Fanfic: Efeito Borboleta
No dia seguinte, mesma rotina. Ela evitou passar pelo trajeto matinal de Alfonso, evitando se bater com ele, e agradeceu a Deus quando ele foi embora. Voltou ao banheiro com uma careta: Estava toda marcada. Marcas de mordida, de mão. Estava dolorida, seus lábios estavam inchados, a curvatura da cintura tinha marcas roxas, os seios coloridos de marcas de mordidas e chupão. Ótimo. Ela se vestiu e foi pro calvário da cozinha, tentando pôr as coisas em ordem. Alfonso chegou as cinco. Anahí serviu o jantar (risoto de frango) e se sentou pra comer. Ele comeu duas garfadas, então fez uma careta, limpando a boca com o guardanapo.
Alfonso: Isso está uma porcaria. – Condenou, se levantando.
Anahí: Me diga algo que eu já não saiba. – Desprezou, comendo sua parte corajosamente.
À noite, nem uma palavra. Ela se vestiu, tomou os remédios e foi dormir. No dia seguinte... Alfonso não conseguia trabalhar. Tinha os olhos distantes, aéreo, o que não era do fetil dele.
Secretaria: Senhor Herrera? – Chamou, tímida.
Alfonso: Han? Faça o que eu mandei ser feito, e depois me traga os resultados. – Disse, dando as costas e entrando em seu escritório.
Alfonso se trancou em seu escritório, precisando pensar. Não conseguia se focar em nada. Cada vez que olhava Anahí, o que se lembrava era dos gemidos dela, o corpo submisso debaixo do seu... Ele sacudiu a cabeça coçando a orelha.
Ian: Quando você vai resolver me contar o que aconteceu pra você estar nesse estado? - Perguntou, sentado na mesa a frente de Alfonso. Alfonso se assustou. Estava tão aéreo que Ian entrara, se sentara e ele não vira. Christopher observava, achando graça, amparado na cadeira.
Alfonso: Estou com um problema. – Os dois assentiram. Alfonso assentiu mentalmente. Era disso precisava agora: Amigos.
E ele contou, de modo resumido, o que acontecera. Os dois esperaram, aguardando pelo tal problema, e Alfonso parou, esperando um conselho.
Ian: Então...?
Alfonso: Fazem dois dias. Não consigo pensar em outra coisa. – Admitiu, como se fosse uma derrota.
Christopher: É normal. Senti a mesma coisa quando transei com Madison pela primeira vez. Durante as primeiras semanas era tudo o que eu conseguia pensar. – Admitiu.
Alfonso: Você estava apaixonado por ela. Eu odeio Anahí. – Ressaltou – Não é porque eu enfiei o pau nela que agora são tudo flores e corações. – Completou – Não vai acontecer outra vez. – Disse, e Ian riu, disfarçando com uma tosse.
Ian: Foi bom? – Perguntou, e Alfonso ergueu as sobrancelhas – A transa?
Alfonso: Uma das melhores transas da minha vida. – Admitiu, a contra gosto. A lembrança do momento do orgasmo que parecia que não ia acabar, lhe roubando os sentidos o atormentava – Se não a melhor. – Completou. Ian assoviou. – Não sei o que fazer.
Em casa, Anahí aos poucos recuperava sua paz mental. Era adulta, casada, tivera uma relação sexual consensual, e foi bom. Não ia se repetir, e a vida ia seguir. Estava em seu quarto, lendo, quando ouviu um barulho vindo da sala. De repente todo seu corpo estava em alerta. Estava ali tempo demais pra saber que, hoje sendo a folga de Gail, não haveria ninguém no apartamento. Ela já ficara sozinha ali inúmeras vezes. Os seguranças não entravam ali. Ela deslizou da cama em silencio, se aproximando da porta, e ouviu passos no soalho. Tinha alguém ali. Voltou correndo, apanhando o celular de emergência e correu pro seu closet, o mais silenciosamente possível, fechando e trancando por dentro. Discou o único numero salvo ali. Chamou duas vezes até que...
Alfonso: Herrera. – Atendeu, sistemático.
Anahí: Tem alguém aqui dentro. – Sussurrou, se aproximando de onde os casacos ficavam pra abafar sua voz.
