Fanfics Brasil - 3 - Os Ariatas Azuis. Marianas (Sereias) - a civilização dos sonhos

Fanfic: Marianas (Sereias) - a civilização dos sonhos | Tema: Sereias - harry potter -


Capítulo: 3 - Os Ariatas Azuis.

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Jeremy não consegue responder. As palavras ficam presas em sua garganta.


- Você deve estar assustado. Bem! Eu estaria no seu lugar. Mas por favor! Não tenha medo. Não lhe farei nenhum mal.- diz Licia meigamente.


- Jeremy.- disse ele.


- Não ouvi o que disse. – pergunta Licia.


- Jeremy é o meu nome. – Responde com grande esforço.


- Sente-se bem? – ela olha para ele com ternura.


- Não sei. Estou confuso. – ele perde a visão e foca nos pés.


- Entendo. – Licia aponta uma pedra para Jeremy se sentar e continua – Deixe-me lhe explicar o que houve: Eu o encontrei já quase sem vida, em águas profundas demais para sua condição.


- Minha condição?


- Sim. Sua condição humana. Tive que trazê-lo para cá. Você não aguentaria o tempo de subida até a superfície. Certamente morreria.


- Você salvou a minha vida? –  perguntou Jeremy agradecido.


- Sem querer parecer pretensiosa. Sim! Eu te salvei. Você estava a poucos segundos da morte. – ela fala e se aproxima dele vagarosamente.


- Pelo amor de Deus! Quem é você afinal? – Jeremy estava sem jeito e temeroso.


Com olhar meigo, se aproxima ainda mais de Jeremy.


- Por que me olha assim? – ele fala olhando nos olhos dela.


- Como estou te olhando, Jeremy?


Sem reação, Jeremy desviou-se. A intensidade do seu olhar lhe trazia certo desconforto.


- Então é tudo verdade – Diz Jeremy


- O que é tudo verdade, Jeremy?


- Você... A cidade perdida de Atlântida... Sou um cientista. Pesquisei por muitos anos sobre sereias e tudo o que agora está diante dos meus olhos. Onde eu vivo, existem muitas e muitas histórias, relatos, pesquisas, estudos,  sobre sua espécie. Você não entende! Não imagina o que é dedicar toda uma vida a procura de algo e num abrir e fechar de olhos, tudo se revela.


- Tem certeza que quer falar sobre procura e ausência? Porque ao contrário do que acredita. Eu entendo muito bem!


 Jeremy compreendeu que Licia com sua voz triste estava na verdade falando de si mesma.


- O que tanto procura? O que te falta? – Pergunta Jeremy


Um forte som é emitido deixando Licia com um semblante preocupado.


- Perdoa-me. Tenho que ir...


- Não. Não vá! Preciso que fique. Não me deixe aqui sozinho.


- Me perdoe. – ela fala assustada se afastando dele.


Licia sai sem olhar para trás, deixando Jeremy sozinho com seus medos, suas dúvidas.


Jeremy permanece sentado na rocha, totalmente paralisado. Havia um lado que desejava acreditar que de fato estava vivenciando seu maior sonho, mas havia seu lado racional que lhe gritava a loucura daquela realidade.


********


Dois


Há muitos e muitos anos que a História especula sobre a Cidade Perdida. Inúmeras histórias passaram de geração em geração até caírem no esquecimento da maioria das pessoas, passando a ser alvo de pesquisa apenas de um seleto grupo de cientistas que insistiam em tentar provar que de fato houve não apenas uma civilização antes de nós, como também essa civilização era dotada de uma inteligência e de um conhecimento muito superior à nossa.


A verdadeira história de Atlântida teve inicio há 10.000 a.C.


Havia uma civilização sobre a Terra que dominava todo o conhecimento da espiritualidade, ciência, natureza. Viviam em paz. Não havia maldade ou atos criminosos e todos se amavam em sua essência. A lei universal era o amor levando consigo todo o conhecimento adquirido de geração em geração. As relações eram fraternais. Não havia espaço para o orgulho, egoísmo ou qualquer desvio do ego, até que uma catástrofe natural devastou quase toda a vida sobre a terra e debaixo das águas. A Era Glacial.


Muitas espécies não conseguiram se adaptar a temperatura de – 50 Graus, deixando evidente que apenas as espécies mais fortes sobreviveriam.


