Fanfics Brasil - 4 - Um novo mundo no oceano. Marianas (Sereias) - a civilização dos sonhos

Fanfic: Marianas (Sereias) - a civilização dos sonhos | Tema: Sereias - harry potter -


Capítulo: 4 - Um novo mundo no oceano.

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Licia esperou todos se recolherem para voltar ao encontro de Jeremy. Não queria levantar nenhuma suspeita sobre a presença de um humano entre seu povo.


— Jeremy... Jeremy... Sou eu, Licia. Acorde! Você está dormindo há muito tempo.


Jeremy abriu os olhos e com uma alegria no rosto diz:


— Bom dia, Licia. Bom dia, não é? — Fala sorrindo.


— Sim é um bom e lindo dia, Jeremy.


Lá estava um delicioso café da manhã ao lado dele. Um tipo diferente de pão seco, um líquido parecido com suco azul, mas com sabor amargo, e uma pasta semelhante a uma geléia de frutas. A fome era tanta que não se importou nem ao menos em saber se o gosto lhe agradaria. Em poucos minutos, tudo havia sido devorado. Não seria um sacrifício se tivesse que sobreviver com aquela comida esquisita dos ariatas, pensou ao comer  o último pedaço de pão.


— Jeremy...


— Sim, minha querida?


— Quero que conheça alguém. Posso chamá-la?


— Claro, pode sim! — Falou Jeremy emocionado por conhecer mais uma espécie marinha como Licia, a “sua” salvadora.


Jeremy olhou espantado.


— Quero que conheça Bella.


A diferença que havia entre as duas era gritante. 


— Não sei como devo cumprimentá-la, Bella.


— Um “Olá” seria gentil — diz Licia em tom de brincadeira.


— Sim, claro! Olá Bella!


Jeremy estava confuso, desconsertado. Aquelas criaturas apresentam comportamentos tão humanos, comunicam-se como humanos, mas seus corpos são tão diferentes da espécie humana...


— Vejo que já está aderindo à nossa cultura, Jeremy. Tomando nosso anoha...


— Ano... O quê?


— Anoha... A bebida da masculinidade. Apenas os Tritãos ariatas consomem essa bebida azul que está tomando — explicou Licia.


— Quero tanto saber mais sobre seus costumes, sua cultura, seu povo. Porque não me contam? — Pediu Jeremy.


— O que quer saber, Jeremy? — Perguntou Bella.


— Preciso que me conte tudo. Antes de chegar aqui, acreditava saber tudo, mas agora, diante de tudo isso que estou vivendo, olhando para vocês, me deparo com minha própria ignorância.


— Pois bem, eu vou lhe contar algo interessante.


Licia acomodou-se para ouvir a história de Bella. Sabia o quanto a amiga era apaixonada pela história do próprio povo.


— Vivemos bem até que há muitos anos fomos descobertos. A nossa espécie estava sendo devastada por pescadores e navegadores dos mares. O tempo passou e fomo-nos adaptando mais e mais ao fundo do mar até chegarmos à transição completa. Deixamos a terra firme e nos adaptamos ao fundo do mar de vez. Por isso, nunca, jamais, devemos ir à superfície. Para a sobrevivência de nossa espécie, tivemos que fazer uma escolha: a ruptura total com o ser humano.


Jeremy ouviu a tudo com constrangimento. Sabia muito bem do que sua espécie era capaz.


— Seria impossível a convivência entre nossa espécie e a sua — continuou Bella. — A sua espécie é corrompida pelo ego, pela necessidade de poder. Se convivêssemos, vocês logo iriam nos dominar e em pouco tempo nos exterminariam.


— Infelizmente, o que diz é a mais pura verdade, Bella.


— Entende o risco que Licia correu ao salvar-lhe? Se descobrirem a existência de um humano entre nós, podem até condená-la por traição. Na nossa lei, quem trai o próprio povo deve pagar com a vida — explica Bella.


— Eu não queria causar-lhe nenhum problema, Licia.


— Está tudo bem — respondeu Licia —, eu só preciso que fique aqui até eu encontrar uma forma de levá-lo para a superfície sem ninguém ver. E, o mais importante, com vida!


— Também não podemos nos esquecer de Zorguim — comentou Bella.


— Por favor, Bella. Não quero falar sobre isso — pediu Licia evitando levantar um assunto desagradável.


— Quem é Zorguim? — Perguntou Jeremy que não queria deixar nenhum assunto de lado.


— Não importa! — Exclamou Licia em tom de desaprovação à menção da amiga.


— Importa, sim. E como importa! — Retrucou Bella contrariando a observação de Licia.


 Licia respira fundo e começa a contar a Jeremy:


— Nossos cidadãos têm sobrevida de mais de cento e cinquenta anos. Ainda continuam sendo fortes de guerreiros. Muitos morrem pela idade de vida, mas não envelhecem como os seres humanos. Zorguin foi uma das espécies diferenciadas da nossa geração. Sobre ele “caiu o pecado”, como dizem vocês. Nele aconteceu o desejo de dominar todos os ariatas.  Queria o comando somente para ele. Reuniu dezenas de fêmeas para seus desejos e lutou contra muitos, ferindo-os e às vezes até matando-os. Quando chegou ao extremo de mortes causadas, foi condenado. Foi a primeira vez que algo assim aconteceu na história dos ariatas.


Jeremy ouvia a tudo atentamente.


— Essa espécie conseguiu fugir com suas fêmeas e construiu uma pequena nação, autodenominando-se “ariatas vermelhos”. Em discordância dos ariatas azuis, povo ao qual Bella e eu pertencemos. Houve então uma divisão. Ele acreditou no ódio como referência de vida. Zorguin buscou em muitos oceanos tesouros de navios humanos, que para nós não tem significado algum, e acumulou-os em cavernas distribuídas em vários pontos no planeta.


— O que ele pretendia com tantos tesouros acumulados? — Perguntou Jeremy


— Ele queria, em algum momento, conquistar seres humanos para um eventual ataque em terra. Zorguin sempre sonhou em conquistar parte da terra, deixar descendentes na terra. Ele era um dos maiores lideres da nossa nação, todos o amavam e o queriam como uma espécie de general. Seria o macho à frente de tudo e de todos. Talvez tenha sido isto o que o tenha levado a criar dentro de si um egoísmo tão degenerado — conclui.


— Você não se lembra das histórias em sua terra de navios e barcos que eram tragados pelo mar e todos morriam? Marinheiros que ouviam os cânticos das sereias e eram atraídos para o mar na esperança de ter encontrado um grande amor? Zorguin cometia essas atrocidades com sua espécie — conta Licia dando alguma referência a Jeremy.


— Não acredito! Então tudo isso sempre foi real? E nós, cientistas, debochávamos. Na verdade, isso virou lenda, história para crianças, desenhos animados — revelou Jeremy lembrando-se das centenas de histórias que lhe eram contadas nas escolas e também estavam presentes nos contos de pescadores.


