Fanfic: A Probabilidade Estatística do Amor à Primeira Vista -Adp. | Tema: Ponny,AyA
Naquelas semanas depois do Natal, seus papéis mudaram; era Anahí quem levava o jantar para a mãe todas as noites, quem ficava acordada, preocupada com o choro dela, quem sempre colocava uma caixa nova de lenços de papel no criado-mudo.
Isso era o mais injusto de tudo: o que o pai fez não afetou apenas ele e a mãe, ou ele e a filha. Acabou afetando mãe e filha também, pois sua interação harmônica ficou frágil e complicada, como se pudesse ser rompida a qualquer momento. A impressão de Anahí é que as coisas nunca mais voltariam ao normal, que sempre ficariam entre a raiva e a dor, que o buraco na casa sugaria as duas.
E assim, do nada, passou.
Mais ou menos um mês depois, a mãe de Anahí apareceu certa manhã no quarto da filha com seu uniforme de sempre — moletom com capuz e as calças de flanela do ex-marido, compridas e largas demais.
—Chega — disse ela —, vamos sair daqui.
Anahí franziu o rosto.
—O quê?
—Faça as malas, filha — disse a mãe, em seu tom característico —,nós vamos viajar.
Era final de janeiro. Lá fora estava tão escuro quanto dentro da casa.
No entanto, quando saíram do avião no Arizona, Anahí viu alguma coisa relaxar na mãe, aquela parte que esteve fechada por tanto tempo, como uma pequena bola de tensão dentro dela. Passaram um longo fim de semana na piscina de um resort, e sua pele foi ficando cada vez mais morena e os cabelos, cada vez mais louros. À noite, assistiam filmes, comiam hambúrgueres e jogavam minigolfe. Anahí ficou esperando que a mãe fosse fazer uma cena e se derramar em lágrimas a qualquer momento, mas não foi o que aconteceu. No final das contas, sentiu que se a vida fosse ser daquele jeito — como um fim de semana prolongado —, então, talvez, não fosse tão ruim.
Ela só percebeu o objetivo real da viagem quando voltaram para casa; sentiu assim que chegou, como se sente a eletricidade no ar depois de uma tempestade de raios.
O pai havia estado lá.
A cozinha estava gelada e escura, e as duas ficaram ali em silêncio avaliando o estrago. Foram os pequenos detalhes que chamaram mais a atenção, não as ausências mais óbvias — os casacos na porta dos fundos, ou o cobertor de lã que geralmente ficava em cima do sofá no cômodo ao lado.
Foram os pequenos espaços em branco: o jarro de cerâmica que ela havia feito para o pai na aula, a foto dos pais dele que ficava no corredor, o lugar onde sua caneca costumava ficar. Era como uma cena de crime, como se a casa tivesse sido amputada, e a primeira preocupação de Anahí foi a mãe.
No entanto, a expressão dela deixou claro que já sabia que o ex-marido ia pegar suas coisas.
—Por que você não me contou?
A mãe estava na sala, passando os dedos pelos móveis como se estivesse registrando as perdas.
—Achei que seria mais difícil.
—Para quem? — perguntou com olhos acesos.
A mãe não respondeu, apenas olhou para a filha com calma, com uma paciência que mais parecia uma permissão; era a vez de Anahí ficar ressentida, a vez dela de perder o controle.
—Nós achamos que seria muito difícil para você ficar vendo seu pai pegar as coisas — explicou a mãe. — Ele queria te ver, mas não dessa forma. Não enquanto fazia a mudança.
—Sou eu quem está aguentando firme — disse Anahí com a voz baixinha. — Eu tinha que decidir se isso seria muito difícil.
—Anahí — falou a mãe, dando um passo em direção à filha. Ela foi para trás.
—Não — disse, engolindo as lágrimas.
Era a verdade. Ela realmente mantivera a família unida. Aquele tempo todo foi ela quem as fez seguir em frente, mas agora a sensação era a de que estava caindo aos pedaços, e quando a mãe finalmente a abraçou, toda a confusão daquele mês tomou uma forma nítida. Pela primeira vez, desde a saída do pai, sentiu a raiva se dissolvendo e se transformando em uma tristeza tão grande que parecia não ter fim. Ela apoiou o rosto no ombro da mãe e as duas ficaram abraçadas por um bom tempo. A mãe cobriu a filha com seus braços e a ouviu chorar tudo o que não havia chorado num mês inteiro.
Anahí encontrou o pai em Aspen seis semanas depois disso. A mãe a levou ao aeroporto com a mesma calma comedida, que parecia ser sua principal característica desde a separação, uma paz inesperada, tão frágil quanto certa. Não sabia dizer se era o Arizona que causara aquilo — a mudança repentina, o calor constante — ou se foram os símbolos do pai que, de repente, se foram, mas, de qualquer forma, alguma coisa havia mudado.
Uma semana depois, o dente de Anahí começou a doer.