Alfonso: Anahí? – Perguntou, incrédulo. Porque diabos ela estava ligando pra ele agora?
Anahí: Você me escutou? – Perguntou, se irritando. Era a primeira conversa direta que os dois tinham depois da transa.
Alfonso: Defina “alguém ai”. – Disse, sem paciência.
Anahí: Gail está de folga. – Alfonso sabia que a folga de Gail significava que o apartamento ficava deserto – E tem alguém no apartamento. Se bateu com algo na cozinha, e eu posso ouvir os passos. – Resumiu.
Alfonso: É impossível um ladrão romper a segurança desse prédio. Não seja neurótica. – Dispensou.
Anahí: Tem alguém aqui, seu filho da puta. – Grunhiu – Tem alguém e eu não posso sair! – Grasnou, em pânico, e controlou a voz.
Alfonso: Não vou te dar a senha. – Avisou, de primeira.
Anahí: Foda-se a sua senha, só resolva isso. – Estava, resumidamente, apavorada. – Lembre da porra do contrato. Se me acontecer alguma coisa, o prejuízo é seu. – Lembrou, e desligou o telefone.
Alfonso olhou o celular por um instante. Anahí nunca havia ligado antes. Não escolheria agora, com essa reviravolta toda, se não fosse algo. Ele suspirou, discando alguns números.
Alfonso: Barker? – Perguntou, quando o chefe de segurança do prédio atendeu – Herrera. Escute, preciso que cheque quem deu entrada no prédio hoje, e mande alguém até minha cobertura. Devia estar vazio, mas minha esposa está lá, ouviu um barulho, se assustou e acha que alguém entrou no apartamento. – Informou – Provavelmente neurose dela, mas cheque pra mim. – E desligou.
Anahí ficou bem meia hora escondida no closet. Aquele filho da puta não ia mandar ninguém. Ia deixar um marginal matá-la, e depois fingir luto por ela. O barulho parara totalmente. Anahí se levantou, vestindo um short curtinho de malha preta e uma camiseta branca, e saiu aos poucos do closet, com o celular agarrado na mão, o numero de Alfonso pronto pra ser chamado. Andou pela ponta dos pés pelo corredor, o pânico em cada pedaço de pele. Nada nos quarto de hospedes, nem no de Alfonso. Ela continuou, chegando a grande sala. Ninguém. Ela ouvira as pegadas, não era louca. Então os passos voltaram, altos: Alguém vinha da cozinha. Ela congelou, e ia bater em retaguarda de volta pro closet, quando o corpo feminino se revelou do outro lado da sala. As duas gritaram e Anahí levou a mão ao peito, sentindo o coração martelar. Um sentimento de ódio subiu pelo corpo de Anahí ao se recuperar, vendo a outra do outro lado da sala, e ela abriu seu sorriso mais maldoso.
Anahí: Ora, ora... – Disse, cruzando os braços – Little J. – Depreciou, maldosa. Jennifer rosnou, ainda tremula do susto, encarando a rival.
Nada de bom podia sair daquele reencontro.
Jennifer: Que diabo você está fazendo aqui? – Perguntou, pondo a mão no peito. Anahí ergueu as sobrancelhas.
Anahí: Querida... Eu moro aqui. – Ela ergueu a mão esquerda, balançando os dedos sutilmente, fazendo a aliança de ouro branco reluzir. O sorriso de Jennifer se fechou. Anahí se sentou em uma poltrona, a típica pose de dona da casa – Por favor, sinta-se a vontade.
Jennifer: Você continua ridícula. – Murmurou, olhando a outra.
Anahí: E você continua apaixonada por ele. – Rebateu, sorrindo, serena. A outra grunhiu. – E, ao tirar pelo modo como você estava esperando por ele, um homem casado, vestida desse jeito... – Especulou – Oh, meu Deus.
Jennifer usava um short do tamanho do de Anahí e uma blusinha de alças, roxa. À vontade demais. Tinha até uma taça de vinho na mão.
Jennifer: Se você contar a Grace... Se disser uma palavra... – Rosnou, ameaçadoramente. Anahí olhou a outra. Tinha os cabelos ondulados, castanhos na raiz e puxados pro loiro mel na ponta.
