


 


- Como vai sua sobrinha? - Anahí perguntou para aliviar o clima tenso?

- Absolutamente linda. Está com três semanas e tem o rosto mais bochechudo que já vi, sem falar nos cabelos ruivos. É uma graça!

- Você adoraria ter um bebê, não?

- Se gostaria! O problema é arrumar um homem que queira ser o pai. E eu não tenho mais muito tempo para esperar. Estou com trinta e sete anos, amiga.

Embora seu caso fosse diferente, há muito Anahí se conformara em não ter filhos. Mesmo que estivesse casada, sua saúde representaria um fator de complicação. Talvez por isso dedicava-se com tanto carinho a crianças artríticas.

De repente, Mayte soltou uma gargalhada.
- Que dupla formamos! Eu procuro um homem enquanto você os rejeita.

- Eu não diria exatamente isso. - A imagem de um par de olhos encantadores lhe vieram inadvertidamente à lembrança. - Por que os três são chamados de Infernais?

- Os repórteres esportivos que começaram com isso. Os três se entendem bem em campo e são super rápidos. Quando um lança a bola para o outro é ponto na certa. - Mayte se interrompeu, rindo. - Pelo seu súbito interesse por futebol, devo concluir que vai assistir à final do campeonato, no domingo.

- Dificilmente. E se eu não sair logo desta banheira vou encolher.

Embora o calor tivesse abrandado a dor, a perna de Any continuava rígida, dificultando a saída da banheira. A amiga a ajudou.
- Prometa - Mayte pediu - que não tentará usar a hidromassagem sozinha enquanto estiver com problemas na perna. - Antes que Anahí objetasse, acrescentou - Sei que ofendo seu senso de independência, mas me dê esse prazer. Está bem?

- May, posso perfeitamente...

- Prometa.

- Não é...

- Passarei aqui todos os dias, no final da tarde, para ajudá-la, está bem?

- Está bem - Anahí aquiesceu, embora sem esconder que o fazia a contragosto.

- Prometa.

- Certo, certo, eu prometo!

- Ótimo. Agora me passe a toalha e me deixe ir para casa.


 


Quinze minutos depois, Anahí foi se deitar. Cansada como estava esperava adormecer logo. Contudo, por mais que tentasse, não conseguia conciliar o sono, revendo na mente os acontecimentos daquela noite.

O escritório estava um caos.
Como uma secretária, uma amiga, um repórter, duas mães, uma assistente social e três crianças podiam fazer tanto barulho? Até então Anahí não havia se dado conta de quanto sua sala era pequena. Onde ficariam os jogadores de futebol quando chegassem? A propósito, estavam atrasados.

A Viagens e Excursões Puente dividia um casarão antigo com uma companhia de seguros e uma ceramista. A mobília era de segunda mão, sendo que as cadeiras haviam recebido um novo estofamento por conta do pai de May. As paredes exibiam uma combinação eclética de quadros: um Van Gogh multicolorido com motivo de girassóis em meio a uma variedade de pôsteres mostrando pontos turísticos de San Francisco, o Caribe e Nova York. À parte estavam as menções honrosas que Anahí tinha recebido pelo trabalho voluntário desenvolvido junto à Fundação de Pesquisas, expostas por insistência da amiga.

Sentada à sua mesa, ela observou a algazarra das crianças. Havia uma garotinha de dois a três anos de idade, um menino com aproximadamente cinco e outro de sete a oito. Este, Jason Holland, era negro e órfão, vivendo atualmente sob a tutela do Estado. Em pior estado que as outras crianças, movia-se com lentidão e seu olhar triste e cansado.

Anahí imaginou se carregava a mesma expressão depois de lutar quase dez anos contra a própria doença.

Mayte terminou de contar uma história às crianças e então se levantou do chão e se juntou a Anahí.
- Eles estão atrasados, não?

- Alguns minutos, - Anahí confirmou.

- Sabe quem vem?

- Não. Avery Kerr disse apenas que mandaria alguns jogadores de futebol.


 


- Jason está muito ansioso para conhecer pessoalmente um jogador de rúgbi. Acredita que aquela criança linda não tem lar? - Mayte comentou indignada. Então mudou de assunto com a impaciência que lhe era característica. - Como se sente?

- Bem Anahí respondeu, embora sentisse o corpo dolorido.

- O quadril dói?

- Um pouco.

- Tem certeza?

