Fanfic: C'est' finale (AyD) | Tema: Portiñon, AyD, Dulce & Anahi

ANAHI



Abri meus olhos lentamente, despertando com dificuldade do sono que, inconscientemente havia me derrubado nas últimas horas. Desnorteada, inclinei a cabeça e meu rosto pareceu entrar em contato com uma lâmina fria. Numa espécie de choque térmico que se espalhou pelo meu corpo. Demorou alguns segundos pra que eu percebesse que estava nua sob o chão gélido do sótão.

Sentei assustada, levando as mãos à cabeça e em seguida às costas. Era como se um furacão houvesse me arrastado até ali e depois, judiado cruelmente do meu corpo.

Um furacão chamado Dulce...

Sorri presunçosa, enquanto a procurava. Vestígios da noite passada foram facilmente assimilados aos fragmentos da minha memória, quando observei os rastros de tinta pelo chão e alguns quadros ainda caídos. Me perguntei o que teria acontecido com a Dulce eficiente que não deixaria as provas da cena intacta e, se em algum momento ela havia se queixado de algum sintoma que eu havia deixado em seu corpo.

A velha escada de madeira rangeu interrompendo meus pensamentos. Cobri meu corpo nu com o lençol que provavelmente havia me coberto em alguma parte da noite, o mesmo que até então eu não havia percebido ao meu lado. Encolhi-me por instinto, sentindo o frio me abater novamente.

Sua imagem se esquadrinhou lentamente no meu campo de visão e meu coração pareceu reagir no mesmo ritmo descompassado. Primeiro apareceram suas botas, já tão conhecidas e desgastadas pelo tempo, depois a calça jeans desbotada e a blusa xadrez sem mangas, perfeitamente colada em seu corpo, e por fim seu rosto... de feições tão...  perfeitas e encantadoras que eu tive que reprimir a vontade de correr e abraçá-la.

Dulce desceu as escadas e se apoiou no corrimão me olhando por cima dos seus braços cruzados, por alguns torturantes segundos. Eu estava a visualizando com um chapéu de palha e grama na boca quando ela sorriu, quebrando o ritmo dos meus pensamentos.

- Você precisa se olhar no espelho, está destruída! - Brincou, rindo ao terminar a frase.

Revirei os olhos e bufei levando instintivamente as mãos ao cabelo. Dulce sacudiu a cabeça e se aproximou parecendo... perfeitamente intacta. Que ridículo!

- Eu disse destruída... - Suas mãos se inclinaram até as minhas e a seguraram. - Isso não significa que não fique extremamente linda dessa forma!

Seus olhos castanhos cintilaram e eu pude ver um sorriso nascer naturalmente em seu rosto. Não sabia se me derretia com suas palavras ou se me rendia ao meu senso de autocontrole. Na duvida achei melhor agir naturalmente.

Mesmo que minha pulsação gritasse pelo oposto.


- Seria um pouco mais gentil se me desse apenas um bom dia! - Retruquei, sem conseguir conter o tom trêmulo da voz.

A ruiva riu e se abaixou ficando de joelhos na minha frente. Seus dedos frios afagaram minhas bochechas e eu pude sentir o sangue arder em meu rosto. Chegava a ser impressionante o modo tolo como ela sempre me deixava.

- Eu não costumo jogar com o previsível! - Afirmou, e aquilo não me pareceu nenhuma surpresa. - Mas se você faz tanta questão...

Seus lábios se aproximaram vagarosamente e se emoldaram nos meus, me roubando um beijo da forma mais delicada e suave que alguém poderia roubar. Naquele momento então eu entendi que as coisas haviam mesmo mudado, e por alguma razão maior do que a mim mesma... eu me senti extremamente feliz por isso.

- Bom dia... - Murmurou quando se separou dos meus lábios, me deixando com o gosto doce e envolvente do seu hálito.

Era impossível resistir quando eu a tinha tão próxima.

Respirei fundo e avancei de modo a ficar ajoelhada na sua frente, depois passei meus braços ao redor do seu pescoço e a beijei. Ela retribuiu o beijo, confusa, mas de boa vontade. Seus lábios eram gentis nos meus e eu sabia que sua mente estava em outro lugar, tentando imaginar o que se passava na minha mente.

Eu quase pude ouvir o estalo em sua cabeça quando ela finalmente compreendeu minha atitude.

- Seja razoável, Any! - Pediu, me empurrando gentilmente.

Seus olhos passearam sob meu corpo nu e se estreitaram em seguida reagindo numa expressão apavorada a seus pensamentos. Precisei de um minuto pra reconhecer o esforço que ela fazia ao me pedir aquilo.

- Está acontecendo algo, não é mesmo?! - Perguntei, já sabendo da resposta.

Ela mordeu os lábios e olhou em meus olhos, parecendo apreciar os últimos momentos em que fugíamos da realidade.