— Sim, Jeremy. Tudo isso de fato aconteceu — lamenta Bella.


- Isso faz sentido. Pensando como um homem que acreditava em vidas marinhas meio humana.  Nós tínhamos evidências em todo o mundo. Dezenas de povos viram e viveram tais experiências. Quando líamos na China, Amazônia, Chile e mais e mais países, lá estava à história escritas em pedras, nas cavernas da antiguidade. Claro. Tudo isso faz sentido. Não existia comunicação entre esses países, como podiam ter visto as espécies marcadas em ilustrações? – Concluiu Jeremy com o semblante de meditação.


- O que eu ainda não lhe contei, Jeremy, é que ele ainda vive – Diz Bella -  e tem centenas de seguidores. Nosso maior receio é que ele venha nos dominar. Ele é uma das piores espécies da nossa raça. Muitos não acreditam nas intenções de Zorguim, como Licia e alguns de nossos líderes.


- Não é que eu não acredite nas más intenções dele. É que...


- Licia. Você tem o coração puro. Vê bondade em tudo que se move – Interrompe Bella.


- Me tira dessa conversa, Bella. Eu disse que tudo é possível. Somente não acredito que Zorguim queira por em risco nossa raça. Seria uma estupidez  –  Licia altera a voz.


- Licia, o problema dele não é estupidez e sim ganância. Ele quer ser o Rei de tudo e todos nesse planeta. Ele se vê acima do bem e do mal. Sua própria descendência crescera com esta mentalidade. Isso em nada me agrada, mas é a realidade. – Finaliza Bella


- Confesso que este assunto me deixa muito apreensiva e me entristece. Podemos parar por aqui? – Pede Licia


- Desculpe-me Licia. Não foi minha intenção.


- Está tudo bem. Precisamos voltar, antes que alguém sinta nossa falta. – Diz Licia.


- Vocês irão me deixar novamente?


- Sim, Jeremy, mas será por pouco tempo. Logo darei um jeito de voltar com algo mais para se alimentar. Fique calmo. Logo estará de volta em seu habitat. – Diz Licia


- Não sei se é isso que eu quero. – Diz Jeremy


- Não seja tolo, Jeremy. Não é uma escolha. Não aguentaria viver imerso por muito tempo. Adeus, Jeremy – Despede-se Bella.


- Até logo. Não tenha medo. Voltarei o mais rápido que puder. – Diz Licia.


- Não estou com medo. Vá em paz.


Licia e Bella se despedem de Jeremy e seguem a nado para a cidade.


- Pensou mesmo que poderia esconder algo tão grave de mim, Licia?


Licia quase desfaleceu ao ver seu irmão, Gléssios entrando e ficando frente a frente com Jeremy.


- Mas, o que é que está acontecendo aqui? – Gléssios pergunta alterado


- Por favor, Gléssios. Acalme-se, podemos explicar. – Pede Bella aflita.


- Acalme-se rapaz. Não tenho intenção alguma de lhes fazer algum mal. – Jeremy explica-se.


- Você me seguiu até aqui, meu irmão? – Pergunta Licia.


- Segui. Você está muito estranha. Eu a conheço. Sabia que estava escondendo algo.


- Ora. Você não tem esse direito. – Licia se exalta


- Meu dever como seu irmão e líder dos Ariatas mais velho é protegê-la.  Não vê o risco que corre? Não sabe do que os humanos são capazes? Nunca ouviu sobre as atrocidades que já cometeram contra nosso povo?


- Glessios! Você está coberto de razão. Sua irmã salvou a minha vida. Eu ...


- Nada justifica esconder um humano entre nós. – Gléssios interrompe Jeremy


- Não vê o quanto está sendo intolerante? Acha mesmo que eu poderia ter lhe dito a verdade? Se assim tivesse feito, você teria agido diferente do que está agindo, meu irmão. Por acaso, esta é a conduta correta de um líder? Você não quer nem ao menos saber o que de fato aconteceu. – Licia chora


Glessios tenta se recompor. As palavras de Licia o fez perceber o quanto suas emoções estavam fora de controle.


- Acalme-se Licia e me conte o que aconteceu. Irei ouvi-la. – Pede calmamente Gléssios.


Licia lhe conta a forma como encontrou Jeremy já quase sem vida. Não havia tido tempo para uma decisão sensata. Naquele momento era uma vida que estava se perdendo.


- Não a julgue, Gléssios. Talvez em seu lugar, teríamos feito a mesma coisa – Justifica Bella.


- Sim, Talvez! A questão agora não é o que aconteceu e sim o que irá acontecer. Como iremos levá-lo de volta para o seu habitat? Ele sabe sobre nossa existência. Seria colocar em risco todo nosso povo. – Diz Gléssios


- Licia, Bella, Gléssios! Preciso que acreditem em mim. Eu jamais faria nenhum mal a vocês. Eu...


- Você diz isso agora e acredito ser sincera suas palavras, mas quando voltar, estará novamente influenciado pelas paixões de seu mundo e seu ego falará mais alto. Desejará compartilhar com o mundo inteiro tudo o que viu. Trocará a honra de sua palavra que agora nos dá, pela glória de ter chegado a um lugar aonde nenhum humano jamais chegou.


Pela primeira vez Licia se deu conta de que de alguma forma, mesmo agindo com boa intenção, acabou colocando em risco seu povo.


- Por favor, não me olhe assim, Licia. Você não pode estar pensando que eu iria lhes causar algum mal. – Pede Jeremy


- Gléssios tem razão, Jeremy. Quando lhe salvei e lhe trouxe para cá, não pensei nas consequências do meu ato e agora...


- Por favor, Licia. Acredite em mim. Não há com que se preocupar. Para ser sincero, eu nem sei se quero voltar.


- Não seja tolo, Jeremy. Já lhe disse que isso não é uma escolha. Você morreria rapidamente vivendo como um de nós nas profundezas. – Diz Bella


- Não me importo. Tudo o que sempre busquei está aqui diante dos meus olhos. Sempre me senti inadequado, como alguém que está em um lugar sem ser convidado. Essa sensação sempre me acompanhou a vida inteira. Sempre insatisfeito incompleto. Procurei tantas vezes me sentir inteiro. Aprendi coisas novas, estudei muito, viajei, conheci lugares lindos. Mas, nunca, nada que eu tenha visto ou tocado se compara ao que estou vivendo agora. Por favor! Prefiro um dia apenas aqui com vocês, do que mil anos vivendo o que eu vivi até chegar aqui. Não tirem isso de mim – Diz Jeremy entre lágrimas.