Anahí: Longe de mim. Adoro minha sogra. – Disse, irônica – Mas me diga, por favor, eu preciso entender. Uma família tão conservadora... Como vocês tiveram coragem?
Jennifer: Somos adultos. – Rebateu, dura.
Anahí: Ele usou você. – Disse, venenosa, se inclinando pra frente, sorrindo – Usou como fantoche. Transou com você quando bem quis, bem entendeu, e depois te descartou. – Jennifer rosnou.
Jennifer: Cale a boca, Anahí. – Ordenou, raivosa.
Anahí: Você o amou esse tempo inteiro, foi contra os seus princípios por ele. Aposto que estava sempre lá, pronta pra ser um ombro amigo, ou um corpo a disposição. – Continuou, maldosa – E no final ele te descarta como uma luva usada e se casa comigo. Deve ser duro. – Disse, sorrindo.
Jennifer: Casar com você? – Anahí esperou – Ele te comprou. Você nem tem autorização pra sair dessa casa, é um objeto de decoração. – Alfinetou, mas Anahí ainda sorria – Casamento consiste em outra coisa, querida.
Anahí observou a outra, sorrindo, por um instante, então se levantou. Se espreguiçou, e Jennifer observou, incrédula, Anahí apanhar a barra da camiseta branca, removendo-a pela cabeça, ficando com o top de malhação (Alfonso tinha uma academia em um dos cômodos da casa). Silencio. Choque. Ele estava em toda a parte. Os cabelos de Anahí e a camiseta ocultaram antes, mas ela estava toda marcada. O pescoço, o decote dos seios, a barriga, as coxas. Haviam marcas de chupão, mordida, de mão, as mais claras ainda evidentes, as mais escuras em um vermelho escuro. Haviam duas marcas de mãos, evidentes, na curvatura da cintura dela. Mordidas pela barriga pálida, marcas de dedos nas coxas. Anahí sorria, esperando.
Jennifer: Você... – Ela ofegou, perante o ódio – Ele não...
Anahí: Agora faça-me o favor... – Disse, fazendo a volta pela cadeira. Jennifer viu mais marcas de dedos nas costas dela, vergões – Saia da minha casa. – Disse, debochada, apontando a porta.
Jennifer observou Anahí sumir tranquilamente pelo corredor, totalmente senhora de si, os cachos balançando as costas e, após apanhar o sobretudo, saiu dali, furiosa. Alfonso acabara de sair de uma reunião. Sua cabeça doía. Ele abriu um frasco de uma gaveta, virando dois comprimidos na boca e engolindo com água. Parou um instante, massageando as têmporas. Ia enlouquecer. Rosnou quando abriram sua porta com um baque e ergueu a cabeça, pronto pra demitir alguém... Dando de cara com Jennifer.
Jennifer: Eu não acredito que você transou com ela. – Disse, raivosa, parando a porta.
Alfonso: Tranque a porta. – Ordenou, e Jennifer passou a mão na fechadura. Ele apanhou o telefone, se dirigindo a sua secretaria – Não quero telefonemas, e não passe ninguém pra minha sala. – E desligou.
Jennifer: Você ainda é apaixonado por ela, não é? – Alfonso parou, sentindo a cabeça latejar, observando-a – Exatamente como há dez anos atrás, você continua louco por ela! – Cuspiu.
Alfonso: É claro que não, não diga tolices. – Reprimiu, olhando-a. Quando foi que ela voltara?
Jennifer: Quando Rebekah me disse que as coisas iam mal, eu imaginei tudo, menos isso. – Acusou. Alfonso assentiu brevemente. Rebekah, é claro – Foi por isso que se casou com ela, não foi?! – Cobrou.
Alfonso ia responder, então parou, olhando-a. Ela esperou, furiosa. Ele hesitou por um instante... Sexo com Jennifer sempre fora ótimo. Bom o suficiente pra arriscar as conseqüências. Talvez se... Ele se levantou, tirando o terno e o colete, e ela observou, incrédula. Incredulidade maior ainda foi quando ele se aproximou e, apanhando-a pela cintura, a beijou. Ela se debateu, empurrando-o, mas ele apertou o braço em torno da cintura dela, prendendo-a.
Jennifer: Tire as mãos de mim! – Grunhiu, tentando se soltar. Ele tinha a boca no ombro dela, beijando-a sedentamente – Estou falando sério!