—Você comeu muito doce no hotel — brincou a mãe, enquanto iam para o dentista. Tinha que ficar segurando o queixo para não doer.
O antigo dentista delas havia se aposentado um pouco depois da última consulta, e o novo era um homem careca de uns 50 anos com uma expressão branda no rosto e jaleco engomado. Quando apareceu na porta para chamá-la, Anahí viu que seus olhos se arregalaram ao ver sua mãe, que fazia palavras-cruzadas numa revista de crianças — estava toda satisfeita, mesmo depois de ela avisar que aquilo era para crianças de 8 anos. O dentista arrumou a parte da frente do jaleco e foi falar com elas.
—Sou o Dr. Doyle — disse e esticou a mão para cumprimentar a mãe de Anahí, que levantou a cabeça com um sorriso distraído. Ele não conseguia parar de olhar para ela. Sua mãe se apresentou
— E esta é a Anahí.— disse a mãe
Depois de fazer a obturação, o Dr. Doyle foi com ela até a sala de espera, o que o outro dentista jamais tinha feito.
—E aí? — perguntou a mãe, levantando-se. — Deu tudo certo? Ela pode ganhar uma balinha por ter se comportado?
—Hum, nós tentamos incentivar o consumo reduzido de doces...
—Ela sabe — disse Anahí, olhando para a mãe —, está só brincando.
—Bem, muito obrigada, doutor — agradeceu a mãe, botando a bolsa no ombro e abraçando a filha.
— Tomara que demore para vermos o senhor de novo.
Ele ficou surpreso, mas a mãe abriu um sorriso enorme.
—É só escovar os dentes e passar o fio dental sempre, não é?
—Isso — respondeu ele com um sorriso e ficou olhando para elas enquanto iam embora.
Meses mais tarde — depois que o divórcio saiu, depois que a mãe voltou à rotina, depois de Anahí sentir dor no dente de novo —, o Dr. Harrison Doyle finalmente conseguiu criar coragem e convidar a mãe dela para jantar. Sabia que isso ia acontecer desde o primeiro encontro. Tinha alguma coisa na maneira como o dentista olhava para a mãe, uma esperança que fez com que as preocupações de Anahí ficassem mais leves.
Harrison mostrou-se uma pessoa estável, ao contrário do pai. Pé no chão, ao passo que o pai era um sonhador. Era exatamente o que precisavam; não entrou na vida delas com nenhum tipo de proposta revolucionária, e sim de maneira direta, um jantar de cada vez, um filme de cada vez, testando as zonas periféricas por meses até que elas finalmente estivessem prontas para recebê-lo. E quando esse momento chegou, foi como se ele já estivesse lá desde sempre. Já era difícil se lembrar de como a mesa da cozinha ficava com o pai fazendo uma refeição nela. Para Anahí —presa numa eterna luta entre tentar se lembrar e tentar se esquecer —,isso ajudou a fortalecer a ilusão de que estavam progredindo.
Certa noite, uns oito meses depois do início do namoro da mãe com o Dr. Doyle, Anahí abriu a porta da frente e lá estava ele de um lado para o outro na entrada.
—Oi — disse ela, abrindo a porta —, ela não falou? Está no clube de leitura hoje.
Ele limpou os pés no tapete e entrou.
—Eu queria falar com você, na verdade — disse, colocando as mãos nos bolsos. — Queria pedir permissão para fazer uma coisa.
Anahí, a quem com certeza nenhum adulto jamais havia pedido permissão para nada, ficou intrigada com aquilo.
—Se achar que não é problema para você — disse ele com os olhos brilhando —, eu gostaria de pedir sua mãe em casamento.
Essa foi a primeira vez. A mãe disse não, e ele tentou de novo alguns meses depois. Ela disse não, e ele novamente esperou mais um pouco.
Anahí presenciou a terceira tentativa. Estava sentada numa das pontas da toalha de piquenique quando ele se ajoelhou na frente da mãe. O quarteto de cordas que havia contratado tocava ao fundo. A mãe ficou pálida e balançou a cabeça, mas Harrison apenas sorriu, como se aquilo fosse uma grande piada da qual ele também fizesse parte.
—Achei que você fosse responder isso — disse, fechando a caixinha e colocando-a de volta no bolso.
Olhou para o quarteto e encolheu os ombros, depois se sentou na toalha de piquenique. A mãe se aproximou dele e Harrison balançou a cabeça de leve.
—Eu juro — disse ele — que vou vencer pelo cansaço.
A mãe sorriu.
—Espero que sim.
Na opinião dela, aquilo era totalmente bizarro. Era como se a mãe, ao mesmo tempo, quisesse e não quisesse casar com ele, como se, mesmo sabendo que era a melhor opção, não conseguisse dizer sim porque alguma coisa a impedia.
—Isso não tem a ver com o papai, tem? — perguntou mais tarde, e a mãe a olhou, séria.
—É claro que não — disse —, até porque se eu quisesse competir com ele, teria que ter dito sim, não é?
