Fanfic: A Probabilidade Estatística do Amor à Primeira Vista -Adp. | Tema: Ponny,AyA
Já tinham quase se esquecido da senhora ao lado deles. Ela dormiu por tantas horas que foi a falta do barulho de ronco que fez com que os dois olhassem para ela.
—Perdi muita coisa? — pergunta, abrindo a bolsa e pegando com cuidado os óculos, um frasco de colírio e uma pequena caixa de balas.
—Estamos quase chegando — informa Anahí —, mas a senhora tem sorte de ter conseguido dormir. Foi um voo bem longo.
—Foi mesmo — concorda Alfonso. Apesar de estar olhando para o outro lado, Anahí sabe, pelo tom de voz, que está sorrindo.
— Foi uma eternidade.
A mulher para o que está fazendo, segura os óculos entre o indicador e o dedão e olha para eles.
—Foi o que eu disse — fala e volta a mexer na bolsa.
Anahí, ciente do significado do que a velhinha disse, evita o olhar de Alfonso. As comissárias examinam pela última vez os corredores e pedem que os passageiros deixem o assento na posição vertical, afivelem os cintos e coloquem suas malas de mão embaixo do assento da frente.
—Acho que vamos chegar um pouco mais cedo — diz Alfonso —, então se a alfândega não estiver um inferno, talvez você consiga chegar a tempo. Onde é o casamento?
Anahí se inclina e pega o livro de Dickens de novo. Colocou o convite entre as folhas no final do livro para não perdê-lo.
—No Hotel Kensington Arms — informa. — Deve ser luxuoso.
Alfonso chega perto e dá uma olhada na caligrafia elegante no convite de cor creme.
—Isso é a festa — diz apontando para a informação. — A cerimônia é na Igreja St. Barnabas.
—Fica perto?
—Do Heathrow? — Balança a cabeça. — Não, mas nada fica perto do Heathrow. Dá para chegar na hora, se você se apressar.
—Onde é o seu casamento?
Ele fica tenso.
—Em Paddington.
—Onde fica isso?
—Perto de onde cresci — diz. — Lado Leste.
—Maneiro — comenta ela, mas ele não ri.
—É na igreja onde costumávamos ir quando crianças — diz ele. — Tem anos que não vou lá. Sempre arrumava problema por escalar a estátua de Maria na frente da igreja.
—Imagino — diz Anahí e coloca o convite onde estava. Fecha o livro com muita força, Alfonso se assusta e a observa jogando-o de volta na bolsa.
—Vai mesmo devolver o livro para ele?
—Não sei — responde honestamente. — É provável.
Ele pensa um pouco.
—Será que pode esperar pelo menos até o fim do casamento?
Não era isso que Anahí havia planejado. Na verdade, tinha se imaginado calada e triunfante, entregando o livro para ele logo antes da cerimônia. Foi o único presente que ele deu para ela — deu de verdade, não foi um presente enviado pelo correio no aniversário ou no Natal, mas uma coisa que colocou em suas mãos —, então a ideia de devolvê-lo dessa forma agradava Anahí. Se seria forçada a ir nesse casamento idiota, ia ser do jeito que queria.
No entanto, Alfonso está olhando para ela com preocupação. Anahí se sente desconfortável com aquele olhar de esperança e responde com voz trêmula.
—Vou pensar — diz e completa: — Talvez eu nem chegue a tempo.
Olham para a janela para acompanhar a descida, e Anahí tenta afastar uma onda de pânico; não é medo da aterrissagem em si, mas de tudo que começa e termina com ela. O solo se aproxima rapidamente, fazendo com que tudo — as formas indefinidas lá embaixo — fique claro: as igrejas e cercas e restaurantes, até mesmo as ovelhas dispersas em um campo isolado. Ela fica observando a cidade chegando mais perto e segura o cinto de segurança com força, como se chegar fosse tão ruim quanto um acidente.