Licia sente lhe correr um arrepio por todo o corpo. As palavras de Jeremy lhe atingiram o coração e como um imã atraiu o mesmo desejo para si. Desejou desesperadamente que ele ficasse para sempre junto dela.


- Deixe-me ficar? – Implora Jeremy


- Essa decisão não nos compete. Somos lideres, porém todas as decisões são tomadas por um conselho onde todos emitem sua opinião e os mais velhos tomam a decisão.


- E o caso aqui é bem mais complexo. A decisão deverá ser não apenas se ele poderá viver entre nós, como um de nós. Pois se esse pedido for negado. Deveremos decidir o que fazer, pois leva-lo a superfície implicará em um grande risco para toda a comunidade. E quanto a você, Licia, deverá explicar-se para o conselho e pedir benevolência. – Conclui Gléssios.


- Então faça isso. Reúna o Conselho. Uma decisão deverá ser tomada o quanto antes. – Diz Licia decidida


- Nos encontre daqui à uma hora no Palácio do Conselho. Estaremos reunidos á espera de Jeremy.


*****


- Só peço que confie em mim - Foram as palavras de Licia para Jeremy antes que ele entrasse em uma bolha de bolha de oxigênio.


 Abraçado por Licia e dentro de algo que mais parecia um grande útero, Jeremy estava protegido por ela. Seus pensamentos voavam, seus sonhos sonhavam, suas lágrimas caiam, seu coração era só gratidão. Os três mergulhados no fundo mais profundo do oceano das ilhas Marianas em sua grande fossa nadavam por entres os mais lindos plânctons. Passavam pelas mais bem desenhadas rochas. Bolhas coloridas eram lançadas na escuridão do oceano dando o mais belo presente de natal para Jeremy. Encantado com a beleza do que via e vivia, Jeremy era só emoção.


"Licia solta Jeremy em pleno nado, em sincronia com Bella que o pega de forma segura, carregando-o em uma subida vertical deixando dezenas de bolhas brilhantes, riscando o ar de Marianas, diferentemente das bolhas emitidas por Licia. A de Bella era de carinho e amizade e as bolhas de Licia eram de paixão e esperança de alegria.Cruzando por Bella, Licia retoma em seus braços o homem que mexeu com suas estruturas piscianas. Licia desce novamente ao fundo do oceano com Jeremy que olha ao lado e vê Bella cruzando seus caminhos e sons alucinantes de felicidade.


Bella deixa de soltar suas bolhas deixando as de Licia se espalhar por grande parte do oceano. Licia responde aos sons de Bella e Jeremy olha como uma criança sendo amamentada.


Em um momento elas param em frente à cidade dos Ariatas, para Jeremy era a “civilização dos sonhos”. Os três em frente à cidade toda iluminada, flutuando pela leve correnteza das águas. Olham-se com carinho profundo e as duas abrem um lindo sorriso e se arremetem para a entrada do Palácio do Conselho.


*****


A sessão se iniciava com Cléssios apresentando o caso para a corte.


- Respeitosamente, venho a vossa presença, apresentar-lhes um caso de extrema urgência. – Gléssios os saúda


- De que forma poderemos lhe auxiliar, irmão Gléssios. Sua aflição, me deixa aflito também. Peço que exponha o caso sem rodeios, imediatamente. – Pede o ancião da corte.


- Pois bem. Assim o farei! Primeiramente peço clemência. Um acontecimento fez com que Licia, minha irmã, cometesse um erro, se é que posso considerar um erro, visto que talvez em seu lugar teria feito o mesmo. Bem! Não há como saber. Ela agiu com o coração e tomou a decisão que julgou ser a mais correta. Prefiro que vejam com seus próprios olhos. Entre por favor, Licia!


Ao verem  Licia  acompanhada de Jeremy, adentrando o grande salão do Conselho, todos se calam. Um ser humano entre eles era algo jamais imaginado. Conheciam muitas histórias dos antepassados, mas nunca, jamais, havia existido um contato real entre eles.


- Por favor! Não tenham medo! Ele não tem intenção de nos fazer mal algum – Diz Licia para a corte ao perceber o grande impacto que a presença de Jeremy causou a todos ali presente.


Olham para Jeremy e o Ancião estende a mão como que autorizando ele a falar.


- Deixe-me que eu me apresente. Chamo-me Jeremy. E se estou aqui neste momento me apresentando para vocês, graças a esta jovem. Ela salvou a minha vida. Estava mergulhando em uma profundidade já perigosa. Foi quando perdi a consciência. Licia me resgatou das profundezas e me devolveu de volta a vida. Levou-me para uma redoma, não sei bem ...


- Sim, Jeremy! Nossa redoma de oxigênio – Acrescenta Gléssios


- E ali me alimentou, cuidou de mim...


- A intenção de Licia era levá-lo novamente a superfície, para seu habitat. São nestes três pontos que precisamos da decisão do conselho: A primeira questão a ser tratada aqui é sobre a atitude de Licia. A segunda o que fazer com o humano...E...


- O que tem a dizer sobre essa acusação Licia? – Pergunta o Ancião


Licia que até o momento se manteve calada coloca-se em posição de reverência e respeito antes de responder a pergunta.


- Quanto a essa acusação. Sou culpada! Sim, salvei um ser humano das garras da morte e para mantê-lo vivo o abriguei em nossa redoma de oxigênio. Se eu agi certo ou errado? Não saberia responder. Aprendi com vossa senhoria e os demais anciões aqui presentes que aquilo que se faz por amor esta sempre acima do bem e do mal. Se há alguma culpa, sou culpada por sentir pulsar dentro de mim um grande amor por todo ser vivente. O que fiz por Jeremy, teria feito por qualquer vida sob ameaça de morte. Portanto, com todo respeito que tenho por esta corte. Se tiver que ser perdoada. Peço que me perdoem por colocar o amor acima da lei.


Um grande silêncio se instalou no salão. Todos se entreolharam sem nada dizer. Afinal, que palavra caberia diante de tal argumento? Sem conseguir se conter Jeremy rompeu o silêncio com uma suplica entre lágrimas.


- Por Favor! Não me expulsem daqui. Não me tirem o que eu demorei uma vida inteira para encontrar.


- Acalme-se! – Pede o ancião – Não entendi o seu pedido, Jeremy! Esse é o seu nome, não?


- Sim! Chamo-Me Jeremy. Permita-me que eu me apresente. O Ancião o chama para se aproximar – Jeremy aproxima-se da corte – Sou um pesquisador. Pesquiso espécies marítimas desde o inicio da minha carreira. Sempre fui atraído pela possibilidade de haver algum tipo de espécie desconhecida por nós seres humanos e foi justamente este fascínio que me trouxe até vocês. Vim para as Ilhas Marianas, com o intuito de encontrar algum vestígio do que chamamos de “A cidade Perdida”, tida hoje como uma lenda para a maioria dos humanos.


