Fanfic: C'est' finale (AyD) | Tema: Portiñon, AyD, Dulce & Anahi

O sol havia dado uma trégua. O clima agora era ameno e as primeiras nuvens já se formavam sobre os intensos raios de luzes, que disparavam em direções alheias e, embora o clima quente ainda parecesse persistir, já se dava os primeiros sinais de que o inverno retomaria sua velha e antiga posição de sempre.

- Está entregue! – Exclamei, abrindo a portinhola pra que Jack se instalasse. – Acho que já terminei tudo, foi uma bela volta campeão!

Acariciei sua crina e me permiti sorrir com seu rinchado de aprovação. Em seguida, girei e observei, curiosa, o horizonte, mais precisamente o lugar em que eu a havia deixado, no auge da sua euforia e determinação. Ingredientes que a permitiram ficar ali tempo suficiente pra que meus olhos agora se deleitassem com aquela imagem no mínimo, estonteante.

Anahi ainda estava lá. Usava os cabelos presos com alguns fios dourados escorrendo soltos em seu rosto. Tinha dobraduras nas calças levantadas até o joelho e a perna visivelmente manchada de lama. Era o declínio de uma princesa e a ascensão de outra. Simples e naturalmente bela.

A loira se movia inquieta distraída o suficiente pra não notar, mesmo que de longe, a minha presença. Ela tentava, sem muito sucesso, devolver os porcos ao chiqueiro numa espécie de captura, onde levava um baile dos pequenos e sujos fugitivos.

Ainda ria da cena quando ela me encontrou. O rosto numa expressão de surpresa e de cansaço. O corpo inclinando-se levemente para frente, suas mãos apoiando-se nos joelhos como que pedindo silenciosamente por ajuda.

Me aproximei cessando o riso e com alguns rápidos movimentos consegui conter a pequena legião de porquinhos eufóricos, trancando-os de volta no chiqueiro. Só percebi o espanto nos olhos de Any quando me virei pra buscá-los.

- Tá, confesso que agora fiquei assustada!

Ri e me aproximei, erguendo seu corpo a uma postura normal.

- É o meu trabalho! Você devia ter desistido ao invés de gastar tanto tempo nessa bobagem.

Ela franziu os lábios numa careta de brava e grunhiu, sem imaginar o quanto aquela sua arma funcionava, poderosa, em mim. Enlacei sua cintura e puxei seu corpo até que nossos rostos se aproximassem. Sua pele estava levemente bronzeada e, era incrível como aquilo contrastava perfeitamente bem com os fios loiros ondulados que escorriam por ela. Encaixei nossos lábios e a beijei. Um beijo demorado, porém, com urgência. Um atestado da necessidade repentina que eu sentia dela.

- Você fica irresistível quando faz essa cara... – Sussurrei, me afastando dos seus lábios.

- Deve ser por isso que me aborrece tanto! – Retrucou, me lançando um sorriso.

Me afastei e segurei sua mão, porém, antes mesmo de dar as costas, ela me puxou pelo ombro e me trouxe de volta a sua frente.

- Não vamos voltar agora, tenho que te apresentar à alguém ainda!

- Alguém?! – Perguntei, assustada com o sorriso maligno que brotou em seus lábios. – Porque será que eu estou sentindo que fez besteira?!

Ela riu e pediu pra que eu esperasse. Segui em seguida até uma espécie de caixote feito com algumas pilhas de tijolos quebrados, tirou algo de dentro e voltou estonteante até mim. De repente eu tinha certeza que não queria saber o que ela estava aprontando.

- Esse é Frederico, e essa ruivinha bonitinha na sua frente é a sua nova mamãe, Fred!

Olhei novamente para as suas mãos estendidas e quase me engasguei de susto. Meu primeiro instinto foi brigar e fazê-la desfazer o que havia feito, porém, tudo que eu fiz foi rir. Uma gargalhada que soou estridente pelos campos do sítio. De um jeito que eu não ria faz tempo.

