Fanfic: Novo Mundo

Nunca desejei morrer tanto quanto agora. O que aconteceria comigo? Consegui em toda a pressa dar um encontrão em uma alma, como pude ser tão desastrada? Perder hora, não prestar atenção, não parava de me xingar internamente. Fiquei com a cabeça baixa para que não vissem meus olhos, quem sabe conseguiria fugir dessa, minha última esperança.

            - Não olha pra frente não? – Uma figura grande gritava comigo, eu só me encolhia mais, ainda tentando me soltar da garota.

            - Fique quieto, não está vendo que está assustando a menina? – a outra figura replicou.

            - Ian está certo, você está a assustando, almas são gentis, não estão acostumadas com essa grosseria. Por que vocês dois não vão encontrar Mel e Jamie e eu resolvo isso aqui, podem ir, ela não os viu. – a menina enroscada em mim disse. Sua voz era reconfortante e preocupada, delicada, igual ao seu corpo que parecia de uma criança próximo ao meu.

            - Estarei por perto. – a primeira figura saiu, sua voz era firme, como a de um líder.

            - Ficarei com você, e não, não faça essa cara, você está machucada e precisa de ajuda, não vou te deixar. – a voz da segunda figura combinava com a da alma, tão preocupada. A garota olhou pra mim, eu ainda estava olhando para baixo tentando me soltar dos patins e suas pernas.

            - Olhe, não se preocupe, te levaremos para os Curandeiros e você ficará boa como nova. – Me desesperei, eles queriam me levar para os Curandeiros, lá com certeza colocariam uma alma em mim, precisava fugir. Cogitei minhas opções, com certeza não conseguiria correr mais que a segunda figura, mas poderia criar um espaço suficiente para me esconder, contava com isso. Consegui me soltar e fiz movimento para levantar, ela me segurou pelo braço.

            - Calma, você está ferida!

            - Não encoste em mim! – eu gritei, não aguentei todo aquele contato, mesmo que a garota fosse pequena e parecesse um anjinho. Mas ela continuou:

            - Não vou te machucar, - ela pôs a mão no meu queixo o levantou meu rosto, automaticamente fechei meus olhos. – Você está com medo, não se preocupe, vamos te ajudar.

            Ajudar, claro, me tornando um deles. Torci meu braço para ela me soltar, abri os olhos para me preparar para correr e gritei:

            - Não!! – Peguei a garota de surpresa, consegui me soltar e correr, mas com todos machucados e descalça sabia que se quisessem, me alcançariam, não conseguia distância como queria, ainda podia os ouvir.

            - Ian! Ela é humana!

            Ouvi bem baixinho uma expirada de espanto, e em seguida pés correndo, bem mais rápidos que o meu, antes que pudesse fazer algo a respeito, um corpo se choca contra o meu e nos joga no chão, eu pra cima. Eu bato, chuto, e tento me soltar loucamente, só não grito, gritar chamaria mais atenção e eu com certeza só quero fugir.

            - Calma, calma. Eu sou humano também, vê. – Ele me mostra seus olhos, mas só estou preocupada em me soltar, continuo me contorcendo até que ele me segura mais forte, de um jeito que mal consigo respirar, muito menos me mexer. – Eu sou humano, olhe bem.

            Imóvel eu olhei em seus olhos e tudo que pude achar foram azuis, escuros na iluminação, no entanto imagino que piscina no sol. Me acalmei. Humano. A pequena garota se aproximou e eu comecei a me desesperar. Ela não era humana.

            - Ian, talvez eu devesse ficar longe, ela tem medo de mim. Por que não a leva para conhecer os outros e explicar? Talvez depois ela me entenda.

            - Não, venha conosco, você precisa de tanto cuidado quanto ela. – Ele olhou pra mim e me assegurou que ela não me faria nenhum mal. E como não confiar em um humano? Em um irmão onde somos minoria?

            Não tirava meus olhos dele nem por um minuto, era verdade. Existiam outros humanos. Eu não estava sozinha afinal.