- Como chegou à conclusão de que encontraria algo nas imediações das Ilhas Marianas? – Pergunta o Ancião


- Como eu disse, sou um pesquisador e toda uma vida de estudo me apontava esta ilha como referencia de uma grande Catástrofe natural. Mas, de tudo que li, de tudo que estudei, vejo que todo conhecimento que acumulei durante todos esses anos, não chega nem perto de tudo que meus olhos viram, meus ouvidos ouviram e minhas mãos tocaram. Quero viver entre vocês.


Toda a corte se manifesta com espanto ao ouvir o pedido desesperado de Jeremy.


- Silêncio! Silêncio! – Grita o Ancião para a corte e virando-se para Jeremy questiona: - Você tem consciência do que pede a esta corte?


- Sim! Tenho plena consciência.


- Como um ser humano poderia viver submerso em tamanha profundidade? – Pergunta o Ancião


- Meu organismo se adaptará em pouco tempo. Posso viver entre as redomas e os corredores de oxigênio que vocês construíram pela cidade. 


- E quanto a todos que esperam sua volta? Seus familiares? Acha mesmo que pode simplesmente adotar um novo modo de vida e se esquecer totalmente de suas raízes? – Pergunta o Ancião


- Não tenho família. Nunca criei raízes. Sempre preferi a solidão da minha profissão.


- Temos aqui duas questões muito importantes a serem decididas. A primeira é em relação a você Licia. Sua atitude fora louvável. Salvar uma vida realmente está acima de qualquer prioridade ou lei, mas você falhou ao mantê-lo escondido. Correu riscos e nos colocou em risco também.


- Eu sei. Compreendo a acusação que recai sobre mim. Estou entregue a sentença que a corte julgar justa para mim. – Diz Licia com a consciência tranqüila.


- Entenda Licia! Não estamos aqui para condená-la. Você ocupa uma posição importante entre nós. É uma líder e como tal, não deve agir isoladamente. As conseqüências de seus atos recaem sobre todos nós. – Diz o ancião e Gléssios seu irmão observa.


- Quanto a você, Jeremy! Estou inclinado a levar seu pedido para uma discussão no Conselho. Vejo que não há macula em você. Os humanos em sua maioria são maus e agem sempre em beneficio próprio. Mas, você, conseguiu manter sua essência. A ganância e o desejo de notoriedade o trouxe até aqui, é verdade, mas sinto verdade em suas palavras. Levaremos também seu pedido como pauta na discussão do Conselho. Essa sessão está encerrada. Antes dos primeiros raios da luz do luar, voltaremos com nossa decisão.


O ancião sai pela porta principal, acompanhado de seus Conselheiros.


Todos os membros saem em silêncio, em sinal de respeito. Como de costume, os únicos a permanecerem na sala do Conselho deveriam ser os que aguardavam a sentença e ali deveriam permanecer incomunicáveis até o veredicto.


Licia espera aflita todos saírem e vai ao encontro de Jeremy que permanece sentado no banco dos réus, com os olhos fechados, como se fizesse uma oração.


- Jeremy! Você está bem?


Jeremy abre os olhos e se depara com o olhar terno e acolhedor de Licia.


- Sinto muito ter lhe causado todo este transtorno. Estou muito angustiado. O que vai acontecer com você?


- Não sei. Não há como saber. Mas, fique tranquilo. Estamos sendo julgados por seres do mais alto grau de evolução. Seres de compaixão e justiça. Tenha a certeza de que decidirão o melhor para nós.


- Não posso me afastar de você. – Diz Jeremy


- Porque diz isso? – Pergunta Licia


- Tudo isso que estou vivendo é um sonho realizado. É o encontro de uma vida inteira de busca, mas não é isso que me faz querer ficar. É você Licia! Desde o primeiro momento em que olhou para mim, tive a certeza de que não poderei viver sem tua presença.


Uma lágrima desce pela face de Licia. As palavras de Jeremy entraram em seu coração, confirmando o que também sentirá quando o viu quase sem vida, imerso nas profundas águas.


- Quando te resgatei Jeremy. Resgatei uma parte de mim. Você estava inconsciente em meus braços e meu coração estava aos pulos dentro do meu peito, querendo lhe doar a vida que lhe escapava. Você era um estranho completo, mas naquele momento eu daria a minha vida pela sua se preciso fosse. E eu entendo quando diz que finalmente encontrou o que sempre buscou, porque meu coração diz o mesmo.


Jeremy a tomou em seus braços e a beijou. Licia se entregou ao apaixonado beijo como nunca se entregara em sua vida.  Em uma sala meio escura, a espera de uma sentença, dois corações pulsavam na mesma intensidade. Já estavam aprisionados pelo amor. Nada poderia separá-los. Nem mesmo a distância de seus mundos.


******


As portas se abrem e toda a comissão do Conselho se direciona aos seus lugares. Em seguida todos os lugares de acesso público são ocupados. Bella senta-se aflita para ouvir a sentença junto com os demais.


O ancião se levanta, fazendo com que todos ali presente também se levantassem. No mesmo formato de um julgamento em nossa Terra.


- Chegamos a um veredicto. Pedimos o silêncio e o respeito de todos – Diz o ancião.


Jeremy e Licia se entreolham e de mãos dadas ouvem a sentença.


- Licia!  Você é uma grande líder. Muitas conquistas que hoje usufruímos devemos a sua grande contribuição. Você sempre lutou por nós, por nossos direitos e por nosso bem-estar. É certo que uma falha grave foi cometida por você, ao acolher Jeremy entre nós, sem o nosso conhecimento e consentimento. Mas não seria correto de nossa parte, deixar com que um erro isolado, anulasse tudo o que você representa para o nosso povo. Você errou e acreditamos que jamais voltará a cometer tamanho erro. Estamos lhe dando um grande voto de confiança. Lembrando que não haverá outra chance como esta. Tudo o que se passa em nosso meio, deve ser trazido imediatamente ao Conselho, como é de seu conhecimento. Não haverá uma segunda retratação. Se algo dessa gravidade voltar a ser cometido por você, perderá seu poder como Líder e nunca mais será digna de confiança entre seu povo. Compreendeu cada palavra que acabo de mencionar?


- Sim. Compreendi excelência! E lhe ofereço minha gratidão – Licia abaixa a cabeça em sinal de respeito.


- Quanto a você, Jeremy! Estamos em uma situação um tanto complicada. Assumiremos um risco, seja qual for nossa escolha. Se você voltar para seu Habitat, correremos o risco de você comprovar nossa existência, atraindo mais humanos para cá. Se você ficar também é um risco, pois nada sabemos sobre você e infelizmente temos péssimas referencias de conduta dos seres humanos. Mas, veja só! Não podemos lhe tirar a vida, uma vez que para nós todo ser vivo é sagrado e não podemos lhe manter em cativeiro, pois isso também lhe roubaria a sacralidade, uma vez que você não cometeu nenhum delito. Decidimos então, lhe dar uma chance de viver entre nós, desde que se comprometa a conhecer os nossos estatutos e leis de convivência. Se assim o fizer, será sentenciado a prisão perpétua. Observe bem o que lhe falo. Apenas uma chance lhe será dada. Compreende minhas palavras?


