Fanfic: A Probabilidade Estatística do Amor à Primeira Vista -Adp. | Tema: Ponny,AyA
Quando era pequena, costumava entrar escondida no escritório do pai em casa. Havia prateleiras que iam do chão até o teto, todas cobertas com livros de capas simples gastas e de capas duras rachadas. Tinha apenas 6 anos quando se sentou na poltrona com o elefantinho de pelúcia e uma edição de Um conto de natal nas mãos. Leu com a atenção de quem procura material para uma dissertação.
—O que você está lendo? — perguntou o pai, encostado na porta e tirando os óculos.
—Uma história.
—Uma história? — perguntou, tentando ficar sério. — Que história?
—De uma menina e do elefante dela — informou Anahí.
—É mesmo?
—É — disse ela. — E eles viajam juntos de bicicleta e aí o elefante foge, e ela chora tanto que uma pessoa traz uma florzinha.
O pai atravessou a sala e a levantou da poltrona — Anahí segurou o livro desesperadamente. Como num passe de mágica, ela foi parar no colo dele.
—E o que acontece depois? — perguntou.
—O elefante encontra a menina de novo.
—E depois?
—Ele ganha um bolinho. E eles vivem felizes para sempre.
—Que história linda.
Anahí abraçou seu elefante de pelúcia.
—É mesmo.
—Quer que eu leia outra história para você? — perguntou o pai e pegou o livro com calma, virando as páginas até a primeira.
— É sobre o Natal.
Ela se encostou no tecido macio da camisa e ele começou a ler.
Não era nem a história que ela amava tanto; não entendia nem metade das palavras e se sentia perdida no meio das frases. Era o som rouco da voz do pai, as vozes engraçadas que fazia para cada personagem, o fato de deixá-la virar as páginas. Toda noite depois do jantar, eles liam sozinhos no ambiente silencioso do escritório. Às vezes, a mãe ficava parada à porta, com o pano de prato na mão e um sorriso no rosto, e ouvia um pouco, mas geralmente eram só os dois.
Mesmo quando já conseguia ler sozinha, ainda percorriam os clássicos juntos, desde Anna Karenina até Orgulho e preconceito e As vinhas da ira, como se viajassem pelo globo terrestre, deixando buracos nas prateleiras que mais pareciam dentes que tivessem caído.
Mais tarde, quando ficou claro que ela gostava mais dos treinos de futebol e do telefone que de Jane Austen e Walt Whitman, quando as horas começaram a passar mais rápido e cada noite virou apenas mais uma, não fazia mais diferença. As histórias já eram parte dela; já estavam correndo em suas veias, cresceram dentro dela como um jardim. Eram tão profundas e significativas como qualquer outra característica que o pai tinha deixado: os olhos azuis, o cabelo claro como o trigo, as sardas no nariz.
De vez em quando, ele voltava para casa com um livro para ela, presente de Natal ou de aniversário, ou sem motivo algum. Alguns deles eram edições antigas com letras douradas, outros de capa de papel, comprados a um ou dois dólares numa vendinha qualquer na rua. A mãe sempre ficava preocupada, ainda mais quando era um livro que já existia na casa.
—Esta casa está a dois dicionários de afundar no chão — dizia —, e você ainda compra livro repetido?
Mas Anahí compreendia. Não era para ler tudo. Leria no futuro, mas naquele momento o importante era o gesto. Estava dando para a filha a coisa mais importante que podia dar, a única que conhecia. Era um professor, um amante das histórias, e estava construindo uma biblioteca para a filha, da mesma forma que outros pais construíam casas.
Sendo assim, quando ele lhe deu o Nosso amigo comum aquele dia em Aspen, depois de tudo o que havia acontecido, o gesto foi extremamente familiar. Ela estava chateada com a partida do pai, e o livro só piorou as coisas. Anahí fez o que mais sabia fazer; ignorou o presente.
Agora, dentro do trem que caminha pela cidade como uma serpente, ela se sente surpreendentemente feliz por ter o livro. Não lia Dickens há anos; primeiro, porque tinha outras coisas a fazer, coisas melhores, e, depois, porque estava protestando silenciosamente contra o pai.