A luta pela sobrevivência fez nascer no coração do povo de Atlantes o ego no sentido mais amplo da palavra. Muitos se renderam ao egoísmo, visando apenas a própria sobrevivência.


Se não bastasse a luta contra a natureza, começaram a brigar entre si.


Na guerra pela sobrevivência, muitas espécies passaram por mutações que lhes auxiliaram se adaptarem ao novo contexto imposto pela natureza.


Os Atlantes junto com algumas outras espécies de seres vivos passaram a viver debaixo d água. Seus corpos passaram a ter receptores sensoriais que bloqueavam a sensação térmica do frio e permitiam se suprir de oxigênio tanto dentro d água como em terra.


Passados mil e duzentos anos, a forma de seus corpos também sofreram mutações, transformando-se metade superior do corpo de carne e osso e a metade inferior em uma grande calda com escamas.


Mas, não fora apenas seus corpos que sofreram mudanças. A civilização de Atlantes, antes conhecida pelo grande conhecimento que detinham e pelo cuidado de uns para com os outros, haviam se dividido.


Uma parte da civilização de sobreviventes da Era Glacial conseguiu manterem-se fiéis a tudo que lhes fora ensinado. O amor, respeito, irmandade, continuava existindo no coração de cada um de seus habitantes.


Mas, houve uma boa parte da civilização de Atlantes que se corrompeu. Cada ato maldoso lhes servia de alimento para o próprio ego. Tornaram-se uma sociedade individualista, onde cada um dedicava-se apenas no suprimento de suas próprias necessidades.


Apenas uma ordem era respeitada por ambos habitantes da Cidade Perdida.


Essa lei era passada de geração em geração. A punição para quem a violasse seria a morte sem piedade. Havia uma separação entre os seguidores da luz e entre os nascidos da escuridão (como eram conhecidos entre si). Ninguém, jamais, poderia invadir o território um do outro. Embora vivessem próximos, os dois mundos jamais deveriam se tocar.


*****


Licia retornou poucas horas depois para a redoma de oxigênio onde Jeremy estava. Encontrou-o completamente impaciente, realmente muito tenso.


— Peço que me desculpe, tive que me ausentar — Diz Licia tocando-o levemente no ombro.


— O que houve? — Perguntou Jeremy controlando dando o seu estado de nervos.


— Nada que precise saber no momento. Está com fome?


— Não! Sim! Ou melhor, não sei.


— Curioso — Comenta Licia.


— O que é curioso?


— A forma como vocês, humanos, mudam as necessidades em frações de segundos.


— Ora, não é isso! O que eu quis dizer é que estou com fome sim, mas não sei se conseguirei me alimentar. Estou muito abalado, confuso.


— Entendo muito bem sobre essas sensações. É ruim quando as sentimos. Não gostaria que se sentisse assim. Não mesmo! Está com medo?


Jeremy a olha com carinho. Nunca, em toda a sua vida, alguém lhe tratou com tanta ternura.


— Eu procurei você por toda uma vida.


— Procurava por mim, Jeremy? — Licia novamente o olha de uma forma desconcertante.


Jeremy tenta em vão responder. Aquele olhar o paralisava de todas as formas.


— Poderia falar-me sobre você, seu povo? — Perguntou Jeremy despejando a curiosidade que estivera represada durante a espera.


— O que quer saber?


— Tudo o que puder ou quiser me contar...


Licia segurou-o pelas mãos e convidou-lhe a sentar num confortável canteiro. As folhas secas amareladas tornavam o acento improvisado em um lugar confortável. Depois, contou-lhe toda a história de sua civilização, desde o início de tudo. Não lhe poupou de nenhum detalhe.


Jeremy ouvia a tudo atentamente. O que Licia estava lhe contando era muito mais que ele um dia pôde supor. Estava completamente envolvido.


— E é isso, Jeremy! Contei tudo o que aconteceu com a minha espécie até aqui.


— Estou realmente impressionado. Não tenho palavras para descrever o que eu estou sentindo.


— Eu posso imaginar — retruca Licia. — Uma vida inteira procurando por algo e de repente tudo lhe é revelado...


— Faltou responder a uma pergunta.


— Qual?