- Sim, senhor! – Diz Jeremy extremamente emocionado – Farei tudo o que estiver ao meu alcance para viver entre vocês em harmonia. Prometo não lhes causar nenhum mal...


Jeremy não consegue prosseguir. Muito emocionado, entrega-se a um choro compulsivo.


- Peço que me desculpem. Estou realmente muito emocionado. – Diz Jeremy entre lágrimas.


- Jamais se desculpe por demonstrar seus sentimentos. Você agora pertence à mesma família. Aqui todos nós temos liberdade de expressão. Você é livre para sentir e compartilhar o que sente. Agora venha até aqui e receba o meu abraço sincero – O ancião o espera de braços abertos.


Jeremy caminha alguns passos e se entrega a um sincero e fraternal abraço. Todos os presentes ficam visivelmente emocionados. A sessão termina com uma linda canção que se referia ao amor como lei universal.


- Me chamo Joah! Muito prazer! Venha comigo, Jeremy! Fui designado pelo Conselho para lhe servir em tudo que necessitar neste momento. Quero lhe mostrar seus aposentos e lhe apresentar a cidade. – Diz o jovem Ariata.


Jeremy acompanha Joah, tentando se comunicar visualmente com Licia que estava rodeada pelos lideres e membros do Conselho. Todos estavam em clima de confraternização. Amavam Licia e perdê-la como líder seria devastador para a grande maioria.


Quando a euforia já havia cessado e todos estavam mais calmos, Licia passou os olhos pelo grande salão do conselho a procura de Jeremy.


- Está procurando por Jeremy? – Perguntou Gléssios ao perceber a inquietação da irmã.


- Sim, meu irmão. Para onde ele foi?


- Está acompanhado por Joah. Foi conhecer seus aposentos e a cidade. Embora ele queira ser como um de nós. – (sorri) - Joah se responsabilizou em lhe mostrar todos os lugares onde poderá transitar e todos os lugares que precisará das bolhas de oxigênio. É importante que ele aprenda rapidamente, pois disso dependerá sua sobrevivência.


- Tem razão! Ele precisará muito de nós neste momento. Mas, aos poucos se habituará. Preciso ir agora. – Licia se despede de Gléssios com um caloroso abraço e um sinal peculiar com a boca. O sinal se consistia em movimentá-la como se fosse um pequeno beijo.


***


Jeremy saiu pela cidade na companhia de Joah e notou que a vida dos Ariatas azuis era extremamente feliz e prospera. Tinham vida em si mesmo. Amavam-se por demais não buscavam grandes lucros em nada do que planejavam em vida. Somente queriam criar e somar o máximo de felicidade ao seu lar, o fundo do oceano.


Lá estava Jeremy em volto de dezenas de Ariatas curiosos. Eles passavam em volta de Jeremy e o observava dos pés a cabeça. Olhares com meio sorrisos estavam em todos os que o viam. Os jovens e BBs chegavam perto dele tentando tocá-lo e sem afastavam em seguida comentando em sons Aritanos a sua presença. Quase uma festa na cidade dos sonhos. Nunca haviam visto um humano. A cada minuto mais e mais Ariatas apareciam. Joah queria levá-lo embora, mas ele pediu para ficar. Seus olhos agradeciam o que via. Louco para sair da redoma e voar a nado junto com os azuis, Jeremy se curvou somente em olhar admirado o que lhe era apresentado.


Quase podia tocá-los, sua mente registrava a cada momento que estava vivendo. A emoção já não cabia em seu peito. Antes de seguirem em frente ele olhou e viu Ariatas aos milhares em torno da cidade. Belos, fortes e admiráveis era a colônia vista por Jeremy. Em seguida foram convidados pelos líderes a comparecerem na casa central.


O local tinha uma beleza inigualável.  Ao entrar se depara com um jardim de plantas e flores enormes e coloridas nunca antes vista por ele. Tinha uma cor suave e acolhedora. As comportas eram fechadas e o oxigênio se fez presente e trouxe um grande alivio. Respirando livremente, sentia uma sensação de prazer e proteção lhe invadiu a alma. Sentiu-se em sua própria casa.


Jeremy não conseguia se conter de tanta felicidade. Como uma força magnética seu olhar é atraído para fora do jardim. De longe lá estava ela. Linda, sorridente, com olhar terno. Sentiu seu coração disparar ao avistá-la.


Licia permanece  paralisada, inebriada de paixão por aquele tão diferente ser.


- Veja! Aqui estão grandes tesouros trazidos pelo grande oceano até nós. – Explica Joah.


- Desculpe! O que disse? – Pergunta Jeremy completamente distraído com a aparição repentina de Licia.


- Todo esse ouro que decora nosso Jardim. O grande oceano nos trouxe. Muitas coisas devem ter pertencido ao seu povo. – Explica Joah.


- Sim! Reconheço muitas peças. São ornamentos usados pelas mulheres. Devem ter se perdido de grandes embarcações que foram tragadas pela fúria do mar. – Explica Jeremy.


- Você deve estar cansado e faminto, não? – Pergunta Joah


- Sim. Um pouco cansado e muito faminto – Brinca Jeremy


- Venha! Vou lhe levar para seus aposentos. Ali terá tudo o que precisa para se alimentar e ter um bom descanso.


Jeremy atravessa o belo jardim com os olhos fixados em Licia. Sentia o coração queimar seu peito.


- Aqui será sua casa. Sua nova casa! Se alimente e descanse. Amanhã lhe mostrarei novos lugares. Peço apenas que evite sair sozinho. Você ainda não conhece tudo e poderá se perder ou pior, poderá ficar preso em um lugar sem oxigênio. – Alerta Joah.


- Te agradeço Joah! Obrigado por sua preocupação e cuidado.


- Voltarei pela manhã! – Despede-se Joah.


Jeremy se acomoda em seu mais novo lar. Um local todo protegido com oxigênio, água e três repartições. A sala de entrada era grande e confortável.


Um amplo sofá de algas equatorianas, firmes e macias. Em volta da sala bolhas permanentes iluminando o ambiente. Decoração de rochas e perolas fazia da arte um momento romântico no local. Passeando pelos cômodos de sua nova casa, se depara com Licia do outro lado da porta.


- Atrapalho? – lhe cumprimenta sorrindo.


- Jamais. – responde Jeremy sorrindo.


