Fanfic: C'est' finale (AyD) | Tema: Portiñon, AyD, Dulce & Anahi

Abri os olhos lentamente sentindo o vento frio dar pequenas golfadas de ar em meu rosto. Suspirei enquanto contorcia vagarosamente meu corpo sobre a cadeira, a velha madeira rangeu com a minha desajeitada tentativa de buscar conforto.

-- Uma cadeira não é um bom lugar pra dormir. -- A voz ainda fraca de Dulce ressonou repentina, me despertando por completo.

Girei meu rosto na direção da cama onde seus olhos pareciam aguardar meus movimentos. A ruiva ainda estava com o pano frio sob a testa, porém algo havia mudado em sua face no curto período em que havia adormecido. Diferente da garota apreensiva que havia invadido meu quarto, ela agora me sorria com ares divertidos no rosto.

-- Droga, cochilei! -- Resmunguei, me levantando da cadeira e me aproximando a passos hesitantes da cama. -- Que bom que acordou. Você... está se sentindo bem?!

Dulce parou de sorrir e fechou os olhos como se medisse esforços pra pronunciar as palavras. Estiquei a mão na tentativa de medir sua temperatura, mas recuei quando ela tornou a me olhar, rindo em seguida do meu constrangimento.

-- Bom... eu acordei com um enorme pano na cabeça e uma loira dormindo na minha frente. --Fez uma pausa, voltando a estampar o meio sorriso nos lábios. -- Sinceramente, não sei como me sinto..

-- Ah.. .-- Pigarrei, pega de surpresa pelo seu bom humor. -- Há quanto tempo você acordou?

-- Quer saber a quanto tempo estou te olhando? -- Retrucou, parecendo decifrar meus pensamentos. -- O suficiente pra saber que você ronca.

A ruiva franziu o cenho reunindo suas forças numa careta de nojo que inevitavelmente provocou minha risada.

Um riso de alívio surgiu em mim. Alívio por saber que ela havia voltado ao normal.

-- Sorte sua estar doente! -- Exclamei, em um tom irônico de ameaça.

-- Já que você tocou nesse assunto... -- Prosseguiu, sem ligar pras minhas palavras. -- Será que pode me dizer como cheguei até aqui?!

Dulce fechou os olhos novamente como se me desse a deixa pra contar a ela sobre o que houve, sem precisar me constranger com seus olhos cravados em mim. Olhei-a por alguns segundos antes de sentar a beira da cama, atenta a sua face séria.

-- Bom, você tava delirando quando chegou no meu quarto... – Hesitei no curto segundo em que ela suspirou. -- Me mandou embora e ao mesmo tempo pedia pra que eu não fosse, como se... não quisesse isso.

Por alguns segundos minhas palavras pareceram relembrar algo que fez a ruiva morder os lábios e cerrar os punhos, revidando assim talvez seus pensamentos.

-- Então depois... -- Continuei, atenta a seus gestos. -- Você desmaiou, e eu te pus na cama e coloquei isso na sua cabeça. Estava esperando você acordar, mas acabei adormecendo.

-- Só isso? Perguntou com certa relutância na voz.

-- Foi.. -- Sussurrei, temendo que ela lembrasse algo.

Em seguida, houve um silêncio entre nós, até que ela inclinasse o rosto em minha direção revelando seus olhos estonteantemente claros, agora, já com ares avermelhados.

-- Any... -- Sua voz soou embargada. Foi preciso alguns segundos pra que ela retomasse. -- Desculpa..

-- Você... está me pedindo desculpas?

-- Eu sei que fui grosseira com você...

-- E agora tá assumindo que foi rude? Olha acho melhor você descansar e amanhã a gente conversa, você não deve tá legal.

A ruiva suspirou e inclinou a mão sob a cama fazendo força pra levantar. Me aproximei tentando impedir que ela fizesse esforço, mas logo ela já estava sentada ao meu lado.

-- Você tem razão em achar estranho o que estou dizendo.

-- Dulce..

-- Sabe, eu não gosto do jeito como você fala... -- Virou o rosto forçando nossos olhos a se encontrarem. -- Nem como você ri ou como se comporta...

-- ...

