Fanfic: C'est' finale (AyD) | Tema: Portiñon, AyD, Dulce & Anahi

Desci os degraus da varanda observando com destreza o clima que fazia lá fora, Halgartt parecia ser uma cidade quente e, embora o sol fosse o fator principal, aquele era apenas mais um dos motivos que davam vida aquele lugar, que decididamente, não fazia parte de mim.

Suspirei e segui em passos precisos ao meu destino final, o estábulo, o lugar onde eu havia a encontrado, o lugar onde entre uma jogada e outra, Alfonso havia me revelado ser o preferido dela, mesmo que aquilo me custasse entender, era lá que ela deveria estar.

Mas não estava, em seu lugar, apenas o vazio da minha ligeira decepção.

-- Procurando alguma coisa?!

Estremeci. Sua presença surgiu tão repentina quantas as ligeiras batidas do meu coração, e mesmo que me limitasse a olhá-la de imediato, era capaz de vê-la, com o mesmo semblante duro e estranhamente encantador de uma mulher do campo.

-- Sim, por você!

Virei e encontrei seus olhos, castanhos e iluminados pelo sol. Dulce estava montada em seu cavalo, vestia uma blusa xadrez com mangas curtas e um short que lhe ajustava as coxas, grossas e bronzeadas pela luz do dia. Era a imagem de uma típica caipira. Uma típica caipira estupidamente linda.

-- Já devia estar longe nessa hora, não acha? – Perguntou-me, sem demostrar importância as minhas palavras.

Mais era o desprezo em seus olhos que me prendia.

-- Me desculpa. -- Sussurrei, ainda absorta com sua presença.

Dulce deixou que lhe escapasse um sorriso, propositalmente irônico, e desceu do cavalo, com uma habilidade presumível, mais ainda assim admirada.

-- Era só um jogo de cartas, nao seja tola.

-- Não estou me referindo ao jogo, você sabe... acho que fui inconveniente com você.

Por alguns instantes, a ruiva pareceu surpresa com meu pedido, mas foram apenas segundos breves, logo ela se ocupava em me lançar mais um dos seus sorrisos sarcásticos, cheios de mensagens subliminares.

-- Então a patricinha assume o erro? Olha, estou surpresa com você!

-- Não queria começar o dia dessa forma, se você se importa..

-- Sim, me importo! Porque não foi a cidade?

-- Porque não estava me sentindo bem.-- Menti -- Será que dá pra parar de me tratar dessa forma?

-- Se isso te incomoda... foi mal, mas não! Haha!

Dulce puxou as rédeas do cavalo e o guiou em direção ao estábulo, me esguiei ficando na sua frente, impedindo que ela completasse o ato, forjando seu olhar pra mim.

-- Qual é a sua? Porque está agindo assim comigo?

-- Com você, quem? Eu não te conheço, você mesmo não se conhece..

-- E por isso acha que eu sou o tipo de pessoa que merece ser tratada assim? Não foi 
você mesma que disse que eu estava te julgando? O que acha que está fazendo comigo então?

Não houve resposta, a ruiva agora estava realmente surpresa com minhas palavras e dessa vez, não houve como esconder, o silêncio justificou sua falta de argumento, a prova de que estava errada.

-- Está bem! – Prossegui. -- Sei que estou sendo um peso morto pra vocês, mas não precisa me repudiar por isso, posso dar um jeito de compensá-los!

-- Um peso morto? Não tire palavras da minha boca.

-- Essa é a verdade, ou então, que outro motivo a levaria a me tratar desse jeito?

-- Não há motivos! -- Respondeu secamente. -- Simplesmente não a conheço e não posso tratá-la de outra forma..

-- Em que época você vive? Não sabe o que é ser amável e piedosa com as pessoas?

Dulce riu. Um riso que instigou as células de raiva do meu corpo.

-- Mais que idiota! Você não deve saber o que é isso, não é mesmo?

-- Se bem me lembro, tinha alguma coisa chamada "julgar" no seu discurso anterior!

Dulce parou de sorrir e me encarou, um olhar sereno, que me fez lembrar a mulher que havia surgido em um cavalo, minutos antes.

Aquele contraste de sentimentos era torturante.

-- Está bem! -- Suspirei, mantendo a calma. -- Já sei que não vai adiantar em nada tentar te convencer de alguma coisa!

E não ia mesmo, afinal, era dela que estávamos falando.

-- Ótimo! Agora saia do meio e me deixe passar com o cavalo!

Obedeci, sem mais palavras. Dulce passou por mim sem pressa nenhuma em seus passos. Pôs o cavalo no estabulo e acarinhou sua crina, como se estivesse o acalmando, em seguida girou nos tornozelos e virou-se em minha direção, estreitando a sobrancelha ao me ver ali, parada.

-- Vai ficar ai?

-- Não. To esperando que me diga o que fazer!

Houve um silêncio, seguido de uma ligeira vermelhidão que se espalhou pelo meu rosto. Aquilo poderia ser simplesmente mais uma das minhas frases mal ditas, sopradas quase sem querer, quando eu estava perto dela, mas mesmo que no fundo sempre tivesse um pouco dessa intenção, eu sabia que ela não entenderia dessa forma.

-- Não está falando de tarefas, está?

-- Sim! -- Respondi quase automaticamente. -- Era essa a forma de compensá-los a que me referia.

-- Só pode ser brincadeira. Você mal deve saber a diferença entre um cavalo e uma vaca!

-- Me deixa provar então!

-- Desista, isso é maluquice, Poncho não ia gostar..

-- Que eu me sentisse bem? -- A interrompi. -- Acredite, isso vai ajudar na minha melhora, não é só descanso que preciso..

-- Olha você...

-- Já está decidido! Vamos, me diga o que fazer!

Dulce tentou contestar algo mais desistiu, ficou ali parada, me olhando em silêncio, parecendo pensar em algo. Logo um sorriso sarcástico clareou seu rosto, pude sentir o arrepio em minha pele ao tentar decifrar aquela mente.

-- Bom, foi você quem insistiu, vamos, tenho algo pra você!

A ruiva passou por mim parecendo se divertir com o que quer que fosse. Hesitei em segui-la, mas logo estava atrás de seus passos.

Havia um sorriso em meu rosto, porque naquele momento eu estava pensando, em como pude confundi-la com um anjo nos meus sonhos.

Ela me olhava inquieta, de braços cruzados e olhar atento, se mostrava visivelmente curiosa em saber até onde eu chegaria, e eu, que havia levantado o queixo e rido frente aquela tarefa, estava agora perdida, sentada num banco esquivo, aos berros de um bezerro faminto e uma vaca farta de leite.

Dulce estava me desafiando, mas o que ela não sabia, é que eu também não 
costumava fugir de desafios.

-- Algum problema? -- Perguntou com uma ponta de ironia em sua voz.

-- O bezerro, porque ele tem que ficar amarrado aqui?

-- Porque se ele ficar solto, você fica sem leite!

-- Mas o objetivo do leite não é ser dele?

-- Bom, a gente aproveita enquanto ele não tem consciência disso! -- Brincou, se aproximando de mim. -- O que está esperando pra começar?

-- E mesmo assim é preciso que ele veja isso? Não sei... acho que ele não gosta.

-- Ele só tá querendo matar a fome, não da a mínima em ver sua mãe sofrendo assédio.

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