- Estava esperando Joah lhe apresentar seu novo mundo. Vim lhe desejar boa noite! – Diz Licia tocando-lhe o rosto


- Fique um pouco mais. – Pede Jeremy


As palavras se fizeram desnecessárias. Como uma força de atração, os dois se abraçaram, unindo seus corpos, seus lábios, até não haver nenhum espaço entre eles.


*****


Os dias se passaram. Jeremy sentia-se cada vez mais pertencente ao grupo. Licia se revelava cada dia mais apaixonante. Estava realmente muito difícil manter sua paixão em segredo. Seu coração parecia que iria saltar toda vez que a encontrava.


- Preciso te encontrar a sós, hoje. – Diz Jeremy baixinho ao ouvido de Licia de forma discreta.


- Tenho um importante encontro na sala do Conselho. Poderíamos nos encontrar apenas quando todos se recolherem. – Licia responde baixinho


- Irei até você. – Diz Jeremy


- Não! Não podemos correr esse risco. Eu irei ao seu encontro. – Diz Licia


Licia sai discretamente do lado de Jeremy. Temia que alguém suspeitasse de seu envolvimento. Em algum momento sabia que teria que assumir diante de todos estarem apaixonada por Jeremy, mas por desconhecer as consequências dessa união, melhor seria adiar pelo tempo que conseguisse.


O dia fora produtivo. Jeremy já havia se recolhido e Licia terminava sua reunião com os lideres e conselheiros.  O tempo parecia andar para trás. Um segundo a espera de Licia era uma eternidade. A cidade estava calma, nenhum barulho se ouvia. Mostrando que todos já estavam dormindo. Interessante como os Ariatas dormiam; Eles se enrolavam como um rocambole ficava em uma parte das suas casas como bolos flutuando na água. Enrolados, o que se via eram somente os olhos na parte do tronco, onde a cabeça descansava.


De repente, uma batida na porta de Jeremy o faz saltar de onde estava.


- É ela! Licia! Minha Licia! – Pensa enquanto corre em direção à porta.


Tudo acontecera em uma fração de segundos. Ao abrir a porta um forte impacto lhe jogou com força para trás, fazendo-o bater com a cabeça em um tronco. Jeremy caiu desmaiado. Licia apressou-se ao ver de longe um estranho movimento parecendo ser na entrada do aposento de Jeremy.


- Ei! Vocês não podem ...


Uma rede é lançada sobre ela, aprisionando-a.


Ao recobrar a consciência, Jeremy se vê aprisionado em um invólucro de oxigênio. Próximo de seu cativeiro está Licia, aprisionada também. Os dois se olham fixamente. A expressão de Licia era de medo e dor, enquanto Jeremy ainda estava confuso, tentando entender o que estava acontecendo.


Uma fumaça verde invade os pulmões de Licia, levando-a a total inconsciência. Queriam apenas Jeremy. Levar Licia  junto poderia lhes complicar, já que ela era uma grande Líder Ariata. A fumaça inalada por ela resolveria a questão. Dificilmente se lembraria do que acontecerá, já que um dos componentes inalados causam confusão mental e esquecimento.


 Um grande estrondo chamou a atenção dos Conselheiros que ainda permaneciam reunidos depois do término da Reunião.


- Vocês ouviram um estanho barulho? – Perguntou o Ancião


Uma fumaça subia ao longe chamou a atenção do pequeno grupo.


- Vejam! Algo estranho está acontecendo. Aquela fumaça verde parece vir do aposento de Jeremy. – Diz o jovem que estava entre os Conselheiros.


- Meu jovem! Chame Gléssios imediatamente e reúna nossos guerreiros. Algo me diz que precisaremos deles.


O jovem acata imediatamente as ordens do ancião.


Em poucos minutos os guerreiros chegaram  junto com os Conselheiros nos aposentos de Jeremy.


- Licia! Ajudem-me aqui! Ela está inconsciente. Precisa urgente de socorro. – Gléssios se desespera ao encontrar sua irmã desacordada


- Acalme-se Gléssios. Parece que está acordando! Por favor! Abram espaço – Pede o Ancião


Licia abre os olhos lentamente, lutando para que eles não se fechem de vez. Um dos efeitos da fumaça verde, como era conhecido esse poderoso sedativo que fora usado contra ela, era o de causar extrema sonolência e esquecimento.


- Minha irmã! Por favor! Fale comigo. O que houve? - Gléssios a segura em seus braços.


- Nós estávamos – Ela começa a chorar – Consegue se lembrar do que houve, mas não consegue falar. Sente-se aprisionada em seus próprios pensamentos, sem poder verbalizá-los.


- Acalme-se! – Pede Gléssios


Licia tenta se recompor. Tenta contar a todos o que houve, mas não consegue. Aos poucos as lembranças do que acabara de acontecer foram se apagando, deixando nos registros de sua memória, apenas o olhar assustado de Jeremy.


- Não me lembro o que aconteceu! Estou tentando me lembrar, mas nada me vem à memória, tudo parece confuso. A única coisa que me lembro é de Jeremy foi colocado a força em um lugar apertado. Apenas isso. – Relata com a voz triste.


- Os Ariatas vermelhos! – Pensa em voz alta o ancião


- O que disse? – Perguntou Gléssios


- Está bem claro o que houve aqui. Jeremy foi sequestrado! A fumaça verde fora um artifício muito usado pelos Ariatas Vermelhos nos tempos de conflito. É uma fumaça que contém um agente entorpecedor, capaz de causar esquecimentos e perda da consciência. – Explica o ancião


- Se for como diz, então Jeremy corre perigo. – Desespera-se Licia


- Não sei Licia! Não entendo o porquê do interesse dos Ariatas vermelhos por Jeremy e muito menos como descobriram sua existência. – Diz o Ancião


- Seja como for, precisamos resgatá-lo. Eles são maus e podem machucá-lo. – Disse Licia


Gléssios percebe o desespero de sua irmã. Notou se tratar de algo mais do que um simples sentimento de amizade. Licia estava notoriamente apaixonada por Jeremy. Preferiu guardar para si suas percepções e falar com Licia em um momento mais apropriado.


- Vou resgatá-lo – Levanta-se Licia decidida.


- Licia, olha para mim. Preste atenção. Se forem os vermelhos, você não pode ir contra todos eles sozinha. Tudo o que querem é isso. Romper com o contrato de sangue feito pelos nossos pais.


- Eu sei. Eu sei. Mas Jeremy corre perigo de morte. Gléssios, você precisa fazer algo por ele, meu irmão. – Implora Licia.


A tensão se instalou entre todos. Jeremy poderia estar correndo sérios riscos. Mas a decisão de resgatá-lo poderia colocar em risco e tão desejada paz que por muitos e muitos anos fora conquistada. Se invadissem o território dos Ariatas Vermelhos poderiam estar dando inicio a uma sangrenta batalha.