- Você sabe que sim...

Suspirei, lembrando-me da conversa dura que tivera com Alfonso, uma dor invisível pareceu me atingir e eu me perguntei por que não sentira isso antes. A resposta era óbvia, agora eu realmente tinha algo a perder. Ela examinou meu rosto por um longo tempo e em seguida segurou meu queixo, forçando nossos olhos a se cruzarem.

- Antes de falarmos algo, quero que saiba de uma coisa... - Seu lábio inferior tremeu e ela o mordeu levemente, seus olhos emanavam medo. - Haja o que houver... eu não vou deixar você partir.

Eu a olhava, inerte no silêncio que havia se estabelecido e presa a um misto de sensações que mais pareciam físicas, do que internas de tão surreais. Sua rendição havia me arrastado a um campo desconhecido, cuja dona, pertencia a uma personalidade impecavelmente indecifrável e alheia a todas as quais eu já havia conhecido. A ruiva na minha frente não era apenas a garota birrenta, infantil ou egoísta de Alfonso. Era aquela mulher que havia acabado de me prometer proteção, a dona do par de olhos castanhos claros que me fitavam de um modo que deveria ser crime. Era a minha Dulce.

E por algum motivo eu senti que havia esperado muito por ela.

- Dulce... - Murmurei, quebrando o silêncio entre nós. - Você sabe que as coisas não são assim...

A ruiva franziu as sobrancelhas e parou de morder os lábios me olhando agora com um ponto de interrogação estampado em seu rosto. Ela certamente não esperava que eu dissesse aquilo, porém, pareceu disposta a entender meus motivos quando suspirou e calmamente desfez a confusão em seu semblante.

- Sim, eu sei! - Confirmou, com uma certa relutância na voz. - Mas estou tão disposta, que sejam assim! Achei que pensasse o mesmo.

- O problema não é o que eu penso, e sim o seu irmão...

- Argh! - Grunhiu, revirando os olhos. - Ele é um tolo que acha que sabe o que é bom pra todo mundo, eu não vou deixa-lo agir dessa forma com você!

- E se ele estiver certo? Você sabe... se realmente for o melhor pra mim..

- Ser jogada em uma clínica como uma completa desconhecida sem memória?! - Completou parecendo horrorizada com o que dizia. - Você acha que isso é a melhor saída?!

- Não é tão cruel da forma como faz parecer ser! - Encolhi os ombros, sentindo o frio me abater novamente. - Se você pensar de outro ângulo, foi assim que eu cheguei até vocês...

Seus olhos fitaram os meus por alguns segundos, depois sorriram, como se eu estivesse falando algo bobo o suficiente pra deixá-la dessa forma.

- Acho que está enganada quanto ao modo em que vê as coisas! - Seus dedos se esticaram até encontrarem novamente as maças do meu rosto, numa carícia suave, típica da nova Dulce. - Você nunca foi uma completa desconhecida ...

Ergui a sobrancelhas e a fitei, sem conseguir entender o que aquelas palavras significavam. Ela percebeu meu embaraço e tratou de se explicar, com a sua voz de seda.

- Quero dizer que você é... como uma parte de mim.

Assenti, sem conseguir conter o sorriso bobo que se espalhou em meus lábios, a verdade era que as vezes eu também me via assim.

- Então, eu nunca fui uma suicida, patricinha e… idiota?!

- Bom... - Ela pareceu pensar por alguns momentos antes de me lançar um daqueles seus sorrisos malignos. - Isso não quer dizer que você não seja a parte podre...

Fiz cara feia e ela riu. Uma risada que encheu seu rosto de luz, e por alguns instantes desejei que ela continuasse rindo, mesmo que fosse de mim, só pra poder apreciar mais um pouco aquela cena.

- Você bem que podia mudar esse humor também! - Brinquei, enlaçando minhas mãos na sua cintura. - Nós temos coisas mais sérias para tratar, não acha?!

Ela estreitou as sobrancelhas e suspirou, sem reagir a minha proximidade.

- Poncho não está em casa, então imagino que exista um... prazo. - A última palavra soou como um murmuro, seus olhos estavam tristes novamente.

De repente eu entendi porque ela não havia me acordado, era apenas uma forma aflita de me proteger.

- Você está certa... ele me deu um tempo.

- Eu me resolvo mais tarde com ele e a gente não fala mais nisso, está bem?!

- Sim, mas não era disso que eu estava falando..

Aproximei meus lábios dos seus e a beijei. Um beijo curto e suave, que deixavam em evidência as minhas intenções. Quando me afastei, encontrei dois olhos castanhos quentes e claros, absortos em cada curva nua do meu corpo, não precisou de mais palavras. Nos instantes seguintes estávamos novamente sobre o chão, esquecidas de tudo e entregues a qualquer que fosse aquele sentimento que nos consumia.

E finalmente estão se entendendo *-*