Fanfic: C'est' finale (AyD) | Tema: Portiñon, AyD, Dulce & Anahi

DULCE

Ela estava ali, e antes que eu pudesse repreendê-la por sua presença repentina, delatada por Jack, fui prontamente convidada a analisar as feições matinais que carregava em seu rosto. Com o ângulo agudo das suas maçãs levemente rosadas pela luz do dia, a curva suave dos seus lábios retorcidos agora em um sorriso, e seus fios loiros caindo em ondinhas desgrenhadas sobre sua testa, ainda com ares adormecidos.

Eu não queria me sentir perturbada com sua presença, mas toda vez em que a via, aquilo parecia ficar cada vez mais forte e inevitável.

- Vejo que está melhor... -- Comentou, e pela primeira vez então percebi que ela também me observava.

- É, pelo menos é assim que me sinto agora. - Menti, sabendo que ainda havia acordado indisposta naquela manhã.

- Me parece que não consegue ficar longe das suas atividades rotineiras. - Brincou, girando seus olhos a Jack e em seguida a mim.

- Ele não se trata apenas disso..

- Percebi...- A loira franziu os lábios e inclinou as sobrancelhas, como se estivesse prestes a tocar em um assunto delicado. - Pelo modo como eu vi você falando com ele..

Nos olhamos por alguns segundos em silêncio, enquanto eu cogitava as desculpas que poderia usar por estar me sentindo tão ridiculamente constrangida com aquilo.

- Dulce, sobre a ontem a noite.. - Hesitou, esperando que eu deduzisse o rumo das suas palavras.

Eu sabia o que tinha falado, sabia que havia entregado, no auge do meu delírio, aquele sentimento confuso, por medo de perdê-la. Porém por mais que seu gosto já estivesse impregnado nas minhas entranhas, tudo ainda me soava proibido, e eu ainda preferia acreditar que a odiava.

Ao menos, tudo seria mais fácil assim.

- Você cuidou de mim... - Pigarrei, optando por mudar de assunto. - Acho que agora fiquei te devendo uma.

Any suspirou e deu de ombros, me olhando com aquele olhar paciente que ela usava sempre que eu agia assim.

- Tudo bem. - Sorriu, parecendo não se importar - Mas afinal, isso não foi nada diante do que fez por mim.

- São casos diferentes, se estiver precisando de alguma coisa...

A loira franziu as sobrancelhas parecendo analisar seriamente minha proposta e, quando ela me olhou sorrindo, entendi que não insistiria em negá-la.

- Há sim algo do que eu preciso... - Mordeu os lábios, me olhando - Mas eu já entendi que vai levar um tempo...

- ...

- Então, eu me lembrei de algo que poderia cair bem se... você aceitasse..

- Do que está falando?

- Seus quadros Dulce! - Seus olhos me encararam, espontâneos. - Quero que me ensine a pintar.

- Como? - Ri, surpresa com aquela hipótese. - Isso é... algum tipo de brincadeira?

- Porque seria? Você pinta divinamente bem, eu vi seus quadros!

- Então esqueça do que viu, eu não posso fazer isso!

- Muito bem, eu desisto se você me der um motivo justo.

Suspirei e antes que eu pudesse formular algo que a fizesse desistir, ouvi o som do motor do carro de Alfonso zumbindo ao longe, e aquilo soou duas vezes mais forte dentro de mim.

Era o sinal que eu teria que deixá-la, e aquilo mais uma vez me doeu.

- Poncho chegou... - Comentei, com um tom triste na voz.

Anahi observou o carro atravessar a cerca sem parecer se importar com aquilo, em seguida girou sobre o calcanhar e mais uma vez me fitou, com uma expressão fascinante nos olhos.

- E então... quando começamos?

Franzi os lábios e olhei Alfonso, se aproximando vagamente do lugar onde estávamos.

Mesmo que eu soubesse que talvez não houvesse tempo, não podia negar aquilo. Não quando tudo que eu queria era ficar do seu lado.

- Você vai saber quando for a hora...

- Ótimo! - Sorriu triunfante com a minha aceitação repentina. - Espero que seja em breve.

"Não tão breve quanto a sua partida".

- Meninas... - A voz de Poncho soou parecendo acompanhar meus pensamentos. - O que fazem aqui?