— Quando saiu pareceu assustada... O que houve?


— Temos um grande inimigo, Jeremy! Os tubarões gigantes. Seus ataques nos trazem muita dor e destruição. Posso dizer que o maior desafio do meu povo é fugir dos terríveis ataques destes monstros. Além de predadores, eles são nossos torturadores psicológicos.


— Agora faz sentido. Por isso muitas vezes foram encontrados restos de comida no estomago de grandes tubarões, mas nunca um cientista conseguiu identificar a qual espécie pertencia.


— Sua espécie mata tubarões para lhes abrir-lhes o estômago? — Perguntou Licia intrigada.


— Não, não é isso! Caçamos tubarões sim, mas não apenas para abrir os seus estômagos. Mas isso eu posso lhe explicar depois. Antes eu preciso saber da sua história pessoal, pois essa da sua espécie eu já sei, mas e a sua, pode me contar? — Pediu Jeremy sem deixar transparecer uma estranha sensação de conhecê-la desde sempre.


Licia calou-se por um instante. Um semblante entristecido tomou conta do seu rosto quando começou a contar a história de um dos mais admiráveis líder dos ariatas, Dorg.


— Eu era muito pequena, mas me lembro como se fosse hoje. Aliás, eu não estaria aqui para contar se não fosse pela grande coragem de Dorg, o meu salvador. Eu estava brincando entre os corais quando fui cercada por diversos tubarões gigantes. O medo fez com que eu fugisse desesperada, cometi um dos maiores erros quando se está face a face com um predador. Mas eu era muito pequena e meu corpo não tinha estrutura para fugir de uma espécie tão rápida. Estava para ser devorada quando Dorg apareceu e num ato corajoso e altruísta cortou a própria pele, atraindo todos os tubarões para si com o cheiro do seu sangue. No momento do corte, ele nadou para bem longe da minha presença. Foi até onde sua vida suportou. Ele me salvou sacrificando a própria vida...


Envolvida com a emoção da lembrança, Lícia começou a chorar. Jeremy a abraçou delicadamente, confortando-a. Naquele momento, um calafrio tomou conta do seu corpo e Jeremy sentiu uma sensação de poder inigualável. Um homem em busca de uma civilização perdida e como se num sonho se encontra dentro dela e em seus braços a espécie mais linda e interessante de toda a sua vida. Jeremy sentiu-se completamente conectado com Licia.


Os dois se olharam. Um segundo pareceu uma eternidade para ele. Perdido na imensidão daquele olhar, Jeremy enxugou com ternura a lágrima que escorria pela face de Licia.


Quando uma espécie ariata chora ou se emociona o seu tom de pele muda e uma pequena contração se nota em volta dos lábios.


— Eu também daria a vida por você — disse Jeremy quase num sussurro.


Acolheu Licia em seu peito sem entender a avalanche de sentimentos que inundava sem coração. Desejou nunca mais deixá-la partir.


Licia também sentiu um forte sentimento lhe consumindo. Desejou nunca mais sair daquele abraço.


Permaneceram em silêncio. Nenhuma palavra caberia no momento.


— Isso é loucura — disse Licia afastando-o delicadamente.


— É uma loucura real – retrucou Jeremy.- Foi um ímpeto da minha parte Licia. Perdoe-me. Não pude me controlar, um sentimento especial me tocou.


— Como pode dizer isso? Sabe tão pouco sobre mim. Sobre meu povo.


— Então me conte. Quero saber tudo o que diz respeito a você. — Pediu Jeremy novamente, conservando o tom carinhoso em sua fala.


Licia para por alguns segundos e diz. – São tantas histórias que temos, não vale a pena te incomodar.


- Incomodar? Licia é tudo o que eu quero. Ser incomodado por suas histórias e a do seu povo. – Então Licia prosseguiu contando-lhe fatos memoráveis de preciosos Tritãos azuis.


— Há milhares de anos, havia um líder muito forte e inteligente sobremaneira. Graças a ele, nossa civilização sobreviveu. Seu nome era Zorque. Ele carregava na mente a separação total do nosso povo com qualquer contato com a terra. Sabia dos riscos e da ignorância que o mundo seco tinha em relação a nós. Achavam que éramos peixes grandes, que não tínhamos sentimentos e nem amor à vida. Por isso nunca tivemos contato com nenhum ser humano.