Alfonso: Vamos brigar depois. – Prometeu, empurrando o sobretudo dela até que fosse ao chão. – Eu senti sua falta. – Mentiu, sabendo que sempre funcionava.
Jennifer: Eu vi como. – Alfonso deu impulso pra frente, fazendo-a cambalear e levou os dois ao chão – Ai, porra! – Ele riu, e ela não conseguiu não sorrir com o som. – Depois. – Assegurou, apanhando o rosto dele.
Alfonso: Depois. – Garantiu, beijando-a em seguida. Dessa vez ela correspondeu.
Algum tempo depois Alfonso estava no chão, descabelado, com dor de cabeça, e ainda mais frustrado. Jennifer dera um show porque ele transou com Anahí, saindo furiosa depois, e ele ficou deitado no chão, se testando. Fechou os olhos, respirando fundo... E o som do gemido de Anahí, abafado em seu peito, ecoou vivido em sua cabeça. Ele xingou, se levantando. Ter sexo com outra pessoa não resolvera: Não tivera o mesmo tesão, a mesma intensidade, o orgasmo não chegou nem aos pés. Se isso não era um problema, ele não sabia o que era. Ao chegar em casa, a noite, a comida de Anahí estava uma porcaria, como sempre. Após o “jantar”, como era de costume, cada um foi pro seu canto. Após um banho, ele se deitou, apenas pra achar o inferno ali: Os lençóis eram os mesmos, o perfume dela continuava lá. Saiu caminhando pela casa, e mais uma vez parou no portal do quarto dela. Anahí dormia de bruços, abraçada com um travesseiro, usando a mesma camisola roxa, as pernas emboladas no lençol branco. Ele observou por um instante, e as lembranças eram tão vividas que podiam ser reais. Ele não dormiu. Na manhã seguinte, ao sair do quarto, ainda de pijama (Alfonso dormia só com uma calça moletom), viu ela saindo do seu, tirando o cabelo do rosto. A camisola era curta, mostrando as coxas marcadas, e ela parecia sonolenta.
Alfonso: Foi bom? – Perguntou, e ela se assustou, se virando, o decote dos seios cheio de marcas.
Anahí: Do que está falando? – Perguntou, confusa. Não se lembrava de ter feito nada.
Alfonso: De se exibir pra minha prima. – Disse, se aproximando. Alfonso tinha os cabelos arrepiados pelas vezes que se virara na cama – Fazer ela ir dar um show no meu escritório. – Completou, e Anahí sorriu.
Anahí: Porque está me contando seus problemas essa hora da manhã? – Debochou, cruzando os braços.
Alfonso: Deve ter sido bom, poder posar de minha esposa, mesmo que pra uma pessoa só. – Anahí riu. Os dois estavam se aproximando aos poucos, sem perceber.
Anahí: Sua frustração está te cegando, querido. – Avisou, debochada.
Alfonso: Ainda bem que não está me deixando surdo, porque eu consigo me lembrar perfeitamente dos seus gemidos, bem no pé do meu ouvido. – Disse, prensando-a na parede. O deboche de Anahí sumiu.
Anahí: Tá de sacanagem comigo? – Perguntou, incrédula, empurrando-o pelo peito, mas ele riu do constrangimento dela.
Alfonso: Toda entregue, gemendo que eu fosse mais. – Continuou, e viu o sangue subindo pro rosto dela – Que fosse mais forte, mais fundo. – Disse, abaixando o rosto de modo que pudesse morder a orelha dela de leve. Anahí estancou, olhando pra frente, a respiração presa - Foi um prazer atender. – Provocou, sorrindo de canto. Ela podia sentir o cheiro da pasta de dente no hálito dele, de tão próximo que estava.
Anahí: Guarde as lembranças, porque não vai acontecer de novo. – Avisou.
Alfonso: É claro que não. – Provocou.
Anahí: Você é ridículo, Alfonso. – Condenou, e pôde sentir o sorriso dele em seu rosto.
Alfonso: Então porque você está me puxando pra si? – Perguntou, virando o rosto, os olhos verdes a centímetros dos dela, um sorriso deliciado no rosto.