Anahí apenas deu de ombro, provocando um suspiro na amiga.
- Você é rainha da minimização, sabia?

- Minha chefe lhe contou sobre as flores? - Susan interrompeu a conversa, alarmando Anahí.

- Susan, por que não oferece café às pessoas?

- Que flores? - Mayte percebeu a manobra da amiga.

- Ela não lhe contou sobre as rosas?

- Susan, o café...

- Que rosas? - Mayte arregalava os olhos.

- Alguém quer café? - Anahí falou bem alto para que todos presentes ouvissem.
A oferta foi aceita por unanimidade.

- Susan, você poderia...

- Alfonso Herrera mandou as flores - a secretária continuou, ignorando os pedidos da chefe. - Rosas brancas maravilhosas.

- Susan, poderia servir café aos nossos convidados? - O tom de Anahí já era exasperado.

- Pode acreditar nisso? Alfonso Herrera enviou flores a Anahí! 

Anahí se recusava a encarar Mayte, mas sentia o olhar penetrante da amiga. Embaraçada, ergueu-se resmungando: 
- Eu mesma vou servir café aos convidados antes que eu mate alguém.

Mayte e Susan, porém, a seguiram até a pequena cozinha.
- Deixe que eu levo isso. - A secretária se ofereceu para carregar a bandeja, arrependida por ter falado demais.

Mayte permaneceu na cozinha, enquanto Anahí se ocupava em secar a pia.
- Por que não me contou?

"Por que por algum motivo que não compreendo eu queria apreciar o perfume das flores sozinha", Anahí desejava dizer, Em vez disso respondeu: 
- Por que não significa nada. Ele quis apenas se desculpar por uma situação embaraçosa que criou. E ponto final.

- Lá vai você minimizando...

- E você maximizando.


 


- Anahí, quando deixará de pensar em si mesma como uma deficiente?

- Quando deixar de ser uma - ela não vacilou em retrucar.

- Eles chegaram - Susan voltou para anunciar, mal contendo o entusiasmo.

- Eles chegaram - Anahí repetiu à amiga.

- Continuaremos esta conversa mais tarde - Mayte insistiu.

- Está certo. No ano que vem. -Apoiando-se na bengala, Anahí foi para a sala.

Ela acabava de se congratular pela facilidade com que se livrara do assunto Alfonso Herrera, quando se deparou com um par de familiares olhos castanho esverdeados.

Por um instante, Anahí imaginou que sonhava e a qualquer momento alguém iria acordá-la.

Sinto muito pelo atraso - Alfonso enfim falou. O tom era terno, como se os dois estivessem a sós na sala. Como se os dois se conhecessem não por alguns minutos embaraçosos, mas desde sempre. Então seus lábios se curvaram num sorriso maroto. - Dormi demais.

O sorriso irresistível levaria qualquer mulher a perdoá-lo pelo mais sério deslize.
- Está tudo bem - Anahí respondeu. - agradecemos por você gentilmente nos ceder seu tempo, você e... - ela olhou para os dois que acompanhavam Alfonso. Sinto muito, mas receio que só me lembre de vocês como os Infernais.

Os homens sorriram.
- Estes são Christopher Uckermann e Christian Chavez. - Alfonso fez as apresentações. - Rapazes, esta é Anahí Puente.

Houve um momento de hesitação, em que os dois jogadores pareceram em dúvida quanto a iniciativa e Anahí aliviou o embaraço. Transferindo a bengala para a mão esquerda, estendeu a direita.
- Muito prazer em conhecê-los, Christopher... Christian.

- E você é Mayte, certo? - Alfonso perguntou.

- Você se lembrou! - Mayte confirmou, embevecida. - Christopher... Christian, muito prazer.

- Ele nunca se esquece de um rosto bonito - Christian comentou, fitando Mayte com evidente interesse.

- Cuidado com esse aí, Mayte - Christopher brincou. – Nós só o soltamos em noites sem lua.


 


- Mesmo assim - Alfonso completou -, apenas acompanhado e por alguns minutos.

Todos riram, e Alfonso voltou à atenção novamente para Anahí.
- Bem... - Ela observou, procurando ordenar os pensamentos.

- Que tal conhecerem as crianças? - Ao se virar, esbarrou na secretária. Oh, esta é Susan Lailbrook.

- Susan? - Anahí chamou, fazendo-a cair em si, atrapalhada.