—Eu não quis dizer que você está tentando competir com ele — explicou Anahí. — Acho que a minha dúvida era mais se você ainda está esperando que ele volte.
A mãe tirou os óculos.
—O seu pai... — disse e fez uma pausa. — A gente se enlouquecia. E eu ainda não o perdoei pelo que fez. Tem uma parte do meu coração que sempre vai amá-lo, principalmente por sua causa, mas as coisas são como são por um motivo, não é?
—Mas você ainda não quer se casar com Harrison.
A mãe concordou.
—Mas você o ama.
—Amo — respondeu. — Muito.
Anahí balançou a cabeça, frustrada.
—Isso não faz sentido nenhum.
—Não é para fazer — disse a mãe com um sorriso. — O amor é a coisa mais estranha e sem lógica do mundo.
—Não estou falando sobre amor — insistiu —, estou falando sobre casamento.
A mãe encolheu os ombros.
—Isso — respondeu — é ainda pior.
Agora, Anahí está do lado de fora de uma igreja em Londres, vendo os jovens noivos descendo as escadas. O telefone ainda está perto do ouvido,ela fica escutando os toques de chamada através do oceano, pelos cabos, ao redor do globo terrestre. O noivo entrelaça seus dedos com os da noiva. É um gesto discreto, porém cheio de significado: os dois se mostram ao mundo como uma unidade.
Respira fundo quando a ligação cai na caixa postal. A voz tão familiar da mãe diz para deixar uma mensagem. Ela se vira para o oeste, inconscientemente, como se isso a fosse deixar mais perto de casa. Vê o campanário de uma igreja por entre as fachadas brancas de dois prédios.
Antes de o telefone dar o sinal para o início da gravação da mensagem, ela fecha o aparelho, deixa outro casamento para trás e anda rápido para a outra igreja, sabendo, mesmo sem saber, que era a que estava procurando.
Autor(a): Mila Puente Herrera ®
Este autor(a) escreve mais 75 Fanfics, você gostaria de conhecê-las?
+ Fanfics do autor(a)Prévia do próximo capítulo
Quando chega lá, depois de dar a volta num dos prédios e de passar por entre os carros na calçada, fica paralisada, seu corpo dormente por causa da cena. Lá está, no pequeno pátio, a estátua da Virgem Maria, na qual Alfonso costumava subir com os irmãos. Em volta da estátua, em pequenos grupos, há ...
Capítulo Anterior | Próximo Capítulo
Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 36
Para comentar, você deve estar logado no site.
-
vanessap. Postado em 23/09/2014 - 01:55:04
Foi muuuuitoooo linda!! Amei cada capitulo e me emocionei em todos! *---*
-
bellaherrera Postado em 22/09/2014 - 23:08:26
Ahhhhhhhhhhhhh foi um final perfeito para uma fic perfeitaaaaa *---------------* agora entendi porque essa web se chama assim!! Foi mt perfeito o Ponchito falando que se sente melhor ao lado da Annie <3 owntttttttt!!! Mila obrigada por ter compartilhado cmg essa historia super fofaaaa,e ainda hj lerei a sua nova web!!! Milhões de beijosssssssssssss
-
beca Postado em 22/09/2014 - 18:58:14
Foi lindo uma pena que ja acabou....
-
bellaherrera Postado em 20/09/2014 - 14:48:41
É muitoooooooo fofo ver amizade da Annie com a mãe dela <3 ahhhhhhhh o Ponchito apareceuuuuuu!!!!!!!!!!! Perdão por nao ter feito a sua capa, é porque meu pc onde tem o programa que eu faço foi excluido do pc porque ele foi formatado, mas eu prometo que eu faço uma capa linda para sua proxima wem!!! ta no final : / é tão tristeeeeeee
-
vanessap. Postado em 19/09/2014 - 23:34:55
Dessa vez Poncho nao pode ser rude com ela :( Posta mais *-*
-
beca Postado em 19/09/2014 - 22:54:20
Espero que o Poncho tenha uma bis explicação !!!!!!
-
bellaherrera Postado em 19/09/2014 - 12:43:27
Anemmmmmmmmm a web ja esta acabando?????????/ anemmmmmmmmmmmmmmm!!!!!!!!!!!!!!! Poncho cade vc nessa web? posta maisss
-
beca Postado em 18/09/2014 - 19:44:57
JÁ ESTÁ ACABANDO? ESSA FIC É MUITO LINDO... O PONCHO FOI UM IDIOTA IMBECIL COM A ANY
-
vanessap. Postado em 18/09/2014 - 18:16:22
Mas já reta final?! :O ta muito perfeita pra acabar! :(( Posta mais *-*
-
bellaherrera Postado em 17/09/2014 - 08:32:25
Tadinha da Annie :/ o Poncho fez pouco caso dela!!!! O que????????? essa menina é ex ou atual? como assim? eu acho que ela é ex!!! Posta maisssssssssssss