As rodas tocam o chão e quicam uma vez, duas, e a velocidade do pouso faz com que o avião deslize sobre a pista, impulsionando os passageiros para a frente, como uma rolha que acabou de estourar, em meio ao vento, aos motores e ao som dos freios. É um momento tão forte para Anahí que ela tem a impressão de que nunca vão parar. Mas é claro que vão, e o avião finalmente para, e tudo volta a ficar tranquilo; depois de viajar oitocentos mil quilômetros por quase sete horas, começa a se arrastar para o portão com a velocidade de um carrinho de compras.
A pista em que estão se junta com outras, formando um grande labirinto até que pisam num tapete de asfalto que se estende e termina onde ela consegue ver. Há torres de comunicação, filas de aviões e o grande terminal, que parece um gigante sonolento embaixo do céu nublado. Londres, finalmente, pensa Anahí. Está de costas para Alfonso; sentese grudada na janela por alguma força invisível, não consegue se virar para ele.
Quando chegam ao terminal, ela vê a rampa sendo alinhada ao avião, que se coloca graciosamente na posição correta e treme de leve ao estacionar. Mesmo quando param completamente, os motores silenciam e o sinal de afivelar os cintos se apaga, Anahí não se move. Escuta o som dos passageiros pegando suas bagagens, ainda sem se virar. Alfonso espera um pouco até tocar seu braço. Só então ela se vira.
—Está pronta? — pergunta. Ela balança a cabeça devagar, e ele sorri. —Nem eu — admite Alfonso, levantando-se mesmo assim.
Antes de chegar a vez de saírem, Alfonso pega uma cédula lilás de dentro do bolso. Coloca a cédula no assento onde passou as últimas sete horas. O dinheiro fica lá imóvel, meio perdido na estampa chamativa do estofado.
—Para que isso? — pergunta Anahí.
—O uísque, lembra?
—Ah — responde e olha a nota mais de perto. — Aquilo não custou vinte libras de jeito nenhum.
Ele encolhe os ombros.
—Taxa extra de roubo.
—E se outra pessoa pegar?
Alfonso se abaixa e coloca as pontas do cinto de segurança em cima da cédula. A impressão que dá é de que o cinto está afivelado.
—Pronto — diz ele, levantando-se para admirar o trabalho. — A segurança vem em primeiro lugar.
Na frente deles, a senhora dá passos pequenos em direção ao corredor, para e fica olhando para o compartimento superior. Alfonso vai rapidamente ajudá-la, ignorando as pessoas atrás deles. Pega a mala para ela e espera pacientemente que se ajeite.
—Obrigada — agradece ela, sorrindo. — Você é tão bonzinho. — Começa a andar, mas para, como se tivesse esquecido alguma coisa, e olha para ele de novo. — Você lembra o meu marido — diz.
Ele balança a cabeça, mas a mulher já está se virando para ir embora com passos curtos, no mesmo ritmo do ponteiro dos minutos num relógio.
Quando finalmente está de frente para o corredor, começa a andar e deixa os dois olhando para ela.
—Espero que tenha sido um elogio — diz Alfonso meio sem graça.
—Eles estão casados há 52 anos — lembra Anahí.
Ele a observa pegar a mala.
—Achei que você não pensasse em se casar.
—Não penso mesmo — responde e vai em direção à saída.
Ele se aproxima dela no final do corredor. Nenhum dos dois fala nada, mas Anahí sente alguma coisa, um peso em cima deles como um trem de carga: o momento de dizer adeus se aproxima. Pela primeira vez em horas, ela se sente tímida. Ao seu lado, Alfonso está de cabeça baixa, lendo as instruções da alfândega, pensando no próximo passo, seguindo em frente. É isso que se faz em aviões. Você divide um apoio de braço com uma pessoa por algumas horas; troca histórias sobre sua vida, conta uma coisa ou outra, talvez uma piada. Comenta sobre o tempo e sobre a comida, que está ruim.
Escuta o outro roncando. E, depois, diz adeus.
Se é assim, por que está se sentindo completamente despreparada?