Com um choque, Anahí percebeu que deixara de empurrá-lo pelo peito: Agora suas mãos estavam na curvatura do quadril dele, segurando-o firmemente, puxando-o pra si. Ela não viu, não foi proposital. Ela estapeou ele, empurrando-o com o braço até conseguir espaço pra sair, fazendo-o rir. É claro que não ia acontecer de novo, de jeito nenhum, o que não significava que ele não pudesse se divertir as custas dela. Mas, o que mais se notava é: O tempo passava, e a situação não mudava. Ambos queriam mais. O problema continuava.
As duas semanas que vieram foram tortuosas. Alfonso mantinha seu caso com Jennifer escancaradamente, e logo a imprensa começou a fazer suposições de porque a Sra. Herrera não era vista desde o casamento, sendo que o Sr. Herrera era visto em eventos públicos freqüentemente, acompanhado pela prima. Ao contrário das suposições das cunhadas, Alfonso não parecia prestes a soltar Anahí. Ela progrediu muito pouco com comida. Aprendeu a fritar ovos (à custa de duas dúzias deles queimados, salgados, e estragados) e a fazer arroz (depois de quase incendiar o prédio), mas não melhorou muito. A tensão sexual entre os dois era quase palpável. Dava pra sentir no ar, mas os dois ignoravam. Pior pros dois.
Ian: Você precisa resolver essa porra. Sério. – Disse, jogando uma pasta na mesa de Alfonso. Era o gráfico de rendimentos da ultima semana da empresa, que resumidamente mostrava uma decaída que todos sabiam vir da CEO.
Alfonso: Sei disso. – Disse, empurrando a pasta e amparando a cabeça com a mão – Desmembrei e vendi os pedaços de uma empresa totalmente lucrativa. Tive um prejuízo liquido de 130 milhões, e só vi isso depois de ter feito. – Murmurou, frustrado, massageando a têmpora.
Ian: Eu vi você pra cima e pra baixo com Jennifer, pensei que... – Ele suspirou, confuso. Alfonso negou com a cabeça.
Alfonso: Jennifer se esforça. É ótima. Mas não... – Ele parou, se balançando na cadeira. As lembranças seguiam atordoando-o – Eu não tenho como descrever aquela transa. – Ian assoviou – Eu só consigo pensar naquilo, eu só consigo lembrar... Estou perdendo o controle.
Ian: Sério, você precisa me apresentar sua mulher. – Disse, confuso, e Alfonso parou de se balançar, erguendo a cabeça e uma sobrancelha. Ian gargalhou – Não tinha dito nesse sentido, mas é muito bem vindo. – O outro revirou os olhos – Vocês são marido e mulher, os dois adultos. Adultos transam. Procure ela. – Aconselhou.
Alfonso: Eu tenho nojo daquela mulher. – Reafirmou, convicto. Odiava Anahí mais que nunca – Não vai se repetir. Eu vou esquecer isso. – Disse, convicto.
E seguiu assim por dias a fio. Só que a fúria de Alfonso estava transbordando, junto com a frustração, a raiva... E Anahí era seu alvo mais fácil, justamente quem ele queria atingir. Depois de ele reprovar a comida dela (rotina do dia), ela buscava ignorá-lo. Cada um ia pro seu canto.
Ele costumava trabalhar um pouco, depois sumia no quarto, então o remédio dela a apagava. Hoje não foi diferente. Alfonso falava no telefone, com papeis na mão, pra lá e pra cá. Estava descalço, usando uma camisa preta e uma calça moletom cinza. Anahí já estava de camisola, azul escura, se preparando pra dormir. Estava pensativa, nem dava importância a ele passando pra lá e pra cá no corredor. Passava a escova nos cabelos longos, só pelo ato, esperando o remédio fazer efeito. Penteava o cabelo há tanto tempo que ele já estava sedoso, os cachos cheios de vida, e ela continuava escovando. Estava preocupada. Sua reserva de remédio pra dormir estava acabando. Sem os remédios ela não dormia, e se ela não podia sair, não podia ir a consulta, logo não conseguiria a receita, não conseguindo o remédio. Não gostava nem de lembrar no que acontecia quando tentava dormir por si só. Ela olhou o frasco na penteadeira a sua frente (simples, um espelho grande, onde ela se refletia, um perfume e algumas maquiagens em cima, além de uma correntinha e o rolex dela, que ela conseguira levar na nécessaire). Estava da metade pra baixo. Se ela dissesse que precisava dos remédios, era claro que Alfonso iria fazer exatamente o oposto. Ia pedir ajuda a Madison. Não sabia se ela conseguiria, mas era a única alternativa. Alfonso, passando no corredor, viu ela parada, os cabelos impecáveis e ainda assim penteando-os. Parecia a rainha da beleza, distante, inatingível. A raiva dele ferveu junto com o sangue. Anahí se assustou quando ele falou, vendo o reflexo dele pelo espelho.