- E... Eu... Desculpem-me. Adorei as rosas. - Apertou a mão de Alfonso e, ao dar-se conta do que havia dito, corou. - Quer dizer, sei que não as mandou para mim, mas vieram aqui para o escritório e... Eram tão bonitas... Pena que Anahí as levou para casa... Oh, meu Deus, não estou falando coisa com coisa, não é?

Todos exceto Anahí, achavam graça da tagarelice de Susan.
- Que bom que gostou delas - Alfonso comentou com a secretária e, sentindo o embaraço de sua chefe, sugeriu com tato: - Que tal conhecermos as crianças agora?

Mayte deteve a amiga apenas o suficiente para lhe sussurrar no ouvido: 
- Quer, por favor, sorrir?

- Sorrirei - Anahí respondeu no mesmo tom -...Assim que esganar Susan.

No decorrer da sessão de fotos, Anahí se apanhou pensando que a idéia desse tipo de promoção lhe parecera boa até deparar-se com os jogadores enviados por Avery Kerr. Não que Alfonso Herrera não tivesse jeito com as crianças, muito pelo contrário. Ele e os amigos sabiam cativa-las.

O problema era Alfonso Herrera ter surgido de novo em sua vida, estar em seu escritório, agindo como se estivesse em casa. E cada vez que olhava para ele flagrava-o observando-a.

O problema era que ela não sabia qual o problema!

Contudo, por mais tentasse, não conseguia tirar os olhos dele. Tratava-se, sem dúvida, de um homem que jamais passaria desapercebido com aquele porte atlético. Sem falar nos olhos esverdeados realçados pela tonalidade castanha dos cabelos.

Mais uma vez flagrou-o a encará-la. Além disso, percebeu que o quadril começava a doer de tanto ficar em pé e, afastando alguns papéis, sentou-se na borda da mesa. Mal conteve uma careta de dor.


 


"Ela sofre de artrite", Poncho pensou.
Era a única resposta que fazia sentido. Explicava o andar manco e as mãos marcadas por cicatrizes cirúrgicas, além da participação ativa naquela Fundação.

"Também tem pernas lindas", ele reparou percorrendo o olhar por toda sua extensão. Tratava-se de uma mulher atraente e... "Com dor". Esta se revelava no leve tremor ao redor dos lábios, só perceptível a alguém familiarizado com dores lancinantes.
Como atleta profissional, havia mais de uma vez jogado com ferimentos que deixariam a maioria das pessoas de cama. Ele acrescentou admiração à lista de emoções inexplicavelmente evocadas por Anahí Giovanna Puente.

- Sr. Herrera, posso tirar outra foto de vocês três com Jason? -O repórter fotográfico pediu. As duas crianças menores haviam se cansado e ido embora.

- Claro que sim - Poncho concordou.

- Poderia ser a última? - Mayte sugeriu. -Jason parece cansado.

- E se eu segurá-lo para a próxima? - Poncho propôs.

- Boa idéia. Depois um refrigerante cairia bem, não, Jason?

O garotinho concordou entusiasticamente com a cabeça.

Com cuidado, Poncho pegou o menino no colo e parou no local indicado pelo fotógrafo. Tomado por timidez na presença do jogador que tanto admirava, Jason escondeu o rosto no peito dele.
- Jason a assistente social falou - conte qual é o seu time favorito.

Não houve resposta.
- Qual é seu time favorito? - Chris insistiu, tentando enxergar o rostinho enfiado no pulôver do companheiro de equipe.

Continuaram sem resposta.
- Eu sei - Christian arriscou. - É o cowboys.

Jason arriscou espiar de seu esconderijo.
- Eles ganharam o campeonato - ele comentou.

- Ganharam sim - Christian confirmou. - É um time com muitos torcedores.

- Não sou um deles - o garotinho refutou, esquecendo-se da timidez.

- Não? Então para quem torce? - Poncho instigou.

- Para os Marauders.

- Ah! Esse menino tem bom gosto! - Chris brincou.

- Serei um Marauder quando crescer - Jason anunciou com orgulho.


 


Houve um momento de silêncio compungido, pois cada adulto presente sabia que jogador de futebol certamente era a última coisa que aquele garoto poderia se tornar quando crescesse.
- É mesmo? - Christian quebrou o silêncio. - O que acha de arranjarmos uma bola da federação?

- Uma bola de verdade? - O menino arregalava os olhos castanhos.

- Naturalmente - o jogador confirmou. - E tem mais: posso pedir a todos os membros do time que a autografem para você.