- Pouco importa essa questão de territorialidade. Eles invadiram nosso território e isso nos dá o direito de invadirmos o deles também. Precisamos resgatar Jeremy. – Licia se desespera


- Não é tão simples assim, minha irmã! Não temos provas de que foram eles mesmo que sequestraram Jeremy. Você não se lembra de nada. Se invadirmos seu território, alegarão que nós rompemos o pacto e com isso poderão invadir nosso espaço. Conhece as leis! – Explica Gléssios


- Você está envolvida emocionalmente e não está raciocinando como a grande líder que é. Deixe essa questão conosco! Iremos traçar uma estratégia para resgatá-lo, sem colocar em risco todo o nosso povo – Diz o Ancião


Em pouco momento mais de cinqüenta Ariatas azuis, entre civis e líderes se reuniram para buscarem a melhor forma de resolverem um problema nunca antes ocorrido na civilização. Com carinho, Gléssios pede para que Licia os deixe a sós por um momento. Seu descontrole estava atrapalhando que novas ideias surgissem. Bella se encarrega de cuidar de Licia.


- Venha Licia! Eles saberão o que fazer – Diz Bella


Sentindo-se completamente impotente, Licia sai na companhia de Bella enquanto a reunião continuava. Sabia no fundo que Gléssios estava com a razão. Um passo em falso e toda a paz conquistada seria desolada pela guerra.


Por algum tempo Licia permanece calada, inerte, absolta em seus pensamentos.


- Não... Não .. Não! – Diz Licia


- Não o que? – Pergunta Bella


- Não vou ficar de braços cruzados, enquanto a vida de Jeremy corre perigo.


- O que pretende fazer? – Bella fica preocupada


- O que eu já deveria ter feito. Já perdi muito tempo! – Licia começa a nadar rapidamente na direção onde os Ariatas vermelhos viviam.


- Você não pode fazer isso! – Bella nada atrás de Licia gritando desesperadamente.


As duas vão em direção ao ponto da civilização dos Ariatas vermelhos. Em vão Bella tenta em vão impedir Licia que está tomada de paixão e desespero. 


*****


Reunidos no grande salão do Conselho, os lideres tentam chegar a um consenso.


- Gléssios, você acredita mesmo que podemos solucionar essa questão simplesmente conversando com Zorguin? Ele jamais admitira que sequestrou Jeremy. – Diz Joah


- Joah, como eu falei há pouco. Zorguin há um bom tempo vem querendo desmoralizar a nossa civilização perante os Ariatas vermelhos. Não sei qual foi sua intenção por traz dessa crueldade, mas algo me diz que eles estão tentando provocar um grande conflito. – Lamenta Gléssios


- Mon Gléssios! Se o que diz forem as reais intenções de Zorguin, não teremos a menor chance. É uma guerra perdida. Há tempos os Ariatas vermelhos são treinados para o combate. Zorguin sempre se gabou por ter um grande exercito ao seu dispor. – Diz o Ancião


- Tem razão! Já o nosso povo não tem a menor vocação para a guerra. Sempre fomos contrários a violência. Qualquer ato que cause dor, tristeza e destruição. – Diz Gléssios


- Uma coisa precisa ser esclarecida – Diz Joah -  Temos que colocar as coisas em seu devido tempo. Estamos querendo enfrentar Zorguin sem ele ao menos nos confrontar? Queremos uma guerra antecipada?


- Sim. Você tem razão. Se agirmos impulsivamente poderá estar incitando uma guerra. – Concorda o Ancião


- Concordo plenamente – Diz Gléssios – Mas não podemos permanecer como estamos. Essa situação emergiu para nos mostrar o quanto estamos fragilizados caso tenhamos que enfrentar em algum momento um combate. Devemos preparar um exercito para defender nosso povo.


Uma grande tristeza tomou conta do coração de cada membro da civilização dos Ariatas azuis. Nunca foi o intuito de nenhum deles aprender a matar, mas reconheciam a necessidade de aprenderem as técnicas de combate, afinal tratava-se de uma questão de sobrevivência. A decisão fora aprovada por  quarenta e nove dos cinquenta membros do Conselho ali presentes.


***


Distante dali estava Licia e Bella cruzando a fronteira que separava os Ariatas azuis dos Ariatas vermelhos.


Entraram sem serem vistas e rapidamente se esconderam atrás de uma grande rocha. Ali observaram a distância os Ariatas vermelhos com suas navegações, os modos operantes dos membros do exército de Zorguin.


Percebem uma manifestação suspeita. Um pequeno comboio segue em direção oposta ao exército.  Elas observam e ficam desconfiadas de que no seio daqueles vermelhos poderia estar Jeremy. Resolvem seguir de longe.


Seguem o pequeno comboio por um longo período. Não havia mais volta. Estavam perdidas, só lhes restava seguir adiante. O local explorado naquele momento por elas eram dos vermelhos, não havia conhecimento dos azuis. De repente Bella segura Licia pelas mãos tremendo.


- O que houve? – Pergunta Licia


- Olhe você mesma – Bella fica paralisada.


Dois tubarões enormes por volta de doze metros estavam vindos em direção às duas. O medo as paralisou. Permaneceram imóveis sem conseguir esboçar nenhuma reação. De repente quando estavam prestes a ser atacadas, um som ensurdecedor fizeram os tubarões recuarem, mudando a direção.


Permaneceram paralisadas, observando os tubarões se distanciarem e irem em direção ao comboio dos Ariatas Vermelhos. Eles seriam atacados e mortos diante delas sem que nada pudessem fazer.


Os tubarões diminuíram a velocidade e continuaram a nadar ao redor do Comboio. Um dos Ariatas vermelhos parecia ter o domínio dos tubarões pelo Espelho da Vida.


- Você está vendo o que eu estou vendo? – Pergunta Licia


- Sim e não estou entendo nada. Esses monstros parecem enfeitiçados por aquele objeto. – Disse Bella


- É exatamente isso que parece! Que estão enfeitiçados. – Concorda Licia


O Comboio segue por um caminho escuro com os tubarões nadando amigavelmente ao lado.


Licia e Bella continuaram escondidas e acompanharam o comboio até onde a visão alcançou. Logo sumiram pelo caminho mal iluminado.


- Temos que voltar agora mesmo, antes que alguém nos veja. Gléssios precisa saber que os Ariatas vermelhos têm um domínio sob os tubarões assassinos. – Diz Bella apavorada.


- Não vou a lugar nenhum, Bella. Se Eles estiverem com Jeremy irão matá-lo.


- E o que você pretende fazer? Enfrentá-los? Não percebe o risco que estamos correndo aqui? – Bella se descontrola.


- Fale baixo! Alguém pode nos escutar. Vá você. Eu ficarei! Daqui só saio com Jeremy.


- Não vou deixá-la aqui sozinha! – Diz Bella.