— Mas, vocês são tão humanos quanto nós! — Exclamou Jeremy.


— Não é bem assim, Jeremy. Nós sabemos disso, mas a maioria dos seres humanos não. Quando se olha uma sereia a única coisa que o ser humano pensa é nos colocar em um tubo de água e cobrar ingressos para ganharem o seu dinheiro. O coração humano se corrompeu há milhares de anos. A fraternidade ficou em apenas alguns corações e são muito poucos. – Licia prossegue. - Zorque navegava diariamente pelos mares das ilhas Marianas e região com nossos batedores. Seu maior medo não era nem os golfinhos, que na época eram nossos inimigos, tampouco os grandes tubarões que até hoje são os nossos grandes adversários, mas sim, o ser humano.


Certo dia de inverno, Zorque percorria o território sozinho e avistou um grande navio navegando pelas ilhas Marianas.


Com muito cuidado, ele ficou por algum momento observando a navegação do Navio Netuno das Américas. Era início de noite e o céu estava nublado com uma forte geada. A lua não apareceu. As estrelas tampouco. Zorque percebeu que algo havia caído do navio em alto mar. Não sabia o que era. As ondas estavam agitadas, mas Zorque mergulhou até o local. Quando estava para emergir, avistou algo que o deixou petrificado. Um corpo estava imergindo no oceano. Era uma mulher. Zorque a tomou em seus braços e subiu para onde pudesse salvá-la.


A mulher estava desmaiada. Zorque então nadou rapidamente para a ilha mais perto do local onde estavam. Como a velocidade de um guerreiro, ele a levou em poucos minutos até a beira da praia, colocando-a na areia. Em pouco tempo o céu se abriu revelando uma linda lua cheia. Sua luz branca iluminou o corpo da bela moça, dando a Zorque a visão mais bela que já teve em toda sua existência. Lá estava ela, Ligia.


Havia algo estranho que chamou a atenção de Zorque; uma escrita na testa que dizia “bruxa”.


Os padres que estavam no navio condenaram-na à morte por pensarem que ela era uma feiticeira. Tratava-se de uma tentativa de assassinato. Zorque a salvou dando-lhe novamente o sopro da vida.


Tudo o que ouvia era surreal para Jeremy. Sentia-se maravilhado diante daquele novo mundo, mas também muito assustado.


— É melhor descansar — interrompeu Licia ao notar o semblante assustado e cansado na face de Jeremy.


— Não! Não quero descansar. Por favor, continue.


Licia sorriu e olhou para ele numa tentativa de reprimenda, mas continuou.


— Esses foram os dias mais significativos na vida de Zorque. Ele a amparou e cuidou dela, deu-lhe o que beber e o que comer. Logo a bela moça começou a dar os primeiros sinais de melhora. Depois de ter  restabelecido a consciência, continuou sendo cuidada. No início sentiu medo de Zorque, por sua estranha aparência, mas logo se acostumou e aceitou seus cuidados. Quando recuperou totalmente suas forças, contou a Zorque todos os horrores que havia sofrido nas mãos dos fanáticos religiosos. Zorque sentiu por ela algo nunca antes sentido. Ele a amou. Desde o momento que a encontrou, nada mais desejou. E com isso toda a civilização sofreu o abandono de seu único líder.


Zorque viveu algo quase extinto debaixo do céu. O amor sem reservas, sem condição, sem temor.


Por um momento Licia se calou, perdendo-se em seus pensamentos.


— Licia! — Gritou Jeremy chamando-a para o momento presente. — Continue, por favor!  - ficou observando-a e sorriu.


— Viveram uma intensa história de amor — continuou Licia. — E algo extraordinário aconteceu. Algo que contrariou todas as regras da possibilidade. Ligia engravidou de Zorque. Uma criança uniu dois mundos que jamais poderiam ter se tocado. Ele não poderia viver em seu mundo e ela não poderia viver embaixo d água. Até a criança nascer, Zorque manteve tudo em segredo. Voltou para sua civilização e quase toda a noite, secretamente, subia para a superfície ao encontro de sua amada.


— Essa criança? Ela nasceu?  — Perguntou Jeremy com ar de surpresa.