- Fará isso? - Jason mal cabia em si de contentamento.

Anahí sorria enternecida com o simples prazer da criança quando percebeu que Alfonso a fitava, como se de alguma forma soubesse exatamente o que pensava e sentia. Instante depois, tirada a última fotografia, viu-o entregar o menino a Christian e se aproximar dela.

O coração disparou, mas para seu alívio a assistente social, Sra. Glover, logo se juntou a eles.
- Ele falará sobre isso o dia todo - ela comentou.

- É um menino cativante - Alfonso observou - Está sob cuidados do Estado, não? 

- Sim, seus pais morreram num acidente automobilístico há três anos. Não tem nenhum outro parente.

- Quais são as chances de ser adotado?

- Poucas. Em primeiro lugar, devido à idade; a maioria dos casais prefere bebê. Em segundo, por causa do problema de saúde, que faz dele um verdadeiro deficiente em termos de adoção.

Deficiente... A palavra cortou o coração de Anahí com toda sua brutal realidade. Ela sabia exatamente como era sentir-se um deficiente. Felizmente o pequeno Jason ainda não tinha consciência disso. Tomara que demorasse muito até atingi-la.

Mais uma vez, Anahí reparou que Alfonso a observava.
De repente, ela sentiu como se ele lhe desvendasse os mais íntimos pensamentos, o que a levou a uma posição defensiva. Mais do que depressa, escondeu a vulnerabilidade atrás de muros altos que erguia com a crença de que não se importava com a solidão e continuaria assim pelo resto da vida.


 


- Susan, por que não apanha um refrigerante para Jason? - Anahí sugeriu, deslizando da borda da mesa ao mesmo tempo em que se escondia por trás de uma máscara de indiferença. - Verifique também se alguém mais aceita refrigerante ou café.

A secretária seguiu as instruções, e em menos de meia hora todos começaram a sair. O repórter foi o primeiro, seguido pela Sra. Glover com Susan, que havia passado a manhã lançando olhares de adoração para o ídolo, e com muita relutância acatou a ordem de ir almoçar. Mesmo assim, só depois de conseguir um autógrafo.
Mayte também se despediu, embora parecesse intrigada com o fato de os três jogadores não revelarem a menor pressa em partir.

- Comporte-se - ela cochichou com malícia enquanto a amiga a acompanhava até a porta.

Assim Anahí ficou a sós com três homens.

- Eu... Bem, não sei como lhes agradecer...Em nome da Fundação de Pesquisas... Por terem contribuído com seu tempo dessa forma...

Os jogadores concordaram em uníssono que o prazer era deles.
- Espero que a semana que planeja para os garotos seja realmente um sucesso - declarou Chris. 

- Obrigada.

- Onde será? - Christian indagou.

- Se tudo der certo, em El Paso - Anahí respondeu, com um indisfarçável brilho de satisfação no olhar. - Há um hotel fazenda lá, de onde espero uma carta de confirmação da reserva a qualquer momento. Eles atendem especialmente a crianças deficientes.

- Se precisar de mais alguma coisa de nós...- Christian ofereceu.

- Obrigada. É muita generosidade sua. - Anahí se conscientizou que evitava olhar para Alfonso. Também se deu conta de que ele não dizia nada. Além disso, queria encontrar um meio de lhe agradecer pelas rosas, porém, só desejava que eles fossem embora. - Mais uma vez, muito obrigada a vocês todos.

Os jogadores já se dirigiam para a porta quando o telefone tocou.
- Com licença - Anahí se desculpou, atravessando a sala com a habitual dificuldade.

- Tchau! - Christopher e Christian se despediram. - Foi um prazer conhecê-la - um deles acrescentou.


 


Anahí se virou p/ acenar antes de atender ao telefone. Sentia alívio por vê-los partir. Na verdade, sentia alívio por Alfonso partir. Aquele homem lhe tirava a respiração.
A ligação era de uma mulher interessada numa viagem à Escócia com o marido que vivia preso a uma cadeira de rodas. Enquanto dava as informações, Anahí notou que Alfonso confabulava com os amigos, que então seguiram sem ele. Seus olhares se cruzaram. Breve, porém significativamente. Em seguida, Herrera se pôs a caminhar pelo escritório.

A pulsação de Anahí se acelerou.

- Como? - ela voltou a falar ao telefone. - Sim, a viagem aérea é muito confortável.

"Por que ele ficou?"