Anahí: Insuportável. – Grunhiu, respirando fundo.
Alfonso: Você sempre manteve o cabelo assim? – Perguntou, falsamente curioso, soltando o fone do celular da orelha e guardando-o no bolso da calça. Tinha alguns envelopes e um abridor de cartas prateado na mão.
Anahí: Não é da sua conta. – Desprezou, voltando a pentear o cabelo – O que você quer? – Perguntou, irritada.
Alfonso: Uma mudança te cairia bem. – Disse, entrando no quarto. Anahí olhou, na defensiva, sentada na cadeira da penteadeira, vendo ele entrar. Alfonso nunca entrava ali.
Anahí: O que quer, Alfonso? – Repetiu, largando a escova e se virando para olhá-lo.
Alfonso: Quero que você mude. Quero que largue de ser essa criatura desprezível que eu estou olhando. – Anahí suspirou, revirando os olhos – Mas não se preocupe, vou ajudá-la. É meu papel de marido, não é? – Perguntou, sorrindo, falsamente doce – Talvez um corte de cabelo faça você repensar seu interior.
E ele estendeu a mão. Anahí observou o objeto prateado por algum tempo. Era um abridor de cartas, mais grosso que o normal, com um as iniciais dele gravadas no cabo. Ela ergueu os olhos, esperando, e ele apertou um botãozinho na base, fazendo um canivete se abrir do objeto, e ofereceu de novo. Ela olhou, tentando entender... Então se levantou, totalmente na defensiva.
Anahí: Você enlouqueceu se está pensando que eu vou cortar o meu cabelo só porque você quer. – Grunhiu, ultrajada, se afastando dele.
Alfonso: Sente-se. – Ordenou, sereno. Anahí o observou, desgostosa, então se sentou, ofegando como um animal acuado. – Tome. – Disse, oferecendo o canivete de novo.
Anahí: Não vou fazer isso. – Disse, obvia.
Alfonso: Eu não estou pedindo, querida. – Disse, doce, parando atrás dela, olhando-a pelo espelho.
Anahí: Seus direitos não incluem isso. – Rosnou, ofegando. A mão dele, com o canivete, estava pousada em seu ombro.
Alfonso: Se você me fizer ir buscar a copia do contrato e te mostrar a clausula que atesta que sim, eu tenho o direito, eu vou voltar aqui com uma maquina 0. – Avisou, e ela o encarou pelo espelho. Esperou que ele desistisse daquela loucura, tremula, mas ele esperou, tranqüilo – Quer que eu faça? – Perguntou, apanhando uma mecha do cabelo dela, que puxou a cabeça como se tivesse levado um choque. – Tome. – E colocou o canivete na mão dela.
Anahí viu Alfonso se sentar em sua cama, incrédula. Seu corpo todo estava dormente. Ele esperou, observando-a, e quando ela não reagiu ele disse um “kaboom”, sem som, ilustrando o que faria caso ela não o obedecesse. Se lembrava dos dias do St. Jude, onde as minions se matavam pra poder pentear o cabelo dela. Ah, assistir aquilo ia ser um deleite! Anahí, as mãos tremulas, apanhou uma mecha grossa do cabelo, que ia quase até a base da coluna, e posicionou o canivete no meio do comprimento, tentando tomar coragem... Mas ele interrompeu.
Alfonso: Vamos, não seja avarenta, ainda está longo demais. Suba esse corte. – Ordenou, e ela o encarou pelo espelho, os olhos vermelhos, o rosto sem expressão.
