Fanfic: C'est' finale (AyD) | Tema: Portiñon, AyD, Dulce & Anahi

Dulce

Os raios de sol entravam despercebidos pela janela quando abri os olhos, debochando da minha falta de controle. Grunhi, me remexendo na cama. Nada parecia dar fim ao monstro que devorava meu peito. Nem mesmo os litros de vodka espalhados sobre o chão ou a caixa de remédios sobre a mesa.

Nada, absolutamente nada o fazia desaparecer. Eu havia o alimentado da pior forma possível. Havia dado meu sangue, minha vida. Traído a mim mesma num golpe sujo. E agora, a lembrança me castigava. Cada detalhe, cada toque, cada carícia... tudo funcionava ridiculamente frágil no meu corpo. Ardia, febril. Eu devia estar com febre. Sim, eu estava com febre.

- "Eu te amo". - Sussurrei, relembrando o hálito doce que se espalhou em meu rosto e, dos segundos seguintes, quando meu coração parou. Ela... havia dito que me amava. - Me ama o caralho. - Gritei, a voz ecoando, ao mesmo tempo, que os estilhaços de vidro na porta. Christian entrou no instante seguinte, escapando por sorte do objeto. - Christian...

- Que merda é essa?! - Murmurou, abrindo os braços. Seus olhos oscilaram entre a garrafa quebrada e as outras jogadas sobre a cama. Repuxei os lábios, tentando parecer menos doentio. - Você jogou uma garrafa em mim e... está bebendo? Dulce, você está bebendo?!

- Desculpa. – Disse escondendo o rosto nas mãos. Chris se aproximou, atônito. Quase caindo para trás quando explodi em choro.

- Mais que diabos está acontecendo Dulce?! - Indagou, sentando ao meu lado em seguida. Realmente preocupado. Encolhi-me, deitando a cabeça em seu colo. Eu só precisava desabar.

– Santo Deus, está com febre. Está ardendo. - Atestou, passando a mão em minha testa. -Você precisa me explicar o que está havendo. Vamos, me diga alguma coisa.

- Eu... fraquejei. - Sussurrei, entre soluços. Mordendo, com uma força exagerada, meus lábios. Chris ergueu uma sobrancelha, confuso, pedindo em silêncio para que continuasse. - On-tem... eu e ela... nós ficamos p-resas no e-leva-dor... – Disse, gaguejando em meio ao meu pranto.

- Continue. - Pediu e, eu quase pude ouvir a saliva rasgando em sua garganta. A raiva em seus olhos havia voltado. Sufocando meu corpo, impiedosamente.

- E-la...disse que me... amava. - Confessei, sentindo meu coração oscilar com aquela lembrança. Christian se ergueu violentamente, chutando uma garrafa no chão. – Me... D-escul-pa.

- Não é a mim que tem que pedir desculpas, é a você mesma. - Gritou, esfregando o rosto enquanto andava pelo quarto, em círculos. - Mais que bosta. Aquela vagabunda prometeu te largar, ela está fazendo tudo de novo. Está te matando, Dulce. Ela quer te matar.

- Nã-o..diz..is-so. - Implorei, deitando de bruços. Abafando as lágrimas. Eu só queria fugir daqueles olhos medonhos, fugir daquele semblante acusativo. Fugir do ódio que eu desconhecia, existir em Christian.

- Como pode me pedir isso? Dulce... olhe seu estado. Veja. - Gritou, arrancando o espelho da parede e, erguendo para mim. Estreitei os olhos com dificuldade. Analisando a carne viva do monstro que agora, me sorria.

- Eu nunca te vi assim. Que droga, está se acabando. Definhando na própria culpa. Até quando vai fingir que não existe um problema? Até quando vai acreditar que tudo não passa de negócios?!

- Por.. fav-or.. pa-re.. - Supliquei, apertando meus dedos, doloridos. Christian suspirou, se aproximando de supetão da porta. Um choro ecoava do outro lado. Forte o suficiente para acalmá-lo.

- Sabe, você tem sorte de Pablo não estar aqui. Pelo menos teve a decência de se matar no quarto, escondida.

Virei o rosto, recebendo os malditos raios de sol da janela. A porta bateu fraca, seguindo do barulho apaziguador da voz de Christian.

- O papai já vai filho. - Gritava, ironicamente calmo.

- “Eu te amo”. - Aquela voz, aquela maldita voz ecoando na minha cabeça. - Você é uma puta, eu te odeio, Anahi. - As minhas palavras. Como eu pude machucá-la daquele jeito? Socar sem culpa a minha menina.

Por Deus, eu não devia sentir culpa. Não devia desejar morrer por machucar alguém que fez o mesmo comigo. Não deveria, mas era isso que me matava, lentamente. Porque há alguns anos atrás, eu seria incapaz de tocar em um fio de seu cabelo. E ela... como ela estaria? Meu deus, eu a machuquei.  

Que droga, a esqueça. Não é a você que tenho que pedir desculpas, é a mim. Me desculpe Dulce, por amar alguém mais do que a sua própria vida.