Como as mãos enfiadas nos bolsos da calça, Alfonso examinava as menções honrosas penduradas na parede.
- A Inglaterra é um local adorável para visitar - Anahí continuou, distraída, enquanto o acompanhava com o olhar. - Escócia! Quero dizer, a Escócia é um lugar adorável para visitar.

"O que ele está fazendo? Por que não vai embora?" 

- Eu lhe proponho o seguinte, Sra. Hecker: prepararei um prospecto e o enviarei à senhora, se me der seu endereço. - Enquanto apanhava uma caneta, ela fitou de relance.

"Meu Deus! Ele está lendo todas as menções?"

- Muito bem, entrarei em contato com a senhora. E obrigada.

Alfonso se virou, então, e se aproximou da mesa como se tivesse todo tempo do mundo.

- Estou impressionado - comentou, indicando com a cabeça a parede com as menções.

- Não fique. Adoro trabalhar para a fundação, e eles insistem em me dar... Isso. -Ela apontou para os documentos emoldurados.

- Continuo impressionado, apesar de sua modéstia. - O sorriso de Alfonso morreu ao indagar sem rodeios: - Há quanto tempo sofre de artrite?

- Dez anos.

- Nossa, você era tão jovem!

- Não tanto quanto Jason, por exemplo. E centenas de outros como ele.

- Quantos anos você tinha?


 


Anahí deduziu que aquele homem era do tipo que nunca fazia rodeios. Sem dúvida, alguém que se aproximava de uma mulher estranha e a convidava para fugirem juntos não se prestava a subterfúgios. Ela ainda desejava que aquela noite de sexta-feira não tivesse acontecido. Muito embora, no fundo de sua alma, a atenção dele a lisonjeasse. Se tivesse contado a Alfonso Herrera que não podia dançar, ele teria se contentado em conversar apenas.

Só depois que ele se foi, Anahí se deu conta de não ter agradecido pelas flores. Havia dito que eram desnecessárias e lindas, contudo não agradecera.

O telefone tocou na noite de terça-feira quando Anahí jantava.
- Alô?

- Anahí?

- Sim?

- É Alfonso Herrera. Como vai?

- Estou bem, obrigada. - Ela sentiu o coração acelerar-se de repente. E você?

- Muito bem. Estou ligando por causa da bola que prometemos a Jason Holland. Precisamos do endereço para onde mandá-la.

Uma inesperada sensação de desapontamento tomou conta dela.
- Na verdade, não sei. Mas posso averiguar...

- Que tal eu mandá-la a você para que providencie a entrega ao garoto?

- Está bem.

- Levará algum tempo para colher a assinatura de todos os rapazes, mas enviarei a bola assim que puder.

- Jason ficará radiante. É muita generosidade sua...

- É um prazer - Alfonso a interrompeu, aparentemente tão embaraçado com o elogio quanto Anahí em relação às menções honrosas. Houve uma breve hesitação antes de a conversa tomar outro rumo. - Teve um bom dia?

- Não foi ruim. E o seu?

- Pura benção divina. Dormi até as onze, assisti a um filme, fiz ginástica no salão do hotel e depois fui à sauna. Agora pretendo comer lagosta suficiente para afundar um navio.

- Vocês, jogadores de futebol, certamente levam uma vida muito dura. Não deviam estar jogando ou coisa parecida?

- Realmente não entende nada de futebol, hein?

- Eu disse que não. Por quê?

- A temporada acabou. Estamos de folga até o reinício dos treinos no verão.

- Ah... Então por isso entregou-se à preguiça o dia todo.


 


- Exatamente. - Então, sem perda de tempo, ele acrescentou: - Jante comigo amanhã à noite. - Mais uma vez, recorria ao elemento surpresa. - Antes que responda, deixe-me lembrá-la de que sou uma celebridade.

Anahí riu com uma naturalidade que sequer teve tempo de questionar. Aliás, o riso parecia uma constante na companhia daquele homem.
- E um grande amante, muito rico e dono da Ponte de Brooklyn, certo?

- Acertou. Jantará comigo então?

O sorriso desapareceu dos lábios de Anahí. Nada havia mudado. Conhecia a razão do convite. Ele já tinha deixado bem claro no dia anterior. Como naquela ocasião, ela sentiu a mesma necessidade ditada pelo orgulho de recusá-lo.

- Obrigada, mas infelizmente não posso.

- Tem certeza?

- Sim.