Devia estar preocupada em achar um táxi e chegar à igreja a tempo, ver seu pai, conhecer Charlotte. No entanto, está pensando em Alfonso, e essa sensação — a vontade de não ir embora — a deixa com muitas dúvidas. E se entendeu tudo errado? E se não foi nada do que está pensando?
As coisas já estão diferentes. Alfonso já parece estar a quilômetros de distância.
No final do corredor, encontram uma fila onde os passageiros do mesmo voo estão parados com as malas apoiadas nos pés, cansados e resmungando. Anahí coloca a mochila no chão e tenta se lembrar do que tem lá dentro, se tem uma caneta para anotar um telefone ou um e-mail, qualquer informação sobre ele, uma apólice de seguro contra o esquecimento. Sente-se, porém, congelada por dentro, presa na incapacidade de dizer alguma coisa que não vá dar mostra do seu desespero.
Alfonso boceja e se alonga, com as mãos no ar e costas arqueadas; depois coloca um dos cotovelos no ombro dela, fingindo usá-la como suporte. Mas o peso do braço pode acabar fazendo com que ela perca seu equilíbrio. Ela engole a saliva e olha para ele, visivelmente agitada.
—Vai pegar um táxi? — pergunta. Ele balança a cabeça e tira o braço de cima do ombro dela.
—Metrô — responde. — Não é longe da estação.
Anahí não sabe se ele está falando sobre a igreja ou sua casa, se ele vai para casa tomar um banho e trocar de roupa ou se vai direto para o casamento. Sente-se irritada, como no último dia da escola, na última noite do acampamento com os amigos, como se tudo estivesse caminhando para um final abrupto e confuso.
Autor(a): Mila Puente Herrera ®
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 36
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vanessap. Postado em 23/09/2014 - 01:55:04
Foi muuuuitoooo linda!! Amei cada capitulo e me emocionei em todos! *---*
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bellaherrera Postado em 22/09/2014 - 23:08:26
Ahhhhhhhhhhhhh foi um final perfeito para uma fic perfeitaaaaa *---------------* agora entendi porque essa web se chama assim!! Foi mt perfeito o Ponchito falando que se sente melhor ao lado da Annie <3 owntttttttt!!! Mila obrigada por ter compartilhado cmg essa historia super fofaaaa,e ainda hj lerei a sua nova web!!! Milhões de beijosssssssssssss
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beca Postado em 22/09/2014 - 18:58:14
Foi lindo uma pena que ja acabou....
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bellaherrera Postado em 20/09/2014 - 14:48:41
É muitoooooooo fofo ver amizade da Annie com a mãe dela <3 ahhhhhhhh o Ponchito apareceuuuuuu!!!!!!!!!!! Perdão por nao ter feito a sua capa, é porque meu pc onde tem o programa que eu faço foi excluido do pc porque ele foi formatado, mas eu prometo que eu faço uma capa linda para sua proxima wem!!! ta no final : / é tão tristeeeeeee
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vanessap. Postado em 19/09/2014 - 23:34:55
Dessa vez Poncho nao pode ser rude com ela :( Posta mais *-*
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beca Postado em 19/09/2014 - 22:54:20
Espero que o Poncho tenha uma bis explicação !!!!!!
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bellaherrera Postado em 19/09/2014 - 12:43:27
Anemmmmmmmmm a web ja esta acabando?????????/ anemmmmmmmmmmmmmmm!!!!!!!!!!!!!!! Poncho cade vc nessa web? posta maisss
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beca Postado em 18/09/2014 - 19:44:57
JÁ ESTÁ ACABANDO? ESSA FIC É MUITO LINDO... O PONCHO FOI UM IDIOTA IMBECIL COM A ANY
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vanessap. Postado em 18/09/2014 - 18:16:22
Mas já reta final?! :O ta muito perfeita pra acabar! :(( Posta mais *-*
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bellaherrera Postado em 17/09/2014 - 08:32:25
Tadinha da Annie :/ o Poncho fez pouco caso dela!!!! O que????????? essa menina é ex ou atual? como assim? eu acho que ela é ex!!! Posta maisssssssssssss