Fanfic: A Probabilidade Estatística do Amor à Primeira Vista -Adp. | Tema: Ponny,AyA

Para sua surpresa, ele aproxima o rosto do dela, aperta os olhos e toca

sua bochecha.

—Um cílio — diz ele e esfrega um dedo no outro, deixando-o cair.

—Não vou poder fazer um pedido?

—Já fiz para você — diz ele com um sorriso tão triste que o coração dela fica apertado.

Será possível que só o conheça há dez horas?

—Pedi que esta fila ande logo — conta para ela —, senão não vai ter como você chegar a tempo.

Anahí olha para o relógio na parede de concreto e vê que ele tem razão; já são 10h08, menos de duas horas para o começo do casamento. E lá está ela, presa na alfândega, com o cabelo embaraçado e o vestido amassado na mala. Tenta se imaginar entrando na igreja, mas a imagem não combina com seu estado atual.

Ela dá um suspiro.

—Costuma demorar muito?

—Agora que eu fiz o desejo não vai demorar — diz Alfonso.

De repente, como se fosse simples assim, a fila começa a andar. Ele dá uma olhada triunfante para ela e caminha. Anahí vai atrás, balançando a cabeça.

—Se é assim que funciona, por que não pediu um milhão de dólares?

—Um milhão de libras — diz ele. — Você está em Londres agora. E não. Quem ia querer lidar com os impostos?

—Que impostos?

—Do seu um milhão de libras. Pelo menos 88 por cento disso iria direto para a rainha.

Anahí fica olhando para ele.

—Oitenta e oito por cento, é?

—Os números nunca mentem — responde com um sorriso.

Quando chegam a uma bifurcação na fila, são recebidos por um agente entediado, vestindo roupa azul. Está encostado nas barras de metal e aponta para uma placa que indica aonde devem ir.

—Cidadãos da União Europeia para a direita, o resto para a esquerda —repete várias vezes com voz fina e fraca, perdida no meio do burburinho da multidão. — Cidadãos da União Europeia para a direita...

Anahí e Alfonso se olham e todas as incertezas desaparecem, porque lá está no rosto dele: uma relutância igual à sua. Ficam parados por um tempo, muito tempo, uma eternidade, ambos querendo ficar. As pessoas passam por eles como um rio pelas pedras.

—Senhor — diz o agente quebrando o clima e colocando uma das mãos nas costas de Alfonso. Dá um pequeno empurrão e pede para que ele se mexa. — O senhor precisa continuar andando para que a fila não tenha obstruções.

—Só um minuto... — pede Alfonso, mas é interrompido.

—Agora, senhor — fala o homem, empurrando-o com mais força.

Uma mulher com um bebê, que está soluçando, passa por Anahí e a empurra. Não há nada que possa fazer a não ser seguir o fluxo.

Porém, antes de conseguir andar, Anahí sente alguém segurando seu cotovelo, e, de repente, Alfonso está ao seu lado de novo. Ele olha para ela, cabeça inclinada, mão em seu braço, e antes que tenha tempo de se sentir nervosa, antes mesmo de entender a situação, ela o ouve murmurar "Que se dane", e então, para sua surpresa, ele se inclina e lhe dá um beijo.

 A fila continua se movendo ao lado deles e o agente da alfândega desiste e solta um suspiro frustrado, mas Anahí nem percebe; ela segura a camiseta dele com força, com medo de ser arrastada para longe, e ele a segura pelas costas enquanto a beija. A verdade é que nunca se sentiu tão segura na vida. Os lábios dele são macios e têm o gosto salgado do pretzel que comeram juntos mais cedo. Por um segundo, fecha os olhos e o mundo ao redor desaparece. Depois de beijá-la, ele sorri, e ela está muito chocada para dizer alguma coisa. Dá um passo para trás e o agente puxa Alfonso para o outro lado, revirando os olhos.

—As filas não levam para países diferentes — murmura ele.

A divisão de concreto entre as duas áreas os separa, e Alfonso acena, ainda sorrindo. Anahí não vai conseguir vê-lo em poucos instantes, mas ainda consegue olhar para ele e acenar de volta. Ele aponta para o outro lado da fila e ela faz que sim com a cabeça, torcendo para conseguir encontrá-lo lá. Ele desaparece. Não há mais o que fazer a não ser continuar andando, com o passaporte em sua mão, e a emoção do beijo ainda estampada na boca. Coloca uma das mãos sobre o peito para acalmar a palpitação.

Logo se dá conta que o pedido de Alfonso não está mais dando certo; sua fila praticamente parou, e ela está imprensada entre um bebê aos prantos e um homem enorme com uma camiseta do Texas; nunca se sentiu tão impaciente na vida. Olha para o relógio e para a parede que esconde Alfonso, contando os minutos com intensidade fervorosa. Fica se movendo, agitada, e suspira.