A situação fugira do controle. Se não bastasse o desaparecimento de Jeremy, agora Bella e Licia também corriam risco de morte.


Viam ao longe se afastarem um grupo de aproximadamente vinte Ariatas Vermelhos, cercados de dois enormes tubarões, podendo estar ali com eles, Jeremy aprisionado.


- Olhe Bella! Veja rápido! O que é aquilo que o líder deles tem nas mãos?


- Não faço a menor idéia, Licia! Um mastro brilhante. Nunca vi nada parecido com isso.


- Nem eu! Parece que aquele mastro está controlando os tubarões. Veja como eles se direcionam conforme a posição do mastro.


De repente o Comboio parou, formando uma grande roda. Uma rede é retirada de dentro de uma grande caixa que estava trancada. Diversos corpos humanos aprisionados na rede são dados como alimento para os tubarões.


Um grito rompe o silêncio nas profundezas. Em vão Bella tenta calar Licia, que estava em estado de choque com o que acabara de presenciar.


Todos Ariatas vermelhos permanecem calados a espera de um novo grito. Intrigado o mais forte de todos parecendo ser o líder do grupo, se aproxima das grandes rochas tentando descobrir a origem do grito que acabara de escutar.


Vendo que todo o grupo estava se aproximando a mando do líder, Licia e Bella saíram desesperadas em direção a uma grande vala. Suas vidas corriam risco, caso fossem descobertas. Sem perceber desceram muito, alcançando o mais profundo oceano. Uma profundidade perigosa, principalmente pela dificuldade do retorno.


Os Ariatas vermelhos vasculharam todo o local de onde ouviram vir o grito, mas logo desistiram. Sem nada encontrarem, seguiram com seu destino.


Licia e Bella estavam assustadas. Licia principalmente. Ela estava em estado de pânico, não somente pelo que acabara de assistir, mas também por Jeremy. Seu coração estava aos pulos. Aqueles corpos humanos vistos por elas fizeram-nas pensar; “ e se Jeremy tivesse tido o mesmo triste fim”?


- Licia! Precisamos voltar. Não estou mais conseguindo puxar o oxigênio. Estamos em uma profundidade perigosa.


- Eu também não estou me sentindo bem. Mas, se voltarmos, eles nos matarão. – Licia chora.


- Talvez nem estejam mais lá. Aqui temos muito mais chances de sermos mortas. Os tubarões procriam nessa baixa profundidade, esqueceu? Estamos em seu habitat. – Diz Bella.


As meninas iniciam a emissão de bolhas de alerta. O maior perigo era ficarem fracas demais pela emissão e não terem forças para subirem;. A pressão era muito forte naquela área e somente os gigantes tubarões poderiam descer e subir com segurança. Mesmo assim resolveram arriscar. Não havia outra forma de avisar ao grupo de que estavam em perigo.


O local onde estavam era de uma escuridão medonha. Nada circulava por ali e o maior medo era se algum tubarão surgisse no local. E foi o que aconteceu.


De repente dois grandes seres de boca enorme passam pelas meninas de um lado para outro. Eles estavam furiosos. Elas nervosas. Não havia local onde pudessem esconder. Ficaram paralisadas! Olhavam para os dois monstros que passando por sua frente e pelas costas.


O movimento das águas era feroz. Elas não conseguiam se controlar e acabaram se separando. Licia fica em alerta total emitindo sons para Bella que não respondia. Licia chorava e emitia ainda mais altos sons, correndo grande risco ao fazer isso.


Entre as algas gigantes os batedores azuis detectam os sons e ficam desesperados repetindo os mesmos sons para tentar a visar da sua presença. Sobem e descem de forma sincronizada até que um deles avista a boca da fossa. Ajoelha-se na entrada do local e sonoriza o encontrado e todos os azuis ali encontrados, aparecem para submergir na fossa.


Em um breve momento a Bella aparece na entrada da fossa desmaiada e flutuando. Logo é resgatada e levada para a cidade. Ficam preocupados com a Licia e descem a fundo na fossa correndo os mesmo riscos que as meninas correram.


Os tubarões não atacaram nenhuma das sereias, o motivo era a reprodução. A visão dos gigantes do oceano era apenas a procriação e não a degustação. Estavam furiosos pelo fato de estarem ali. Acabaram sem perceber atirando Bella de volta a entrada da fossa. Dois dos mais poderosos batedores azuis entram na fossa e encontram Licia também desmaiada flutuando. Eles a resgatam e sobem para a entrada fazendo grande força e perdendo muita energia vital para suas sobrevivências.


Chegando a cidade dos Ariatas azuis, todos estão sendo cuidados, inclusive os dois batedores.


Os vermelhos se reúnem no centro da cidade.


- Meus aliados vermes ( como eram conhecidos), estamos a um passo da conquista do que sempre foi nosso. O oceano foi entregue a nossa civilização. Deve ser entregue aos fortes para conservá-lo e procriar com vidas poderosas. – fala Zorguin em tom poderoso. – Vocês descobriram que os azuis transgrediram as regras impostas pelos nossos ancestrais. Em hipótese alguma teríamos humanos em nosso meio. – continua a falar em tom agressivo. E o público exalta Zorguin dando sinais sonoros de aprovação.


O centro da cidade estava totalmente tomado pelos vermes vermelhos. Toda iluminada  eles soltavam bolhas de alegria e aprovação, mas parecia uma grande festa de carnaval. Zorguin continua:


- Tragam-no aqui... - trouxeram Jeremy enjaulado em uma bolha de sobrevivência, um tipo de aquário. – Aqui está a transgressão e o transgressor.


Jeremy estava desfalecido. Era uma forma de manter os animais enjaulados, calmos e paralisados. Eles retiravam parte do oxigênio da bolha, dando uma sensação de desmaio e era assim que acontecia.


- Vermes. Alguém tem alguma dúvida de que devemos exterminar os fracos para a sobrevivência dos fortes? – sons eram emitidos de forma contumaz. – Gostaria de me reunir com os líderes amanhã logo no início das atividades.


Jeremy estava vivo, mas Licia não sabia. Zorguin era inteligente demais para matar a Jeremy e causar um mal estar e fortalecer os azuis a buscarem justiça. Isso não seria bom para ele. E não era o momento da guerra.


Havia uma boa diferença de força e tamanho entre os vermes e os azuis, os vermelhos sempre maiores e mais fortes. Não somente em físico, mas em sabedoria para o mal. Zorguin era especial e tinha uma força abrutada.


Na cidade dos azuis.


Na comunidade de Licia, todos estavam na expectativa de saber o que realmente aconteceu. O medo se instaurou na cidade, deixando os pequenos e as fêmeas muito estressadas.


CONTINUA. EM BREVE


Continuação:  email. jornalistacherri@uol.com.br



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Autor(a): Chérri filho

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