- Anahi, não se faz isso com porcos! – Exclamei quando consegui parar de rir, num tom que mais parecia divertido do que de raiva. – O que deu na sua cabeça? Será que não percebeu que ele é um porco, e não um cachorro?!

A loira olhou pro animal preso em suas mãos feito uma criança e sorriu, parecendo não dar a mínima pros meus comentários.

- Não seria tão bonitinho se fosse um cachorro! – Resmungou, passando a mão na fita verde presa num laço ao redor do pescoço do bicho. – Eu sei que você vai se render a ele também!

Passei a mão no rosto e me aproximei, observando aquela criatura pequena enroscada nos braços de Any, com tanta cautela, que parecia mesmo gente.

- Credo! Está olhando como se fosse por o bichinho no fogo. – Reclamou, afastando o braço.

- E o que você acha que vai acontecer quando ele engordar?! – Enfatizei a última palavra, me divertindo com sua cara de medo. – Ou por acaso acha que eu vou deixar você cuidar dele?!

- Claro que vai, você tem um cavalo, porque eu não posso ter um porco?!

Suspirei e dei de ombros, ela virou os olhos e se afastou mimando o seu “bebê”.

- Anahi, porcos vivem na lama, eles não tomam banho, não andam com lacinhos no pescoço e nem... – Me aproximei, capturando o cheiro no ar. – Andam perfumados... credo! Esse porco tá com cheiro de bundinha de neném!

- Eu sei. Deu um trabalho danado, mas eu consegui!

- Deus! Você é maluca...

- Ele vai me fazer companhia quando você estiver “muito ocupada”! – Enfatizou, zombeteira.

- Ótimo! Só espero que ele faça “tudo” que eu faço também...

Me virei e ela puxou meus ombros outra vez, um sorriso preocupado pairando em seus lábios.

- É uma brincadeira, não seja tão mal assim!

Seus olhos azuis penetraram nos meus e seus lábios se puxaram em um bico, irritantemente manhoso. Era infalível.

- Vai me deixar ficar com ele... não vai?!

- Argh... – Grunhi, já totalmente rendida. – Você tem um minuto pra colocá-lo no lugar e me acompanhar, antes que eu desista!

Ela sorriu exultante e correu até o caixote embalando o animal nos braços. Dei as costas e andei no sentido contrário, observando o céu e as densas nuvens que ameaçavam engrossar em cima das nossas cabeças. Aquele ia ser um dia longo...

- Espera por mim, marrenta!

... Mas ainda faltava uma coisa.

- Porque me trouxe aqui?!

Apoiei-me na seringueira e deixei que meus olhos vagassem lentamente pela banheira de água natural estendida a minha frente. A alguns passos ao lado e a alguns metros a frente, Anahi me encarava. Seus olhos, escuros de curiosidade, acompanhavam, inquietos, a calmaria que pairava sobre os meus, enquanto ela limpava os resquícios de lama em seu corpo inclinado sobre a beira do lago.

- Só achei que seria menos perigoso para os animais, manter uma certa distância sua!

Ela riu e balançou a cabeça. Me aproximei e deixei que meus pés afundassem na água clara e fria, que circulou rapidamente pela minha pele quente, me dando uma leve sensação de alívio. Any se aproximou, arrastando-se sobre o peso da água e me abraçou de lado, apoiando o queixo em meu ombro.

- Há algo diferente no modo como está olhando, parece que é a primeira vez...

- É como se fosse! - Interrompi, sem queixas. – De certa forma... me sinto assim quando olho através dos seus olhos..

Ela franziu a testa, surpresa, e em seguida sorriu, pousando seus lábios quentes em meu rosto por alguns intensos segundos. Observei nossos reflexos na água e senti que me ajustava a outra versão de mim mesma. A Dulce que eu era com Anahi. Um pouco mais nova. Um pouco mais responsável. E por outro lado alguém que, de vez em quando, podia fazer algo realmente idiota, sem ter motivo algum.