As pessoas falam sobre livros como meio de fuga, mas ali no metrô o livro faz o papel da própria linha da vida. Ela passa as páginas e todo o resto vai embora: o tocar de ombros e bolsas, a mulher de túnica, roendo as unhas, as duas adolescentes com música tão alta nos fones de ouvido que todo mundo consegue ouvir. O movimento do trem faz sua cabeça balançar, mas ela se concentra nas palavras como uma patinadora que encara um ponto fixo para girar. E põe novamente os dois pés no chão.
Anahí passa de um capítulo a outro, e esquece que um dia pensou em devolver o livro. As palavras, é claro, não são do pai, mas ele está em todas as páginas, e sua presença mexe com ela.
Antes de chegar ao destino final, ela para de ler e tenta se lembrar da frase sublinhada que descobriu no avião. Passa os dedos pelas páginas tentando achar a marca de caneta e acaba achando outra frase sublinhada:
"Há dias, nesta vida, dignos da vida e outros, dignos da morte", diz a frase, e Anahí olha para a frente e sente alguma coisa no peito.
Naquela mesma manhã, o casamento pareceu ser a pior coisa da vida, mas agora ela entende que cerimônias realmente terríveis e coisas bem mais tristes podem acontecer a qualquer momento. Ao sair do trem com os outros passageiros e passar pelas palavras ESTAÇÃO DE PADDINGTON nos ladrilhos da parede, Anahí torce para estar errada quanto ao que a espera naquele lugar.
Autor(a): Mila Puente Herrera ®
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12 Capítulo 09h54 Hora da Costa Leste 14h54 Hora de Greenwich O sol finalmente apareceu, apesar de as ruas ainda estarem úmidas e reluzentes. Anahí dá uma olhada em volta para tentar se encontrar. Observa a farmácia toda branca, a lojinha de antiguidades, as filas de prédios de cores pálidas ao long ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 36
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vanessap. Postado em 23/09/2014 - 01:55:04
Foi muuuuitoooo linda!! Amei cada capitulo e me emocionei em todos! *---*
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bellaherrera Postado em 22/09/2014 - 23:08:26
Ahhhhhhhhhhhhh foi um final perfeito para uma fic perfeitaaaaa *---------------* agora entendi porque essa web se chama assim!! Foi mt perfeito o Ponchito falando que se sente melhor ao lado da Annie <3 owntttttttt!!! Mila obrigada por ter compartilhado cmg essa historia super fofaaaa,e ainda hj lerei a sua nova web!!! Milhões de beijosssssssssssss
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beca Postado em 22/09/2014 - 18:58:14
Foi lindo uma pena que ja acabou....
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bellaherrera Postado em 20/09/2014 - 14:48:41
É muitoooooooo fofo ver amizade da Annie com a mãe dela <3 ahhhhhhhh o Ponchito apareceuuuuuu!!!!!!!!!!! Perdão por nao ter feito a sua capa, é porque meu pc onde tem o programa que eu faço foi excluido do pc porque ele foi formatado, mas eu prometo que eu faço uma capa linda para sua proxima wem!!! ta no final : / é tão tristeeeeeee
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vanessap. Postado em 19/09/2014 - 23:34:55
Dessa vez Poncho nao pode ser rude com ela :( Posta mais *-*
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beca Postado em 19/09/2014 - 22:54:20
Espero que o Poncho tenha uma bis explicação !!!!!!
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bellaherrera Postado em 19/09/2014 - 12:43:27
Anemmmmmmmmm a web ja esta acabando?????????/ anemmmmmmmmmmmmmmm!!!!!!!!!!!!!!! Poncho cade vc nessa web? posta maisss
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beca Postado em 18/09/2014 - 19:44:57
JÁ ESTÁ ACABANDO? ESSA FIC É MUITO LINDO... O PONCHO FOI UM IDIOTA IMBECIL COM A ANY
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vanessap. Postado em 18/09/2014 - 18:16:22
Mas já reta final?! :O ta muito perfeita pra acabar! :(( Posta mais *-*
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bellaherrera Postado em 17/09/2014 - 08:32:25
Tadinha da Annie :/ o Poncho fez pouco caso dela!!!! O que????????? essa menina é ex ou atual? como assim? eu acho que ela é ex!!! Posta maisssssssssssss