-- Mas sabe do que eu não gosto de verdade? -- Seus olhos me questionaram mudos, prosseguiu em seguida diante do meu silêncio. -- De não conseguir te odiar o suficiente pra que isso tudo seja verdade.

Estremeci. Fui pega de surpresa com suas palavras.

Era como se todas as Dulces se resumissem em apenas uma agora..

A que ela era de verdade.

-- Acho que não vou conseguir me adaptar a isso. -- Prosseguiu, enquanto deixava que seu corpo deitasse novamente sobre a cama. -- Ao modo estranho e rápido como você entrou na minha vida... será que você entende como tudo isso é novo pra mim?

Mordi os lábios e a olhei, sentindo como se minha respiração acelerasse a cada palavra que saia de sua boca. Chegava a ser extasiante o jeito como ela se esforçava ao se abrir comigo. Suas expressões contraídas elevando seu olhar que vagueava a qualquer canto que não fosse a direção dos meus olhos.

Naquele momento eu desejei que ela permanecesse daquela forma, porque só assim não notaria a tremedeira que tomava conta das minhas pernas.

-- Não estou pedindo que me dê algum crédito por ser rude. Quero apenas que me entenda.

Seus olhos voltaram-se aos meus e me fitaram por alguns segundos antes de se fecharem novamente. Era claro o cansaço de Dulce e eu ainda temia que aquilo tudo não passasse de um delírio.

-- Acho melhor tomar o remédio. -- Levantei e busquei o copo que eu havia deixado na cômoda ao lado. -- Vai te deixar melhor.

Aproximei-me, porém, ao esticar o braço em sua direção, Dulce segurou o mesmo me forçando a olhar em seus olhos.

-- A única coisa que pode me curar... – Hesitou sem tirar seus olhos de mim. -- É você Anahí...

Seus braços me puxaram com uma força repentina pra junto de seu corpo, fazendo com que o copo em minha mão caísse em um sonoro ruído, espalhando água pelo chão.

-- Dulce... -- Seus dedos calaram a minha boca em apenas um movimento desnecessário, já que eu apenas seria capaz de sussurrar seu nome.

Eu podia sentir seu coração bater acelerado contra meu peito e suas batidas podiam se confundir às rápidas pulsadas do meu. O rápido frio que atravessou meu corpo foi subitamente apagado pelo calor do seu corpo febril, e quando suas mãos quentes tomaram meu rosto frio o puxando pra si, seus olhos nunca me pareceram tão vivos ao me olharem.

-- Que tipo de jogo você está fazendo..? -- Sussurrei, sentindo nossas respirações se confundirem.

Dulce se aproximou e roubou um rápido selinho, me deixando apenas com o gosto amargo da sua boca.

Era incrível como mesmo debilitada, ela conseguia me provocar.

-- Me responde você que mudou o rumo dele. -- Seus dedos deslizaram pelo meu rosto, acariciando o mesmo. -- Eu estou nas tuas mãos Any...

Avancei sobre seus lábios e os beijei como se quisesse atestar que aquilo fosse verdade. Dulce me apertou contra seu corpo com a força de outrora, invadindo em seguida minha boca com sua língua, que ia se confundindo com a minha em movimentos que deixavam claro o desejo que nos tomava.

Eu podia sentir meu corpo ferver junto ao dela, como se houvéssemos adoecido juntas.

Porém, quando suas mãos se afrouxaram ao redor da minha cintura, eu percebi que estava indo longe demais.

Separei-me dos seus lábios ainda sentindo o gosto quente deles em minha boca. Olhei para os seus olhos fechados e por alguns instantes fui tomada pela vontade de embalá-la em meus braços.

Estiquei a mão sob a cômoda e alcancei, com certo esforço, o comprimido que havia ficado sobre ela. Pus em seguida em sua boca e a vi engolir sem dificuldade.

-- Eu vou cuidar de você. -- Sussurrei, deitando ao seu lado.

Dulce virou e apoiou a cabeça no meu peito esticando seu braço sobre minha cintura. Beijei o topo da sua testa e em seguida o canto dos seus lábios, acariciando seu rosto enquanto ela adormecia nos meus braços.

Alguns minutos depois eu apaguei, e mesmo quando ambas já dormíamos, nossos corações continuavam a bater em sintonia.