E ela subiu a mão. O que sobraria do corte mal chegaria aos ombros, assim que ela puxasse o canivete. A mão dela tremia. Ela fechou os olhos, tentando tomar coragem, mas não conseguia. Sempre tivera o cabelo assim, e sempre o adorara assim. Não podia massacrá-lo com um canivete... Mas se não fizesse, Alfonso massacraria o pai dela. Ainda de olhos fechados, sabendo que ele esperava, com a mecha de cabelo pronta na mão, ela lembrou da alegria do pai na festa do casamento. Alexandre simplesmente acreditava que dera uma sorte inimaginável. O comprador da empresa era um amigo antigo de Anahí, os dois se apaixonaram, se casaram, então ao invés de perder tudo, ele casaria muito bem a filha, e ainda receberia investimentos. Ela se lembrou do sorriso do pai na valsa dos dois (enquanto ela treinava sua habilidade de ignorar Alfonso e Grace, que valsavam graciosamente do lado). Se focou na alegria em seus olhos... E puxou o canivete. Era afiado, o corte foi reto. Ela ofegou, abrindo os olhos, seu ouvido zunindo, vendo de relance Alfonso aplaudindo, e olhou o cabelo em sua mão. Uma lagrima pesada caiu instantaneamente. Ela olhou a mão cheia de cabelos, quase do tamanho do seu braço inteiro. Abriu a mão e caíram no chão, o que há instantes fora algo lindo agora simplesmente lixo. Ela apanhou outra mecha e repetiu o processo, agora querendo terminar logo aquilo pra aquele animal sair dali. As lagrimas caiam em silencio, e aos poucos as mechas foram caindo, até que o chão estava cheio de cabelo. Alfonso se levantou, satisfeito, parando atrás dela de novo. Anahí, as mãos tremulas, largou o canivete na penteadeira.
Alfonso: Olhe pra si mesma. – Ordenou, tendo percebido que ela não havia se encarado nem uma vez no processo. Anahí obedeceu, e viu no espelho uma mulher pálida, o rosto molhado de lagrimas, os olhos vermelhos e os cabelos nos ombros lisos e retos (os cachos de Anahí começavam dos ombros pra baixo, logo foram-se todos), cortados errado, de forma grosseira, cheio de altos e baixos, mal acabados. – Está vendo? Onde está a sua beleza, rainha Anahí?
Anahí: Fure meus olhos e fatie meu corpo, se a intenção é expurgá-la de vez. – Grunhiu, a voz tremula pelo choro preso no peito. Toda ela tremia.
Alfonso: Oh, não seja apressada, amor. Um passo de cada vez. – Disse, como uma cobra, parado no ombro dela. Ele apanhou uma mecha do cabelo, curta, as pontas grossas pelo corte do canivete – Só se olhe e veja o que eu tenho te dito esse tempo inteiro: Você não é nada. – Repetiu, sorrindo pra ela no espelho.
Anahí: Vá pro inferno. – Rosnou, e ele riu, apanhando seu canivete e saindo de perto dela. Ele disse mais alguma coisa, mas ela não ouviu. Sua orelha ainda zunia. Por fim ele foi embora.
Anahí não agüentou se olhar mais que um minuto. Se levantou, e seus cabelos, os cachos longos, se embolaram aos seus pés.
Ela grunhiu, atordoada, correndo até o closet e apanhando uma sacola grande, que viera com um sapato, e voltou, se ajoelhando e apanhando os bolos de cabelo, tirando-os dali, sem querer vê-los mais. Empurrou a penteadeira pro canto, virando o espelho pra parede, e recuou, o choro vindo já em soluços. Subiu na cama, se encolhendo debaixo do edredom e chorou, apavorada, revoltada, destruída. Durou até que os remédios que ela havia tomado fizeram efeito, derrubando-a. Dormiu um sono conturbado, sem sonhos porém agoniado, toda torta na cama. Depois daquilo não sabia mais o que esperar do homem no quarto ao lado, logo a expectativa do amanhã se transformara em uma ameaça.
Autor(a): fanficfoda
Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).
Prévia do próximo capítulo
No dia seguinte... Anahí acordou com a impressão de quem acorda de um sonho ruim. Um pesadelo. Impossível, uma vez que graças aos remédios, ela não sonhava. Se espreguiçou, passando a mão no cabelo... E seus olhos se abriram em placa. Não fora um pesadelo. Ela passou um bom tempo na cama, medindo o que sobrara do ...
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