Fanfic: C'est' finale (AyD) | Tema: Portiñon, AyD, Dulce & Anahi

Anahi

- Não consegue dormir, não é?! - Estevan indagou, sentando ao meu lado no sofá. - Pelo menos vou ter companhia.

Suspirei, analisando seus cabelos negros desgrenhados, seus olhos verdes enegrecidos de cansaço e o blusão abarrotado que cobria seu corpo. Sobre a estante, o relógio já marcava 2:20.

- O fuso horário talvez, quem sabe. - Brinquei, enchendo o copo em minhas mãos de uísque.

- Essa não é a única bebida do mundo, sabia? - Riu, levantando em seguida. - Que mania de venezuelano.

Revirei os olhos, virando o líquido quente sem hesitar. Nos minutos seguintes, Estevan estava de volta, enchendo meu copo com uma bebida vermelha, de cheiro agradável.

- Comprei por aqui. É um vinho meio caro, mas vale a pena. - Sorriu, mexendo nos cabelos. - Vamos, beba.

Sorri, levando o copo até boca numa rápida degustação. O líquido desceu amargo por minha garganta, mas ainda assim, me pareceu suave diante dela.

- Eu sabia que iria gostar. - Deduziu, com um sorriso enorme no rosto. - É um dos meus preferidos, sempre provo quando venho.

- Já veio aqui antes? – Perguntei desinteressada.

- É... sou advogado.

- Não foi isso que eu perguntei. - Ri, acendendo um cigarro. – Diga-me, já veio?!

Ele ergueu as sobrancelhas e se afastou, fingindo se incomodar com a fumaça da droga. Pela primeira vez então, percebi que não sabia nada sobre ele.

- Algumas vezes. - Deu de ombros, pondo as mãos no bolso da bermuda, por baixo do blusão. - O que importa?!

- Estevan, onde você nasceu? - Perguntei, saboreando o gosto da fumaça cinza sobre meu rosto. - Onde viveu?

- Tá muito tarde para questionamentos, não acha?!

- Sim. - Assenti, encarando seus olhos confusos. - Deveria ter feito essas perguntas antes, quando te conheci.

- Porque? - Indagou, interessado.

- Porque entreguei os meus negócios e os do meu pai na sua mão. E agora estou compartilhando um quarto com você. Com um possível maníaco, quem sabe.

- Ora, e eu lá tenho cara de maníaco. - Levantou, exaltado. - Por acaso alguma vez te dei motivo para desconfianças?

Dei de ombros, analisando sua expressão nervosa. De fato, Estevan nunca havia me olhado de outra forma que não fosse amigável. Diria mais do que isso, seus olhos sempre pareceram  cuidar de mim. Eram dois olhos cuidadosos que, de um jeito estranho, se assemelhavam a outros olhos cuidadosos, perdidos na minha infância.

- Você também iria querer saber, não iria?!

- Não, o que importa aqui são negócios. Se quiser me mudo de quarto, de cidade quem sabe.

- Ficou nervoso? - Brinquei, cruzando os braços ante a cabeça. - Relaxa, você tem feito um bom serviço.

- É claro que tenho. - Bufou, bagunçando os cabelos. - Mas agora tenho que te mostrar todas as planilhas, por honra.

- Não seja idiota, vai perder tempo.

- De qualquer forma tem que estar por dentro dos negócios do seu pai, não é mesmo? - Indagou e, eu assenti. - Fiquemos combinados então.

- Que advogado mais bobão eu arrumei. - Zombei, pondo a droga nos lábios. - Vai pra onde?

- Dormir, sua paranoia me deu sono. - Disse, desaparecendo em seguida.

Ri como há muito tempo não fazia. Lembrei-me de Louise e suas intermináveis graças e, agradeci. Agradeci a um ser celeste esquecido, por tê-los por perto. Por tê-los comigo quando, não tinha mais nada.

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

- Parece perdida. - Lana observou, retirando o corpo cansado sobre o meu. - Não gosta mais de sexo?

Revirei os olhos, sentando em seguida na cama. As noites sem dormir resultaram com um cansaço físico insuportável que, aliado ao desastre emocional, me destruíram. Nem nojo era possível sentir mais. Não havia mais nenhum sentimento quando estava perto dela. Talvez, eu tivesse mesmo virando um monstro.

- É a terceira vez seguida. – Exclamei. Lana deveria estar fora de forma. - Não se contenta?

- Está certa. - Deu de ombros, beijando meu queixo. - Só queria lembrar os velhos tempos.

Suspirei, deslizando as mãos por suas costas. Queria arranhá-la, socá-la, matá-la com a unha, mas tive que me contentar com um carinho. Um carinho falso, frio. Mas ainda assim, carinho.

- Quando vai embora?! – Perguntou curiosa, afastando o rosto.

- Não sei... porque?

- Porque não quero que você vá. - Retrucou, sorrindo. - Sabe, estou velha demais pra ficar sozinha.

Cerrei os punhos, disfarçando a ansiedade nervosa. Eu não esperaria ouvir aquele discurso tão cedo.

- O que está dizendo?!

- Sei que sempre teve uma queda por mim, Anahi, se não porque estaria aqui agora? Depois que eu roubei tudo de você...

Mordi os lábios, repreendendo mentalmente os palavrões que ameaçavam sair da minha boca. Ela continuou, sem parecer notar a raiva viva em meus olhos.

- Nós somos perfeitas uma para a outra, podemos administrar as coisas juntas, não percebe?

- Claro... - Concordei, respirando fundo antes de dar o golpe final. - Eu não pretendo ficar longe de você, não se preocupe.

Ela riu, beijando freneticamente meus lábios. Decididamente, é incrível como a vida deixa as pessoas fracas. Eu ainda estava abismada com sua mudança, mas ainda assim, feliz. Porque minha vingança finalmente estava perto.

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

- E essas são todas as planilhas. - Exclamou, largando as pastas sobre a mesa. - Entendeu tudo?

Suspirei, analisando os olhos cautelosos de Estevan. Eles não tinham a segurança que eu buscava, a segurança necessária para desprender as borboletas do meu estômago. Mas havia alguma coisa de sutil, alguma coisa que me deixava mais calma.

- Sim, só acho que deveríamos mudar o slogan. - Sugeri, dando de ombros. - Estamos falando da américa, será que não basta?!

- Devo confessar que concordo. - Assentiu, franzindo o cenho. - Mas será que ela também pensa o mesmo?!

Encolhi-me, deixando que o nervosismo me abatesse novamente. Afinal, desde quando ele me largou?

- Sabe, acho que não está pronta... eu sou se advogado...

- Já me decidi, Estevan. - Levantei, me aproximando da janela. - Acredite. Não me deu essa aula a toa.

Ele assentiu e levantou, pondo as mãos no bolso antes de me olhar, sem perder a cautela.

- Tem certeza que vai manter o controle?

Sorri nervosa. Controle era a única coisa que eu não tinha perto dela.

- Eu sei que não. - Suspirei, mordendo os lábios. - Mas é a única forma dela olhar para os meus olhos.