— Sim! Nasceu forte e saudável. Sua aparência era como a de vocês. Pouca coisa do nosso povo se encontrou no menino que se chamou Clicio. Zorque se encantou pelo menino. Manteve sua nova família em segredo, visitando-os como falei quase todas as noites. Um ano havia se passado, quando algo terrível aconteceu. Clicio adoeceu. Seus pulmões começaram a sofrer os danos da mutação das espécies. O menino passou a ter crises constantes de falta de ar, chegando muitas vezes à perda total da consciência. Numa tentativa frustrada, eles tentaram manter Clicio o maior tempo possível nas águas, para que pudesse desenvolver mais e mais nossa simétrica e quem sabe viver como um de nós. Mas a criança piorava a cada dia, obrigando Ligia a tomar uma difícil decisão.


O que estava ouvindo era difícil demais para Jeremy. Em muitas partes da história, ele se via nela. Sua vida também fora marcada por uma grande perda. Vivera uma grande paixão em sua juventude e dessa paixão nasceu um filho. Jeremy o amou desde o primeiro momento em que o viu. Houve um golpe cruel do destino, uma doença rara nos pulmões ceifou a vida do seu filho quando este tinha apenas três anos de idade. Nunca mais, Jeremy conseguiu se abrir novamente para o amor.


— Por que está chorando, Jeremy? Não quero deixá-lo triste — disse  Licia com real interesse no seu bem-estar.


— Estou muito tocado com a história de Zorque. Não pare, por favor! Continue. – Cabeça baixa, ele retoma a atenção, olhando novamente para ela.


— Como quiser! — Zorque — continua ela — sofreu uma morte em vida ao ver seu filho e sua grande amada partindo. Ligia decidiu que deveria buscar ajuda para Clicio em outro lugar. Ao despedir-se de Zorque, sua amada partiu com seu único filho. Ele os acompanhou em águas rasas. Foi uma longa caminhada até que um pequeno grupo de expedicionários evangelísticos que pregava pelas aldeias da região encontrou Ligia.


Logo perceberam a marca em sua fronte e novamente apontaram-na como se ela fosse uma bruxa. Ao olharem para Clicio, com seus pés e mão em forma de nadadeiras, eles os mataram de uma forma fria e cruel. Colocaram o pequenino BB numa espécie de ferro que assa carne, acenderam uma enorme fogueira e ali rodavam o seu pequeno corpo como um porco assando para o jantar. Em frente a ele estava Ligia amarrada olhando a cada segundo da maldade que fizeram a seu lindo BB e a sua vida.


— E Zorque assistiu a tudo? — Perguntou Jeremy muito emocionado.


— Sim. Estava já há muitos dias na superfície e isso o enfraqueceu. Não teve forças para lutar.


— Preciso descansar. Deitar um pouco. Realmente não me sinto bem — disse Jeremy quase sem ar.


— Peço que me desculpe. Não devia ter lhe contado uma história tão triste.


Jeremy não conseguiu ouvir seu pedido de desculpas. Adormeceu logo que se se encostou a um pequeno amontoado de algas.


Licia ajeitou Jeremy em uma posição melhor e o deixou descansando.


********


Uma alegria contagiante tomou conta do seu coração. Sentiu-se leve, feliz. Decidiu deixá-lo sozinho para que pudesse descansar melhor, então saiu nadando num rasante veloz.


Sua euforia era tanta que nem percebeu sua amiga Bella logo à sua frente, trombando-a com toda força.


— Ei, mocinha! Para onde vai com tanta pressa? Quase me matou!


— Desculpe-me, Bella. Não vi que estava aqui. Perdoe-me, sim?


— Só se me disser o porquê de tanta euforia — disse Bella brincando.


Ela olhou para Bella e rodopiou na água como um furacão. Depois subiu e desceu a nado como uma bailarina. Bella, que nunca havia visto a amiga vibrando tanto, estava encantada com aqueles movimentos. Não imaginava o que pudesse ter acontecido. Ficou quieta esperou Licia terminar a sua dança de felicidade. Bolhas coloridas eram lançadas pelo mar, iluminando toda a escuridão do oceano. As lindas explodiam em pequenas moléculas de cores femininas, rosa, lilás e tons pastéis.