Alfonso deixou o assunto morrer com tanta facilidade que apenas confirmou a suspeita de Anahí. A sensação de desapontamento voltou a assediá-la.

Nos minutos seguintes, conversaram sobre banalidades. A certa altura, ela disse: 
- Eu... Bem, não lhe agradeci pelas flores. Olhou para a mesa onde os botões, já completamente abertos, continuavam viçosos e perfumados.

- Não há necessidade de me agradecer.

- Mesmo assim, obrigada.

- Nesse caso, considere-me agradecido...Preciso desligar agora. Tem alguém batendo a minha porta.

- Sim, claro. Então me mande a bola.

- Combinado. Tchau.

- Tchau.

Ela afastava o fone do ouvido quando ouviu chamá-la.

- Anahí?

- Sim?

- Eu menti.

- Mentiu?

- Sim. Não sou dono da Ponte de Brooklyn.

A ligação foi interrompida antes que ela pudesse retrucar. Quem será que havia batido à porta dele? Uma mulher? Teriam partilhado, entre outras coisas, lagosta suficiente para afundar um navio?

****
- Está pronto? - Christian foi logo perguntando quando Poncho abriu a porta do quarto de hotel.

- Sim. Só vou apanhar o paletó.

- Hum, mal posso esperar para comer aquelas lagostas. Dá água na boca só de pensar naqueles pedaços suculentos...

- Ei, Christian, assim você faz lagosta parecer melhor que sexo.


 


O homem de cabeça colorida abriu um largo sorriso.
- É o máximo de prazer que provavelmente terá esta noite.

- Calma, só porque você é feio demais para conquistar uma garota, não pense que somos todos iguais.

Os dois continuaram a trocar insultos bem-humorados a caminho do elevador.
- Não se esqueça da festa na sexta-feira - disse Christian. - Vai levar alguém?

Alfonso não hesitou em responder.
- Sim - E a imagem de uma loira de olhos azuis lhe veio à mente. - Só que ela não sabe ainda.

O companheiro deu uma sonora gargalhada.
- Herrera, alguém já lhe disse que é convencido demais?

- Nunca, meu amigo - Poncho retrucou com carregado sotaque irlandês, enquanto saíam do elevador. - Vamos às lagostas.

O telefone tocou na noite de quarta-feira justamente quando Anahí saía do banho.

- Alô?

- Anahí? Espero não ter telefonado muito tarde. Só agora reparei que já passa das dez e meia.

Por mais que ela tentasse negar, o telefonema a deixou exultante.
- Não, acabo de sair do banho. - A pausa subseqüente fez com ela se arrependesse pela resposta.

- Não está... Molhada ou coisa parecida, está?

- Não, não!

- Posso ligar mais tarde, se...

- Não, não! Estou vestida... Quero dizer, não estou molhada.

- Em todo caso, não a deterei por muito tempo. Sei que é tarde. Só gostaria de saber se está livre sexta à noite. E não custa lembrar - ele acrescentou mais do que depressa - que sou uma celebridade...

-...E um grande amante e muito rico, - ambos concluíram juntos e caíram na risada.

O riso de Anahí, porém, logo se desvaneceu. Por que sorria quando não tinha a menor razão para isso? Por que aquele homem não a deixava em paz? Por que insistia em invadir seu mundo tristonho e solitário?

- Então, aceita?

Ela continuou relutante, embora não soubesse por quê, pois não tinha a menor intenção de aceitar o convite.

Alfonso interpretou mal o silêncio.
- Eu a apanharei por volta das...

- Espere! Não, eu...



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Autor(a): eduardah

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  Por mais que tentasse, ele não compreendia por que ela se recusava a aceitar um simples convite para sair.- Pense no assunto, está bem?- Não creio que...- Por favor. Conversaremos amanhã. Agora preciso me apressar. - Desta vez ele mentia. Queria apenas desligar logo o telefone. - Boa noite.- Boa noite... – Atordoada, Anahí afa ...


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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 4



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  • dessaya Postado em 21/01/2015 - 19:42:52

    u.u

  • franmarmentini Postado em 21/01/2015 - 13:57:34

    :)

  • franmarmentini Postado em 25/08/2014 - 16:34:36

    consegui ler tudo ;)

  • franmarmentini Postado em 25/08/2014 - 07:53:46

    nossa...fiquei muito feliz por vc repostar denovo :) ja vou começar a ler por aki os primeiros capitulos ;)


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