Fanfic: C'est' finale (AyD) | Tema: Portiñon, AyD, Dulce & Anahi

ANAHI

Olhava atentamente para o céu enquanto a velha caminhonete chacoalhava na estrada. Ao meu lado, Dulce sussurrava friamente uma canção desconhecida enquanto seus dedos tamborilavam felizes no volante.

Era mais um gesto provocativo seu, assim como o silêncio que fez questão de manter durante toda a viagem. Aquilo era tão irritante que chegava a ser insuportável, mas eu não podia ceder a mais uma de suas provocações fúteis.

Tentava me concentrar no crepúsculo da tarde que envolvia a atmosfera tensa em que eu me encontrava, já que estava prestes a ser abandonada em qualquer lugar, onde eu teria que contar apenas com a sorte pra encontrar minha casa.

Se é que eu tinha uma.

Suspirei e olhei de relance pras sacolas jogadas a esmo no banco traseiro da caminhonete, elas mais uma vez alimentavam minhas falsas esperanças afinal, Dulce havia feito as compras sem mim e de alguma forma aquilo adiava seus planos, ou pelos menos, me fazia acreditar nisso, foi então que o carro parou.

E um frio na espinha percorreu todo meu corpo.

-- Desce! -- Ordenou a ruiva.

Ainda sem tirar os olhos da janela abri a porta e lentamente desci, num gesto rápido, porém preciso. Não queria olhá-la, não queria acreditar que aquela menina que me enchia de fortes e estranhas sensações, fosse capaz de cometer um ato tão cruel como esse.

Mas ela teve. E aquilo me destroçava mais do que o fato de estar perdida.

-- Acho que o pneu deu problema..

Virei o rosto e encontrei Dulce ao meu lado, com os olhos voltados ao carro, mas o pequeno sorriso que ameaçava surgir na ponta dos seus lábios, estava voltado a mim. Foi então que eu entendi.

Ela estava brincando comigo...

Suspirei e recostei meu corpo no carro, por mais que aquilo tivesse sido proposital me sentia aliviada por não ter sido sério. Dulce passou por mim recuperando a postura rígida e se abaixou pra olhar os pneus do carro, levantou em seguida parecendo ter o diagnóstico daquela rápida análise.

-- Não deve ter sido nada... acho que dá pra chegarmos lá!

-- Lá... aonde? -- Perguntei, quebrando meu silencio.

Ela virou os olhos e se dirigiu até o carro, entrando em seguida e buzinando pra que eu fizesse o mesmo, obedeci resignada a acabar com aquele mistério.

-- Porque não acaba logo com isso?!

Dulce sorriu sarcástica e arrancou com o carro pela estrada deserta. Lá fora a noite começava a tomar forma e as primeiras nuvens carregadas surgiam.

-- Não estou com pressa... -- Respondeu secamente.

-- Mas EU estou!

-- Sério? Então porque ainda não saiu do carro?

Emudeci. E o meu silencio deu razão a ela.

-- Porque está com medo de ficar sozinha, não é mesmo Anahi? -- Me olhou, desviando os olhos da estrada.

-- Você se acha muito esperta. -- Olhei pras pequenas gotas de água que pingavam no vidro do carro e em seguida para os seus olhos. -- Mas até agora seus atos não fizeram jus as suas palavras...

-- Achei que devesse te dar um chance pra fazer por si mesmo..

-- Porque não tem coragem de me abandonar! -- Completei, fazendo-a rir.

-- É VOCÊ que não quer ir!

-- Argh! -- Grunhi, perdendo a paciência.  -- Então me manda sair! Vai, manda!

-- Porque precisa que eu faça isso!?

-- Quero me mostre sua coragem!

-- Se faz tanta questão, escolha um lugar que eu paro..

-- Como? -- Perguntei incrédula.

-- Não é isso que você quer?

-- Mais que droga! Será que você não tem coração, sua estúpida?

-- Ué, não to entendendo. Do que tá reclamando agora?

-- O que você ganha me deixando desse jeito?

-- Paz! -- Respondeu avidamente, parecendo se divertir com sua resposta.

-- Você é mesmo uma idiota!

-- Quem é você pra me dizer isso? -- Sua atenção voltou-se completamente pra mim. -- Uma patricinha convencida, que acha que pode ganhar todo mundo com um sorriso?

-- Ah, me desculpe se isso te incomoda tanto, só porque não consegue ser simpática com ninguém, sua caipira!

-- Simpática? Eu chamo isso de falsidade!

-- Então agora vai voltar com os julgamentos?

-- Se tá te incomodando é porque não to mentindo!

-- Que droga, garota! -- Gritei, competindo com o barulho da chuva que já engrossava lá fora.   -- Será que dá pra parar de ser infantil?

-- Então cala a droga dessa boca! -- Retrucou, usando o mesmo tom elevado que eu.

-- Com quem você pensa que tá falando? Com seus animais, é isso?

-- Espera!

-- Porque é isso que você tá fazendo, me tratando como um deles!

-- Para!

-- Eu não vou permitir que você...

-- Quer parar droga?! -- Gritou parando o carro.

Dulce olhou com espanto a chuva que caia lá fora, observou em seguida as árvores e o deserto que as envolvia, cada vez mais incrédula.

-- O que foi?

-- Nós... -- Me olhou com o semblante atônito, prosseguindo em seguida num quase sussurro.  -- Estamos perdidas...

-- Do que está falando?! -- Olhei a paisagem através do vidro embaçado pela chuva e em seguida pra seus olhos, ainda fixos em mim. -- Onde estamos?

-- Acorda! Eu falei que estamos PERDIDAS. Será que você também se esqueceu do que é isso?!

-- Como podemos estar perdidas?! Você devia saber pra onde estava indo, não devia?

-- Deveria, se você não tivesse a meia hora gritando no meu ouvido!

-- Dulce, se isso for mais uma de suas gracinhas é melhor parar, não tem graça, tá ouvindo?!

-- Ah claro, eu ia achar muito engraçado me perder no meio do mato com uma suicida maluca e ainda por cima sem memória. -- Enfatizou em tom irônico, prosseguindo em seguida. -- Acha mesmo que eu to brincando?

-- Então estamos mesmo perdidas?!

-- Não! – Dulce abriu a porta e me olhou irritada. -- Chegamos em casa, não está vendo?! O que houve com seu cérebro, garota?

-- Pra onde você vai?! -- Perguntei, indiferente a sua grosseria. -- Tá chovendo, não tá vendo?

-- Eu não sei a Barbie, mas eu não sou feita de açúcar! -- Exclamou descendo do carro e sumindo em meio a chuva.

-- Não há mesmo nada doce em você! -- Gritei, sabendo que ela não me escutaria. -- Ridícula..

Aproximei o rosto da janela e tentei seguir seus passos em meio a água que escorria na mesma, porem tudo que consegui foi atestar que estávamos em meio ao mato, cercada por árvores e plantas que me pareciam restritamente desconhecidas.

Próximos capítulos terão muitaaaas emoções... kk