Bella resolveu entrar no circulo com Licia e fizeram juntas mais bolhas. Tantas, que em pouco tempo dezenas de ariatas se juntaram à grande celebração.


O som das ariatas ecoou pelo fundo do oceano e numa mistura de sons de alegria e cores, a felicidade foi contagiando a todos. Ninguém sabia o motivo da celebração. O motivo real estava guardado no coração de Licia a sete chaves.


O grupo ainda estava em festa quando Licia chamou discretamente sua amiga para acompanhá-la ao centro.


O centro era um lugar coberto de luz e protegido por dezenas de ariatas-machos-guardiões. Eles eram seres que viviam para uma missão, proteger a vida da comunidade. Defender a ordem, mesmo que para isso fosse preciso sacrificar a própria vida, e por isso pertenciam a uma casta à parte, que não constituía família. São predestinados a essa função desde o ventre de suas geradoras.


Havia uma festa na cidade. Era a chamada festa da sobrevivência que acontecia todo ano.


A linda cidade dos ariatas era dividida da seguinte forma: lindas plantas aquáticas rodeavam cada espaço livre com pequenas luzes; lulas mediavam o espaço onde mantinham a sua vida, enquanto as relvas subaquáticas, aproveitando as sombras que o sol (a luz provocada pelos ariatas), criavam uma espécie de mural.


Os ariatas são capazes de reproduzir a imagem de cinquenta e duas silhuetas de edifícios aquáticos, navios, barcos, pássaros e peixes, inspirados na cidade. A noite nas profundezas do mar é eterna. O mais legal é que, à medida que o sol (luz) vai se movendo ao longo do dia, a instalação vai ganhando novas formas.


Ariatas, a cidade, é construída com folhas de plástico transparentes recortadas, que são posicionadas na horizontal ao longo de um passeio à beira das rochas oceânicas. Com isso, as sombras das folhas caem para uma parede de cem metros de comprimento, pintada de verde, e vão mudando de posição ao longo do dia.


Centenas de cristais de água são distribuídas pelos caminhos da cidade. Esse cristal é fixado pelo tempo em que a água endurece e vira uma espécie de pedra transparente. Ficam lindas ao serem decoradas pelos caminhos secos.


Quem olha de certa distância pode ver e entender o funcionamento da cidade dos ariatas.


Como se estivesse dentro de um invólucro transparente, a cidade fica submersa no mais profundo oceano e protegida das sujeiras oceânicas e animais indesejáveis. Dentro desse invólucro vivem os ariatas, em perfeita comunidade. De semana em semana, a comporta é aberta e enche sobremaneira a cidade dos sonhos. Então se distribui cristais, algas, e as famosas bolhas coloridas emitidas pelos residentes da cidade.


As festas são de visuais e sonoridades sem par. Tudo se modifica de minuto a minuto. Tudo na cidade era dividido geograficamente: os casais junto com seus filhos e os solteiros tinham as suas vilas que eram divididas, uma parte para os machos homens e outra para as fêmeas. As viúvas e as solteiras viviam numa mata de algas lindas e floreadas.


 O centro ou seio da cidade acolhia a todos. Para passeios, encontros, festas e comunicação. O trabalho era duro para todos, ninguém vivia de passeio ou doação. Todos trabalhavam em prol da comunidade.


Os líderes da grande cidade tinham um lugar especial com vista privilegiada, todos moravam em uma grande rocha onde havia belas arquiteturas. Era desta vista privilegiada que os grandes líderes acompanhavam o dia a dia dos moradores da comunidade. Tudo corria em harmonia. Viviam isolados no fundo do oceano construído para a sobrevivência da espécie. Poucos eram autorizados a sair do seio da cidade.


 Licia era uma líder iniciante, e por isso tinha autorização para ir e vir. Participava ativamente das reuniões. Sentia ser esta a sua missão: lutar pelos direitos de todos.


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Autor(a): Chérri filho

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Licia esperou todos se recolherem para voltar ao encontro de Jeremy. Não queria levantar nenhuma suspeita sobre a presença de um humano entre seu povo. — Jeremy... Jeremy... Sou eu, Licia. Acorde! Você está dormindo há muito tempo. Jeremy abriu os olhos e com uma alegria no rosto diz: — Bom dia, Licia. Bom dia, não &eac ...


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