Encarei Alfonso até que seus olhos pairassem sobre os meus, intrigantemente tranquilos.

- Acho que você que tem respostas pra dar aqui!

Poncho sorriu zombeteiro e levou uma das mãos ao cabelo, o balançando impacientemente.

- Ai ai, bom dia pra você também maninha. - Cerrou o riso e me encarou, levando os dedos de repente as maçãs do meu rosto. - O que houve com você? Me parece um pouco pálida.

- Nada! - Grunhi, me afastando do seu toque.

- Ela esteve doente ontem. - Anahi se intrometeu, sem parecer ligar pro meu olhar de surpresa. - Febre alta... acho que não está bem ainda.

- Doente? E o que você está fazendo aqui?! Deveria estar descansando!

- Ah relaxa tá, eu não vou morrer!

Alfonso riu com a contrariedade do tom em que usei minhas palavras. Anahi continuava a me olhar, agora com uma preocupação excedida nos olhos, e por algum motivo que eu não saberia explicar, me deliciei com aquele fato.

- É, como dizem por aí, vaso ruim não quebra. - Poncho brincou, esquadrinhando minha reação com um sorriso nos lábios. - Você não precisa de drama pra ser sarcástica, Dul!

Bufei alguma coisa e dei de ombros. Eu sabia que ele estava tentando amenizar a situação com seu senso de humor idiota, mas mesmo que aquilo parecesse pertencer a sua natureza parcialmente divertida, não me soava nenhum pouco convincente.

Droga! Porque ele não acabava com aquilo logo?

- Está bem! - Exclamou me assustando com a concordância entre suas palavras e meus pensamentos. - Ainda há algo que precise fazer aqui?

- Não... - Murmurei, e seus olhos castanhos pareceram não esperar por minha resposta. - Quero dizer, não muito... - Corrigi, recebendo a sua muda aprovação.

- Posso te ajudar, assim você não precisa fazer muito esforço. - Anahi sugeriu, me lançando um daqueles seus olhares capaz de me desmanchar inteira..

Foi como se meu coração tivesse encolhido, esquecido de bater por alguns instantes, e naquele momento, me senti terrivelmente culpada por ter me rendido aquela mulher de perfil fascinante e, agora ter que vê-la ali, tão ingenuamente preocupada com a minha saúde, quando na verdade era seu destino que estava em risco.

- Não vai precisar Any, Dulce sabe fazer isso melhor do que ninguém. - Poncho respondeu, percebendo talvez meu embaraço. - Não é mesmo, Dulce?

- Ele... tem razão. - Concordei, com a voz engasgada.

Naquele momento eu entendi pelo tom da voz de Alfonso que era definitivo, e mesmo que os olhos tão ingênuos de Anahi tornasse tudo tão mais doloroso, eu ainda tentava me agarrar a uma esperança que eu sabia não existir.

Eu queria fugir daquele contraste de olhares, da confusão de sentimentos que me tomava e principalmente, dos olhos piedosos de Anahí.

- Você está mesmo se sentindo bem? - Sua voz soou como um aviso prévio de que eu desmoronaria se continuasse ali. - Me parece pálida ainda...

- Impressão sua! - Menti, me atrevendo a sorrir. - Estou bem...

- Ótimo! - Poncho exclamou, tomando a mão de Anahi entre a sua. - Vamos voltar Any, tenho algo pra tratar com você!

- Pra tratar comigo? - Perguntou desconfiada, olhando pras mãos de Alfonso e em seguida pra mim. - Aconteceu alguma coisa?

- Não exatamente, vem, a gente precisa conversar. - Poncho puxou sua mão e saiu, guiando-a como se estivesse a levando pro matadouro.

Fiquei olhando eles se afastarem na esperança de que Poncho me dissesse algo com os olhos do qual eu ainda não soubesse, mas ele seguiu friamente, sem ao menos parecer notar os olhares curiosos e aflitos de Anahí.

Trinquei os dentes e soquei o ar, queria arrancá-la de suas mãos e levá-la comigo. Poder cuidar dela sem depender de Alfonso, porém, diante dele eu era inútil... estava de mãos atadas.

- Grande droga... - Grunhi levando as mãos ao rosto, tentando inutilmente conter a lágrima que já escorria em meus lábios.